Escutar o outro é um ato de caridade que pode salvar vidas!
A humanidade está cada vez mais voltada para as redes sociais, onde muitas vezes os perfis são falsos. As pessoas não se mostram como elas verdadeiramente são. Na maioria das vezes são pessoas solitárias, mergulhadas no seu próprio mundo e nem mesmo a família as conhece, não sabe o que se passa com elas. Não se tem tempo para sentar e conversar pois cada um vive para si, fechado em seu mundinho. Com isso, crescem as tensões, os conflitos interiores, os quais acarretam em problemas físicos e psíquicos que afetam os relacionamentos interpessoais.
Foto ilustrativa – Canvas
Certo dia, chegou um jovem que queria conversar comigo e eu parei tudo que estava fazendo e me coloquei ali à sua inteira disposição. Ele falou de tudo um pouco e fui percebendo pela sua fala, que ele só queria mesmo colocar para fora aquilo de que estava cheio o seu coração. Ele estava necessitado de desabafar. Aquele jovem estava angustiado, e falava muito da necessidade de que alguém o escutasse, pois estava a ponto de fazer uma besteira com sua própria vida. Em um dado momento começou a falar que era muito sozinho, que tinha muitos amigos, porém amigos virtuais, mas quando queria falar dele, dos seus anseios, dos seus sonhos dos seus projetos e planos, não tinha ninguém que tivesse tempo para lhe escutar e essa era a sua angústia. Ele era universitário, morava sozinho na cidade, trabalhava para bancar seus estudos, mas o trabalho exigia muito dele e na faculdade não tinha amigos. Até tinha colegas de farra, mas não era só isso que ele precisava e acabou afirmando: “as pessoas não têm tempo para sentar, bater um papo sério, falar de suas vidas, de suas histórias, estão sempre correndo, atrasadas e acham que parar e sentar com alguém para conversar é perda de tempo”. Dentro dele tinha um anseio de construir relações, mas percebia que as pessoas não tinham interesse nisso e essa situação o deixava muito angustiado.
Pensei comigo: “Meu Deus, a criatura mora em cidade grande, trabalha e estuda numa faculdade com outras pessoas e está sempre sozinho, que coisa triste!” Voltei-me para minha realidade de vida em comunidade e pude perceber que também ali podemos correr este risco. Podemos encontrar pessoas que sofrem com esta mesma angústia. Podemos morar em comunidade e ao mesmo tempo nos sentir sozinhos, desejosos de sermos ouvidos, acolhidos e amados. Desejosos de partilhar a vida, os sonhos, projetos com os irmãos e irmãs que possam se colocar á disposição para ouvir o outro; simplesmente ouvir.
A escuta é um serviço totalmente voltado para a pessoa que deseja ser ouvida. Podemos dizer que é um serviço centrado unicamente na pessoa, onde a postura daquele que escuta é de valorizar a relação onde o ouvinte pode expressar o que realmente é, sentindo-se aceito e valorizado quanto pessoa. Sempre tem alguém querendo encontrar pessoas que ouçam com respeito e atenção o seu coração, aquilo que o aflige, que o incomoda ou que o angustia.
Esse serviço da escuta pode ajudar o jovem a viver melhor sua vocação e assim fazer um bom discernimento daquilo que venha ser a vontade de Deus para sua vida. Afinal de contas o ser humano é um mistério a ser revelado a cada encontro, é alguém que carrega consigo sua história de vida, que tem sonhos e projetos, e que precisa de ajuda para entrar no processo de autoconhecimento, que precisa de um ombro amigo que o acolha e o aceite. Portanto, se trata de um serviço sério que necessita da devida atenção, do sigilo, do respeito e do acompanhamento adequado. Escutar com o coração é um dom, e quem tem esse dom procure se colocar a serviço do próximo.
Deus abençoe.
Rita de Cássia de Jesus Dias
Ritinha, é membro do núcleo da Comunidade Canção Nova desde 1994. É celibatária e atua como Formadora Local na Frente de Missão de Fortaleza. Instagram: @ritinhacn