SILÊNCIO EUCARÍSTICO

Ainda me lembro dos primeiros ensaios como integrante do Ministério de Música Cristo Redentor, em Cachoeiro do Itapemirim-ES. A gente se juntava no sábado a tarde pra rezar, fazer as leituras da liturgia de domingo, escolher as músicas apropriadas para aquele tempo litúrgico e ensaiá-las.  Nossa coordenadora era Liliane, com uma belíssima voz e que tocava violão muito bem. Era ela quem tinha a facilidade de perceber qual era o tom mais confortável para as vozes do grupo. Era também nossa coordenadora, que mais entendia de música católica e seu repertório era o ideal para cada momento em que éramos chamados a cantar.  E foi num ensaio desses que Liliane me lançou um grande desafio. Acho que na verdade foi o maior de todos que tive nessa estrada de terra batida e empoeirada que ainda atravesso, tentando ser fiel ao chamado do Senhor como ministro de música, e como alguém que só quer colocar seus dons a serviço da igreja.  As músicas já estavam escolhidas e já tínhamos ensaiado quase todas. Faltava a música de comunhão, que desde o início de minha caminhada como músico, sempre foi a que mais mexeu comigo. Foi então que Liliane, com seu ouvido apurado e atento, começou a cantar uma canção nova. “Vem, que a tempestade já não pode te abalar. A segurança em meu barco encontrarás. Confia em mim, que meu amor te abrigará…Não tenhas medo, pois eu estou aqui. É o teu Senhor quem diz. Quero guiar os passos teus. Vem! Entrega-te então. Farei morada em teu coração!…”  Fui impactado pela beleza dessa poesia eucarística e que me encheram os olhos e o coração de emoção. Algo tremia em meu ser e depois de cantá-la, duas ou três vezes, nesse ensaio inesquecível, “Confia em Mim” já estava gravada na minha alma e talvez por isso a cantei outra vez com muita intensidade. E essa só pode ser a única explicação para Liliane olhar pra mim e dizer que eu iria solar essa música na comunhão daquele domingo. E lançou aquela tradicional frase de ensaios: “vamos cantar mais uma vez!”  Era um desafio muito grande pra alguém que nunca estudou música e que por se encantar com o ministério animando um grupo de oração, decidiu pedir para assistir aos ensaios e acabou entrando pra sempre nesse serviço tão intenso e gratificante que a igreja nos oferece.  Estava certo de que pra esse meu primeiro desafio iria precisar de muita coragem. Tinha que vencer a timidez de quem apenas queria estar ali no meio do pessoal do ministério, ajudando a cantar as músicas do grupo de oração e da santa missa. Mas aceitei e Deus me segurou. A Liliane seguiu o curso da vida e se casou, indo morar em Portugal. E me deixou como coordenador do Ministério. E Deus, com todo seu carinho, colocou no meu caminho cinco jovens que marcaram pra sempre a minha estradinha da música. Cadu(violão de nylon), Bruno (baterista), Wanderlan (baixo), Rubinho (guitarra) e meu afilhado de casamento, Geoconelle (violão de aço). Dois anos de grandes e inesquecíveis momentos nas missas e celebrações, além de grupos de oração em Cachoeiro do Itapemirim-ES. O Senhor mostrou o quanto fez e faz morada em meu coração e até hoje os acordes e canções que executamos naquele tempo de missão, ainda vibram em meu ser. Grandes amigos, que se tornaram engenheiro civil, jornalista, professor e amigos para sempre. Lembrando dos meus amigos, lembro também que desde que decidi entregar a Deus todo o meu ser em gratidão, o Senhor vem no meu silêncio, no meu cansaço e no meu anoitecer, me consolar e me dar forças pra continuar. Isso sem contar que sela em mim a salvação que é única e exclusivamente Dele.  A máquina do tempo não parou e desde aquele primeiro desafio proposto por Liliane, naquele domingo de 2000, minha musicalidade segue o rumo desse rio em busca do alto mar. Não encontro outro sentido nas músicas que canto e toco, se não for para me colocar no silêncio eucarístico e fazer com que os irmãos presentes na santa missa, façam também a sua grande experiência com o Senhor Sacramentado.  E quando eu imaginava já ter cantado tanta música linda de comunhão, aprendi mais uma. Era uma sexta-feira dessas na missa das 6h da manhã. As portas do Santuário do Pai das Misericórdias, na Canção Nova, em Cachoeira Paulista-SP, estavam todas abertas e lá fora o raiar de um novo dia era como uma pintura. Daquelas que fazemos quando criança, onde misturamos o amarelo com o vermelho, na expectativa de chegar perto da verdadeira cor do sol.  Na homilia daquela missa, tão especial pra mim, o padre José Augusto falou profundamente da importância de comungarmos o corpo e sangue do Senhor, todos os dias. Nosso alimento diário que nos fará ganhar a glória dos céus. E no final desse momento, nos convidou a comungarmos em silêncio total. O tempo parecia ter parado. E o silenciar daquele alvorecer veio como música em nossos corações. Até parece estranho um ministro de música dizer isso, mas no corredor da sacristia, depois da missa, precisei dizer ao padre que aquela foi a melhor música de comunhão que já cantei. O silêncio eucarístico que precisa sempre acontecer no meu e no seu coração, para estarmos cada vez mais perto do Senhor e do céu!  Porque o dia em que não houver mais instrumentos e microfones, músicos e cantores, a missa vai continuar a acontecer nos corações de quem verdadeiramente busca a Deus nesse mundo, que passa!

Deus abençoe!

Wallace Andrade
Comunidade Canção Nova
Autor do livro “Mãe de Milagres – Nossa Senhora Aparecida”
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Jornalista, missionário da Comunidade Canção Nova, escritor, casado com Valeria Martins Andrade e pai de Davi Andrade, natural de Campos dos Goytacazes-RJ.