Um rio somente é rio se desde a sua nascente ele corre até o mar. Só é rio porque tem um curso de água ininterrupto. Se um rio seca é porque a sua água parou de correr suavemente pelo leito que a natureza preparou para ela correr. O rio pode transbordar e continuar a ser um rio, mas se para de brotar água e ela para de correr não é mais rio, simplesmente extinguiu-se. Se não há água corrente não há rio.

Da mesma forma acontece com o amor humano. (Quero refletir sobre o amor humano entre um homem e uma mulher). O amor humano tem uma nascente, um encontro encantador, um dia em olhos se cruzaram e começaram a surgir emoções e sentimentos abrasadores que penetraram o intimo de duas pessoas, num dado momento da vida. A nascente do amor é o primeiro encontro, a primeira conversa, ás vezes cheia de vergonha, ou sem ter o que falar, pois o coração aperta e grita o interior pelo encantamento da pessoa amada.

Como é bom lembrar aquele primeiro encontro, os gestos que me falaram fundo ao coração, o olhar que me fez repensar a vida, a promessa de vida, como o pequeno olho d’agua que promete ser um rio enorme.

O amor acontece por acaso ou porque o Criador, que é a grande fonte nos revela? Quero crer que a resposta mais sensata é que o Criador cria espaços nesta terra para encontros maravilhosos, que são nascentes de água que brotam para a vida eterna.

O Beato João Paulo II em seu Livro “Amor e Responsabilidade” escreve que o amor só é verdadeiro na continuidade. Penso que esta frase é muito relevante no mundo de hoje, onde as coisas são tão descartáveis e tudo acaba muito rápidamente. As pessoas esqueceram que a vida é feita de escolhas e que as escolhas precisam ser definitivas. Amar alguém é escolhe-la definitivamente como companheira na viagem da vida. Como o curso do rio que é longo até chegar ao mar, mas é perene, é contínuo, o amor humano precisa ser contínuo e ter um curso certo: ir até Deus. Se amamos alguém é para leva-lo a plenitude da vida que é o encontro definitivo com Deus. Quem ama de verdade não para de amar por conta das dificuldades do caminho, porque isto não seria amor, mas um jeito de satisfazer as minhas necessidades. Amar implica em permanecer. “Permanecei no Meu amor” disse Jesus (João 15). Permanecer é ficar ligado a fonte de vida.

O amor humano precisa sempre voltar à nascente, ao primeiro encontro e atualiza-lo a cada dia. Talvez o que traria vida de novo aos casamentos, que podemos dizer que estão minguando e se acabando por falta de “água corrente” seria a possibilidade de se voltar ao “primeiro amor” e colher de novo a água limpa do amor essencial , o amor de encantamento que aconteceu no primeiro encontro. E quem sabe transborde este amor aos filhos, a família e a sociedade.

Meu convite hoje para você é que você volte ao amor original e redescubra a possibilidade de vida nova no seu relacionamento. Invista hoje no amor e resgate a maravilha de viver com alguém por amor, com amor e no amor. Desta forma as águas se renovam, a vida brota e o rio da vida segue seu curso até o encontro definitivo com a grandeza do mar de Deus.
Deus o abençoe.

Print Friendly

Não podemos nunca esquecer que neste mundo em que vivemos se trava constantemente uma batalha espiritual. Isto porque as forças malignas que se implantaram nos corações humanos por conta de aderirem ao pecado, e também os ambientes consagrados ao maligno, por conta de estarem sendo dominados por forças que destróem a vida e promovem o mal. E muitos dos filhos de Deus estão totalmente envolvidos nestes ambientes, outros acabam recebendo a contaminação espiritual em suas vidas e acabam se entregando ao pecado, como que sem forças para lutar e escolher pelo bem.

Mas a situação pior de todas é a contaminação do interior da pessoa humana com as propostas malignas e a proposta mais astuta é a da vanglória, do orgulho pessoal. Se instalou no coração de muitos este mal: o orgulho, a autosuficiência, e estas pessoas se tornaram arrogantes e pretenciosas. O salmista fala que estes pensam no seu interior (Inspirados pelo maligno): “Deus não me vê!”. E quantos estão vivendo para preencher a si mesmos desta soberba, dizendo que podem tudo e que não precisam de ninguém e muito menos de Deus. È um verdadeiro ateísmo existencial.
E muitos cristãos, que comungam da Palavra de Deus, que vivem até vida sacramental na Igreja católica, estão contaminados com esta doença deste nosso tempo: o orgulho e a vaidade. Tudo isto é ação maligna neste mundo para levar muitos a perda da paz, distorção na vida relacional, e até a perdição eterna.

O remédio e a chave da vitória contra este mal existe. E é esta novidade que a Igreja hoje está proclamando: a HUMILDADE. Esta é a chave da vitória contra o maligno. O mundo está precisando de pessoas que aceitem, que queiram do fundo de suas almas se tornar humildes. O maligno se afasta de quem é humilde, ou que está lutando para ser humilde. Jesus se fez humilde e obediente ao Pai e aceitou ser pregado na cruz por nossos pecados. Esta é a prova definitiva e única que a humildade vence o maligno.

Nosso Papa Francisco começa o seu pontificado mostrando esta verdade ao mundo com sua postura e sua santa humildade. Penso que podemos entrar nesta luta espiritual com a arma da humildade. É um caminho seguro para que o maligno se afaste de nossa vida e como profetizou Zacarias ao ver o Menino Deus no Evangelho de Lucas: “libertados e mãos inimigas, possamos servi-Lo em santidade e justiça, em sua presença, todos os dias de nossa vida”.

Meu convite é investir em tudo que nos possa tornar mais humildes, para que o Senhor seja nossa única força e salvação.

Deus o abençoe neste santo propósito.

Print Friendly

Nos livro dos Atos do Apóstolos das Sagradas Escrituras, no capítulo 3, Pedro e João vão ao templo para rezar. Na porta do templo está um coxo de nascença pedindo esmolas. Ele implora aos apóstolos uma esmola. Pedro pede a ele que olhe para os apóstolos, para ele perceber que eles não tinham possibilidade de dar a esmola. O Coxo olha para eles com atenção. Pedro responde: “ouro e prata eu não tenho, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo levanta-te e anda.”

Queria me ater a este fato relatado por Lucas nos Atos dos Apóstolos para focalizar neste gesto de Pedro a transmissão da fé. Pedro transmite a fé no Cristo ressucitado àquele coxo e nesta fé transmitida e acolhida acontece o milagre. O coxo primeiro acolheu no seu coração (os olhos são o espelho da alma) a fé que Pedro demonstrou e transmitiu. A Escritura diz que ele “de um salto, pôs-de pé e andava”. Este ato de fé de levantar-se, acreditar nas palavras da Igreja nascente, em Pedro o primeiro Papa fez toda a diferença.

É preciso retomar a fé em Jesus Cristo pela via apostólica de nossa Igreja. Crer na força do Ressuscitado é crer na Igreja.
No versículo 16 Pedro, para tirar qualquer dúvida que quem realizou o milagre foi Jesus, afirma: “Em virtude da fé em seu nome foi que esse nome consolidou este homem, que vedes e conheceis. Foi a fé em Jesus que lhe deu essa cura perfeita, à vista de todos vós.”

A fé em Jesus Cristo abre as possibilidades de cura total da pessoa humana, porque maior doença de nossa humanidade é a falta de fé Nele. Vemos que se confia em tantas coisas, se acredita rapidamente em doutrinas ensinadas pela mídia para ganhar audiência do público. Hoje é dia de afirmarmos a nossa fé no Deus Verdadeiro que está vivo e ressuscitado e por isso pode realizar todas as coisas por sua presença salvífica.

Convoco os cristãos por esta mensagem a renovarem os seus atos de fé, a buscar em Jesus Cristo a resposta definitiva para suas vidas. Jesus Cristo cura todos aqueles que renovam de verdade a sua fé.

É verdade que nem todos são curados e muitos morrem por causa de suas doenças, até porque o morrer é natural para nós seres humanos. Mas para recebermos a cura interior: o acolhimento do sofrimento como redentor, a força de continuar vivendo e tendo esperança mesmo no desespero, a atitude de perdão porque foi perdoado muitas vezes, é preciso proclamar sua fé em Jesus Cristo que venceu a morte para nos redimir e curar.

Vamos pedir hoje ao Senhor que retire de nós toda a paralisia de fé, e que possamos crer em suas Palavras e viver por elas, confiantes e entregues nas mãos redentoras de Cristo.
Deus te abençoe e te cure.

Print Friendly

Quando um casal resolve se casar é muito importante lembrar que a união é entre duas pessoas. A pessoa humana é a criação de Deus mais linda, mas o homem e a mulher não foram criados perfeitos, porque se assim fosse seriam “deuses” e não pessoas.
Deus nos criou em estado de construção em todos os pontos de vista: físico, psicológico, emocional e espiritual. Somos imperfeitos e feitos para a plenitude, mas isto depende de crescimento pessoal e cada um tem um ritmo e um tempo para o amadurecimento.
Com isto podemos afirmar que um casamento entre duas pessoas incompletas e em “construção” pessoal constante é um grande desafio. Por isso há a necessidade de buscar uma compreensão maior da outra pessoa em suas vissicitudes e ambiguidades. Esta compreensão mútua e tão necessária pode ser chamada também de compaixão.

A compaixão é uma palavra que designa também o viver a paixão e a vida do outro, junto dele e unido a ele em suas imperfeições e sofrimentos pessoais. Ter compaixão do conjuge é um caminho seguro para manter um relacionamento saudável e duradouro. Porque quem vive unido ao outro e convive no dia-a-dia percebe de forma clara todas as deficiências pessoais do outro. E ter em si o sentimento de compaixão com a “miséria” do outro é uma forma eficaz para viver juntos.

Se ao contrário vivemos querendo corrigir ou julgando, querendo consertar do nosso modo e no nosso tempo o outro; ou ainda se não suportamos ou compreendemos as fragilidades do outro, fica muito difícil a vida a dois. Isto porque os erros e pecados do outro, seus desvios morais, suas neuroses e crises atingem de cheio quem convive mais de perto, e é inevitável que o conjuge tenha que suportar situações difíceis no relacionamento.

A dica de hoje: tenha compaixão da pessoa que vive com você. Isto se aplica em todo relacionamento humano, mas no casamento isto é imprescindível: olhar o outro com misericórdia e ter compaixão de suas fraquezas, compreender e ter sempre em mente que o tempo fará com esta pessoa cresça neste ou naquele aspecto. É dar sempre uma chance do outro se construir e não afastar-se por causa disto.

Que o Deus que nos tem compaixão imprima isto no nosso coração, para o bem de nossos relacionamentos. Deus abençoe você neste propósito. Diácono Paulo

Print Friendly

Sempre se faz esta pergunta: O que é o Natal?
E as respostas podem dadas por diferentes pessoas em diferentes situações que estão vivendo em suas vidas.

Quero refletir com você nesta véspera do Natal de 2012 sobre as possíveis respostas que podem surgir no nosso meio.

Para uma mãe que perdeu um filho porque um atirador entrou atirando numa escola, o Natal talvez seja um dia triste, que aumenta a saudade e o amargo na boca que nasce de um sentimento de perda irreparável. Talvez se ela ouvir um sino batendo ou um canto de paz ela vai confundir com o grito desesperado de uma criança, o seu filho.

Para um pai alcóolatra que se entregou à bebida para esquecer as suas próprias situações de abandono da família, ou a mágoa com a vida que não lhe foi tão próspera, o Natal é mais um dia para se afundar no vício e dizer que sua vida não vale grande coisa. Normalmente estas pessoas na noite de Natal choram muito de saudade dos seus e continuam atolados na solidão. Natal é um dia como os outros.

O Natal para quem tem muitos recursos materiais e enche a casa de comida e bebida, normalmente tem uma alegria aparente, porque nada pode preencher um coração insaciável por ter coisas. Tem muitas coisas e o sentimento de vazio é cada vez maior. Ainda porque os vínculos muitas vezes se perderam pelo caminho da vida e na sequencia de divórcios e distância de filhos de mães ou pais diferentes, paira sempre a solidão de quem tem tudo, mas não possue vinculos que produzam a felicidade tão almejada.

O que é o Natal para quem vive uma vida com significado? O Natal é o momento de rever quem ama, abraçar e beijar os queridos de sua família. Distribuir presentes que podem ser baratos mas que marcam a vida de quem os recebe, pois foram comprados com amor. A abundância de alimentos saborosos nem faz a diferença pois as pessoas e as amizades são bens superiores. E quando se ama de verdade a convivência amiga não exige muitas coisas, basta na verdade a presença.

O Natal para quem encontrou Deus na sua vida é o momento de encontro com quem O “amou primeiro”. Natal é dia do encontro com o Menino Deus, de participar da Eucaristia e ter comunhão com Ele e com os irmãos. E neste Natal todos podem participar.

E o que fazer para ajudar aquela mãe que perdeu o filho?
Quem estiver mais perto lhe abraçe e que ela sinta neste abraço o consolo de saber que o Natal pode trazer a vida e a esperança em meio ao sofrimento.

E aquele pai de família atolado na bebida?
No Natal se você encontrar alguém nesta situação ou drogado ofereça a sua mão e acolha com amor esta pessoa para que ela se sinta amada pelo menos esta noite e procure por causa desta fagulha de amor recebido, buscar ajuda, se levantar e recomeçar a vida. O amor recebido faz grande diferença na vida destas pessoas.

Se você for rico e se perdeu na falta de vínculos, o Natal pode ser enriquecido pela partilha. Ajude uma família a ter um Natal melhor, reparta. Quem dá aos pobres e necessitados recebe sempre mais do que aquilo que deu. Porque um gesto de amor sempre beneficia quem o dá mais que quem recebe. E o amor dado marca o coração de quem recebe, e a felicidade brota no coração de quem deu.

Desejo um Feliz Natal a todos e que o Menino Jesus nos visite com a sua graça neste dia tão especial.

Print Friendly

A palavra “Conversão” nos remete a exame de vida num sentido mais profundo do nosso ser, pois as coisas que vivemos e que queremos mudar impactam na nossa alma. Assim como somos atingidos na alma pelos pecados que cometemos, pelas decisões de vida que tomamos, pelas escolhas certas ou erradas, quando queremos para nós uma verdadeira e definitiva conversão somos tocados no nosso sagrado. E é neste momento que a graça de Deus vem em nosso auxílio: quando decidimos mudar algo em nós, que nos é destrutivo ou que é destrutivo para quem convive conosco.

Ouso comparar isto alegóricamente a um sistema do computador, que a cada tempo se apresenta uma nova “versão” , um novo formato, com novas possibilidades e telas, com ajustes naquilo que não deu certo, que não processou de acordo. Nós também precisamos de tempos em tempos buscar uma nova “versão” da nossa pessoa, buscando ajustes na qualidade de ser e de relacionar-se com os outros. A isto eu chamo da CONVERSÃO: buscar um novo formato melhorado. É claro que depois de algum tempo vamos ter que buscar uma “versão” melhor, mas hoje é tempo de estabelecer isto como meta: dar uma upgrade na vida.

Então quero deixar neste texto algumas dicas:

a) Examine a sua “máquina”, se reveja criteriosamente, sem medo de apontar onde tem errado, exagerado, pecado, cometido injustiças, deixado de corresponder as expectativas dos outros, principalmente os mais próximos. A ordem é se rever, tirando todas as mascaras e as desculpas, os subterfúgios e arrogâncias. Onde preciso mudar?

b) Trace um plano de mudança, uma virada. Neste plano coloque metas e prazos e persiga-os. Não desista quando as situações não favorecerem, continue no propósito de mudança. E não dependa dos outros mudarem, trace o seu próprio plano de mudança.

c) Confie em Deus que age em favor daqueles que querem se tornar verdadeiramente: “sua imagem e semelhança”. Deus vem com sua ajuda, com novas inspirações, basta busca-lo. Querer uma conversão sincera implica em rezar para isto.

Neste Advento que adentramos que eu e você possa buscar a nossa CONVERSÃO, que é fruto de uma decisão. Decida-se. Deus nos abençoe.

Print Friendly

As mudanças de direção nas nossas vidas acontecem a partir de algum fato importante ou um acontecimento novo, uma perda ou uma grande vitória. Isto porque estes fatos provocam a reflexão sobre o sentido da própria vida. As crises que passamos normalmente nos colocam diante destes questionamentos existenciais.

Mas quero relatar que existe uma coisa que nos favorece também a reflexão e posterior mudança de direção de vida: o encontro.
O encontro com uma pessoa que nos provoca algo interior, nos questiona, nos atrai, nos faz pensar na vida. Quando encontramos, por exemplo, o amor de nossa vida: a esposa ou o esposo, nosso interior fica totalmente propenso a mudanças radicais para se adaptar àquele amor que nasce, e também estamos dispostos a tudo para fazer-se amável àquela pessoa. O amor da outra pessoa nos provoca conversões, viradas radicais de vida e de posicionamento frente a ela.

Na minha vida quando eu encontrei a pessoa de Jesus Cristo, num encontro, onde me revelaram pela primeira vez as suas palavras, os ensinamentos, a vida que Ele transmitia nos seus atos, me vi frente a necessidade de mudar muitas coisas. A percepção de mundo muda quando encontramos a Cristo e sua palavra, porque acontece no nosso interior uma explosão de esperanças. Em Cristo tudo pode ser mudado e por isso as realidades mais difíceis são possíveis de superação, isto porque Ele foi a resposta mais completa a todos os questionamentos humanos: AMOR. Ele amou de verdade e deu a vida por amor. Se Alguém pode amar de verdade há a possibilidade de todos viverem isto também. É uma constatação maravilhosa e recheada de esperança.

Que você no dia de hoje também tenha este encontro com Cristo e sua palavra e através deste encontro passe a viver o AMOR. Esta é nossa esperança, esta é a meta: viver o amor.
Deus abençoe o seu encontro.

Print Friendly

Somos convidados por Deus a viver a nossa vida a partir de um Projeto feito pelas mãos de Deus, um projeto divino para a pessoa humana: a santidade.
São Paulo escrevendo aos Tessalonissenses afirma esta verdade: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (I Tes 4,3b) A vontade de Deus pode ser traduzida também como um projeto, uma proposta existencial a qual cada pessoa é convidada a aderir e viver a partir dela.

A santificação é um caminho a percorrer, é algo que se alcança ao longo da vida, um projeto formativo onde colocamos as nossas ações em uma “forma” e assumimos um jeito de viver coerente a partir da vivência cristã, isto é, a partir daquilo que Jesus viveu e ensinou. É um projeto ético que precisa perpassar toda a atividade humana.

O evangelista e apóstolo Mateus escreveu este Projeto nos capítulos 5 a 7 do evangelho: o Sermão da Montanha, verdadeiro código de santidade para todos os tempos, em todas as situações e para cada cristão.
Podemos dividir o Sermão em três partes: na primeira parte estão as Bem-aventuranças (Matheus 5) ; a segunda parte apresenta o Pai-Nosso, ou a vida de oração como centro (Matheus 6) e a terceira parte somos chamados à prática cristã, a construir a “casa sobre a rocha” (Matheus 7).

Nas Bem-aventuranças Jesus ensina os apóstolos quais os caminhos mais seguros para se a herança eterna das mãos do Pai: a pobreza, a mansidão, a justiça, a misericórdia com os outros, a pureza, a busca pela paz e o martírio pelo Reino.
Hoje vemos que nossa sociedade capitalista luta por valores completamente contrários a tudo isto: a busca pela segurança econômica, onde o poder gera a cada dia homens orgulhosos por causa de suas conquistas pessoais mesmo que conseguidas de forma imoral e a justiça comum é fazer aquilo que me beneficia, o ódio e ao desejo de vingança estão presentes nas famílias e o perdão e a misericórdia com erros os outros é coisa deixada de lado; os homens e as mulheres estão à busca do prazer a todo custo, principalmente com uma vida desregrada onde tudo é permitido e o comércio do corpo de várias formas: pessoal ou virtualmente é vista como normal nesta sociedade prostituida pela sexualização de tudo. E sacrifício pelos outros, sofrer pelo Reino é visto como coisa de fanático religioso e pensar no céu e em recompensa eterna não são admitidos pela sociedade paganizada e alheia as coisas de Deus.

Mas o projeto de santidade instituído por Jesus persiste mesmo em meio a tudo isto. Este deve nos questionar a cada dia. É um lutar “contra a correnteza” vivendo de forma diferente do projeto do mundo: buscando a modéstia e simplicidade, a concórdia familiar e a reconciliação, o perdão, a honestidade como forma de assumir a justiça como regra de vida; a castidade como modelo de vida onde o respeito pela dignidade à pessoa humana e o amor são as verdadeiras fontes de felicidade e prazer; e o engajamento em obras sociais para estar fazendo a nossa parte na ajuda humanitária àqueles que estão vivendo seu calvário, quer pela doença ou abandono, quer pela miséria material, espiritual, moral ou psicológica.

O Pai Nosso é a centralidade de uma vida de oração. Não dá para se atingir santidade sem oração, sem diálogo com Deus, onde falamos ao Pai e Ele nos fala pela Palavra da Vida.
Nos gestos concretos de amor ao próximo está enfim a forma de se santificar. Quando abraçamos a causa uns dos outros estamos dizendo sim ao Projeto de Santidade que Jesus nos deixou.
Fica para você entrar conosco neste caminho. É difícil, mas possível. Caso queira conferir pegue a sua Bíblia e leia os 3 capítulos do Projeto de Deus para sua vida: Matheus 5, 6 e 7

Deus o abençoe
Diácono Paulo Lourenço

Print Friendly

Queria partilhar esta catequese em preparação ao Encontro mundial das famílias com o Papa. É uma ótima reflexão sobre a família nos dias de hoje. Espero que goste.

“Veio ao meio dos seus, e os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1, 11-12). O menino ia crescendo e fortalecia-se: estava cheio de sabedoria, e a graça de Deus repousava sobre ele. Os seus pais iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. Tendo ele completado doze anos, subiram a Jerusalém, segundo a tradição da festa […] Em seguida, desceu com eles a Nazaré, permanecendo-lhes submisso. A sua mãe conservava todas estas coisas no seu coração. Jesus crescia em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e
dos homens (Lc 2, 40-42.51-52).”

Reflexão

Veio ao meio dos seus. Por que motivo a família deve escolher um estilo de vida? Quais são os novos estilos de vida para a família de hoje, a propósito do trabalho e da festa? Dois trechos bíblicos descrevem o modo como o Senhor Jesus veio ao meio de nós (cf. Jo 1, 11-12) e como viveu no seio de uma família humana (cf. Lc 2, 40-42.51-52).

O primeiro texto apresenta-nos Jesus que habita no meio do seu povo: «Veio ao meio dos seus, e os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus». A Palavra eterna parte do seio do Pai, vem para o meio do seu povo e entra numa família humana. O povo de Deus, que deveria ser o ventre acolhedor do Verbo, revela-se estéril. Os seus não o receberam mas, pelo contrário, eliminam-no. O mistério da rejeição de Jesus de Nazaré insere-se no coração da sua vinda para o meio dos nós. Mas a todos aqueles que o recebem, «deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus». Aos pés da cruz, João vê realizar-se aquilo que ele mesmo proclama no início do seu Evangelho. «Quando vê a sua mãe e, perto dela, o discípulo que ele amava» (Jo 19, 26), Jesus confia à mãe o novo filho, e ao discípulo que ele amava, confia a mãe. Depois, o evangelista comenta: «E a partir dessa hora, o discípulo levou-a consigo para a sua casa» (19, 27). Eis o «estilo» que Jesus nos pede, para vir ao meio de nós: um estilo capaz de receber e de gerar.

Jesus pede que a família seja lugar que acolhe e gera a vida em plenitude.
Ela não gera apenas a vida física, mas abre à promessa eà alegria. A família torna-se capaz de «receber», se souber preservar a sua própria intimidade, a história de cada um, as tradições familiares, a confiança na vida e a esperança no Senhor. A família torna-se capaz de «gerar», quando faz circular os dons recebidos, quando conserva o ritmo da existência quotidiana entre trabalho e festa, entre afecto e caridade, entre compromisso e gratuidade. Esta é a dádiva que se recebe em família: conservar e transmitir a vida, no casal e aos filhos.

A família tem o seu ritmo, como a palpitação do coração;é lugar de descanso e de impulso, de chegada e de partida, de paz e de sonho, de ternura e de responsabilidade. O casal deve construir a atmosfera antes da chegada dos filhos. O trabalho não pode tornar a casa deserta, mas a família deve aprender a viver e a conjugar os tempos do trabalho com aqueles da festa. Muitas vezes deve confrontar-se com pressões externas, que não permitem escolher o ideal, mas os discípulos do Senhor são aqueles que, vivendo na realidade das situações, sabem dar sabor a todas as coisas, mesmo àquilo que não se consegue mudar: são o sal da terra. De modo particular, o domingo deve ser tempo de confiança, de liberdade, de encontro, de descanso e de partilha. O domingo é o momento do encontro entre o homem e a mulher. É acima de tudo o Dia do Senhor, o tempo da oração, da Palavra de Deus, da Eucaristia e da abertura à comunidade e à caridade. E deste modo, também os dias da semana receberão luz do domingo e da festa: haverá menos dispersão e mais encontro, menos pressa e mais diálogo, menos coisas e mais presença. Um primeiro passo nesta direcção é ver como habitamos a casa, o que levamos a cabo no nosso lar. É necessário observar como é a nossa morada e considerar o estilo do nosso habitar, as escolhas que ali fizemos, os sonhos que cultivamos, os sofrimentos que vivemos, as lutas que enfrentamos e as esperanças que alimentamos.

O segredo de Nazaré. Nesse povoado da Galileia, Jesus vive o período mais longo da sua vida. Jesus torna-se homem: com o transcorrer dos anos, ele atravessa muitas das experiências humanas para as salvar todas: faz-se um de nós, entra numa família humana, vive trinta anos de silêncio absoluto, que se tornam revelação do mistério da humildade de Nazaré.

O versículo com que tem início este trecho delineia com poucos traços o «segredo de Nazaré». É o lugar onde crescer em sabedoria e graça de Deus, no contexto de uma família que recebe e gera. «O menino ia crescendo e fortalecia-se: estava cheio de sabedoria, e a graça de Deus repousava sobre ele». O mistério de Nazaré diz-nos de modo simples que Jesus, a Palavra que vem do Alto, o Filho do Pai, se faz menino, assume a nossa humanidade, cresce como um jovem no seio de uma família, vive a experiência da religiosidade e da lei, a vida quotidiana cadenciada pelos dias de trabalho e pelo descanso do sábado, o calendário das festas. O «Filho do Altíssimo» reveste-se com o semblante da fragilidade e da pobreza, é acompanhado pelos pastores e por pessoas que manifestam a esperança de Israel. Porém, o mistério de Nazaré é muito mais: é o segredo que fascinou grandes santos, como Teresa de Lisieux e Charles de Foucauld.

Com efeito, o versículo de encerramento do episódio diz que Jesus «desceu com eles a Nazaré, permanecendo-lhes submisso. A sua mãe conservava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em estatura (maturidade), sabedoria e graça diante de Deus e dos homens». Eis o profundo mistério de Nazaré: Jesus, a Palavra de Deus em pessoa, imergiu-se na nossa humanidade durante trinta anos! As palavras dos homens, as relações familiares, a experiência da amizade e da conflitualidade, da saúde e da enfermidade, da alegria e do sofrimento tornaram-se linguagens que Jesus aprendeu, para proferir a Palavra de Deus. De onde vêm, a não ser da família e do ambiente de Nazaré, as palavra de Jesus, as suas imagens, a sua capacidade de contemplar os campos, o camponês que semeia, a messe que lourece, a mulher que mistura a farinha, o pastor que extraviou a ovelha, o pai com os seus dois filhos. Onde foi que Jesus aprendeu a sua surpreendente capacidade de narrar, imaginar, comparar e pregar na vida e com a vida? Não vêm elas porventura da imersão de Jesus na vida de Nazaré? Por isso dizemos que Nazaré é o lugar da humildade e do escondimento. A palavra esconde-se, a semente desce ao ventre da terra e morre para trazer como fruto o amor do próprio Deus, aliás, o rosto paterno de Deus. Este é o mistério de Nazaré.

3. Os vínculos familiares. Jesus vive numa família caracterizada pela espiritualidade judaica e pela fidelidade à lei: «Os seus pais iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. Tendo ele completado doze anos, subiram a Jerusalém, segundo a tradição da festa». A família e a lei constituem o contexto onde Jesus cresce em sabedoria e graça. A família e a religiosidade judaicas, uma família patriarcal e uma religião doméstica, com as suas festas anuais, com o sentido do sábado, com a oração e o trabalho diário, com o estilo de um amor de casal puro e meigo, fazem compreender que Jesus viveu profundamente a sua família.

Também nós crescemos numa família humana, dentro de vínculos de acolhimento que nos fazem crescer e responder à vida e a Deus. Também nós nos tornamos aquilo que recebemos. O mistério de Nazaré é o conjunto de todos estes vínculos: a família e a religiosidade, as nossas raízes e o nosso povo, a vida diária e os sonhos para o porvir. A aventura da vida humana começa a partir daquilo que recebemos: a vida, a casa, o afecto, a língua e a fé. A nossa humanidade é forjada por uma família, com as suas riquezas e as suas pobrezas.

Escuta do Magistério

A vida de família traz consigo um estilo singular, novo e criativo, que deve ser vivido e saboreado no casal e transmitido aos filhos, a fim de que transforme o mundo. O estilo evangélico da vida familiar influi dentro e além do círculo eclesial, fazendo resplandecer o carisma do matrimónio, o mandamento novo do amor a Deus e ao próximo. De maneira sugestiva, o n. 64 da Familiaris consortio exorta-nos a descobrir de novo um rosto mais familiar de Igreja, com a adopção de «um estilo de relações mais humano e fraterno». .

Estilo evangélico da vida em família

«Animada e sustentada pelo mandamento novo do amor, a família cristã vive a acolhida, o respeito, o serviço para com a homem, considerado sempre na sua dignidade de pessoa e de filho de Deus.

Isto deve acontecer, antes de tudo, no e para o casal e para a família, mediante o empenho quotidiano de promover uma autêntica comunidade de pessoas, fundada e alimentada por uma íntima comunhão de amor. Deve além disso ampliar-se para o círculo mais universal da comunidade eclesial, dentro da qual a família cristã está inserida: graças à caridade da família, a Igreja pode e deve assumir uma dimensão mais doméstica, isto é, mais familiar, adoptando um estilo de relações mais humano e fraterno.

A caridade ultrapassa os próprios irmãos na fé, porque “todo o homem é meu irmão”; em cada um, sobretudo se pobre, fraco, sofredor e injustamente tratado, a caridade sabe descobrir o rosto de Cristo e um irmão a amar e a servir.

Para que o serviço ao homem seja vivido pela família segundo o estilo evangélico, será necessário pôr em prática com urgência o que escreve o Concílio Vaticano II: “Para que este exercício da caridade seja e apareça acima de toda a suspeita, considere-se no próximo a imagem de Deus, para o qual foi criado, veja-se nele Cristo, a quem realmente se oferece tudo o que se dá ao indigente” (AA 8)».
[Familiaris Consortio, 64]

Diácono Paulo Lourenço – Canção Nova

Print Friendly

Gostaria de partilhar um texto que recebi do Padre Inácio José do Vale sobre os perigos do barulho na nossa saude fisica, mental e espiritual. Estou copiando na íntegra, espero que goste:

BARULHO: DOENÇA E

MORTE

Melhor é aprender a colocar as potências em silêncio e calando para que fale Deus”.

São João da Cruz

Místico e Doutor da Igreja

Vamos aprender a viver de forma espetacular com o sagrado silêncio!

O silêncio é terapêutico. É um tesouro disponível para todos. Ele é fonte imensurável para saúde física, emocional e espiritual. O silêncio é um milagre que executamos com as nossas potências na graça de Deus.

O silêncio é um caminho perfeito na busca à procura do bom Deus. O Pai Eterno tem muita coisa a ser manifesto pela via do bendito silêncio. Procuremos caminhar com o coração ardendo nesse mistério, que em parte será revelado pela mística da escuta.

DOENÇAS CARDIOVASCULARES

A situação em minha vizinhança é típica do restante da cidade São Paulo, como comprovam dados da prefeitura da cidade e medidas feitas recentemente por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Desde que foi criado, em 2005, para combater a poluição sonora provocada por estabelecimentos comerciais como bares e restaurantes, o Programa de Silêncio Urbano (PSIU) do município de São Paulo recebe em torno de 30 mil reclamações anualmente. Já os especialistas em acústica Cristina Ikeda, Marcelo Aquilino e Peter Barry, do IPT, mediram em 2010 o nível de pressão sonora em nove ruas diferentes regiões da capital paulista durante o dia, constatando que o tráfego de veículos gera um volume muito acima dos 50 dB (A) – limite máximo recomendado para zonas residenciais urbanas pela norma 10.151, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), bem como pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O nível de ruído na Avenida Ibirapuera, por exemplo, alcançou os 75 dB (A).

Por conta de as pessoas estarem vivendo cada vez mais apinhadas, cercadas por veículos motorizados e alto-falantes, o ruído intenso só tende a aumentar em todas as metrópoles no Brasil e no mundo. Tanto é assim que há mais de duas décadas a OMS considera a poluição sonora o terceiro maior problema ambiental nas grandes cidades, só atrás da poluição das águas e do ar, sendo inclusive responsável por mortes, relacionadas com a ação do estresse provocado pelo barulho na evolução de doenças cardiovasculares. Mesmo assim, a questão é uma das mais negligenciadas, talvez porque a maioria das pessoas já se acostumou tanto com o excesso de ruído ambiente que nem o nota mais.

ANOS PERDIDOS

Uma resolução publicada em 2002 obriga todos os países da comunidade européia a realizarem o mapeamento da poluição sonora. “Todos os municípios com mais de 250 mil habitantes precisam ter um mapa indicando onde há ruídos, para adequarem seus planos diretores com solução para o problema”, conta o pesquisador Stephan Paul, professor do primeiro curso de Engenharia Acústica do Brasil, na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O pesquisador explica que os mapas acústicos das cidades são feitos utilizando tanto medidas dos níveis de pressão sonora em vários pontos da cidade, com simulações por computador da propagação do som, que levam em conta a geometria das ruas e edifícios, como as estatísticas do trânsito e da potência sonora que cada tipo de veículo gera. Assim é possível estimar o nível de pressão sonora em cada ponto da cidade.

Usando esses mapas acústicos para comparar estatísticas de doenças em pessoas vivendo em vizinhanças anormalmente tranqüilas e barulhentas, uma equipe internacional de quase 70 cientistas coordenada por Rokho Kim, do Centro Europeu para Saúde e Meio Ambiente da OMS, em Bonn, na Alemanha, publicou em março de 2011 o relatório mais completo do impacto da poluição sonora na saúde da população européia. “Os estudos populacionais mostram que há mais pacientes com doenças cardíacas, distúrbios de sono, irritação constante, dificuldade no aprendizado e zumbido no ouvido entre pessoas vivendo em ambientes ruidosos, em comparação com populações em ambientes silenciosos”, diz Rokho.

O relatório é o primeiro no mundo a apresentar um cálculo do número de anos de vida saudável perdidos por uma população, ao sofrer desconforto, doenças e morte prematura, por conta do barulho. De acordo com os pesquisadores, os 125 milhões de europeus vivendo em ambientes barulhentos perdem um total de 1,6 milhão de anos de vida saudável anualmente. Isso faz da poluição sonora o segundo maior problema ambiental da Europa, somente atrás da poluição do ar, que afeta a maioria dos 500 milhões de europeus, tirando deles 4,5 milhões de anos de vida saudável todo ano. Rokho acredita que, caso sejam feitos estudos semelhantes em cidades grandes em outros continentes, os resultados devem ser parecidos.

O coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), patologista Paulo Saldiva explica que a medida do número de anos de vida saudável perdidos por uma população, ou DALYs, na sigla em inglês, é usada pela OMS e por outros órgãos de saúde para calcular o custo de tratar uma doença, como por exemplo, a tuberculose, ou de controlar um impacto ambiental, como a poluição sonora.

O coordenador do Centro Europeu para Saúde e Meio Ambiente da OMS acha impossível concluir qual é exatamente o risco à saúde que o barulho traz a uma única pessoa, a partir dos números de DALYs tomados de uma população. Isso porque a doença de um indivíduo é causada por uma soma de fatores genéticos, comportamentais, sociais e ambientais. O patologista da USP, no entanto, sugere dividir o número de DALYs da poluição sonora pelo número de habitantes afetados por ela. Fazendo isso e multiplicando o resultado pela expectativa média de vida de um europeu (79 anos), chega-se ao número de 1 ano de vida saudável perdido ao longo da vida por conta do barulho. “Em São Paulo, a poluição do ar tira em média 3 anos de vida da população”, compara Paulo.

O barulho ambiental mata porque desencadeia em nós uma constante reação de estresse. “É como se a gente estivesse permanentemente em uma situação de perigo”, explica o fonoaudiólogo Heraldo Guida, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Marília. Sob estresse, o organismo produz hormônios como a adrenalina e o cortisol que fazem com que a pressão arterial e a frequência dos batimentos cardíacos aumentem. “Se você estiver coma veia coronária em boas condições, então pode ficar tranqüilo”, explica Paulo Saldiva. “Mas se o seu sistema cardiovascular já estiver meio periclitante, pode ter uma isquemia miocárdica (infarto)”.

Reaprender a Escutar

No combate à poluição sonora, o som é tratado como algo a ser eliminado. Mas o que as pessoas buscam em geral não é o silêncio absoluto. Elas querem um ambiente com menos sons de motores e máquinas, e mais sons agradáveis: o burburinho de água correndo, o canto dos pássaros, o vento farfalhando as folhas etc. na Europa, arquitetos, artistas e urbanistas trabalhando com espaços públicos vêm desenvolvendo projetos que prevêem que os sons desejados. É o chamado paisagismo sonoro.

Desde os anos 1960, as pesquisas sobre paisagens sonoras são influenciadas fortemente pelo pensamento do compositor e pesquisador canadense Murray Schafer, que foi o pioneiro em captar os sons ambientes de comunidades tradicionais e da natureza, refletindo sobre a sua prevenção. “O Schafer fala que toda sociedade deveria ter o direito de escolher o seu ambiente sonoro”, diz a pesquisadora Marisa Fonterrada, do Instituto de Artes da Unesp, especialista na obra do pesquisador canadense.

Marisa explica que o ambiente sonoro agressivo das grandes cidades faz com que as pessoas se fechem para os sons a sua volta, tantos os ruins quanto os bons. “Estamos vivendo uma época de anestesia, o contrário da estesia, que é a sensibilidade dos sentidos”, ela diz. “Não adianta combater a poluição sonora só com leis; temos de trabalhar a consciência das pessoas para que escutem mais.”

Essa conscientização pode começar na escola. Marisa recomenda aos professores o livro de Murray Schafer Educação Sonora, lançado pela Editora Melhoramentos, em 2009. A obra propõe 100 exercícios simples de escuta que aguça, os ouvidos para notarem sutilezas muitas vezes perdidas em ambientes ruidosos.

Barulho Escolar

O tráfego pesado de uma estrada ao lado da escola ou a algazarra do recreio podem prejudicar os estudantes muito mais do que se imagina. Diversos estudos vêm demonstrando que crianças de escolas em locais barulhentos apresentam atraso de meses no aprendizado, além de uma memória de longo prazo menor em comparação com crianças de escolas em lugares tranqüilos. “O ruído ambiental afeta negativamente a motivação, a capacidade de aprendizagem e concentração”, afirma Ana Claudia Fiorini, fonoaudióloga da PUC de São Paulo e da Unifesp.

Além disso, de acordo com a arquiteta Cristina Ikeda, do Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios do IPT, o projeto do prédio das escolas pode apresentar diversos problemas acústicos, como a localização dos pátios, ginásios e das janelas das salas de aula, que agravam o problema.

As normas brasileiras recomendam que o ruído nas salas de aula não ultrapasse os 50 dB (A), Mas as medições de um estudo em andamento pelos fonoaudiólogos Heraldo Guida e Ana Cláudia Cardoso, da Unesp, mostram que o ruído chega muitas vezes a ultrapassar os 85 dB (A).

CONCLUSÃO

As cidades são notoriamente barulhentas, devido à grande concentração de tráfego e pessoas. É quase impossível fugir de música em volume alto, barulho do toque do celular, máquinas ruidosas e vozes altas. Mas, o tipo de ruído que coloca em perigo o nosso bem-estar espiritual não é o ruído do qual não conseguimos fugir, mas o ruído que convidamos a entrar em nossa vida. Alguns de nós usamos o ruído como uma maneira de nos isolarmos da solidão: músicas e vozes de personalidades da TV e do rádio nos dão a ilusão de companhia. Alguns de nós utilizamos o ruído como uma maneira de manter os nossos próprios pensamentos isolados; outras vozes e opiniões nos poupam de termos de pensar por nós mesmos. Alguns de nós usamos o ruído como uma maneira de isolar a voz de Deus, pois a tagarelice constante, mesmo quando estamos falando sobre Deus, nos impede de escutar o que Ele tem a nos dizer.

Nosso Senhor Jesus Cristo, mesmo em Seus momentos de maior ocupação, fez questão de procurar lugares solitários onde pudesse manter uma conversação com Deus (Mc 1,35). Mesmo que não consigamos encontrar um lugar perfeitamente calmo, precisamos encontrar um lugar para aquietar as nossas almas (Sl 63,1.2), um lugar onde Deus possa ter a nossa total atenção (Sl 84).

No filme O Diabo no banco dos réus, Satanás esbraveja: “Eu criei o barulho e o barulho afasta qualquer pensamento de Deus”.

Realmente, o barulho é a arte de Satanás para distanciar as pessoas da arte do silêncio e de Deus.

O barulho causa perturbação, infelicidade e morte. Enquanto o silêncio é o fator de paz, felicidade é vida abundante.

A verdadeira maravilha do silêncio é com Deus consigo mesmo e com a beleza da natureza.

Vamos praticar o santo silêncio para o equilíbrio abissal da nossa alma e de todo o nosso bem-estar.

Oração, meditação, silêncio e solidão no contexto da espiritualidade cristã são riquezas colossais ao espírito a via unitiva.

Pe. Inácio José do Vale

Professor de História da Igreja

Instituto Teológico Bento XVI

EFOR-Escola de Formação de Resende

Especialista em Ciência Social da Religião

E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com

Fontes

Quanta, janeiro/fevereiro de 2011, pp.20-26.

João da Cruz, São. Subida do Monte Carmelo. São Paulo: Paulus; Petrópolis.RJ, Vozes, 2010, p. 419.

Print Friendly

Network-wide options by YD - Freelance Wordpress Developer