Pregação do Prof. Felipe Aquino no Encontro de Cura e Libertação da Canção Nova em Fortaleza.
Existem muitos tipos de cura: a cura física, dos males do nosso corpo; a cura interior, da nossa mente, psicológica, afetiva, emocional; e a cura espiritual.Hoje tratarei sobre a cura espiritual, que é a mais importante, pois não adianta a gente ser curado fisicamente, emocionalmente, psiquicamente, se a nossa alma, o nosso espírito não está curado, não está vivendo de acordo com a vontade de Deus, ou seja, se nós somos escravizados pelo pecado. Então aqui eu chego ao ponto central da minha pregação, eu quero conversar sobre a libertação do pior mal, que é o pecado. O parágrafo 1488 do Catecismo da Igreja Católica (CIC), fala que aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado, e nada tem consequências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro. São João Batista poderia ter anunciado Jesus de muitas maneiras, mas ele foi direto ao ponto: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Jesus não veio ao mundo para outra coisa, a não ser tirar o pecado do mundo. É muito importante entendermos isso porque todo o mal do mundo é consequência do pecado. Então, a primeira libertação que precisamos é a do pecado. São Paulo fala na carta aos Romanos que o salário do pecado é a morte.
Por isso, todo o sofrimento que existe no mundo, tem como causa primária o pecado. Sofremos por cada pecado da humanidade, porque a humanidade é solidária. Então, todo o bem que fazemos, faz bem para a humanidade; e todo o mal que fazemos, faz mal para a humanidade. Jesus veio para tirar todo o pecado do mundo, se entregando na cruz. Precisamos entender que o pecado fere a majestade infinita de Deus. Então, quando pecamos, principalmente o pecado grave (perdemos a graça de Deus), ferimos a majestade infinita de Deus. Então, para reparar isso, é preciso um sacrifício infinito, que nenhum homem é capaz de oferecer à Deus.O CIC diz que: “nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de oferecer-se em sacrifício por todos” (§ 616). Por isso, Cristo desceu do Céu. Em Hebreus, capítulo 10, o Verbo se apresentou diante do Pai e disse: “Pai, dá-me um corpo para eu fazer a Tua vontade”. Que vontade é essa? Reparar a justiça divina. Deus é misericordioso, mas Deus é justo. Alguém precisaria pagar o preço da liberdade da humanidade. Ele ofereceu a Sua vida para nos salvar. Então a grande libertação que nós recebemos, é a libertação pela morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque Ele tirou de nós todo o pecado com a oferta da Sua alma.
No domingo da Ressurreição, Jesus instituiu o Sacramento da Confissão. Ele soprou sobre os apóstolos e disse: “recebam o Espírito Santo, assim como o Pai me enviou, eu também vos envio; a quem vocês perdoarem os pecados, serão perdoados; a quem não perdoarem, os pecados não serão perdoados”. Cristo conquistou o perdão diante do Pai e mandou que a Igreja o distribuísse. Por isso, o primeiro remédio de libertação contra o pecado é a Confissão. Quando o Sacerdote ministra os Sacramentos, ele atua “in persona Christi”, ou seja, na pessoa de Cristo. Não adianta buscar a cura física, a cura interior, que é muito importante, porque é fruto do pecado da humanidade inteira, mas tem que buscar primeiro a cura da alma. O Catecismo da Igreja chama o Sacramento da Unção dos Enfermos e o da Confissão, de Sacramentos de cura. Tem muita gente doente porque está dormindo no pecado. E quando você dorme no pecado, você está escravizado pelo demônio. São Paulo fala que a pessoa que vive no pecado, se entrega a ele, e não muda de vida, é escravizada pelo demônio. O Sacramento da Confissão é muito importante, mas é preciso se confessar bem. Para isso, precisamos fazer um bom exame de consciência, pedindo ao Divino Espírito Santo para trazer à mente os nossos pecados. Podemos examinar, por exemplo, os Dez Mandamentos:
1°Mandamento – Amar a Deus sobre todas as coisas: Eu amo a Deus sobre todas as coisas? Ou coloquei-O em segundo lugar na minha vida?
2° Mandamento – Não usar o nome de Deus em vão: Será que houve blasfêmia na minha vida? Será que houve revolta contra Deus?
3° Mandamento – Guardar os domingos e dias de festa: Fui à Missa pelo menos aos domingos ou sábados à noite? Ou não fui à Missa por preguiça?
4° Mandamento – Honrar pai e mãe: Eu honro meu pai e minha mãe? Ou os abandono na solidão?
5° Mandamento –Não matar: não é somente não tirar a vida de alguém, mas também, não profanar a vida da pessoa, não destruir a fama dela, não caluniar etc.
6° Mandamento – Não pecar contra a castidade: Tenho vida sexual somente no meu casamento? Tenho vida sexual antes ou fora do casamento?
7° Mandamento – Não roubar: não somente o dinheiro, mas também tapear os outros.
8° Mandamento – Não levantar falso testemunho: não falar mal de ninguém, não fofocar, não destruir a fama de alguém.
9° Mandamento – Não desejar a mulher do próximo.
10° Mandamento – Não cobiçar as coisas alheias.
Eu comparo uma confissão bem feita com quando você vai tomar banho. Você tira os óculos, tira a roupa, entra no chuveiro, e ensaboa tudo, não é verdade? Shampoo no cabelo, passa sabão no corpo inteiro, principalmente naqueles lugares mais escondidos, não é verdade? Aqueles lugares secretos, é aí que você esfrega bem, porque vira sujeira perigosa. A nossa alma também precisa ser lavada pelo sangue de Cristo. Mas esses nossos esconderijos da alma poderão ser lavados se mostrarmos a Deus. Então, a Confissão tem que ser clara, transparente. O Catecismo da Igreja fala que se você cometeu um pecado grave tem que dizer quantas vezes cometeu. Tem gente que vai confessar e pensa que pode enganar a Deus. Então é melhor não se confessar do que confessar mentindo. Se esquecemos alguma coisa involuntariamente, Deus perdoará tudo quando você sair da Confissão, mas desde que você não tenha esquecido porque não fez o exame de consciência.
O primeiro ponto da nossa libertação diante de Deus, é uma boa Confissão. Mas começamos a ser libertos no Batismo, quando voltamos a ser filhos de Deus. O parágrafo 1250 do CIC fala claramente sobre isso: “Por nascerem com uma natureza decaída e manchada pelo pecado original, também as crianças precisam do novo nascimento no Batismo, a fim de serem libertos do poder das trevas e transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus, para a qual todos os homens são chamados”. A Igreja quer que os pais batizem os filhos na primeira oportunidade que tiverem. O parágrafo 1270 do CIC diz: “Tornados filhos de Deus pela regeneração batismal, os batizados são obrigados a professar diante dos homens a fé que pela Igreja receberam de Deus”. Se nos tornamos filhos de Deus pelo Batismo, é porque sem o Batismo não somos filhos de Deus. Somos filhos de Deus pela natureza (como uma galinha, um cavalo, árvore), mas pela graça, o Batismo nos enxerta em Jesus Cristo, nos faz membro de Cristo, filho de Deus, templo do Espírito Santo. Em Romanos (Rm 6,3-4) São Paulo diz: “Acaso ignorais que todos nós, batizados no Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Pelo batismo fomos sepultados com ele em sua morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova”. Então misticamente, morremos nas mãos do demônio e renascemos nas mãos de Deus. No parágrafo 1997 do Catecismo diz: “A graça é uma participação na vida Divina, introduz-nos na intimidade da vida trinitária: pelo Batismo o cristão tem parte na graça de Cristo, cabeça da Igreja; como filho adotivo, pode doravante chamar a Deus de Pai, em união como seu Filho Unigênito”. Vocês sabiam que no começo da Igreja o cristão não podia chamar Deus de Pai antes do Batismo, e por isso não podiam rezar o Pai-Nosso? A Confissão perdoa os pecados pessoais e o Batismo perdoa o pecado original e nos faz filhos de Deus. O Papa João Paulo II disse que Cristo instituiu a Igreja para tirar os nossos pecados e, assim, nos levar à Santidade. É pelos Sacramentos que a Igreja tira nossos pecados e ficamos em comunhão com Deus.
O Sacramento da Eucaristia, é remédio e sustento para a nossa vida. Antes de instituir a Eucaristia, Jesus fez dois sinais: o primeiro foi a multiplicação dos pães; e depois Jesus encontra com os discípulos andando sobre as águas na Galiléia. E no dia seguinte Ele faz o discurso da Eucaristia. Jesus fez esses dois milagres para mostrar aos apóstolos que Ele tem poder sobre o pão e sobre o seu corpo. Dessa forma, Ele tem o poder de transformar o pão no seu corpo e dar por amor. No discurso que Jesus fez na sinagoga em Cafarnaum ele fala: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que me consome viverá por meio de mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram – e, no entanto, morreram. Quem consome este pão viverá para sempre.” Na hóstia e no vinho consagrados estão o corpo, sangue, alma e divindade. Você quer libertação maior do que Cristo permanecer em você? Os santos foram gigantes na fé porque não ficavam sem Eucaristia, faziam Adoração por horas. Ir para o céu, viver eternamente com a felicidade infinita com Deus, quer libertação maior? São Paulo disse: “olhos humanos jamais viram, ouvidos humanos jamais ouviram, coração humano jamais sentiu o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”.
Você quer libertação dos seus pecados, vícios? Confesse bem! Comungue bem! Sobre a Eucaristia, São João Crisóstomo, que foi Doutor da Igreja, falou: “Cristo deu-se todo não reservando nada para si. Não comungar seria o maior desprezo a Jesus que se sente ‘doente de amor’”. Ainda não entendemos por que Deus nos ama infinitamente. Jesus sente a dor de amor por nós. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “Não é para ficar numa âmbula de ouro, que Jesus desce cada dia do céu, mas para encontrar um outro céu, o da nossa alma, onde ele encontra as suas delícias”. Temos que comungar com fervor, com amor e com alegria. Recebeu o seu amado. São Francisco de Sales falou: “Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos para se conservarem perfeitos, e os imperfeitos para chegarem à perfeição”. Santa Tereza D’Ávila diz assim: “Não há meio melhor para se chegar à perfeição. Jesus não costuma pagar mal a hospedagem se o recebemos bem. Devemos estar na presença de Jesus Sacramentado como os Santos no céu diante da Essência Divina”. São Bernardo de Claraval disse: “A comunhão reprime as nossas paixões: ira e sensualidade principalmente. Quando Jesus está presente corporalmente em nós, ao redor de nós, montam guarda de amor os anjos”. Santo Tomás de Aquino fala que “a Comunhão destrói a tentação do demônio”. E Santo Agostinho disse: “Não somos nós que transformamos Jesus Cristo em nós, como fazemos com os outros alimentos que tomamos, mas é Jesus Cristo que nos transforma nele”. O que Deus quer é que sejamos transformados à imagem e semelhança de Cristo. A Eucaristia é essa libertação que nos conduz.
Eu falei um pouco sobre o Batismo, a Eucaristia e a Confissão, pois esses são os veículos que Deus mais nos liberta, mas todos os Sacramentos são de libertação.
Prof. Felipe Aquino
Professor Felipe Aquino é viúvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @prof.elipe_aquino