Viver a vocação no dia a dia

Aprendi a viver a minha vocação a cada dia. Foi um aprendizado muito concreto. Aprendi vivendo. 

Já estava no meu 11º ano de seminário e deveria fazer os votos para sempre; no final da teologia seria ordenado padre. Diante de tão grande responsabilidade, nasceu uma grande interrogação em minha cabeça: “Será que eu conseguirei ser um bom padre?” Olhando para as minhas limitações, sabia que não seria capaz. Esse sentimento foi me apavorando de tal forma, que no meu coração não havia mais paz. Já não dormia nem comia direito. Eu não poderia exercer a minha vocação de qualquer maneira. 

Então resolvi conversar com o meu diretor. Ele me escutou até o fim e, sorrindo, disse: “Jonas, você será no futuro o padre  que você precisa ser hoje. A única maneira de garantir a qualidade da sua vocação é vivendo o hoje da melhor forma possível”.  No mesmo instante, compreendi tudo. A partir desse dia, comecei a viver a minha vocação dia a dia. Temos de viver a vontade de Deus no “agora” da nossa vida. O passado já é passado. O futuro não existe ainda. Só temos o momento presente

O que devo ser amanhã preciso ser hoje

O padre que serei no dia de amanhã eu o realizo no dia de hoje. Você será a pessoa casada, pai ou mãe de família, vivendo o hoje de cada dia. Deus nos deu a grande graça de  poder dividir a nossa vida em dias. “Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu mal” (Mt 6,34).

Se meus pais não tivessem vivido a sua vocação ao matrimônio, eu não seria padre. A vocação do matrimônio também deve ser vivida dia a dia. Cada dia é um dia de fidelidade.Os solteiros, que são chamados ao matrimônio, serão pais e mães no futuro, porém é preciso que a vocação seja construída no dia de hoje. Seremos amanhã tudo aquilo, e somente aquilo, que vivermos hoje. 

Também para aqueles que já são pai e mãe, será no dia a dia que a vocação acontecerá. Muitos pais e mães se consomem mais do que um padre ou uma pessoa consagrada. Muitas vezes, nosso coração fica apertado, as lágrimas rolam de nossos olhos e vamos dormir com um peso no coração, mas, se vivemos a nossa vocação naquele dia, podemos dizer: “Hoje eu sou feliz assim, tenho a ti, meu Deus”.

foto: cancaonova.com

Nossa grande alegria é poder recomeçar

Sempre teremos problemas, dificuldades, tentações. Nossa grande alegria é poder recomeçar, porque fazemos a nossa vida dia a dia. Se hoje não conseguimos, recomeçamos no dia seguinte. 

Tenho visto cabeleireiras e manicures que trabalham e, ao mesmo tempo, evangelizam. O salão não precisa ser um lugar de fofoca e de futilidades, ele pode ser um maravilhoso local de evangelização. Os barbeiros, taxistas, médicos, enfermeiros têm grandes possibilidades de evangelizar, assim como telefonistas, atendentes, balconistas, enfim, toda profissão pode ser evangelizadora.

Podemos evangelizar entre aqueles que trabalham conosco e entre aqueles para quem trabalhamos. Os professores e os profissionais da área da educação, e os que trabalham na área da saúde, médicos, psicólogos, psiquiatras, dentistas, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, todos têm grande influência e por isso grandes possibilidades de evangelizar.

Toda profissão se torna evangelizadora

Os trabalhadores são evangelizadores na hora do almoço, do descanso, enfrentando situações difíceis… Não precisamos mudar de profissão, mas colocar nossa profissão  a serviço da nova evangelização. O Senhor nos mostra que toda profissão se torna evangelizadora quando a colocamos a serviço do apostolado. 

Não precisamos pregar a todo instante. Podemos falar de Deus, da sua Palavra, testemunhando e enfrentando juntos os problemas, a partir da luz do Evangelho; resolvendo as questões dentro dos padrões cristãos e mostrando o porquê.

Você irá cativar as pessoas e ajudá-las, convidando-as para encontros, palestras, grupos de oração, tudo através do seu próprio testemunho. Não duvide! Temos grandes possibilidades.

Não mude de profissão! Pense nas suas possibilidades. Meu pai era pedreiro, mas também um apóstolo. Um homem santo. Posso afirmar isso, porque conheci de perto sua vida, suas durezas e lutas. Meu pai passou pela pobreza com honestidade. Santidade é isso. 

“Tem alguma arma aí?”

Minha espiritualidade também é fruto da santidade do meu pai, que andava constantemente com o terço no bolso ou nas mãos. Formavam uma dupla maravilhosa: os dedos do meu pai calejados, com cimento e cal, e o terço. O terço do meu pai era áspero, porque suas mãos e seus dedos também eram. Essa bonita aspereza foi o que me formou.

Meu pai trabalhou em Brasília nos tempos duros da construção da nossa capital. Levantava às quatro horas da manhã para ir ao canteiro de obras, trabalhava das seis da manhã às dez da noite e voltava de caminhão para o alojamento. No dia seguinte, voltava a acordar no mesmo horário. 

Certa vez, num bar próximo ao alojamento, meu pai tomava seu café, ainda de madrugada, quando aconteceu uma batida da polícia. Os policiais revistaram todas as pessoas e, antes  de revistarem os bolsos do meu pai, perguntaram-lhe:

“Tem alguma arma aí?” Meu pai respondeu: “Tenho”. Então o soldado revistou seu bolso e tirou o que havia dentro: um lenço e um terço. O guarda ficou olhando, sem graça, mas meu pai aproveitou para evangelizar e disse: “Essa é a minha arma, seu guarda”. Meu pai não era pregador. Eu sou. Mas para eu me tornar pregador, precisei de um “pregador” como ele. Só assim Deus pôde fazer em mim sua obra.

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Preparamos o caminho do Senhor

Para nos formar operários de Deus em nossa profissão, pescando homens em outros mares, o Senhor tem uma fórmula, um método: a graça do batismo no Espírito Santo. Jesus também trabalhou, evangelizou e curou. Mas só depois de ter retornado ao Pai é que Ele enviou aos apóstolos, reunidos no cenáculo, o seu Espírito Santo. Já trabalhamos muito para Deus. Como João Batista, preparamos o caminho do Senhor. Agora somos convidados a experimentar essa graça: o derramamento do Espírito Santo. 

Esta é a graça também para os operários cansados, desanimados, que voltaram atrás! Com o derramamento do Espírito Santo, conseguimos superar o peso do nosso dia a dia, o cansaço da missão, as mágoas, os ressentimentos, as decepções… 

Embora não esteja disposto a voltar e o seu coração esteja frio, duro, calejado, abra-se e receba a graça que eu recebi, o que fez mudar o rumo da minha vida: a graça do derramamento do Dom Terra, teólogo e biblista que conheceu profundamente a Renovação Carismática, nos fala sobre o “batismo do Espírito Santo” e explica que não se trata de outro batismo, pois não está na dimensão dos sacramentos, e sim na dimensão da graça. Não se trata de outro batismo, e nem mesmo de uma simples renovação do batismo recebido. O que recebemos é uma graça especial, uma efusão nova do Espírito Santo para impulsionar-nos ao apostolado. 

 Deixe-se “batizar” profundamente no Espírito Santo

O que este derramamento do Espírito Santo nos concede é um novo ardor, uma ousadia que descobrimos, uma coragem que até então não tínhamos, de lançar-nos no trabalho de Deus: na evangelização. Torna-se impossível calar-nos e deixar de testemunhar com entusiasmo aquilo que ouvimos; aquilo que o Senhor fez em nossas vidas; aquilo que nós  mesmos experimentamos e não podemos deixar de anunciar. 

Essa é a providência de Deus para os nossos tempos, a esperança da salvação da nossa sociedade neste novo milênio.  Devemos nos abrir à salvação, à ação de Deus e do seu Espírito Santo. O Senhor está fazendo “chover”, basta sairmos na chuva para nos molhar… Estamos vivendo um momento único de graça. As pessoas que já trabalharam para o Senhor de uma forma especial, os que já foram seus discípulos e estão dispostos a investir em sua profissão, precisam ser restaurados agora pelo batismo no Espírito Santo. 

Infelizmente, contudo, uma couraça está se formando ao redor das pessoas, impedindo-as de se abrir a esta graça. É preciso deixar-se banhar, este é o sentido que Jesus deu ao verbo “batizar”. Deixe-se “batizar” profundamente no Espírito Santo, para ser um apóstolo de Jesus. Para ser operário nesta última hora. Os tempos se abreviaram, estamos no “final dos tempos”. O Senhor intervirá na face da terra e não irá demorar.

O Esposo que já está chegando. 

O nosso mundo está sendo arrasado pelo mal e não podemos nos alienar desta realidade. Precisamos retomar nossa luta até o fim, sabendo que o Senhor virá e transformará tudo. Nossa parte é lutar. Trabalhar como aqueles homens que encheram as talhas de água. Até o fim, teremos que encher as talhas, sabendo que quem virá transformar a água deste mundo em vinho novo é Jesus, o Esposo que já está chegando. 

Quando o Senhor vier, transformará esse mundo velho num mundo novo. Ele nos trará a Terra Nova. Da água, teremos vinho. Somos convidados a participar desta hora de graça. Deixe-se batizar no Espírito Santo, porque você é “operário da última hora”. Especialmente aqueles que já foram operários do Senhor, saiba que Ele os está convocando novamente. Ele quer batizá-los no Espírito Santo e conferir-lhes os dons, renovando-os. O Senhor quer despertá-los e trazê-los novamente para a ativa. Como os discípulos de Emaús, confusos e  abatidos depois de presenciarem tudo o que havia acontecido com Jesus, Ele quer que seus olhos e seu coração se abram e o reconheçam “no partir do pão”. 

Reze agora:

Sou operário da última hora. Já havia sido teu operário, Senhor. Agora estás me chamando de volta. Volto como operário deste novo tempo para esta nova evangelização. Estou  voltando para pescar em outro mar. Batiza-me, Jesus, no Espírito Santo. Mesmo não compreendendo tudo o que estás fazendo, quero ser uma pessoa cheia do Espírito Santo, como Pedro, João, Tiago e André. Batiza-me, Senhor! Quero voltar a ser pescador de homens.

Texto do Livro: Vocação: um desafio de amor – Monsenhor Jonas Abib

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