Santa Terezinha do Menino Jesus disse: ” A fé em Deus faz crer no incrível, ver o invisível e realizar o impossível.”
A fé nos leva a crer, e crer é um verbo, uma ação, uma atuação concreta, um agir humano confiado na mão de Deus, que o sustenta.
Quem tem fé em Deus pode agir em Deus e realizar todas as coisas acreditando que tem a ajuda de Deus, sabendo que o seu agir será abençoado por Deus. É claro que o ato humano para refletir a fé incutida no seu interior, será sempre um ato de justiça e de amor. Quem age com fé, sempre o fará a partir destes dois valores essenciais: o amor e a justiça.
Isto porque acreditar em Deus é acreditar no amor, pois Deus é amor. E acreditar em Deus é acreditar na justiça, pois Deus é justiça que se manifesta numa infinita misericórdia.
Nós muitas vezes nos confundimos com isto porque pensamos que o amor é algo que provém de nós mesmos e que a justiça é algo que podemos alcançar sózinhos. Ouso dizer que se queremos amar ou ser justos precisamos da ajuda da Graça de Deus, precisamos de fé, precisamos estar alicerçados em Deus.
Não somos nós que nos sustentamos com nossos esforços humanos, mas pela fé somos sustentados por Deus, que enviou o Seu Filho Jesus Cristo para ser o laço que nos Liga a Deus-Pai, para nos sustentar. Por isso há a necessidade de estarmos ligados intimamente a pessoa de Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, para sermos sustentados na fé.
O primeiro passo é crer na ressurreição de Cristo. Se eu creio que Ele está vivo, ele me liga ao Pai, que mantém todas as coisas pelo seu poder criador.
O convite de hoje é tirarmos os falsos alicerçes que acabamos colocando na nossa vida: a segurança material, o poder que o dinheiro garante, o prazer que é sempre passageiro, como uma nuvem no céu. E tirando estas coisas não essenciais dar espaço para que o Senhor possa reger toda a nossa vida, de forma que vivamos mais a partilha, a bondade, a misericórdia, do que o acumulo pessoal, o individualismo que acabam desestruturando a nossa pessoa, tornando-nos menos humanos. É tempo de humanizar-se em Cristo. Para isto reafirme a sua fé em Deus, e começe a agir a partir desta fé.
Só haverá paz neste mundo quando os homens e as mulheres forem sustentados pela fé no Deus-Amor, no Deus-Misericórdia.
Deus o abençoe. Diácono Paulo
Queria partilhar uma publicação sobre uma Homilia do Papa Francisco.
Foi profunda a reflexão proposta pelo Papa Francisco na homilia da missa celebrada na segunda-feira de 2 de Setembro.
A língua, a tagarelice, o mexerico são armas que todos os dias insidiam a comunidade humana, semeando inveja, ciúmes e ganância do poder. Com elas chega-se até a matar uma pessoa. Portanto, falar de paz significa também pensar em quanto mal se pode fazer com a língua. O Papa inspirou-se na narração do regresso de Jesus a Nazaré, proposta por Lucas (4, 16-30) num dos mais «dramáticos» trechos do Evangelho, no qual — afirmou o Pontífice — «é possível ver como a nossa alma é realmente».
Em Nazaré — explicou o Papa — todos esperavam Jesus, que pela primeira vez regressava ao seu país, porque ouviram falar sobre tudo o que ele tinha feito em Cafarnaum, os milagres. «Eles — esclareceu ainda o Pontífice — queriam o espetáculo. Mas Jesus não é um artista». Jesus não fez milagres em Nazaré. Aliás, realçou a pouca fé dos que pediam o «espectáculo». O que começara de forma jubilosa ameaçava de se concluir com um crime, o assassínio de Jesus «devido aos ciúmes, à inveja».
Mas não se trata só de um evento de há dois mil anos, evidenciou o bispo de Roma. «Isso acontece todos os dias no nosso coração, nas nossas comunidades» todas as vezes que se acolhe alguém falando, no primeiro dia, bem dele e, depois, cada vez menos até chegar ao mexerico, quase para «o destruir».
Quem, numa comunidade, fala mal contra um irmão acaba por «querer matá-lo», frisou o Pontífice.
Por conseguinte, pergunta o Papa: como podemos construir uma comunidade? Do modo «como é o céu», respondeu; do modo como anuncia a Palavra de Deus.
Portanto, «para termos paz numa comunidade, numa família, num país, no mundo, devemos começar a estar com o Senhor. E onde está o Senhor não existe a inveja, a criminalidade, os ciúmes, mas há fraternidade.
Publicado no L’Osservatore Romano, ed. em português, n. 36 de 08 de Setembro de 2013
A Carta de São Paulo aos Colossenses, capitulo 3, versículo 12 dá uma resposta muito importante a esta pergunta: – Porque perdoar?
“Irmãos, vós sois amados de Deus”
Quem é amado e se sente amado por Deus, o Altíssimo, Criador do céu e da terra, princípio e autor da vida humana, pode amar ao ponto de perdoar toda e qualquer ofensa, até aquelas mais graves que afetam nossa vida por inteiro.
Quem é amado por Deus, acaba se revestindo de Seu Filho Jesus Cristo, que provou o seu amor por cada pessoa com o próprio sangue numa cruz. O amor de Deus se revelou pleno em Seu Filho, pelo sacrificio na cruz.
Pelo batismo nós somos revestidos de Cristo, e é esta a razão pela qual podemos perdoar a todos. Uma vez revestidos de Cristo não nos resta outra atitude diante daqueles que nos ofenderam: perdoar. E quantas vezes for necessário. para estar em coerência com aquilo que sou: cristão (outro Cristo). Esta palavra precisa ressoar em todo coração humano: sou amado de Deus, revestido de Cristo e por isso só me resta amar a todos e perdoar de todo coração a todos.
Vemos hoje o risco de guerras se eclodirem em várias partes do mundo. Isto porque a palavra que o demônio colocou nos corações humanos é a vingança. Devo devolver com a mesma intensidade o mal recebido, é uma justiça que promove uma revolta interminável.
Se cada pessoa se revestisse desta palavra: porque sou amado por Deus devo perdoar e não me vingar, os conflitos de extinguiriam da face da terra. É nesta nova terra construida no amor que somos chamados a viver.
E esta realidade cristã começa dentro de cada lar, no âmbito de cada família. se dentro de casa, os pais entre si, os pais e os filhos e os filhos entre si viverem o perdão incondicional, isto acaba se estendendo para a sociedade.
A mensagem principal é sempre: somos amados por Deus, pois Ele ama a todos com igual amor.
Porque perdoar? Porque somos sempre perdoados e a cada movimento de erro ou de pecado, sempre terá uma palavra do Deus de misericórdia para nós: “Eu te perdoô e te amo integralmente e te acolho novamente“.
Perdoe. Perdoe sempre. Deus abençoe sua decisão de perdoar.
Naquele tempo, Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se a seu redor para ouvir a palavra de Deus. Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago. Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões.
Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”. Simão respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. Ao ver aquilo, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” É que o espanto se apoderara de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”. Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus. Lucas 5, 1-11
Queria partilhar a admiração que tenho pelo apóstolo Pedro, nosso primeiro Papa. Nesta passagem do Evangelho ele entende rápidamente a mensagem de Jesus. Deixa eu explicar isto.
Jesus percebia que aqueles homens viviam a própria vida na superficialidade, sem dar importância as razões pelas quais há a necessidade de se viver. É como se viver como cristão se misturasse com a forma de viver dos “não cristãos” de forma natural. Uma vida vivida exteriormente e subjetivamente, onde o seguimento de Cristo se resumia em estar com Ele, sem se comprometer com a sua mensagem e com a própria conversão, enfim, uma religiosidade desprovida de uma vida que corresponda a fé professada, ou uma fé sem profundidade.
Quando Jesus fala a Pedro: “Avança para as aguas mais profundas”, é uma ordem para que Ele volte-se para si mesmo, faça um exame de consciência, veja Quem está do seu lado. Pedro num primeiro momento obedeçe. Vai prá dentro de si e vê quantas coisas precisam ser pescadas, quantos valores mas também quantas misérias, quantos pecados a serem retirados de dentro do profundo, do coração. Mas em seguida Pedro declara: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” É a declaração mais profunda de sua vida. O Papa Francisco também declarou: rezem por mim porque sou pecador. É a atitude de quem está sempre neste movimento de profundidade na vida e entrou de cheio no seu processo de conversão e santificação.
A provocação para nós é avançarmos também em nosso processo de conversão indo às “águas profundas” do nosso ser para retirar todo entulho, toda impureza e contaminação. Quem sabe não estejamos precisando de uma boa confissão dos nossos pecados, gesto que retrata bem este movimento de ir as águas profundas.Que o Senhor te conceda uma reflexão sobre isto e o “Não tenhas medo” de Jesus é sempre atualizado com a absolvição de nossas culpas pelo sacerdote. Com o coração purificado possamos seguir a Cristo hoje. Deus abençoe.
Uma das coisas mais importantes para amarmos alguém de verdade é conhecê-lo, pelo menos naquilo que podemos tocar de sua existência.
O meu pai era um homem culto e inteligente, teve uma boa educação e isto se deve até a rigidez de costume de sua época, ele nasceu em 1937, numa cidadezinha pequena chamada Anhembi, no interior de São Paulo, Brazil. Morava em um ambiente rural, seus pais eram fazendeiros e cuidavam de gado e plantações. Foi mandado pelos pais para estudar numa cidade próxima em um colégio interno para fazer um bom colegial. Era um colégio católico diocesano, hoje administrado pelos padres Lassalistas. Isto tudo fez dele uma pessoa que trazia uma raiz católica e cultura bem apurada. Sua grafia e forma correta de escrever expressava isto fácilmente.
Com 18 anos sua mãe (minha avó) veio a falecer de cancer e pelos seus relatos foram anos de tratamentos caríssimos na época, onde muitas propriedades da família tiveram que ser vendidas para dar conta das despesas com hospital. Meu pai não prosseguiu nos estudos, ficando com técnico de contabilidade incompleto, pois não pode conclui-lo integralmente. Com as dificuldades da família pós luto veio também a graça dele conhecer minha mãe, que era uma pessoa simples que tinha vindo da roça para trabalhar como doméstica na cidade e sequer tinha concluido os primeiros 4 anos de primário, mas que a vida ensinou muito bem como administrar as coisas. Meu se casou com minha mãe em 1958, portanto com 21 anos de idade, vivendo ainda de atividade rural: a venda de leite de algumas vacas que sobrara em um pequeno sítio do meu avô. Neste tempo meu avô conheceu outra mulher e resolveu se casar de novo, o que repercutiu na vida de meu pai, pois uma das coisas que meu avô fez foi vender o sítio. Meu teve que procurar um emprego e começar a vida do nada, sem ter nada. Se mudou para outra cidade onde foi trabalhar de motorista em uma funerária. Ele contava isto com dor no coração, pois tinha saido de um berço rico, mas também se orgulhava por dizer que teve que pegar pesado no trabalho comum para sustentar a família. Quantas histórias ele nos contava sobre este serviço de motorista: era defunto de todo jeito que ele buscava, levava e acompanhava o enterro. Meu pai logo arrumou outro emprego, e depois outro, mudando muitas de vezes de cidade, chegando a ter empregos muito promissores e nossa vida sempre teve altos e baixos. Moramos em casa muito boas e confortáveis e em outros tempos em curtiços e até na casa de parentes. Quanto sofrimento eu via estampado no rosto do meu pai, por não dar a seus filhos (somos 6 filhos) o necessário material. Mas um legado ele sempre foi deixando ao longo do caminho: a esperança. Meu pai sempre acreditava no amanhã, que conseguiria isto ou aquilo. E gostava de pescar e jogar baralho. Tantas pescarias fui com ele, que marcaram minha existência,pois ele demonstrava o cuidado para comigo e meus irmãos, a proteção paterna em pequenos gestos. Quanto ensinamento e sabedoria de vida nos passou nestes momentos tão profundos de intimidade. E nos jogos de baralho! Quantas noites reunia os filhos (5 do sexo masculino) na sala e ficava nos ensinando jogar, e também jogar com a vida, ter prudência quando preciso e ousadia de “trucar” os obstáculos e vencer pela perseverança.
Depois de algum tempo meu pai encontrou-se com Cristo e sua vida foi se modificando, embora o caráter firme e resoluto se mantinha. Isto se manifestava na busca de se reconciliar com Deus. Ele gostava de se confessar e comungar, de me ouvir pregar a palavra: eu via que os olhos dele brilhavam quando conseguia transmitir a fé pela pregação, e ele me escutava e me respeitava. Sinto que fui instrumento de Deus para a sua conversão. Mas eu sempre aprendia mais com ele do que ele comigo, pois tantas vezes eu vacilava e via a sua firmeza.
Posso dizer que conheci meu pai antes dele conhecer a Deus e depois de sua conversão, mas hoje posso dizer que meu pai revelou um Deus humano, como Cristo, e na sua humanidade podia ser visto um anseio enorme de santidade. O céu pertence a estas pessoas lutadoras na vida. Há 6 anos meu pai foi para eternidade e todos os dias sinto falta de sua benção e de suas histórias, conversas, presença.
Neste dia dos pais eu pergunto: você conhece seu pai? E conhecendo consegue compreender as suas atitudes até cheias de ambiguidades e aparentes erros humanos?
Só se abrindo a uma relação madura com ele podemos conhece-lo e ama-lo. É uma graça enorme ter o pai vivo e poder conviver com ele. Tenho muita saudade do meu pai como minha alma tem saudade do céu.
Se aproxime do seu pai (se pode) e o beije muito, abraçe e demonstre isto com suas palavras. Diga que o ama. Hoje não posso mais, mas como ele me ensinou: vivo na esperança de um dia ve-lo de novo na eternidade. Deus abençoe você neste dia dos pais.
O Papa Francisco em sua primeira Encíclica ” Luz da Fé” nos apresenta uma grande novidade: A fé leva a pessoa humana a ser transformada pelo Amor que habita pela fé no seu coração: o Espírito Santo. O Espírito Santo nos configura a Cristo e nos leva a viver o amor pelos irmãos.
Transcrevo na íntegra as palavras de nosso Santo Padre, para sua reflexão:
“O crente é transformado pelo Amor, ao qual se abriu na fé; e, na sua abertura a este Amor que lhe é oferecido, a sua existência dilata-se para além dele próprio. São Paulo pode afirmar: « Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim » (Gl 2, 20), e exortar: « Que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações » (Ef 3, 17). Na fé, o « eu » do crente dilata-se para ser habitado por um Outro, para viver num Outro, e assim a sua vida amplia-se no Amor. É aqui que se situa a ação própria do Espírito Santo: o cristão pode ter os olhos de Jesus, os seus sentimentos, a sua predisposição filial, porque é feito participante do seu Amor, que é o Espírito; é neste Amor que se recebe, de algum modo, a visão própria de Jesus. Fora desta conformação no Amor, fora da presença do Espírito que o infunde nos nossos corações (cf. Rm 5, 5), é impossível confessar Jesus como Senhor (cf. 1 Cor 12, 3).
Sabemos que o coração humano é o centro dos sentimentos e da interioridade da pessoa. No coração é que se propagam os bons sentimentos e também aqueles sentimentos destrutivos, contrários à vida. Por isso uma pessoa não pode viver com o coração como que “esvaziado” porque isto pode abrir espaço para se aninhar dentro dele os sentimentos mais perversos que a nossa humanidade decaída pelo pecado pode construir.
São Paulo na sua Carta aos Romanos capítulo 5, versiculo 5 afirma: “E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. É no nosso coração que Deus, pelo nosso Batismo, derramou o Seu Amor através do Espírito Santo. O lugar de habitação do Espírito Santo, que é a fonte do Amor do Pai e do Filho, é o nosso coração. Por isso nosso interior somente se sente preenchido de significado quando percebe-se amado.
Só o Amor preenche o coração humano. E na verdade já preencheu pelo nosso Batismo. Se a gente as vezes não percebe uma vida cheia de sentido é porque esquecemos de entrar em nós mesmos e encontrar lá, no nosso coração, esta fonte de amor e retirar daí a razão para viver e viver bem.
Uma boa reflexão é voltar a nossa Pia Batismal, fazendo a experiência de deixar-se novamente preencher pelo Amor de Deus, pelo Espírito Santo. Na verdade a cada dia, logo pela manhã, deveríamos fazer a seguinte oração: “Espirito Santo que habitas em meu coração faz-me sentir-me totalmente amado, derrama sobre minha pessoa o Seu amor, preenche minha alma de amor e sentido.” Com certeza se rezarmos assim esta obra maravilhosa acontecerá na nossa vida a cada dia, pois o Espírito Santo é Deus e está em nós, e age em nós, basta pedir e receber.
Se você se sente meio vazio hoje faça esta oração. Deixe-se preencher de amor que as demais paixões que nos arrastam para uma vida medíocre perdem o sentido e conseguimos viver no meio de alegrias e sofrimentos com profunda gratidão e amor.
Deus abençoe este seu propósito e que você se torne cada vez mais cheio do Amor de Deus para distribuir amor a todos que te rodeiam. Diácono Paulo Lourenço
Eucaristia. (I Cor 11,17-34)
São Paulo na sua primeira Carta aos Corintios, antes de dar o ensino magno sobre os carismas nos capítulos 12 a 14, ele, no capítulo 11, versículos 17 a 34, admoesta os Corintios a forma de crer, viver, celebrar e orar na participação do mistério eucarístico.
Como crer na Eucaristia? Levando em conta as Sagradas Escrituras. As Sagradas Escrituras trazem a revelação da vontade e da consagração feita pelo próprio Jesus, que afirmou categoricamente: “Isto é o meu Corpo. Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue. Isto é o meu sangue. Fazei-o em memória de mim.” É preciso resgatar o crer na Eucaristia de forma renovada e objetiva. Jesus está no pão e no vinho consagrado pelo sacerdote dentro da Santa Missa, de forma real. É presença real: corpo, alma e divindade do Senhor Jesus. Somos chamados a renovar a nossa fé na presença real de Jesus na Eucaristia e levar muitos a experimentarem este alimento de vida eterna.
Como viver a Eucaristia? No versículo 18 e 19 do capítulo 11 desta Carta aos Corintios que estamos meditando, São Paulo fala de duas realidades que estavam vivendo na assembleia eucarística: a desarmonia entre os cristãos e os partidos e as divisões internas. Podemos dizer que também hoje os cristãos vivem estas duas realidades: desarmonias e divisões. Desarmonias em suas vidas pessoais, incoerência entre aquilo que creem e aquilo que vivem. Vemos que muitos participam da Eucaristia, mas ainda persistem em viver como pagãos, sem se importar ou levar em conta que comungam o Cristo, por isso deveriam assumir toda a sua doutrina como regra de conduta de suas vidas. Viver o mistério Eucarístico é levar uma vida de busca de santidade por conta Daquele que é Santo nos visitar e entrar nas nossas vidas de forma real pela comunhão eucarística. Outro ponto são as divisões, as disputas por espaço ou poder dentro da própria celebração eucarística. Muitos ainda querem a sua projeção pessoal na assembleia cristã, o que gera divisões e partidos. A maior divisão é a interior, porque muitos tem a vida dividida entre o mundo e as coisas mundanas e a vida em Deus, que acontece de forma mais profunda na comunhão eucarística. Por isso é preciso buscar a coerência, aquele que comunga do Santo, precisa se tornar santo. Santo Agostinho afirmou: “torna-te Naquele que comungas”.
Como celebrar a Eucaristia? São Paulo alerta a questão de comungar consciente de que o pão é corpo de Cristo e o vinho é o sangue do Senhor (vers 29). Na celebração precisamos estar conscientes disto, pois entramos dentro do Kairós de Deus que é a Santa Missa e nossa participação precisa ser plena para experimentarmos neste encontro real com o Senhor, toda a eficácia redentora de Cristo na nossa vida. Participação plena quer dizer que tudo na celebração precisa ser vivido com muita atenção e as respostas feitas com consciência. Hoje vemos muita distração e em muitas celebrações todo o clima celebrativo se perde em meio a muita conversa paralela, pessoas preocupadas com coisas externas, outros dentro da celebração mas indiferentes ao mistério celebrado. Precisamos retomar uma celebração ativa e viva, isto é, mergulhar por inteiro no mistério de nossa salvação. Por isso eu recomendo uma preparação espiritual para a celebração eucarística, chegar mais cedo, rezar um pouco, deixar de lado as outras preocupações e não correr o risco de pecar contra a Eucaristia. São Paulo afirma: “come e bebe a sua própria condenação” (vs 29-b)
Como orar na Eucaristia? A oração dentro da celebração precisa ser profunda, de intimidade com o Senhor. Por isso, diz São Paulo: “entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos.” (vs 30). A força de Deus se realiza pela oração feita a Deus com fé. Rezar com fé cada oração, cada resposta dada na Santa Missa. A Eucaristia é a maior de todas as orações. Uma participação na Eucaristia vale por todas as orações da humanidade feitas juntas. A mais sublime oração é o sacrifício de Jesus na cruz, o mistério de sua paixão, morte e ressurreição, que se atualiza em cada celebração eucarística. Por isso é necessário que o cristão reze a Santa Missa no Espírito Santo, buscando aquele vem ao encontro de nossas fraquezas “porque não sabemos orar como convém”.(Rm 8,26). Isto quer dizer que para orar bem a Eucaristia peça sempre uma nova efusão do Espírito Santo. Antes de cada celebração peça: Vem Espírito Santo e ilumina minha alma para celebrar bem e comungar do Senhor da minha vida.
A Igreja vive da Eucaristia. O Beato João Paulo II começou a Encíclica: ECCLESIA DE EUCHARISTIA, com esta frase que ressoa como a verdade mais profunda da vida cristã: Deus se fez carne, na espécie de pão e se fez sangue, na forma de vinho, para nosso alimento até a Sua segunda vinda. A sequencia da reflexão do Beato é ainda mais marcante, por isso copio na íntegra para o leitor:
Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: « Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo » (Mt 28, 20); mas, na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue do Senhor, goza desta presença com uma intensidade sem par. Desde o Pentecostes, quando a Igreja, povo da nova aliança, iniciou a sua peregrinação para a pátria celeste, este sacramento divino foi ritmando os seus dias, enchendo-os de consoladora esperança.
O Concílio Vaticano II justamente afirmou que o sacrifício eucarístico é « fonte e centro de toda a vida cristã ». Com efeito, « na santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo ». Por isso, o olhar da Igreja volta-se continuamente para o seu Senhor, presente no sacramento do Altar, onde descobre a plena manifestação do seu imenso amor.
O Convite é para nós vivermos intensamente cada Eucaristia celebrada e recebermos desta fonte do amor de Deus. Deus abençoe você neste propósito.
O sacramento do matrimônio coloca homem e mulher diante de Deus para um consentimento definitivo de vida. O acolhimento de um pelo outro na presença da Igreja exprime a consagração de suas vidas a Jesus Cristo, para suas próprias santificações e para a santificação da comunidade.
O Matrimônio é uma consagração original que o casal faz para viver em Cristo, e para Cristo. Mas este não se resume apenas a um ritual que acontece no altar. O matrimônio começa no altar e se desdobra sobre toda a vida dos conjuges. Por isso a graça recebida no dia do casamento precisa da colaboração dos esposos para produzir os frutos de salvação. Não basta consagrar-se a Deus é preciso consagrar-se também ao amor mútuo, à vivência deste amor em todos os momentos que a vida proporciana que se viva. Nas contrariedades, nas dores e sofrimentos permanece a graça de Deus, o sacramento: Cristo, mas preciso escolher por assumir estas dificuldades com coragem e sem desanimar, ou querer desistir do compromisso assumido diante de Deus.
Vemos como hoje em dia se acha fácil a separação, o divórcio. Isto acontece porque não se assumiu de verdade e na liberdade pessoal, o matrimônio como uma consagração a Deus. O matrimônio é uma verdadeira consagração a Deus, para o “serviço da comunhão” (Catecismo da Igreja Católica). A santificação acontece no cotidiano, nas alegrias e sofrimentos próprios da vida de casal, na educação dos filhos, na vivência com os parentes, na vida comunitária.
Cristo não nos abandona neste caminho de santificação: Ele está no meio de nós. E precisamos manter este relacionamento com Ele, pela oração diária e em família, pela leitura da Palavra de Deus e principalmente pela participação na Eucaristia, na Santa Missa. Na eucaristia o casal encontra forças em Cristo para viver a vida consagrada do matrimônio.
Convido cada casal a perserverar no amor, e contar com a graça de Deus no seu casamento. Não vos afasteis de Cristo e Ele cuidará de vós. Assuma hoje sem medo a sua consagração a Deus, no matrimônio. Uma vez consagrado nos tornamos pertença Dele, e as preocupações da vida se tornam mais leves, pois sabemos em Quem colocamos a nossa confiança. Somos de Cristo.
Faça ainda hoje este ato de retomada: diga a sua esposa(o): somos de Cristo, nosso casamento é de Cristo. Deus te abençoe com muitos frutos que você colherá desta retomada de vida.
O Espírito Santo habita o coração humano, pois neste coração foi infundido este Espírito pelo Batismo. O “In-habitar” o ser humano batizado é uma das características do Espírito Santo. Quando somos batizados acontece este derramamento do Espírito na nossa alma, e nos tornamos “morada do Altíssimo”, “templos” de Deus. Toda plenitude está na nossa alma, na nossa humanidade, mesmo que corrompida pelo pecado ou pervertida pelas forças do mal. O Espírito Santo está no nosso interior em plenitude.
Quando Jesus disse: ” Eu vim para que todos tenham vida e tenham vida em plenitude” (João 10,10b) era desta vida divina em nós, que Ele estava se referindo. Em nós existe um núcleo totalmente sadio: a nossa alma, pois nela habita o Espírito Santo, o Amor infinito de Deus Pai pelo Filho e o Amor do Filho pelo Pai, esta comunhão eterna de Amor é presença em nossa alma humana.
O Pentecostes de cada um, na verdade aconteceu no dia do nosso Batismo. Estamos cheios na verdade de toda graça de Deus, pelo Espírito Santo recebido.
Então se pergunta: Porque tantos batizados não transbordam esta vida interior plena e rica de dons, para fora? Para os outros? Para os relacionamentos humanos?
Eu arrisco dizer que é porque esqueceram esta verdade de fé: que é templo de Deus, ou ainda porque deixaram abafar esta vida nova que há no seu interior, pelas preocupações da vida exterior. Ou ainda porque não tiveram a consciencia de que a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade está nele.
Temos consciência que podemos nos relacionar com esta Pessoa? Que habita em nós? Podemos conversar com o Espírito Santo e buscar inspiração para tudo que fizermos. Podemos conversar com Espírito Santo buscando forças na caminhada da vida, a força vital só Ele pode nos dar ou restaurar. Podemos viver um relacionamento de amor com o Espírito de Deus que habita em nós, sendo fiel, tendo uma vida consagrada a Deus e a Sua Palavra.
Podemos enfim viver na presença deste Deus, que está tão próximo, no nosso interior.
O convite de hoje para nós é retomarmos este relacionamento pessoal com o Espírito Santo. Deus te ajude nesta retomada.