Agora já não se trata só de um profundo desejo da Igreja do Brasil, nem apenas de uma possibilidade. A Santa Sé confirma, pelas palavras do cardeal Angelo Amato, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, que Anchieta será canonizado pelo Papa Francisco no início de abril deste ano.
A canonização será feita por um decreto do papa Francisco, como foi feito no caso recente de São Pedro Favre, primeiro sacerdote da Companhia de Jesus. Com Anchieta, serão canonizados também dois missionários da América do Norte: de Dom Francisco de Laval (1623-1708), primeiro bispo do Canadá e de toda América do Norte, e de Irmã Maria da Encarnação (1599-1672), missionária ursulina, também do Canadá.
Depois, após a canonização, haverá várias solenidades; já se pensa numa celebração de ação de graças em Roma, possivelmente com a participação do papa Francisco, em data ser ainda fixada. E, no Brasil, não faltarão manifestações de jubilo e celebrações de ação de graças por este momento, tão longamente esperado. De fato a causa da canonização teve inicio já no século XVII, sendo interrompida e longamente paralisada por várias circunstâncias históricas, como a injusta expulsão dos Jesuítas do Brasil e da posterior supressão da Ordem.
Anchieta é o “apóstolo do Brasil”, assim já proclamado no seu funeral, em 1597. Algumas Regiões e cidades do Brasil foram especialmente marcadas pela sua ação missionária, como Salvador, São Paulo, Santos e todo litoral paulista, Rio de Janeiro, Vitória e o todo o Estado do Espírito Santo, Porto Seguro e o Sul da Bahia…
Sem esquecer, nem desmerecer o imenso trabalho missionário realizado aqui, já no século XVI, também por outros missionários e Ordens religiosas, podemos afirmar, sem medo de errar, que a Igreja e o próprio Brasil devem muito a Anchieta; além de animador de missões já existentes, foi fundador de muitas iniciativas missionárias, educativas e de caridade social. Ele foi um homem de Deus que, apesar de sua saúde frágil, desempenhou uma atividade dinâmica e eficaz, percorrendo distâncias enormes para assistir a um doente, ou para visitar comunidades e missões. Entre os índios no litoral paulista, ele era conhecido como “o padre que voa”, por causa da agilidade com que se deslocava e se fazia presente em lugares diferentes em pouco tempo. No coração de Anchieta ardia o desejo, de levar a luz do Evangelho a todos, consciente de que este é o caminho bom para cada homem.
È providencial que recebamos a notícia da canonização do Padre José de Anchieta neste início de Quaresma. “Convertei-vos e crede no Evangelho” – este apelo, ouvido na quarta feira de cinzas, nos recorda que o Cristo, centro do Evangelho, é a referência, a luz, o caminho, a norma para nossa vida humana e religiosa. Por outro lado, que a santidade é a vocação de todos: “sede santos porque eu, vosso Deus, sou santo”. A santidade de vida consiste na comunhão e na sintonia com Deus e, como consequência, a vida digna deste mundo e no amor, a exemplo de Cristo.
“São” José de Anchieta viveu assim. A Igreja o reconhece oficialmente e propõe a todos, que façamos como ele fez. Do nosso jeito, é claro.
Artigo publicado em O SÃO PAULO, ed de 06.03.2014
Card. Odilo Pedro Scherer – Arcebispo de São Paulo