Maria e João Batista na vida de Jesus

A Virgem Maria e João Batista foram pessoas imprescindíveis na vida e na missão de Jesus Cristo.

Maria e João Batista na vida de Jesus

Visitação de Maria a Isabel

A Santíssima Virgem Maria e São João Batista tiveram suas vidas unidas entre si e com o Senhor Jesus Cristo, no desígnio da salvação, pela ação da graça de Deus, que é o próprio Espírito Santo. Logo no início da vida de João, ainda no ventre de sua mãe, estava presente a Mãe de Deus, com Jesus em seu ventre1. A visita da Virgem de Nazaré à sua prima Isabel marca o início de um vínculo único com Cristo, que diz respeito a João Batista e à toda a Igreja. Nossa Senhora, impelida pelo Espírito, leva Jesus no ventre para um encontro que marcaria as suas vidas. Tanto que, mal Isabel ouviu a saudação de Maria, João “pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo”2. A experiência foi tão forte e profunda que, inspirada pelo Espírito, a Prima antecipa a profecia do canto do Magnificat a respeito da “Bem-aventurada”3 Virgem Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!”4 A Mãe do Senhor, por sua vez, antecipa o nome de João5 (Yehohanan), que significa Javé fez graça, fez misericórdia, na manifestação da graça do Espírito no ventre de sua mãe6, e na proclamação da misericórdia no Magnificat7.

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Depois da saudação de Maria, Isabel foi tomada de grande alegria e seu filho estremece de júbilo em seu ventre8. Mãe e filho vivem a verdadeira alegria, que vem do Espírito. “Lucas emprega o verbo grego skirtaô: dançar, significando o movimento elementar do menino. É o mesmo verbo que a Bíblia grega emprega em 2 Sm 6, 14, para referir-se à dança de Davi diante da Arca da Aliança. Maria é a nova Arca da Aliança, como anjo Gabriel a levou a compreender, e o pequeno profeta em gestação parece saltar de alegria pela aproximação do Senhor, de quem será o precursor”9. Dessa forma, realizou-se a profecia do Anjo a Zacarias a respeito de seu filho: “desde o ventre da mãe, ficará cheio do Espírito Santo”10.

Maria, a mulher “cheia de graça”11, cheia do Espírito Santo, ao saudar Isabel a faz também cheia do Espírito, bem como João, que ainda estava em seu ventre. “Pela vinda de Jesus, o Pentecostes, que começa em Maria12, tem continuidade em Isabel e João Batista”13, e posteriormente em Zacarias14. O menino expressa o Pentecostes de modo silencioso pelos movimentos que sua mãe sentiu15. Por sua vez, Isabel traz a primeira profecia do Novo Testamento a respeito da sua Prima e de Jesus16. Também invadida pelo Espírito, a Virgem de Nazaré profetiza o louvor das gerações17 e a obra da graça que vai estabelecer a justiça para os pobres e socorrer Israel, seu servo18. O Magnificat, a segunda profecia do Novo Testamento, expressa a experiência e a alma de Maria, em que tudo é adoração e ação de graças. Nele, a Virgem Maria não engrandece a si mesma, mas Deus19, e se faz a humilde serva do Senhor20.

A visitação de Maria a Isabel é o segundo Pentecostes, a segunda efusão do Espírito Santo no Novo Testamento e, ao mesmo tempo, a primeira comunicação do Cristo, que discretamente, no ventre de Maria, difunde a sua graça àquele que será o seu precursor. Fica evidente que a graça prometida a Zacarias aconteceu por meio desse encontro. A alegria prometida a Zacarias21 acontece primeiramente em João, que “saltou de alegria”22 no ventre de Isabel, e depois em sua mãe. A tradição interpretou este fato como um Batismo antes do tempo. João Batista foi liberto do pecado original antes de seu nascimento, por uma graça preveniente, ou seja, sem a decisão humana de acolher a graça. Por isso, a Igreja celebra o nascimento de João Batista, que veio ao mundo liberto do pecado original.

Ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre a “Natividade de São João Batista“:

Podemos estabelecer diversos paralelos entre a Virgem Maria e João Batista, que nos ajudam a compreender a ação da graça de Deus na obra da salvação dos homens. Da mesma forma que a fé de Maria recapitulou a expectativa de todo Povo de Deus, desde Abraão até os último dos pobres do Senhor, para dar à luz o Filho de Deus entre os homens, João concentrou em si as missões de todos os profetas e sacerdotes, para introduzir Jesus: o Profeta e Sumo Sacerdote da Nova Aliança. Maria colocou Jesus corporalmente no mundo; João introduziu-O profeticamente em sua missão. João suscitou a passagem da vida oculta para a pública e Maria obteve o primeiro milagre de Jesus, que em Caná começou o seu ministério e fundou a fé dos seus discípulos23. A encarnação do Verbo em Maria foi um admirável intercâmbio entre Deus e os homens: o Filho de Deus assumiu a vida humana para nos dar a sua vida divina. João também viveu um admirável intercâmbio, recebendo de Jesus a santificação precoce, como Maria recebera, ainda mais radicalmente, na sua Imaculada Conceição24. Maria gerou secretamente o corpo físico e místico do Verbo encarnado, e o Precursor o revelou publicamente25.

Assim, a Virgem Maria e João Batista participaram de forma determinante na primeira vinda de Jesus Cristo. Ambos receberam antecipadamente a graça do Espírito Santo, proporcionalmente à missão que lhes foi confiada no desígnio divino da salvação da humanidade. Ainda no ventre de Isabel, o Batista recebeu a efusão do Espírito, que o preparou para a missão de precursor do Senhor, de anunciador da vinda de Jesus. A partir da visitação de Maria, João recebeu a graça, que o conduziu para o deserto para anunciar a vinda do Senhor26. Como naquele tempo, somos convidados a acolher a visita da Santíssima Virgem, que quer nos dar esta mesma experiência do Espírito, para nos preparar para a segunda e definitiva vinda de Jesus Cristo27. Pois, como João Batista, nossa vocação é ser a “Voz de quem clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para ele”28, para preparar um povo convertido e bem disposto para a segunda vinda do Senhor. Todavia, somos os primeiros que devem viver, como João Batista, uma vida simples e austera, penitente e de íntima união com Deus. São João Batista e Nossa Senhora da Anunciação, rogai por nós!

Referências:

1 Cf. Lc 1, 39-56.

2 Lc 1, 41.

3 Lc 1, 48.

4 Lc 1, 42.

5 Cf. Lc 1, 63.

6 Cf. Lc 1, 44.

7 Cf. Lc 1, 54.

8 Cf. Lc 1, 41.

9 LAURENTIN, René. João Batista: o precursor do Messias. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 19.

10 Lc 1, 15.

11 Lc 1, 28.

12 Cf. Lc 1, 35.

13 LAURENTIN, René. Op. cit., p. 20.

14 Cf. Lc 1, 67.

15 Cf. Lc 1, 44.

16 Cf. Lc 1, 42-45.

17 Cf. Lc 1, 48.

18 Cf. Lc 1, 52-54.

19 Cf. Lc 1, 47.

20 Cf. Lc 1, 48.

21 Cf. Lc 1, 14.

22 Lc 1, 44.

23 Cf. Jo 2, 1ss.

24 Imaculada Conceição: em 8 de dezembro de 1854 o Papa Pio IX, na Bula Ineffabilis Deus, declarava dogma de fé a doutrina segundo a qual a Mãe de Deus foi concebida sem mancha do pecado original por um especial privilégio divino.

25 Cf. Lc 3, 16.

26 Cf. Lc 3, 3-4.

27 1 Tes 5, 23.

28 Mc 1, 3; Lc 3, 4; cf. Is 40, 3.

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