Tivemos um ano intenso marcado, durante o primeiro semestre, pelo Ano Sacerdotal e, ao longo de todo o ano, pelo 1º Congresso Arquidiocesano de Leigos; este vai chegando à sua conclusão no Domingo de Cristo Rei. Tenho muita esperança nos frutos que o Congresso vai trazer, a partir dos propósitos e projetos que os leigos estão elaborando sobre sua organização, formação e ação e vão apresentar no encerramento.
 

Mas também já é tempo de olhar para o próximo ano e de planejar as ações para levar adiante as questões postas no 10º Plano de Pastoral, inspirado na Conferência de Aparecida. Precisamos e queremos ser uma Igreja verdadeiramente discípula e missionária na grande cidade de São Paulo. E isso requer uma “conversão pastoral e missionária” das pessoas e também das instituições e organizações pastorais da nossa Igreja, para passar da pastoral de mera conservação para uma nova visão e atitude pastoral, que integre uma profunda preocupação e impulso missionário.
 

Feitas as necessárias ponderações na assembleia arquidiocesana de pastoral (30/10) e no Conselho Arquidiocesano de Pastoral (4/11), ficou claro que, no próximo ano, o destaque pastoral deverá ser a “conversão missionária das nossas organizações e estruturas pastorais”, em particular, da paróquia com tudo o que ela significa, para que ela se torne mais e mais “comunidade de comunidades, grupos, associações, movimentos e organizações de discípulos missionários”, que nela vivem e se expressam e agem de vários modos, segundo a riqueza dos dons de Deus e da vida no Evangelho.
 

Para começar, é necessário que tomemos uma nova consciência sobre a realidade da paróquia, no sentido teológico e pastoral, superando uma visão apenas burocrática ou jurídica. Ela é o rosto mais visível e concreto do Mistério da Igreja, “sacramento de salvação” no meio do mundo; é uma comunidade de batizados, congregados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, vivendo a fé, a esperança e a caridade; ela se reúne em torno de Jesus Cristo, Senhor e Pastor da Igreja, representado visivelmente pelo ministro ordenado, que está no meio dela e à sua frente para servi-la na caridade. A assembleia eucarística é a expressão mais visível e sacramental da Igreja.
 

A paróquia é, portanto, “casa de Deus” no meio das casas dos homens, templo de Deus edificado por pedras vivas, que são todos os batizados; é o “corpo de Cristo”, através do qual ele continua a se expressar, a ir ao encontro das pessoas e a realizar sua tríplice missão entre os homens; é o concreto e visível “povo de Deus”, que irradia no mundo a luz de Cristo, difunde o sal e o fermento benéfico do Evangelho e vai fazendo aparecer os sinais de que o Reino de Deus anunciado já está no meio de nós. Na paróquia, a Igreja inteira se expressa e realiza a missão recebida de Cristo: a) anunciar e acolher a Palavra de Deus; b) testemunhar a vida nova recebida no Batismo, buscando e expressando a santidade de vida; c) organizar e realizar a caridade pastoral, em nome de Jesus, Bom Pastor, e a seu exemplo.
 

Muitas poderiam ser as definições da paróquia; cabe-lhe bem o conceito de “comunidade missionária dos fiéis em Cristo” no meio do mundo. Ela é comunidade de comunidades, pessoas, grupos, organizações e instituições, que estão a serviço da missão recebida de Cristo; essa mesma missão se expressa na diocese, confiada ao bispo, sucessor dos Apóstolos, e na sua universalidade da Igreja, confiada ao pastoreio do sucessor de Pedro, comunidade de comunidades de discípulos missionários de Jesus Cristo no meio do mundo.
 

A paróquia é o ícone visível daquilo que a Igreja de Jesus Cristo é na sua totalidade. Evidentemente, nenhuma paróquia se basta a si mesma, nem realiza sozinha e autonomamente a sua missão, mas o faz na comunhão da Igreja particular (a diocese) e da comunhão universal da Igreja. Contudo, a paróquia é a Igreja “na base”; se ali a vida e a missão da Igreja acontecem, também na grande comunidade eclesial elas acontecem; do contrário, a Igreja corre o risco de “rodar no vazio” e de se reduzir a uma série de instituições, sem chegar ao povo e às pessoas concretas. Continuaremos a refletir sobre este tema.

 

  

 

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 9.11.2010

Card. Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

 

 

 

 

 

O 1º Congresso Arquidiocesano de Leigos viveu, neste último fim de semana, um momento importante, com a conclusão da sua etapa nas seis regiões episcopais. As oficinas temáticas realizadas, conforme regulamento estabelecido, ao longo de quase três meses, ofereceram a ocasião para uma tomada de consciência sobre os muitos campos de vida e missão dos cristãos leigos na Igreja e no mundo. Graças a Deus, os Congressos “Regionais” foram coroados de êxito e desejo manifestar meu agradecimento a todos aqueles que se empenharam na sua realização.

 

Agora se abre diante de nós a última etapa do Congresso, que nos faz olhar para a  Arquidiocese e a cidade como um todo. É um momento muito importante. O tema do Congresso coloca-nos diante desta missão: ser discípulos e missionários de Jesus Cristo na cidade de São Paulo. Nossa Arquidiocese é inteiramente urbana e isso não deve ser indiferente. Temos a vocação, a graça e a missão de ser Igreja de Jesus Cristo neste complexo mundo metropolitano, com seus areópagos mais variados, seus contrastes econômicos abissais, suas situações e problemas sociais muitas vezes dolorosos, seus muitos cultos, religiões e não-religiões… Que fazemos nós nesta cidade?!

 

Como Deus chamou e enviou o profeta Jonas a Nínive, “a grande cidade”, assim também chama e envia sua Igreja para estar na cidade imensa de São Paulo; não, certamente, para anunciar que será destruída, mas para chamá-la aos caminhos de Deus e para lhe fazer conhecer o amor e a presença salvadora de Deus: “Deus habita esta cidade e tem amor pelo seu povo” (cf Sl 47,9). A presença de milhões de cidadãos católicos e de outros cristãos nesta cidade deve fazer alguma diferença, mediante o fermento, o sal e a luz do Evangelho introduzidos no convívio social, no mundo do trabalho e das ocupações, na educação, na comunicação, na gestão da vida econômica e política, nas manifestações religiosas e culturais. Temos a firme convicção de que o Evangelho e a proposta cristã de vida e convivência são “boa nova” para este mundo urbano. Se isto aparece, ou não, cabe-nos constatar, e tirar as conseqüências.

 

A Igreja não poderá exercer de maneira adequada esta missão sem uma ativa e corajosa participação de todos os seus membros: clero, religiosos e leigos. Somos todos discípulos missionários de Jesus Cristo na cidade de São Paulo, cada um com seu dom e sua competência no Corpo de Cristo, o Povo de Deus, que é a Igreja. Os leigos, de modo especial, são os apóstolos do Evangelho no vasto e complexo “mundo secular”, onde são cidadãos e membros da cidade terrena e, ao mesmo tempo, membros e discípulos do reino de Deus. Aos leigos e leigas cabe a missão de introduzir o sal, o fermento e a luz do Evangelho nas “realidades deste mundo” para que tenham sempre mais o jeito e o sabor das coisas de Deus. Na diversidade e no pluralismo das convicções e visões culturais, os cristãos têm algo de próprio a dizer e contribuir para que a cidade seja melhor, mais digna e justa para cada um de seus habitantes e mais digna de Deus, que nela habita. Tenhamos a certeza de que o testemunho cristão, coerente com o Evangelho, é bom e faz bem à cidade.

 

Eis, agora, a terceira etapa do Congresso Arquidiocesano de Leigos, que se estenderá até o Domingo de Cristo Rei, 21 de novembro, encerramento do Congresso. O objetivo desta etapa é a reflexão sobre a participação dos cristãos leigos no conjunto da Arquidiocese e da vida da cidade. É chegado o momento de elaborar projetos de organização, formação e ação dos leigos. Mais uma vez, as oficinas temáticas ajudarão a agregar os leigos por afinidade de formação, profissão e ocupação no mundo e na Igreja, conforme vem exposto no Regulamento do Congresso. Faço votos de bons trabalhos a todos!

 

Enquanto isso, as paróquias, comunidades e organizações de base da Igreja também podem fazer as mesmas oficinas temáticas em âmbito local. Tenho a certeza de que os frutos serão abundantes! Que o apóstolo São Paulo, “apóstolo urbano”, contagie a todos com seu ardor e paixão por Cristo e pela sua Igreja!

 

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 31.08.2010

Card. Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

 

 

Rafael Alberto

A Igreja nunca se furtou ao dever de acompanhar e punir casos de abusos sexuais praticados por seus membros. O que são, então, essas novas regras? Elas trazem alguma novidade?
R. É preciso deixar claro que não é de agora que a Igreja depor  religiosos e clérigos e tendo como vítimas pessoas menores e idade  ou em condição especial de fragilidade. O Código de Direito Canônico  previa, há muito tempo, rigor no tratamento desses casos. No entanto,  as circunstâncias atuais requeriam novas explicitações e, até mesmo,  uma definição melhor das competências, para fazer valer as normas  canônicas. Mas também há novidades nessas “novas normas” emanada s pela Congregação para a Doutrina da Fé no dia 15 de julho;  uma delas é a qualificação, como “delito grave” o abuso cometido  contra pessoa incapaz e que passa a ser equiparado ao abuso contra  menores de idade. É preciso dizer também que as novas normas não  são relativas apenas a delitos de ordem sexual, ou de costumes,  mas também a delitos contra a fé e a vida da Igreja.
2) Qual a importância dessas novas regras? O que elas mudam na  prática?
R. Um aspecto importante é a atualização das normas já existentes  e sua complementação, para adequá-las ao contexto atual. Por outro  lado, o fato mesmo de publicar e divulgar as normas, já deixa clara a  posição da Igreja em relação a essas questões tão dolorosas, em  relação às quais a autoridade da Igreja foi acusada frequentemente de  omissa. A Igreja coloca a público as suas normas no trato com essas  questões e isso tem um efeito prático importante. O desconhecimento  das normas favorece o delituoso e cria dificuldades à busca da justiça.
3) Tem-se criticado a ausência de uma regra que aponte para a  necessidade de o bispo levar os casos à polícia. O que dizer a este  respeito?
R. A Igreja faz normas canônicas, no âmbito de sua competência  própria. Não interfere na esfera da lei civil nem teria algum efeito se  o fizesse. A denúncia à autoridade civil  já está prevista pela lei civil e  não é a Igreja que deve legislar sobre esta matéria. E as pessoas  lesadas nos seus direitos, ou os responsáveis por elas, quando se  trata de menores de idade ou incapazes, têm todo o direito de buscar  a justiça civil. A Igreja  orienta os interessados a fazê-lo e não se opõe,nem pode opor-se.
Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 19.07.2010
Card. Odilo P. Scherer

Ontem, 12, foi realizado o rito de dedicação e a primeira Missa na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, em São Paulo, que foi reinaugurada no sábado, 11, com a benção do Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer. A igreja estava fechada desde outubro de 2006, para obras de restauração.

O templo será administrado pelos padres da Comunidade Aliança da Misericórdia, fundada há 10 anos. Eles prestarão assistência à comunidade carente e promoverão também eventos culturais ao menos uma vez por mês.

A igreja colonial foi construída em 1810 em taipa de pilão e tijolos de terra batida, em 2005 ela foi interditada por problemas na estrutura e no teto, que estava ameaçando ruir. Toda a madeira da estrutura interna das paredes estava tomada por cupins.

Localizada a uma quadra da Praça da Sé, centro de São Paulo, a igreja é um dos monumentos tombados pelos órgãos de proteção ao patrimônio municipal e estadual.

Durante a reforma, foram encontradas algumas surpresas, como uma pintura barroca que representa o Coroamento da Virgem Maria, encontrada sob camadas de tinta cinza, no forro de madeira sobre o altar. Treze imagens sacras foram restauradas.

Ao longo do século XIX, a igreja foi parada obrigatória de escravos condenados à forca. Eles  paravam ali para pedir uma boa morte.

Fonte: Canção Nova Notícias

O Cardeal Dom Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, apresentou em uma coletiva de imprensa a Restauração e Reabertura da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte no Centro de São Paulo.

Datada de 1810, foi esta Igreja construída em terreno adquirido pela Irmandade dos homens pardos de Nossa Senhora da Boa Morte. Diz Paulo Cursino de Moura (São Paulo de outrora, p.60): “por cento e doze mil réis”. Na esquina da rua que vinha do quartel de voluntários reais. Situa-se, hoje, na rua do Carmo.

A Nossa Senhora das Dores, a das Lágrimas e da Assunção também ornam as paredes laterais da igreja. Contudo, chama a atenção a Nossa Senhora da Boa Morte ou do sono que espera a assunção de Maria (a Dormitio Mariae), cuja celebração se da em 14 de agosto, um dia antes da Assunção.

Clique aqui e veja mais fotos.