O Terço, nosso companheiro de viagem

Saiba por que o Terço ou Rosário deve ser nosso companheiro de viagem em nossa peregrinação pelos caminhos deste mundo.

São Domingos de Gusmão recomendava vivamente que tivéssemos o Terço Mariano ou Santo Rosário como nosso companheiro de viagem em meio aos perigos e às angústias deste mundo. Certa vez, São Domingos pregava o Santo Rosário, como tinha ordenado a máxima santa entre as santas, a Santíssima Virgem Maria. Com esse sermão, lançava a rede como um pescador e pescava quase toda a cidade de Paris. A pregação dava tantos frutos que a prática, o culto e a veneração do Saltério Mariano, como costumava chamar o Santo Rosário, começaram a crescer e a se espalhar por todas as partes da França, em todas as famílias e casas do povo.

Saiba por que o Terço ou Rosário deve ser nosso companheiro de viagem em nossa peregrinação pelos caminhos deste mundo.

Nossa Senhora do Rosário

O fervor desse sermão fez com que a sábia juventude, sob o influxo do Espírito de Deus, avançasse para metas mais altas. Abdicando à vida secular, muitos jovens se consagraram na Ordem de São Domingos, tendo o Santo como mestre de vida. Naquele tempo, começou a pregar exatamente no convento de Paris. “Aquela construção engrandeceu-se como ainda hoje pode-se ver: tendo ajudado muitíssimo o Bispo, o Rei, a Cidade e principalmente toda a Academia desse lugar, em vantagem de Deus e da Mãe de Deus”[1]. Depois desta breve apresentação, vejamos por que São Domingos pregava o Rosário da Virgem Maria com tanta veemência e o recomendava como nosso companheiro de viagem nos caminhos deste mundo, por vezes cheios de perigos e sofrimentos.

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O Santo Rosário nos caminhos difíceis deste mundo

Se devêssemos percorrer uma terra hostil, não desejaríamos alguém que nos conduzisse por ela sãos e salvos? Ou daríamos pouca importância a isso? Creio que o pensamento e o consenso a esse respeito são comuns a todos nós. Certamente todos nós vivemos cercados de inimigos e a Saudação Angélica ou Ave-Maria é o nosso sinal da salvação. De fato, o que significa a “Ave-Maria” pronunciada pelo Anjo, senão a ausência das culpas de Eva na Santíssima Virgem? “Ave-Maria” é o novo e primeiro Evangelho, é o bom Anúncio, feliz e propício (cf. Lc 1, 28). Pela “Ave-Maria”, quais degredados filhos de Eva, nos apegamos a nossa Senhora, que nos guia sãos e salvos, libertos do inimigo infernal. Sem dúvidas, todos nós fomos libertados da maldição de Eva, através da “Ave-Maria”.

Se devêssemos andar por cavernas e lugares escuros, não procuraríamos uma lanterna? Entretanto, todos nós nos dirigimos pelos caminhos sombrios e cavernas escuras da vida neste mundo. O que nos guia, senão a lâmpada de nossa Senhora? Acendamos essa chama na Saudação Angélica, repetida amavelmente, com o fogo da devoção, e seremos iluminados. A própria Virgem Maria é a Estrela do mar, que Ilumina as nossas trevas interiores.

Se um Rei estivesse desgostoso de nós por causa de nossos crimes, não nos alegraríamos se encontrássemos graça junto à Rainha, para que o descontentamento do Rei terminasse? Nós todos somos aqueles que ofendemos Deus, o Rei dos Céus, em muitas coisas. “A Rainha do Céu, Coração de Misericórdia, pode e quer reconciliar-nos com Deus: que a ‘Graça’ da Virgem seja recultivada e convenientemente honrada por nós no Saltério”[2]. Sendo assim, rezemos hoje o Terço ou o Rosário, visto que talvez não estejamos vivos amanhã.

As pessoas que viajam através de lugares desertos e terras inóspitas, sendo privados de alimentos humanos, não procuram outra forma de alimento? Caso contrário, nenhum homem prudente e sábio empreenderia essa viagem. “A terra da nossa peregrinação está deserta, inacessível, árida, pobre de bens celestes, vã e vazia. Porque tardamos então, porque permanecemos atrás, ao invés de receber todos, súbito, da abundância dela, que é ‘Cheia’?”[3] Recorramos a ela através do Santo Rosário e receberemos os bens de que precisamos, o alimento espiritual necessário para nosso caminho espiritual.

O Rosário da Virgem Maria e os perigos deste mundo

Em uma viagem durante a noite, na qual somos ameaçados por animais terríveis, o que seria necessário além de companheiros armados e sensatos como defensores? Nós estamos expulsos, nas sombras deste mundo, e realizamos uma viagem entre os ferozes monstros, que são os homens e dos vícios: sozinhos, estamos privados da graça. Estamos privados de uma guia e de um defensor. Então, “eis que aparece pronta a Amável Mãe Virgem: pede a Senhora, e a prende ‘Contigo’. A tua acompanhante em todas as coisas, a Saudação Angélica, qual o valor dela no Saltério?”[4]

Se fôssemos andar em casas ou lugares corrompidos com todos os tipos de crimes, iríamos sozinhos? Sem dúvida, levaríamos conosco, como testemunhas e companheiros, muitos homens santos e íntegros, de vida e de fama. Esse lugar infame é este mundo e todos nós o devemos atravessar. Feliz daquele homem que a ninguém golpeou pelas costas, que não leva consigo nenhuma infâmia. Dentre todos, apenas uma não tem nenhuma infâmia: é a “Bendita” por excelência (cf. Lc 1, 42). Sendo assim, aquele que a apresenta como companhia, estará seguro. E Nossa Senhora está com aqueles que a exaltam como a saudação “Bendita”, presente no seu Saltério. Por isso, recorramos a ela sempre com o Terço ou o Rosário.

Se o nosso nobre desejo de aprender nos tivesse levado a uma escola na qual o conhecimento fosse transmitido em uma língua estrangeira, o que seria necessário para realizar o nosso honestíssimo desejo? Certamente precisaríamos de um mestre de línguas. Nós também passamos por uma escola, desejosos em aprender a arte celeste, embora sejamos ignorantes da língua. Qual é o mestre que procuramos? Eis que o divino Mestre vem em nosso auxílio, para ensinar com a Sua palavra. A Saudação Angélica O faz conhecer a nós, através da Santíssima Virgem. Nela está o Espírito, o divino Mestre da Mãe de Deus. Nós mesmos O procuramos com as nossas orações e a Virgem Maria nos tornará Seu amigo.

Imaginemos que entramos em uma nação, na qual não é lícito levar nada e, por isso, devemos viver nele de esmolas. Além disso, nela os homens não têm piedade. Seus os corações estão endurecidos pela barbárie. No entanto, a natureza das mulheres dessa terra é inclinada ao bem. Nesse sentido, a Virgem Maria é a Mãe da Misericórdia! Mesmo se todos os anjos e os outros santos fossem contra nós e duros conosco por causa dos nossos pecados contra Deus, nossa Senhora, porém, seria sempre uma boa Mãe. Por isso, bendizemos a Virgem Maria justamente “entre as mulheres” (Lc 1, 42).

As graças alcançadas através do Rosário de Nossa Senhora

As pessoas que fizeram uma longa viagem e estão cansadas e exaustas, com fome e sede, e privadas de um refúgio para refazerem as forças, o que pode lhes acontecer de mais agradável do que encontrar uma árvore cheia de bons frutos e uma fonte de água fresca? “Na estrada árida da vida, encontramos a Beata Virgem, Árvore do ‘Fruto’ três vezes Bendito, junto à Fonte da Vida: então saudamos juntos o Fruto e a Árvore no Saltério”[5].

Imaginemos que um de nós fosse coroado Rei, de um Reino no qual todos são estéreis e consequentemente ninguém pode ser pai ou mãe. Então, mostram ao novo Rei uma pedra preciosa, que tem a força de dar fecundidade a todos. Ele seria sábio ao rejeitar? Não. Ele ama muito o seu Reino e, aceitando a pedra preciosa, cada um será Rei do próprio corpo. Porém, esse Reino está numa terra de maldição e de espinhos, onde domina a infeliz esterilidade. Diante disso, o Reino pode ser feliz por fecundidade, pois cada um utilizaria cuidadosamente a pedra preciosa, que é a Saudação Angélica, que diz “do Ventre” (Lc 1, 42). Dessa forma, nos será dada a fecundidade, pelo Espírito Santo, e nossa Senhora afastará a esterilidade do espírito do mundo, para que invocada corretamente, ela restitua amplamente a fecundidade da carne!

Não ignoramos que Jesus Cristo nos disse: “Negociai até que eu voltar” (Lc 19, 13). Mas, diante disso, cada um de nós pode dizer: sou mendigo e pobre, não possuo ouro nem prata. Então, com o que negociarei? Nesta condição, não desejaríamos uma grande Rainha, que queira nos dar abundantes riquezas? Não pediríamos as suas graças? É a Virgem Maria, de quem se diz: “do teu” (Lc 1, 42), que tem a posse dos dois mundos, do celeste e do terrestre. Ela possui a Verdade por nós e somente a ela servimos no Santo Rosário.

Se alguém fosse amarrado com cordas e preso num cárcere, e não tivesse a chave para se libertar, mas abrindo-se lhe as portas, fosse concedido que saísse com glória, ele não seria louco se não aceitasse? Nós também estamos amarrados, presos na pobreza e acorrentados. Por que então não aceitamos “Jesus”, que é a Chave de David? (cf. Ap 3, 7). Ele é acolhido com a mesma Saudação, através da qual foi concebido (cf. Lc 1, 28). “Omitiremos de pregar, orar, levar, beijar, venerar abertamente o Saltério [Terço ou Rosário], Palácio da Saudação?”[6]

A quem vive numa terra infectada e em putrefação, o que seria necessário para garantir a saúde? Nós, míseros filhos da morte, arrastamos a respiração e a alma na pestilência do mundo, porque vivemos. Morremos, porém, sepultados na imortalidade e a peste respirada pode nos tornar infelizes ad aeternum, ou seja, eternamente. Sendo assim, quais são as formas de combater esta peste? A nós cristãos, basta o remédio: Cristo. E quem distribui e aplica o remédio é Maria, que dá seu Filho Jesus ao mundo pestilento. Ela concederá também a nós a graça de venerá-la dignamente com a Saudação Angélica.

Nossa Senhora do Rosário, Rogai por nós!

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A origem do Rosário de Nossa Senhora.

TODO DE MARIA. Os mistérios, a beleza e os frutos da Ave-Maria.

TODO DE MARIA. O significado do Rosário da Virgem Maria.

Referências:


[2]  Idem.

[3]  Idem.

[4]  Idem.

[5]  Idem.

[6]  Idem.

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