A vida espititual dos primeiros cristãos

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A vida espiritual dos primeiros cristãos tem ênfase na espiritualidade simples dos Padres Apostólicos, que era fortemente marcada pelo Kerigma e por tendência escatológica. Além da influência do judaísmo, da espiritualidade paulina e do caráter catecumenal da catequese, há ainda referência à espiritualidade do martírio como forma de imitar o Cristo Crucificado. O martírio era entendido como a luta do próprio Cristo que vence no mártir e luta contra o mal, nunca contra os seus perseguidores. Era entendido ainda como o caminho mais seguro de encontro com Deus, mas este não deveria ser buscado por motivos pessoais egoístas.

A vida espiritual dos primeiros cristãos

Nossa Senhora e o menino na catacumba de Comodila

Já os Padres Apologetas, tinham uma espiritualidade mais voltada para interlocutores externos a fim de justificar e defender a fé. Segundo eles a fé não era privada de racionalidade e Cristo já estava sendo revelado na Filosofia e no Antigo Testamento. Neles o caminho para Deus passa primeiro pelo conhecimento de si. Tinham menor acento místico que os Padres apostólicos. Diferentemente destes, que afirmavam uma escatologia eminente na qual os cristãos deveriam ter vida santa para que esta realidade se apressasse, os Apologetas acreditavam que a caridade os salvaria do eminente fim e do juízo final. Eles também valorizavam a vida comunitária que se constrói em torno da Palavra e da Eucaristia.

Na vida espiritual patrística temos a marca da fidelidade às fontes, eram fundamentados diretamente pelo ensinamento dos Apóstolos e dos seus discípulos, bem como no exemplo dos mártires. Quatro critérios definem um Padre da Igreja: antiguidade, ortodoxia da fé, santidade de vida e aprovação eclesiástica. Eles não faziam distinção entre exegese, teologia e liturgia, deixaram uma forma exata da Deposito fidei e estabeleceram os cânones das Escrituras, bem como as primeiras fórmulas litúrgicas. A Tradição é o carisma específico dos Padres da Igreja e a espiritualidade é marcada pela tensão escatológica. Também eram marcados pela presença da antropologia paulina da distinção entre homem espiritual e homem sensual. Ainda encontramos neste período a espiritualidade encarnada de Santo Irineu, que tinha visão otimista do homem e atenção ao homem concreto.

Se para os gnósticos o homem perfeito é o homem libertado da matéria, Irineu vê o homem perfeito como carne e espírito, é nessa junção que se dá a imagem e semelhança de Deus.

Na  patrística ainda outros tiveram contribuições importantes:

Gregório de Nissa (345) desenvolve uma espiritualidade marcada pela bondade infinita de Deus, segundo ele, Deus é um conhecimento acima de qualquer conhecimento humano, a pureza do coração humano é a pureza de Deus em nós.

Dionísio Areopagita é o primeiro a colocar em destaque as clássicas três vias espirituais, a purgativa, a iluminativa e a purgativa. Segundo ele a união entre Deus e o homem tendo como resultado a divinização humana, desenvolve-se através da experiência.

Agostinho de Hipona (354-430) desenvolve uma espiritualidade com forte acento cristológico e eclesiológico. Sua contemplação se concentra na figura do Verbo encarnado. Segundo ele, é em si que o homem descobre a imagem de Deus, e o amor é requisito essencial para tal conhecimento.

Também temos a espiritualidade dos anacoretas. Santo Antão, considerado o pai da vida monástica e de toda forma de vida religiosa, parte do ícone da encarnação do Verbo Eterno na vivência de sua mística. Sua ascese seguia o itinerário do deserto e da solidão, seu objetivo era imitar o Cristo para encontrar a liberdade própria do Verbo Encarnado. A grande luta de Antão é contra o demônio, ele diz que os demônios invejam os homens por estes estarem destinados ao Céu, por isso fazem de tudo para tentar perder os homens. O deserto era o reino de satanás, a solidão do deserto não era entendida como fuga do mundo e da luta contra as tentações e o pecado, ali era o lugar onde se travava a luta mais árdua e dura contra o inimigo de Deus e dos homens. A coragem dos mártires é substituída pela coragem da vida ascética, vivida na solidão e nas privações do deserto.

@edisoncn

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