Qual é a sede e a escolha fundamental do jovem?

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Que temas devemos trabalhar no trabalho com os jovens?Qual é a sede e a escolha fundamental do jovem?

No dia 07 de fevereiro de 2008 o hoje Papa emérito Bento XVI encontrou-se com o Clero de Roma e respondeu algumas perguntas, umas delas foi a um jovem Padre que exerce seu serviço sacerdotal entre os jovens. Vale a pena conferir a pergunta do Padre e a resposta de Bento XVI que permanece atualíssima. Boa leitura!

PERGUNTA:

Nós jovens, hoje como nunca, sentimos muito forte a necessidade de ter certezas. Desejamos sinceridade, liberdade, justiça e paz. Queremos ao nosso lado pessoas que caminham conosco, que se fazem nossos ouvintes. Exatamente como Jesus com os discípulos de Emaús. A juventude deseja pessoas capazes de indicar o caminho da liberdade, da responsabilidade, do amor, da verdade. Isto é, hoje os jovens têm uma sede inesgotável de Cristo. Uma sede de testemunhas jubilosas que encontraram Jesus e apostaram nele toda a existência. Os jovens querem uma Igreja sempre ativa e sempre próxima das suas exigências. Querem-na presente nas suas opções de vida, mesmo se permanece neles um certo sentido de afastamento em relação à própria Igreja. O jovem procura uma esperança de confiança como Vossa Santidade escreveu na última carta dirigida a nós, fiéis de Roma para evitar viver sem Deus. Santo Padre permita-me que o chame “pai” como é difícil viver em Deus, com Deus e para Deus. A juventude sente-se ameaçada por muitos lados. São muitos os falsos profetas, os vendedores de ilusões. São demasiados os insinuadores de falsas verdades e de ideais ignóbeis. Contudo a juventude que hoje crê, mesmo sentindo-se cercada, está convencida de que Deus é a esperança que resiste a todas as desilusões, que unicamente o seu amor não pode ser destruído pela morte, mesmo se muitas vezes não é fácil encontrar o espaço e a coragem para ser testemunhas. Então que fazer? Como comportar-se? Vale efetivamente a pena continuar a apostar a própria vida em Cristo? A vida, a família, o amor, a alegria, a justiça, o respeito pelas opiniões do próximo, a liberdade, a oração e a caridade são valores que ainda devem ser defendidos? A vida de beatos, ou seja, confrontada com as bem-aventuranças, é uma vida adequada ao homem, ao jovem do terceiro milênio? Muito obrigado pela sua atenção, pelo seu afeto e pela sua solicitude para com os jovens. A juventude está com Vossa Santidade: estima-o, ama-o e espera-o. Esteja-nos sempre próximo, indique-nos sempre com mais força o percurso que leva a Cristo, caminho, verdade e vida. Estimule-nos a voar alto. Cada vez mais alto. E reze sempre por nós. Obrigado.

RESPOSTA:

Todos nós sabemos como é difícil para um jovem de hoje viver como cristão. O contexto cultural, o contexto midiático, oferece tudo menos o caminho para Cristo. Esse contexto torna quase impossível ver Cristo como centro da vida e viver a vida como Jesus nos mostra. Contudo, parece-me também que muitos sentem cada vez mais a insuficiência de todas estas ofertas, deste estilo de vida que no final deixa vazios.

Neste sentido, parece-me que as leituras da liturgia de hoje, a do Deuteronômio (30, 15-20) e o trecho evangélico de Lucas (9, 22-25), respondem a quanto, em suma, deveríamos dizer aos jovens e sempre de novo a nós próprios. Como você disse, a sinceridade é fundamental. Os jovens devem sentir que não dizemos palavras não vividas por nós mesmos, mas falamos porque encontramos e procuramos encontrar todos os dias de novo a verdade como verdade para a nossa vida. Só se estivermos neste caminho, se procurarmos assimilar nós mesmos nesta vida e assemelhar a nossa vida com a do Senhor, então também as palavras podem ser críveis e ter uma lógica visível e convincente. Retomo: hoje esta é a grande regra fundamental não só para a Quaresma, mas para toda a vida cristã: escolhe a vida. Tens diante de ti morte e vida: escolhe a vida. E parece-me que a resposta é natural. São só poucos os que nutrem no íntimo uma vontade de destruição, de morte, não querem o ser, a vida, porque tudo é contraditório para eles. Mas, infelizmente trata-se de um fenômeno que se alastra. Com todas as contradições, as falsas promessas, no final a vida parece contraditória, já não é um dom, mas uma condenação e assim há quem deseje mais a morte do que a vida. Mas normalmente o homem responde: sim, desejo a vida.

Mas permanece a questão de como encontrar a vida, o que escolher, como escolher a vida. E as ofertas que normalmente são feitas conhecemo-las: ir à discoteca, fazer tudo o que é possível, considerar a liberdade como fazer o que se quer, tudo o que vem à mente, num determinado momento. Mas sabemos e podemos demonstrá-lo que este é um caminho de mentira, porque no final não se encontra a vida, mas sim o abismo do nada. Escolhe a vida. A mesma leitura diz: Deus é a tua vida, tu escolheste a vida e fizeste a escolha: Deus. Isto parece-me fundamental. Só assim o nosso horizonte é suficientemente amplo e só assim estamos na fonte da vida, que é mais forte do que a morte, do que todas as ameaças da morte. Portanto, a escolha fundamental é esta aqui indicada: escolhe Deus. É preciso compreender que quem caminha sem Deus, no fim se encontra na escuridão, mesmo se podem haver momentos nos quais parece ter encontrado a vida.

Depois, o passo ulterior é como encontrar Deus, como escolher Deus. Aqui chegamos ao Evangelho: Deus não é desconhecido, não é uma hipótese talvez do primeiro início da criação. Deus é de carne e osso. É um de nós. Conhecemo-lo com o seu rosto, com o seu nome. É Jesus Cristo quem nos fala no Evangelho. É homem e Deus. E sendo Deus, escolheu o homem para fazer com que tivéssemos a possibilidade de escolher Deus. Portanto, é preciso entrar no conhecimento e depois na amizade de Jesus para caminhar com Ele.

Parece-me que é este o ponto fundamental na nossa solicitude pastoral pelos jovens, por todos, mas, sobretudo pelos jovens: atrair a atenção para a escolha de Deus, que é a vida. Para o fato de que Deus existe. E existe de modo muito concreto. E ensinar a amizade com Jesus Cristo.
Há depois um terceiro passo. Esta amizade com Jesus não é uma amizade com uma pessoa irreal, com alguém que pertence ao passado ou que está longe dos homens, à direita de Deus. Ele está presente no seu corpo, que ainda é um corpo de carne e osso: é a Igreja, a comunhão da Igreja. Devemos construir e tornar acessíveis comunidades que refletem, que são o reflexo da grande comunidade da Igreja vital. É um conjunto: a experiência vital da comunidade, com todas as debilidades humanas, mas, contudo real, com um caminho claro, e uma sólida vida sacramental, na qual podemos tocar também o que nos pode parecer muito distante, a presença do Senhor. Deste modo podemos aprender também os mandamentos para voltar ao Deuteronômio, pelo qual comecei. Porque a leitura diz: escolher Deus significa escolher segundo a sua Palavra, viver segundo a Palavra. Por um momento isto parece um pouco positivista: são imperativos. Mas a primeira coisa é o dom: a sua amizade. Depois podemos compreender que os indicadores de caminho são explicações da realidade desta nossa amizade.

Podemos dizer que esta é uma visão geral, tal como brota do contato com a Sagrada Escritura e com a vida da Igreja de todos os dias. Depois traduz-se passo por passo nos encontros concretos com os jovens: guiá-los para o diálogo com Jesus na oração, na leitura da Sagrada Escritura sobretudo a leitura comum, mas também pessoal e na vida sacramental. São todos passos para tornar presentes estas experiências na vida profissional, mesmo se muitas vezes o contexto está marcado pela total ausência de Deus e pela aparente impossibilidade de o ver presente. Mas é então, que através da nossa vida e da nossa experiência de Deus, devemos procurar fazer entrar também neste mundo distante de Deus a presença de Cristo.

Existe a sede de Deus. Recebi há pouco tempo a visita ad Limina de Bispos de um país onde mais de 50% da população se declara ateia ou agnóstica. Mas eles disseram-me: na realidade todos têm sede de Deus. Esta sede existe escondida. Por isso comecemos nós primeiro, com os jovens que podemos encontrar. Formemos comunidades nas quais se reflete a Igreja, aprendamos a amizade com Jesus. E assim, cheios desta alegria e desta experiência, podemos também hoje tornar presente Deus neste nosso mundo.

 @edisoncn

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