As brigas geram imaturidade

crianças, brigas, são paulo, coríntios, divisãoNeste estudo da I Carta de São Paulo aos Coríntios entramos no capítulo 3. Neste trecho, a partir da explicação presente no texto anterior, São Paulo mostra um dos principais motivos da imaturidade de membros na comunidade de Corínto. E assim, retoma o tema central da carta: a divisão. A explicação do texto está no vídeo abaixo com mais informações no texto que segue. Como dicas de aplicação do texto na vida, sugiro a leitura de um texto de Santo Agostinho sobre o salmo 130.

Mais informações

Após mostrar o contraste entre homem natural e homem espiritual e, ainda, explicar quem é o homem espiritual, São Paulo diz que os membros da Igreja de Corinto ainda eram esses homens naturais (3,1).

Num primeiro momento ele diz este fato, porque no início da comunidade ainda não tinham maturidade da fé e que por isso lhes era dado o leite, como a criancinhas (3,2a). Mas critica que a imaturidade continue, mesmo depois de um tempo. E se entristece porque infelizmente, a comunidade ainda não alcançou a maturidade (3,2b).

E o apóstolo deixa claro as razões pelas quais a comunidade não alcança essa maturidade espiritual necessária: porque há ciúmes, contendas, vivendo assim como carnais e de modo humano e não espiritual (3,3). Demonstra isso através do que realmente acontece na comunidade, relembrando a linguagem da divisão falada na Igreja (3,4).  E a partir do versículo 5 ataca então, o que para ele – Paulo – é a raiz do motivo pelo os membros da comunidade não se tornam pessoas espirituais: a divisão. Por isso quer explicar o verdadeiro papel de alguns daqueles a quem são nomeados os partidos: Paulo e Apolo (3,5).

Para isso usa dois exemplos. O primeiro relacionado a plantação (3,6). Assim, deixa claro que as pessoas exercem funções diferentes dentro de um grupo (um planta, outro rega), mas que todos são iguais diante de Deus (o que planta ou o que rega são iguais: cada um receberá sua recompensa segundo o seu trabalho), pois quem realiza o trabalho e para quem tudo converge é Deus (mas só Deus, que faz crescer).

O segundo exemplo é sobre a construção de um edifício. Quem trabalha na evangelização/formação é operário do edifício. E esse prédio é a própria comunidade (3,9). Novamente, funções diferentes: Paulo, como arquiteto, lança o fundamento e outros, como pedreiros, constroem, edificam (3,10).

A partir disso o apóstolo vai se aprofundar um pouco mais nesses trabalhos distintos. Diz que lançou o fundamento que é Cristo e que isso não pode mudar (3,11). E a partir daí questiona o que outras pessoas andam construindo em cima desse fundamento que ele lançou (3,12). Como veremos adiante, alguns na comunidade ensinavam coisas contrárias a verdade. Ensinavam sabedorias meramente humanas, ou seja, construíam o edifício com materiais inapropriados, Mas segundo São Paulo, o que foi construído com sabedorias humanas não resistirá quando for colocado a prova (3,13).

E começa um trecho muito duro, voltado para esses membros que insistiam na sabedoria humana em detrimento da sabedoria divina. E que, consequentemente, causavam as divisões, se colocavam como mais importantes que outros e deturpavam o real ensinamento de Cristo (3,14-15). Para isso, continua a dinâmica da construção usando a imagem do mais importante edifico judeu: o Templo. Para os judeus, o santuário de Jerusalém era o lugar onde Deus morava. São Paulo inverte a lógica ao dizer que esse prédio somos nós e que Deus agora mora em nós (3,16).

E, retomando a linguagem de julgamento dos versículos 13-15, alerta aos que, primeiramente vindos da tradição judaica (e por isso o exemplo do Templo de Jerusalém) ensinavam coisas equivocadas, segundo seus conhecimentos de escribas. Dessa forma, ao invés de construir o edifico, destruíam o templo de Deus que é a própria comunidade e cada um de seus membros.

Além desses, São Paulo alerta também aos que, baseados na sabedoria grega construíam o edifício da comunidade. A esses ele retoma os paralelos sabedoria humana, sabedoria divina, loucura dos homens e loucura de Deus (1,23). A esses também é válida a dinâmica de julgamento, pois também destroem o edifico que é a comunidade, ao ensinarem coisas contrárias ao fundamento do prédio que é a comunidade.

Conclui esse trecho retomando a unidade ao dizer que não se deve seguir aos homens (Apolo, Paulo ou Pedro), mas que todos fazem parte da mesma Igreja e que por isso tudo é vosso (3,21-22). E tudo se centraliza, não em alguma dessas pessoas ou conjunto de ideias baseadas no conhecimento puramente humano, mas em Cristo, em Deus (3,23).

Dicas de como aplicar o ensinamento no dia-a-dia

Nessa etapa, acho interessante frisarmos a perspectiva do trecho sobre o Templo de Deus citado por São Paulo nessa passagem. É costumeiro se fazer comentários sobre este texto apenas no âmbito da sexualidade, mas é preciso entender tudo isso dentro do contexto da vida comunitária, da vida ao lado das outras pessoas e, ainda, perceber esse Templo como casa de oração, local onde encontramos com a Verdade que está dentro de cada um de nós. Para refletirmos também nisso, sugiro a leitura de um trecho de um sermão de Santo Agostinho:

O Senhor expulsou-os a todos do templo». O Apóstolo Paulo disse: «O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós» (1Cor 3, 17), quer dizer, todos vós que acreditais em Cristo e que credes ao ponto de O amar. […] Todos aqueles que assim crêem são as pedras vivas com as quais se edifica o templo de Deus (1Pe 2, 5); são como essa madeira imputrescível de que foi construída a arca que o dilúvio não pôde submergir (Gn 6, 14). Este templo, o povo de Deus, os próprios homens, é o local onde Deus nos concede o que Lhe pedimos. Àqueles que rezam a Deus fora deste templo não será concedida a paz da Jerusalém do alto, mesmo que lhes sejam concedidos certos bens materiais que Deus também concede aos pagãos. […] No entanto, ser atendido no que diz respeito à vida eterna é uma coisa totalmente diferente; isso não é concedido senão àqueles que oram no templo do Senhor.

Porque aquele que reza no templo de Deus reza na paz da Igreja, na unidade do Corpo de Cristo, porque o Corpo de Cristo é constituído pela multidão dos crentes distribuídos por toda a terra. […] E aquele que reza na paz da Igreja, ora «em espírito e verdade» (Jo 4, 23); o Templo antigo era apenas um símbolo. Com efeito, foi para nos instruir que o Senhor expulsou do Templo estes homens que não procuravam senão o seu próprio interesse, que só lá se dirigiam para comprar e para vender. Se esse Templo antigo teve de passar por essa purificação, é evidente que também o Corpo de Cristo, o verdadeiro Templo, tem compradores e vendedores misturados com aqueles que rezam, quer dizer, homens que só procuram «os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo» (Fil 2, 21). […] Tempos virão em que o Senhor expulsará todos os seus pecados..

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África)
Sermão sobre o salmo 130 §§ 1-2 (O Corpo de Cristo, Templo Santo)
Fonte: Evangelho Cotidiano

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Denis Duarte

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