OSP – Nos dias 13 e 14 de maio o senhor participou da reunião do Conselho da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, em Roma. O que vem a ser o Sínodo dos Bispos?
R – O Sínodo dos Bispos é um Organismo da Igreja, instituído pelo papa Paulo VI em 1965, no final do Concílio Vaticano II, para expressar de maneira mais eficaz a colegialidade episcopal e a responsabilidade de todo o episcopado, junto com o Papa e sob a sua autoridade, pelo bem da Igreja inteira. O Sínodo é presidido pelo Papa e tem em Roma uma Secretaria Geral permanente; tem também um Conselho, formado de 15 cardeais de várias partes do mundo. Reúne-se em assembléias gerais ordinárias periódicas e também pode haver assembléias extraordinárias, como aquela que vai acontecer em outubro. Das assembléias participam representantes das Conferências Episcopais de todo o mundo, além de outros membros, convidados pelo Papa.
OSP – Quem escolhe o tema das assembléias?
R – Sempre é feita uma ampla consulta às Conferências Episcopais e outros Organismos eclesiais; finalmente, o Papa escolhe o tema, entre várias propostas apresentadas a ele.
OSP – Qual foi o objetivo da reunião dos dias 13 e 14 de maio?
R – O Conselho ocupou-se, sobretudo, da elaboração do Instrumentum laboris (Instrumento de Trabalho), que é o texto de trabalho feito a partir das sugestões vindas das Conferências Episcopais e de outros Organismos eclesiais de todo o mundo. O tema, já conhecido, tratará dos desafios da evangelização diante das situações atuais da família e do casamento. O questionário enviado no ano passado às Dioceses de todo o mundo resultou num grande número de contribuições, mostrando o interesse especial que a temática despertou. O Instrumento de Trabalho será publicado e reunirá, de maneira temática e orgânica, essas contribuições e as apresentará como “objeto” de trabalho para a assembléia do Sínodo de outubro próximo.
OSP – O tema despertou muito interesse em toda parte. Como serão as respostas da Igreja às perguntas feitas?
R – O papa Francisco pediu que todos rezem na intenção do Sínodo, para que o Espírito Santo ilumine e conduza a Igreja nas orientações que ela deve dar. Não podemos antecipar decisões que ainda não foram tomadas, nem criar expectativas irreais. O primeiro objetivo desta assembléia do o Sínodo é uma grande tomada de consciência da situação em que vive a família, sobretudo dos problemas que ela enfrenta; sabemos, de antemão, que há várias situações problemáticas. O papa Francisco chamou para refletir sobre o que a Igreja deve fazer diante dessas situações. Ela não pode mudar as palavras de Cristo nem sua própria doutrina, mas pode ter um trato pastoral novo, para não deixar as pessoas sem esperança, nem dar a impressão de que ela não tem mais nada a dizer diante de certos casos irregulares, segundo sua doutrina.
OSP – Quem participará da assembléia extraordinária de outubro deste ano?
R – Conforme o Regulamento do Sínodo, participarão os presidentes das Conferências Episcopais, os Patriarcas e os Arcebispos Maiores das Igrejas Orientais Católicas “sui iuris”, além de outras pessoas que o Papa pode convidar. Poderão ser umas 180 pessoas.
OSP – Como o tema da assembléia extraordinária deste ano vai se relacionar com o tema da assembléia ordinária do Sínodo dos Bispos, que acontecerá em outubro de 2015?
R – Serão dois momentos de um único caminho; a temática de fundo refere-se à pessoa humana, à família e ao casamento, à luz do Evangelho e da fé cristã. Neste ano, a reflexão será sobretudo sobre as situações desafiadoras atuais da família e do casamento para a evangelização; no próximo ano, tratar-se-á de olhar para essa realidade a partir do Evangelho e da vocação à vida nova “em Cristo”, para chegar a orientações pastorais e eventuais decisões, em vista da evangelização mais eficaz. Há muito trabalho a ser feito!
OSP – O Sínodo dos Bispos foi instituído por Paulo VI há quase 50 anos. Continua uma Instituição atual ainda hoje?
R – Certamente! É claro que também o modo atuação do próprio Sínodo precisa ser adequado e atualizado de tempos em tempos. E o papa Francisco está atuando para isso. A propósito, o papa Paulo VI será beatificado no domingo, 19 de outubro, dia do encerramento da assembléia extraordinária do Sínodo dos Bispos.
Publicado em O SÃO PAULO, Ed 20 05 2014
Card. Odilo P. Scherer – Arcebispo de São Paulo