O QUE O POVO QUER

Padre Juliano Ribeiro Almeida

 

         A cena foi grotesca: o presidente Lula, do seu camarote na avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, lançando para o público camisinhas com a marca registrada do Ministério da Saúde. Nunca imaginei que chegaria a ver um presidente da República se prestando a tão baixo papel. Lembrou-me a política do “panis et circensis” (pão e circo), em que o imperador romano, do alto do seu camarote nos teatros públicos da Roma antiga, mandava distribuir pão gratuitamente para conter as massas. Além de já distribuir o pão com seu programa Bolsa Família, Lula agora decide avançar em seu viés de assistencialista, distribuindo orgasmo para o povo; afinal, como cantou a banda Titãs, “a gente não quer só comer; a gente quer comer e quer fazer amor. A gente não quer só comer, a gente quer prazer pra aliviar a dor”.

 

E eu acrescentaria, para não faltar com a verdade: a gente não quer só prazer, a gente quer juros mais baixos e um bom sistema de saúde. O que a gente quer não é tão fácil de distribuir e nem tão descartável como um preservativo, numa aventura sexual de carnaval. A gente quer segurança pública e qualidade de vida, a gente quer política sem nepotismo, corporativismo e corrupção… Uma canção de Gilberto Gil diz: “o povo sabe o que quer, mas o povo também quer o que não sabe”. Ainda quando não sabe nomear e definir bem, o povo quer valores morais, referências, ideais, cultura.

 

É preciso deixar bem claro que os preservativos que Lula distribuiu no carnaval são paliativos, isto é, instrumentos que procuram conter momentaneamente o problema, mas não o resolvem, porque nem sequer tocam em suas causas. O governo está querendo conscientizar o povo em relação à camisinha. Mas é preciso perguntar: o uso da camisinha conscientiza em relação à AIDS? Usar camisinha não significa eliminar o risco de ser contaminado, mas apenas cobrir o risco com uma camada finíssima de látex. Está provado que as DST’s – doenças sexualmente transmissíveis – se disseminam em situações em que não há um comportamento sexual adequado.

 

Na prática, isso quer dizer: onde há infidelidade conjugal, prostituição, promiscuidade sexual, contato íntimo sem respeito e compromisso. O que a sociedade está fazendo é apenas ir aos lugares de risco, legitimar esse comportamento e distribuir camisinha num clima de “salve-se quem puder”. É como se um navio não desse a mínima para as normas de segurança na navegação e se limitasse a distribuir coletes salva-vidas quando o navio ameaçasse afundar.

 

O problema das DST’s precisa ser enfrentado, claro. É preciso haver programas de informação, prevenção e, por fim, intervenção também com ações paliativas para os que não foram convencidos a mudar de comportamento. Sem dúvida. Mas a preocupação do governo em conter o HIV não pode ser apenas a de diminuir os gastos do SUS com o tratamento dos soropositivos. Sua preocupação deve estar com o bem-estar integral da pessoa, sua harmonia familiar, seu correto desenvolvimento sexual. E é simplesmente impossível tratar de todas essas questões apenas distribuindo camisinha, sem sugerir claramente: repense sua vida sexual, pergunte-se se já é o momento adequado para transar, ouça sua família e sua religião, escolha bem a pessoa a quem você pretende entregar o seu corpo.

 

Tenho certeza que Lula e dona Marisa não teriam coragem de jogar camisinhas do camarote se tivessem uma filha de 13 anos lá embaixo, na quentura da puberdade e no embalo do carnaval.

 

Juliano Ribeiro Almeida, 28 anos, é padre católico e trabalha em Cachoeiro de Itapemirim. julianorial@gmail.com

 


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino