A campanha eleitoral vai ganhando corpo e os eleitores são confrontados com os muitos pretendentes ao seu voto. Por enquanto, os “presidenciáveis” são colocados em maior evidência e quase não nos damos conta de que também estão em jogo os cargos de governador, senador, deputado federal e estadual.

 

Nas questões gerais, todos os gatos parecem pardos. Os candidatos mostram seus planos para a economia, a saúde, a educação, a segurança, o transporte, o meio ambiente… De todos é esperado que tenham ficha limpa, sejam honestos e transparentes no exercício do poder, promovam o bem comum e não apenas o de alguns setores da sociedade. Cabe ao eleitor ouvir, discernir e escolher os cidadãos probos, capazes de governar e legislar com sabedoria e prudência.

 

Mas deveriam merecer atenção especial os projetos de partido e o rumo que se pretende imprimir ao país. Votamos em candidatos, mas quem dita as regras é o partido. Qual é a ideologia do partido e sua proposta para o exercício do poder? As diferenças entre os partidos e os candidatos aparecem especialmente nas políticas públicas que desejam desenvolver.

 

Os eleitores querem saber, e têm esse direito, sobre quais serão as políticas sociais para a superação das gritantes desigualdades e o alcance da equidade e da justiça social, como convém a um país que se pretende grande na economia e importante no cenário internacional. Como se posicionam candidatos e partidos sobre os direitos humanos fundamentais? Parece questão pacífica, mas não é, pois nem tudo é claro nos programas de direitos humanos. A questão não pode ser deixada apenas à ação de grupos de pressão, nem ao cálculo de conveniências nas relações internacionais. Por falar nisso, qual será a posição do futuro governo nas questões de política externa? E quem serão os amigos preferenciais do Brasil?

 

Poucos duvidam da importância da família para a pessoa, a sociedade e a nação. No entanto, a família não é tema de debates políticos. Estudos sociológicos têm demonstrado que a ausência da família, ou a impossibilidade de cumprir a missão que lhe é própria, está na origem de graves males; quando um governo descuida e desprotege a família, deixa uma herança pesada de problemas à sociedade e chama a si muitas responsabilidades que poderiam ser bem melhor assumidas pela família, que tem um papel social insubstituível; por isso ela merece toda a atenção dos governantes e legisladores. Não seria hora de ter no Governo brasileiro um Ministério voltado para as questões da família?

 

A família precisa de políticas públicas para o acesso à moradia digna, alimentação e educação de qualidade. O trato privilegiado da saúde materna e infantil seria um investimento de elevado retorno social; a adoção poderia ser mais incentivada; a educação sexual não deveria ser desvinculada da formação para atitudes eticamente e socialmente responsáveis, nem dos valores do casamento e da família bem constituída, condições para acolher bem os novos brasileirinhos. Será que é bom para o futuro do país que um percentual elevado de crianças nasça fora de uma família constituída? Que a sustentação e educação do filho fique a cargo de um dos genitores apenas? Os programas de repressão da natalidade levaram o Brasil a uma queda brusca do número de filhos por casal e isso foi celebrado como um avanço importante. Seremos, em breve, uma população de idosos, como já acontece em outros países, e os governos precisarão fazer políticas de incentivo à natalidade…

 

Questão espinhosa para os candidatos é o pleno respeito à dignidade da pessoa e à sua vida em todos os momentos do existir. Questões como o aborto, a eutanásia, a manipulação de seres humanos nas pesquisas científicas acabam sendo evitadas, ou tratadas de maneira evasiva: “Vamos tratar disso como questão de saúde pública…” “Vamos submeter a um plebiscito…” O direito à vida não pode ser submetido ao arbítrio da maioria. O aborto deveria, sim, ser tratado como questão de saúde pública, mas para melhor proteger a vida dos nascituros contra toda agressão, amparar as gestantes, dando-lhes condições de levar a gravidez até o fim e de dar à luz com dignidade a seus bebês. Gravidez e maternidade não são enfermidades! Mas se, por saúde pública, é sinalizada a facilitação ou a legalização do aborto, não estamos mais diante de uma política de saúde. Inútil abrandar as coisas com conceitos como “despenalização do aborto” ou “antecipação do parto”. A crua realidade não muda e o aborto voluntário é sempre a supressão direta da vida de um ser humano.

 

Política pública de saúde seria também a aplicação da lei em vigor, fechando as clínicas clandestinas de abortos e penalizando os responsáveis! Seria ainda a oferta de apoio efetivo às gestantes em dificuldades, bem o chamado à responsabilidade do pai biológico e o cumprimento da lei em vigor, no que se refere à proteção e defesa da mãe e do filho ainda por nascer. Com freqüência ouvem-se cálculos, de fato nunca comprovados, de que no Brasil os abortos clandestinos seriam mais de um milhão por ano. Um milhão de seres humanos eliminados antes de nascer! E, com eles, muitas mulheres morrem ou levam problemas para o resto da vida! Isso deveria merecer alguma atenção política!

 

Os candidatos aos cargos de deputado federal e senador, se eleitos, terão a responsabilidade de fazer leis sobre essas questões. Suas posições e as de seus partidos, sobre o assunto são conhecidas? Os eleitores têm o direito de saber, para votar conscientemente.

 

Card. Dom Odilo Pedro Scherer

Arcebispo de São Paulo

Artigo publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, dia 14.08.2010

 

29. julho 2010 · Write a comment · Categories: Comentário · Tags:

O que significa rezar? É importante rezar? Vale a pena? Como rezar? Estas e outras perguntas sobre a oração estiveram no centro da Liturgia da Palavra do domingo passado. E poderíamos continuar a perguntar: qual é o lugar da oração na vida cristã? É preciso rezar, mesmo com tanta coisa para fazer? Vale mais a oração, ou a ação?

Uma coisa é certa: Jesus rezava, como nos atestam os Evangelhos. Passava até noites inteiras em oração, a sós com Deus (cf Lc 6,12); os apóstolos também rezavam enquanto esperavam, com Maria a mãe de Jesus, a vinda do Espírito Santo (cf At 1,22); os primeiros cristãos “eram perseverantes na oração” (cf At 2,42); muitas vezes, São Paulo rezava e recomendava a oração aos fiéis em suas cartas (cf Ef 1,16; Fl 1,4; Rm 12,12; Cl 4,2). Inegavelmente, a oração faz parte da vida cristã, desde a pregação de Jesus e dos apóstolos e desde os primórdios da Igreja. E ao longo de toda a história da Igreja, a oração é uma das expressões mais evidentes da fé e da vida eclesial. Cristão reza; e quem não reza, deixa de lado um aspecto importante da vida cristã.

Ver Jesus rezando, impressionava muito os discípulos, tanto que um deles lhe pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1). Era costume que os “mestres” ensinassem a oração aos discípulos. E ainda hoje isso é parte da missão de quem deve ser “mestre na fé” para seus irmãos – sacerdotes, pastores de almas, catequistas. Aqui já está uma dos significados da oração: É traduzir em atitudes aquilo que se aprendeu sobre Deus e a fé: rezar é passar do crer intelectual ao relacionar-se com Deus. Para saber se alguém tem fé, e que tipo de fé, basta observar se reza e como reza. Por isso é bem justificada a afirmação: lex credendi, lex orandi” – o jeito de crer aparece no jeito de rezar e a oração é expressão do jeito de crer.

Há muitos modos de rezar e também hoje há muitos “mestres de oração”. São todos igualmente bons? Jesus já desaconselhava a oração “dos hipócritas”, que são falsos (cf Mt 6,5) e rezam apenas com os lábios, mas cujo coração está longe de Deus (cf Mc 7,6); e também pede para não rezar como os pagãos, que pensam poder convencer Deus com muitas palavras (cf Mt 6,7). Em vez disso, ensina o Pai Nosso (cf Mt 6,9-15; Lc 11,2-4). O cristão deve aprender a rezar de Jesus, cuja oração é “falar com o Pai”.

Em nossa oração não nos dirigimos a Deus de maneira abstrata, como se Deus fosse uma energia que pode ser capturada com palavras ou ritos mágicos; nem invocamos um poder impessoal com o fim de direcioná-lo e de obter os benefícios desejados… Nossa oração tem base na graça recebida no Batismo, pela qual fomos acolhidos por Deus como filhos (“filhos no Filho”) e recebemos o Espírito Santo, que nos ajuda a rezar como convém (cf Rm 8,26-27). Como Jesus, também nós podemos dirigir-nos a Deus como os filhos se dirigem ao pai, com toda confiança e simplicidade. É belo pensar que não somos estranhos a Deus, nem Deus é estranho a nós; somos da “família de Deus”, a quem nos dirigimos com toda familiaridade. Por isso, nossa oração se traduz em profissão de fé, adoração, louvor, narração das maravilhas de Deus, agradecimento, súplica, desabafo na angústia, pedido de perdão, intercessão pelos outros… Filhos amados pelo pai e que lhe dedicam amor filial podem achegar-se ao colo do pai, falar-lhe livremente, chorar no seu ombro, sentir-se abraçados e envolvidos de ternura, até sem dizer uma palavra…

Naturalmente, não tenho a pretensão de dizer tudo sobre a oração cristã nestes poucos parágrafos… Resta ainda falar da beleza e importância da oração litúrgica, quando não rezamos sozinhos mas, como comunidade de fé, nos unimos a Cristo Sacerdote, que reza conosco e por nós diante do Pai. É prece de valor infinito, pois é perfeita a oração do Filho e são infinitos os méritos de sua santa encarnação, sua vida, paixão e ressurreição. Por isso, a Igreja recomenda com tanta insistência a participação na oração litúrgica, especialmente na Missa dominical.

Card. D.Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

Artigo publicado em O SÃO PAULO, Ed de 27.07.2010

 

O que significa rezar? É importante rezar? Vale a pena? Como rezar? Estas e outras perguntas sobre a oração estiveram no centro da Liturgia da Palavra do domingo passado. E poderíamos continuar a perguntar: qual é o lugar da oração na vida cristã? É preciso rezar, mesmo com tanta coisa para fazer? Vale mais a oração, ou a ação?

 

Uma coisa é certa: Jesus rezava, como nos atestam os Evangelhos. Passava até noites inteiras em oração, a sós com Deus (cf Lc 6,12); os apóstolos também rezavam enquanto esperavam, com Maria a mãe de Jesus, a vinda do Espírito Santo (cf At 1,22); os primeiros cristãos “eram perseverantes na oração” (cf At 2,42); muitas vezes, São Paulo rezava e recomendava a oração aos fiéis em suas cartas (cf Ef 1,16; Fl 1,4; Rm 12,12; Cl 4,2). Inegavelmente, a oração faz parte da vida cristã, desde a pregação de Jesus e dos apóstolos e desde os primórdios da Igreja. E ao longo de toda a história da Igreja, a oração é uma das expressões mais evidentes da fé e da vida eclesial. Cristão reza; e quem não reza, deixa de lado um aspecto importante da vida cristã.

 

Ver Jesus rezando, impressionava muito os discípulos, tanto que um deles lhe pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1). Era costume que os “mestres” ensinassem a oração aos discípulos. E ainda hoje isso é parte da missão de quem deve ser “mestre na fé” para seus irmãos – sacerdotes, pastores de almas, catequistas. Aqui já está uma dos significados da oração: É traduzir em atitudes aquilo que se aprendeu sobre Deus e a fé: rezar é passar do crer intelectual ao relacionar-se com Deus. Para saber se alguém tem fé, e que tipo de fé, basta observar se reza e como reza. Por isso é bem justificada a afirmação: lex credendi, lex orandi” – o jeito de crer aparece no jeito de rezar e a oração é expressão do jeito de crer.

 

Há muitos modos de rezar e também hoje há muitos “mestres de oração”. São todos igualmente bons? Jesus já desaconselhava a oração “dos hipócritas”, que são falsos (cf Mt 6,5) e rezam apenas com os lábios, mas cujo coração está longe de Deus (cf Mc 7,6); e também pede para não rezar como os pagãos, que pensam poder convencer Deus com muitas palavras (cf Mt 6,7). Em vez disso, ensina o Pai Nosso (cf Mt 6,9-15; Lc 11,2-4). O cristão deve aprender a rezar de Jesus, cuja oração é “falar com o Pai”.

 

Em nossa oração não nos dirigimos a Deus de maneira abstrata, como se Deus fosse uma energia que pode ser capturada com palavras ou ritos mágicos; nem invocamos um poder impessoal com o fim de direcioná-lo e de obter os benefícios desejados… Nossa oração tem base na graça recebida no Batismo, pela qual fomos acolhidos por Deus como filhos (“filhos no Filho”) e recebemos o Espírito Santo, que nos ajuda a rezar como convém (cf Rm 8,26-27). Como Jesus, também nós podemos dirigir-nos a Deus como os filhos se dirigem ao pai, com toda confiança e simplicidade. É belo pensar que não somos estranhos a Deus, nem Deus é estranho a nós; somos da “família de Deus”, a quem nos dirigimos com toda familiaridade. Por isso, nossa oração se traduz em profissão de fé, adoração, louvor, narração das maravilhas de Deus, agradecimento, súplica, desabafo na angústia, pedido de perdão, intercessão pelos outros… Filhos amados pelo pai e que lhe dedicam amor filial podem achegar-se ao colo do pai, falar-lhe livremente, chorar no seu ombro, sentir-se abraçados e envolvidos de ternura, até sem dizer uma palavra…

 

Naturalmente, não tenho a pretensão de dizer tudo sobre a oração cristã nestes poucos parágrafos… Resta ainda falar da beleza e importância da oração litúrgica, quando não rezamos sozinhos mas, como comunidade de fé, nos unimos a Cristo Sacerdote, que reza conosco e por nós diante do Pai. É prece de valor infinito, pois é perfeita a oração do Filho e são infinitos os méritos de sua santa encarnação, sua vida, paixão e ressurreição. Por isso, a Igreja recomenda com tanta insistência a participação na oração litúrgica, especialmente na Missa dominical.

 

Card. D.Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

O mês de maio de 2010 se encerra com eventos de grande significado. O Domingo da Santíssima Trindade nos recordou a graça e a beleza da nossa fé cristã num Deus tão grande e santo, magnífico em suas obras e, ao mesmo tempo, tão próximo de nós, movido por ternura e compaixão para com suas criaturas. “O céu e a terra cantam a glória de Deus!”. Nunca agradeceremos o bastante pela nossa capacidade de compreender um pouco das maravilhas de Deus, por sermos filhos amados do Pai celeste, irmãos do Filho Eterno, mantidos na existência e amados pelo Espírito de Amor do Pai e do Filho! Já neste mundo, somos “templos de Deus”, somos da família de Deus, seus filhos! Somos íntimos de Deus! Quanto é grande e inefável o Mistério de nosso Deus! Como é rica e bela nossa fé cristã!

No Santuário Nacional da Virgem Mãe Aparecida, realizou-se, também nesse domingo, a 2ª. Peregrinação Nacional das Famílias, promovida pela CNBB. Muito bonito, ver milhares e milhares de famílias na casa da Mãe de todos os brasileiros, estendendo as mãos para pedir sua bênção e proteção sobre os lares e as famílias contra todos os males que a ameaçam, ou enfraquecem. Neste ano, de maneira especial, pedimos que a família tenha a graça de ser formadora das pessoas nos valores humanos e cristãos. Também lembramos os 50 anos da Declaração da ONU sobre os direitos da infância.

E aqui, na Catedral da Sé, celebramos os Jubileus sacerdotais de mais de 40 sacerdotes da Arquidiocese de São Paulo! Foi bonito! Grande momento de ação de graças por tudo o que Deus realizou e continua a realizar através dos sacerdotes no meio do seu povo! Eles servem a Cristo Sacerdote em favor dos irmãos e, por isso, sua dignidade é muito alta! Esta dignidade, porém, só pode ser compreendida corretamente no horizonte da fé cristã. São homens, “tomados do meio dos outros homens”, consagrados ao sacerdócio de Cristo em favor dos irmãos. Apesar de receberem uma vocação santa, eles continuam sujeitos a fraquezas Por isso mesmo, eles precisam muito do apoio e da oração da comunidade eclesial servida por eles.

O Ano Sacerdotal vai chegando ao fim; sua proclamação foi uma iniciativa inspirada do Papa Bento XVI e, com a graça de Deus, os frutos não tardarão a chegar. Tivemos a ocasião de olhar para o essencial do sacerdócio e de reconhecer, com fé e humildade, que só Jesus Cristo é o eterno sacerdote; nós, embora indignos pecadores, necessitados de constante conversão, fomos escolhidos e consagrados para as coisas santas! Somos “embaixadores de Deus” para a humanidade, pastores, em nome do Bom Pastor, porta-vozes da sua Palavra de salvação para todos! As tristezas que se abateram sobre a figura do sacerdote, justamente neste ano, podem ser interpretadas como armação do Maligno; mas também, como ocasião e chamado de Deus para deixar de lado vaidades e pretensões humanas no exercício do sacerdócio. Só Ele é santo, mas nós somos chamados à santidade! Só à sua nós devemos servir, no exercício do sacerdócio. E só o faremos, se estivermos em comunhão íntima com Jesus Cristo, Sacerdote eterno, que não buscou a sua glória, nem privilégios para si, mas tão somente servir aos irmãos, revelando-lhes o amor de Deus!

E encerramos o mês de maio com a bela festa da Visitação de Nossa Senhora. Depois de do anúncio do anjo Gabriel e de acolher em seu seio o Verbo, que se fazia carne por meio dela, Maria foi às pressas – missionária da Boa Nova! – visitar sua prima Isabel, grávida como ela própria, mas já idosa. Coisas que só Deus faz! Entrando em casa de Isabel e Zacarias, Maria leva consigo Jesus. Ela nunca vai sozinha, ela acompanha o Filho, prepara o caminho, abre as portas para Ele, alegra-se porque “a salvação entra naquela casa” … Como o padre. Esta é a missão do padre e da Igreja! Maria é um ícone da Igreja, do sacerdote. Virgem Aparecida, Mãe de Cristo Sacerdote, Maria missionária do Evangelho, olhai por todos os sacerdotes. Protegei-os com ternura. Amém!

Card. D.Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

Artigo publicado em O SÃO PAULO, Ed de 31.05.2010

12. maio 2010 · Write a comment · Categories: Comentário · Tags:

Em nome da Arquidiocese de São Paulo, lamento e manifesto minha preocupação por  mais uma chacina, ocorrida na zona norte da cidade  na madrugada desta terça-feira, dia 11 de maio, e que ceifou brutalmente a vida de seis moradores de rua. Manifesto o meu repúdio mais veemente a este ato de violência contra a dignidade da pessoa e sua vida.

Este ato criminoso soma-se a tantos outros semelhantes, ocorridos recentemente em São Paulo e em outras cidades do Brasil. Infelizmente, a falta de esclarecimento de uma ação criminosa pode contribuir para o surgimento de outra semelhantes,  por deixar no ar certa presunção de impunidade. Confio na ação pronta e eficaz das Autoridades competentes para que  esta nova chacina seja esclarecida, os culpados prestem contas à justiça e sejam punidos no rigor da lei.

A ocasião é oportuna para uma reflexão sobre a situação de fragilidade e de risco a que estão expostas as pessoas que usam as ruas da cidade como moradia. Além de toda a precariedade de sua condição em relação à alimentação, saúde, moradia e segurança, os moradores de rua também vivem numa situação de grave vulnerabilidade social, expostas ao assédio do mundo das drogas e do crime organizado.

São necessárias, pois, políticas públicas específicas e eficazes, voltadas para esta parcela da população de São Paulo. Como pode nossa cidade conviver distraidamente com um problema social tão grave?! Não é questão que possa ser resolvida apenas mediante ações da Segurança Pública, ou da Assistência Social; ela demanda igualmente a gestão do trabalho, da moradia, da saúde e da educação.

Faço minha a dor dos familiares e parentes das vítimas e rogo a Deus pelo seu conforto. Faço também votos que ações preventivas de Segurança Pública, bem como uma metodologia eficaz de integração social dos moradores de rua possam contribuir para que não se repitam no futuro ações de criminalidade, que envergonham  nossa sociedade e colocam de joelhos até mesmo o  Estado diante da lógica da violência, incapaz de assegurar a proteção da pessoa e a aplicação da justiça.

Santo Antônio de Santana Galvão, que viveu nesta cidade, amou-a e serviu aos pobres e desassistidos, interceda por nossa cidade e seja para todos os seus habitantes  exemplo e estímulo na construção de um convívio social solidário e pacífico.

Card. Dom Odilo Pedro Scherer

Arcebispo de São Paulo

As notícias sobre pedofilia, envolvendo membros do clero, difundiram-se de modo insistente. Tristes fatos, infelizmente, existiram no passado e existem no presente; não preciso discorrer sobre as cenas escabrosas de Arapiraca… A Igreja vive dias difíceis, em que aparece exposto o seu lado humano mais frágil e necessitado de conversão. De Jesus aprendemos: “Ai daqueles que escandalizam um desses pequeninos!” E de S.Paulo ouvimos: “Não foi isso que aprendestes de Cristo”.

As palavras dirigidas pelo papa Bento XVI aos católicos da Irlanda servem também para os católicos do Brasil e de qualquer outro país, especialmente aquelas dirigidas às vítimas de abusos e aos seus abusadores. Dizer que é lamentável, deplorável, vergonhoso, é pouco! Em nenhum catecismo, livro de orientação religiosa, moral ou comportamental da Igreja isso jamais foi aprovado ou ensinado! Além do dano causado às vítimas, é imenso o dano à própria Igreja.

O mundo tem razão de esperar da Igreja notícias melhores: Dos padres, religiosos e de todos os cristãos, conforme a recomendação de Jesus a seus discípulos: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus!” Inútil, divagar com teorias doutas sobre as influências da mentalidade moral permissiva sobre os comportamentos individuais, até em ambientes eclesiásticos; talvez conseguiríamos compreender melhor por que as coisas acontecem, mas ainda nada teríamos mudado.

Há quem logo tem a solução, sempre pronta à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres, que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem a ver somente com celibatários? E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: A maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo!

Ouso recordar algo que pode escandalizar a alguns até mais que a própria pedofilia: É preciso valorizar novamente os mandamentos da Lei de Deus, que recomendam atitudes e comportamentos castos, de acordo com o próprio estado de vida. Não me refiro a tabus ou repressões “castradoras”, mas apenas a comportamentos dignos e respeitosos em relação à sexualidade. Tanto em relação aos outros, como a si próprio. Que outra solução teríamos? Talvez o vale tudo e o “libera geral”, aceitando e até recomendando como “normais” comportamentos aberrantes e inomináveis, como esses que agora se condenam?

As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Esta orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse S.Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair!

A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados.

E continuará a clamar por justiça social, a denunciar o egoísmo que se fecha às necessidades do próximo; ainda defenderá a dignidade do ser humano contra toda forma de desrespeito e agressão; e não deixará de afirmar que o aborto intencional é um ato imoral, como o assassinato, a matança nas guerras, os atentados e genocídios. E sempre anunciará que a dignidade humana também requer comportamentos dignos e conformes à natureza, também na esfera sexual; e que a Lei de Deus não foi abolida, pois está gravada de maneira indelével na coração e na consciência de cada um.

Mas ela o fará com toda humildade, falando em primeiro lugar para si mesma, bem sabendo que é santa pelo Santo que a habita, e pecadora em cada um de seus membros; todos são chamados à conversão constante e à santidade de vida. Não falará a partir de seus próprios méritos, consciente de trazer um tesouro em vasos de barro; mas, consciente também de  que, apesar do barro, o tesouro é precioso; e quer compartilhá-lo com toda a humanidade. Esta é sua fraqueza e sua grandeza!

Card. Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

Artigo publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. 11. 04.2010

Durante a Semana Santa tivemos, nas comunidades espalhadas pela Arquidiocese, uma intensa participação do povo em algumas. Na quinta-feira santa, a Missa do Crisma, na Catedral da Sé, foi um momento marcante no Ano Sacerdotal, com a presença da maioria do clero. Também na sexta-feira santa o povo participou bem; menor, em geral, foi a participação na vigília pascal, que ainda não é valorizada suficientemente.

Temos muito a fazer pois, no contexto sócio-cultural atual, a Semana Santa, especialmente o tríduo pascal, é vista como tempo de férias e de fuga da cidade para buscar refúgio no interior ou no litoral. Isso é compreensível para quem não tem nossa fé, mas não deveriam os cristãos católicos ser levados pela mesma mentalidade; nossas comunidades também se esvaziam, justamente no momento mais importante das celebrações litúrgicas da Igreja, isto é, o sagrado tríduo pascal; perde-se, acima de tudo, uma grande ocasião para uma renovação espiritual, para uma catequese mais profunda e para deixar-se contagiar pelas “maravilhas de Deus”, que a Igreja anuncia e celebra nesses dias.

Durante toda a Quaresma seguimos o apelo à conversão: “convertei-vos e crede no Evangelho”. Todo o itinerário quaresmal levava ao reconhecimento dos nossos pecados, que são fatos da consciência pessoal, mas também têm repercussão no convívio social. Nesta Quaresma, para nossa dor, escândalo de muitos e motivo de grande humildade para todos, pecados acabaram sendo mostrados ao grande público, também pecados de membros do clero pelo mundo afora. Pecados de corrupção, desonestidade, violência, adultério, estupros, injustiças, exploração desonesta do próximo e desrespeito, até cruel, pela vida de pessoas já são mostrados todos os dias e já nem mexem mais com as consciências. Mas os pecados do clero chocaram, e com razão! Deles se espera vida digna, e santa! E são logo generalizados, fazendo sofrer a maioria absoluta do clero que nada tem a ver com os horríveis escândalos mostrados e comentados à saciedade.

Pensando em tudo isso, após a Páscoa, muitos católicos talvez estejam com o coração pesaroso e desanimado, até envergonhados. Penso nos apóstolos e discípulos de Jesus, após a sua condenação à morte na cruz. Pedro foi embora de Jerusalém, voltou à Galiléia para retomar a vida de antes: “vou pescar. Outros disseram: vamos também nós contigo” (cf Jo 21,3). Dois outros também iam embora de Jerusalém e voltavam para Emaús, sua aldeia de origem, frustrados e desanimados: Tudo acabou! Parecia tão bonito, nós até esperávamos que ele libertaria Israel, mas agora já se passaram três dias desde que mataram Jesus… Fomos enganados; as autoridades condenaram Jesus à morte e deviam ter razão… (cf Lc 23,20-21). Aqueles discípulos revelam o tamanho da frustração e do desânimo que tomou conta de quase todos os outros também. Poucos, como a Mãe de Jesus, mantiveram a confiança: “eu sei que o meu Redentor vive”!

Mas o reencontro com Cristo ressuscitado reaqueceu seus corações e suas esperanças: já não eram os sonhos de antes e compreenderam melhor quem era aquele homem que tinham seguido antes da Páscoa: “Deus estava com ele!”. As aparições, ou encontros pascais com Jesus ressuscitado são testemunhos fortes de uma experiência originária: “vimos o Senhor!” (Jo 20,25). Viram de forma nova e compreenderam melhor! Suas frustrações ainda eram devidas a compreensões e expectativas inadequadas em relação ao reino de Deus que Jesus anunciara… Quando o homem quer impor seus planos aos de Deus, seguindo caminhos próprios e desprezando os de Deus, a fragilidade do homem aparece e, então, vêm o pecado, a frustração e o desânimo.

Na Páscoa, Igreja proclama exultante: “Este é o Dia que o Senhor fez para nós: Alegremo-nos e nele exultemos!” Talvez, pela cabeça do leitor passe agora este pensamento: temos nós motivos para nos alegrar quando, nas palavras do salmista, “somos apertados de todos os lados”? Eu respondo: sim, temos muitos e grandes motivos, que nos vêm de algo muito maior que nós mesmos, e que o próprio Deus preparou para nós! A Páscoa é a proclamação do poder de Deus, da vitória da vida sobre a morte, da misericórdia e do perdão sobre o ódio e o pecado! Alegremo-nos!

O desânimo não deve tomar conta de ninguém! A conversão e a superação dos pecados, a busca da vida santa devem receber novo impulso daquilo que o Senhor fez para nós! “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto!” (cf Cl 3,1). Nós não anunciamos a nós mesmos e sabemos bem que somos vasos de barro; mas em nossas mãos foi colocado um tesouro, que não pode ficar escondido, nem ser desprezado porque os vasos são feios… “A alegria do Senhor é a nossa força!” Coragem! Alegremo-nos todos no Senhor!

Card. Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

05.04.2010

Querido Povo de Deus, em São Paulo,

Desejo feliz e santa Páscoa a todos! Celebramos o Mistério da paixão e morte do Senhor Jesus e anunciamos com fé sua ressurreição gloriosa dentre os mortos. Ele vive e está no meio de nós! Como aconteceu com os discípulos de Emaús, que a alegria do encontro com o Cristo vivo também encha seus corações e ilumine suas vidas!

Durante a Quaresma e a Campanha da Fraternidade refletimos sobre as relações econômicas, que não devem estar voltadas, simplesmente, para o lucro individualista; e propusemos gestos concretos em favor de uma economia solidária e de inclusão social. Que nosso Brasil cresça, mas sem excluir a tantos, que não conseguem acompanhar o sistema econômico vigente. Queremos vida com dignidade para todos. O Pai Criador fez os bens deste mundo para que servissem ao bem  de todos; e  Jesus Cristo entregou sua vida sobre a cruz e ressuscitou para que todos tivessem vida em abundância.

Os apelos da Campanha da Fraternidade de 2010 e a celebração da Páscoa também reforçam nossa responsabilidade para com a vida em nosso planeta: ela é vítima da idolatria ao “deus” dinheiro e da rejeição do Deus vivo e verdadeiro. Nossas orações e ações possam reverter a preocupante ameaça que pesa sobre o futuro da vida na Terra, por causa do descuido do homem. A ressurreição de Cristo seja anúncio de vida também para a natureza, dom de Deus para suas criaturas; também “a criação espera ser libertada da escravidão da corrupção…” (cf Rm 8,19). E isso é tarefa nossa.

A Igreja, que carrega e sofre a dor do mundo, exulta na Páscoa porque sabe que a morte e ressurreição de Cristo abriram caminho para que o amor, a paz e a vida reinem no mundo. Vivamos, pois, com intensa alegria os 50 dias do Tempo Pascal, como se fossem um único grande dia de Páscoa, até chegarmos a Pentecostes.

Antes disso, porém, no dia 2 de maio, realizaremos a 109ª Romaria da nossa Arquidiocese ao Santuário de Aparecida, para agradecer e invocar a proteção da Senhora Nossa para nossa Igreja, nossa cidade e o mundo inteiro. De 13 a 16 de maio, no 16º Congresso Eucarístico Nacional, em Brasília, teremos a ocasião de aprofundar nosso amor ao dom da Eucaristia.

No dia 30 de maio, às 15h, na Catedral da Sé, faremos o encerramento do Ano Sacerdotal, com a comemoração dos jubileus sacerdotais (2009-2010) dos padres que servem a Igreja na Arquidiocese, às 15h. Vai ser bonito e convido todos a participar. Recomendo a oração especial por todos os nossos padres, diáconos e seminaristas, rogando a Deus que envie sempre operários para sua messe.

Durante este ano, também está acontecendo o 1º Congresso Arquidiocesano de Leigos, em várias etapas; pontos altos serão os Congressos nas Regiões, em 28 de agosto, e o Congresso arquidiocesano, em 21 de novembro, Dia dos Leigos. Convido os leigos a serem “sal da terra e luz do mundo”, mensageiros do Evangelho de Cristo.

O Senhor ressuscitado nos faz seus discípulos missionários e nos envia, com a força do Espírito Santo, para o meio da cidade de São Paulo. Que cada cristão, além de cuidar da própria vida de fé e da nossa Igreja, também cuide, como bom cidadão, da vida da cidade e do nosso País! A alegria do Senhor ressuscitado seja a nossa força! Que ele confirme nossos corações na fé, esperança e caridade. Feliz Páscoa a todos!

Card. D.Odilo P. Scherer

Arcebispo de são Paulo

Papa não decidiu reintegrar pastoralmente sacerdote pederasta em Munique

O vigário-geral da arquidiocese naquele então assume a responsabilidade

Por Gisèle Plantec e Jesús Colina

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 12 de março de 2010 (ZENIT.org).- Bento XVI não esteve envolvido na reintegração pastoral de um sacerdote pederasta na arquidiocese de Munique, no início da década de 80, quando era arcebispo dessa diocese, esclarece a Santa Sé.

Um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé, divulgado na tarde desta sexta-feira, esclarece antecipações do jornal alemão Süddeutsche Zeitung “sobre um sacerdote da diocese de Essen, com precedentes de abuso sexual, transferido à diocese de Munique e, após um período de tratamento, integrado à atividade pastoral na época em que o arcebispo era Joseph Ratzinger”.

A nota vaticana faz referência a um comunicado emitido também hoje pela arquidiocese de Munique, que “explica os fatos, pelos quais assume responsabilidade total o vigário-geral da diocese nesse então, Gerhard Gruber”.

A arquidiocese de Munique explica que pode esclarecer os fatos, pois o vigário-geral, Peter Beer, criou um grupo de trabalho para revisar a maneira como foram enfrentadas, no passado, as acusações de abusos sexuais atribuídos a sacerdotes.

Em particular, este grupo de trabalho constatou que o sacerdote em questão, de quem não se revela a identidade – fala-se dele com a inicial “H” -, por solicitação da diocese de Essen, foi acolhido, em janeiro de 1980, pela arquidiocese de Munique para ser submetido a uma terapia lá.

Segundo o dossiê, o grupo de trabalho da arquidiocese deduziu que o sacerdote deveria submeter-se a esta terapia provavelmente porque havia tido relações sexuais com jovens. Em 1980, continua explicando a arquidiocese no comunicado, decidiu-se permitir ao sacerdote que se hospedasse em uma casa paroquial durante o tratamento.

“Esta decisão foi tomada pelo arcebispo”, que então era o cardeal Ratzinger. Esta foi, no entanto, a primeira e última decisão que envolvia Ratzinger neste caso, pois, como continua esclarecendo a diocese, “apesar desta decisão, o então vigário-geral designou a H. a assistência pastoral de uma paróquia de Munique, sem nenhum limite”.

A decisão, portanto, não foi de Ratzinger, a quem o Papa João Paulo II nomeou, em 25 de novembro de 1981, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

O sacerdote foi afastado do ministério depois, em 1985, quando a diocese teve conhecimento de denúncias de abuso sexual contra ele e ao constatar que havia sido incluído em uma investigação policial.

Em junho de 1986, foi condenado pelo Tribunal do Distrito de Ebersberg, por abuso sexual de menores, a 18 meses de privação de liberdade, em regime de liberdade condicional, e a uma multa de 4 mil marcos. O acusado também recebeu a ordem de submeter-se a terapia.

De novembro de 1986 a outubro de 1987, o sacerdote foi capelão em um asilo. Depois foi reintegrado em uma paróquia de Garching, por causa de dois elementos decisivos, segundo explica o comunicado arquidiocesano: a sentença relativamente leve do tribunal do distrito de Ebersberg e o parecer da psicóloga encarregada do seu tratamento.

Desde a sentença do tribunal, em 1986, as autoridades diocesanas não tiveram conhecimento de nenhum outro caso de abuso atribuído ao sacerdote.

Em 6 de maio de 2008, o sacerdote foi afastado das suas funções como administrador de uma paróquia em Garching e, desde outubro de 2008, foi integrado à Pastoral do Turismo. Foi-lhe imposta como condição que não tivesse nenhum contato com crianças, jovens ou coroinhas. Um informe legal preparado a pedido do novo arcebispo, Reinhard Marx, confirmou que o sacerdote não deveria ter sido reintegrado na paróquia.

Fonte: www.zenit.org

Lobby laicista contra Papa: grande boato do “New York Times”

Por Massimo Introvigne

ROMA, quinta-feira, 25 de março de 2010 (ZENIT.org).- Se existe um jornal que me vem à mente quando se fala de lobbies laicistas e anticatólicos, este é o New York Times. No dia 25 de março de 2010, o jornal de Nova York confirmou esta vocação sua com um incrível boato relativo a Bento XVI e ao cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone.

Segundo o jornal, em 1996, os cardeais Ratzinger e Bertone teriam ocultado o caso – indicado à Congregação para a Doutrina da Fé pela arquidiocese de Milwaukee – relativo a um padre pedófilo, Lawrence Murphy. Incrivelmente – após anos de esclarecimentos e depois que o documento foi publicado e comentado amplamente em meio mundo, desvelando as falsificações e erros de tradução dos lobbies laicistas -, o New York Times ainda acusa a instrução Crimen sollicitationis, de 1962 (na verdade, 2ª edição de um texto de 1922) de ter agido para impedir que o caso Murphy fosse levado à atenção das autoridades civis.

Os fatos são um pouco diferentes. Por volta de 1975, Murphy foi acusado de abusos particularmente graves e desagradáveis em um colégio para menores surdos. O caso foi imediatamente denunciado às autoridades civis, que não encontraram provas suficientes para proceder contra Murphy. A Igreja, nesta questão mais severa que o Estado, continuou com persistência indagando sobre Murphy e, dado que suspeitava que ele fosse culpado, limitou de diversas formas seu exercício do ministério, apesar de que a denúncia contra ele tinha sido arquivada pela magistratura correspondente.

Vinte anos depois dos fatos, em 1995 – em um clima de fortes polêmicas sobre os casos dos “padres pedófilos” -, a arquidiocese de Milwaukee considerou oportuno indicar o caso à Congregação para a Doutrina da Fé. A indicação era relativa a violações da disciplina da confissão, matéria de competência da Congregação, e não tinha nada a ver com a investigação civil, que havia sido levada a cabo e que havia sido concluída 20 anos antes. Também é preciso observar que, nos 20 anos precedentes a 1995, não houve nenhum fato novo nem novas acusações feitas a Murphy. Os fatos sobre os quais se discutia eram ainda aqueles de 1975.

A arquidiocese indicou também a Roma que Murphy estava moribundo. A Congregação para a Doutrina da Fé certamente não publicou documentos e declarações 20 anos depois dos fatos, mas recomendou que se continuasse limitando as atividades pastorais de Murphy e que lhe fosse pedido que admitisse publicamente sua responsabilidade. Quatro meses depois da intervenção romana, Murphy faleceu.

Este novo exemplo de jornalismo lixo confirma como funcionam os “pânicos morais”. Para desonrar a pessoa do Santo Padre, desenterra-se um episódio de 35 anos atrás, conhecido e discutido pela imprensa local já na década de 70, cuja gestão – enquanto era da sua competência e 25 anos depois dos fatos – por parte da Congregação para a Doutrina da Fé foi canônica e impecável, e muito mais severa que a das autoridades estatais americanas.

De quantas destas ‘descobertas’ ainda temos necessidade para perceber que o ataque contra o Papa não tem nada a ver com a defesa das vítimas dos casos de pedofilia – certamente graves, inaceitáveis e criminais, como Bento XVI recordou com tanta severidade -, mas que tenta desacreditar um pontífice e uma Igreja que incomodam os lobbies pela sua eficaz ação de defesa da vida e da família?

Papa não encobriu o casa Murphy

Resposta ao caso do sacerdote que abusou de crianças com deficiência auditiva

Por Jesús Colina

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 25 de março de 2010 (ZENIT.org).- “Não houve encobrimento algum”, garante o jornal vaticano em sua resposta a um artigo do New York Times, que tenta envolver a Congregação para a Doutrina da Fé, quando tinha como prefeito o então cardeal Joseph Ratzinger, no gravíssimo caso de um sacerdote americano acusado de abusar sexualmente de crianças com deficiência auditiva.

Trata-se do Pe. Lawrence C. Murphy, responsável por abusos cometidos contra menores de idade em um centro católico especializado, onde ele trabalhou de 1950 a 1974. Este caso, como explica o próprio jornal nova-iorquino, foi apresentado muito depois, em 1996, pela arquidiocese de Milwaukee, à Congregação para a Doutrina da Fé, cujo prefeito era o cardeal Ratzinger e seu secretário era o então arcebispo Tarcisio Bertone, hoje cardeal secretário de Estado.

Como explicou um comunicado do Pe. Federico Lombardi, SJ, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, a arquidiocese americana não apresentou o caso por denúncias de abusos sexuais do sacerdote – uma questão que, para a justiça americana, havia sido arquivada anos atrás -, e sim pela violação do sacramento da penitência, perpetrada através de solicitações sexuais no confessionário, delito castigado pelo cânon 1387 do Código de Direito Canônico.

“Como se pode deduzir facilmente lendo a reconstrução realizada pelo New York Times sobre o caso do Pe. Murphy, não houve encobrimento algum”, assegura o L’Osservatore Romano na edição de 26 de março.

“Isso se confirma na própria documentação que complementa o artigo do jornal americano – acrescenta o L’Osservatore Romano -, na qual aparece a carta que o Pe. Murphy escreveu em 1998 ao então cardeal Ratzinger, pedindo que a investigação canônica fosse interrompida devido ao seu grave estado de saúde”. De fato, ele faleceu poucos meses depois, em estado de isolamento.

“Também neste caso, a Congregação respondeu, através do arcebispo Bertone, convidando o arcebispo de Milwaukee a aplicar todas as medidas pastorais previstas pelo cânon 1341 do Código, para reparar o escândalo e restabelecer a justiça”, garante o jornal vaticano.

“É importante observar, como declarou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, que a questão canônica apresentada à Congregação não estava relacionada de forma alguma com um possível procedimento civil ou pena contra o Pe. Murphy, contra quem a arquidiocese já havia empreendido um procedimento canônico, como evidencia a abundante documentação publicada na internet pelo jornal de Nova York”, acrescenta o artigo.

“A pedido do arcebispo, a Congregação respondeu com uma carta assinada pelo então arcebispo Bertone, em 24 de março de 1997, indicando que se procedesse segundo estabelece a Crimen sollicitationis“, carta da Congregação para a Doutrina da Fé sobre os delitos mais graves, revela o jornal da Santa Sé.

L’Osservatore Romano explica quais são os critérios indicados à Igreja pelo cardeal Ratzinger e por Bento XVI para esclarecer os diferentes casos de abusos sexuais cometidos por sacerdotes ou religiosos: “transparência, firmeza e severidade”.

“Uma forma de agir coerente com sua história pessoal e com mais de 20 anos de atividade como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que evidentemente é temida por quem não quer que se afirme a verdade e que preferiria poder manipular, sem nenhum fundamento, episódios horríveis e casos dolorosos que se remontam a décadas”, afirma o jornal vaticano.

O professor Massimo Introvigne, sociólogo e diretor do Centro de Estudos europeu sobre as Novas Religiões, em uma análise compartilhada com a Zenit, constata que os fatos narrados pelo New York Times não são precisos em alguns trechos e inclusive, segundo ele, foram manipulados.

“Para desonrar a pessoa do Santo Padre, agita-se um episódio ocorrido há 35 anos, já conhecido e discutido pela imprensa local na década de 70, cuja gestão – enquanto era da sua competência e 25 anos depois dos fatos – por parte da Congregação para a Doutrina da Fé foi canônica e moralmente impecável, e muito mais severa que a das autoridades estatais americanas.”

“De quantas destas ‘descobertas’ ainda temos necessidade para perceber que o ataque contra o Papa não tem nada a ver com a defesa das vítimas dos casos de pedofilia – certamente graves, inaceitáveis e criminais, como Bento XVI recordou com tanta severidade -, mas que tenta desacreditar um pontífice e uma Igreja que incomodam os lobbies pela sua eficaz ação de defesa da vida e da família?”, pergunta-se o sociólogo.