O conhecimento dos Padre da Igreja é de suma importância para a compreensão da fé cristã. Eles são as testemunhas da tradição apostólica, intérpretes esclarecidos das Sagradas Escrituras, autores das grandes profissões da fé de toda a cristandade nos quatro primeiros séculos da Igreja.
Depois de comprovada a legitimidade dos quatro Evangelhos, foi aprovada a legitimidade do Atos dos Apóstolos e a maioria das cartas de São Paulo e as demais cartas e epístolas. O último livro que foi aprovado para entrar no Novo Testamento foi o Apocalipse de São João.
Esta escolha de livros chama-se Cânone:
Mas o que é cânone?
A palavra “cânone” significa régua, e em relação à Bíblia, significa a regra usada para determinar se um certo livro podia ser medido satisfatoriamente de acordo com um padrão. A formação do cânone bíblico deu-se gradualmente. Foi formado num período aproximado de 1 500 anos.
A igreja primitiva tinha critérios bem específicos para que os livros fossem considerados parte do Novo Testamento. Esses critérios incluíam: o livro foi escrito por alguém que era testemunha ocular de Cristo? O livro passou o “teste da verdade”? (quer dizer, o livro concordava com algum outro, que já era visto como parte das Escrituras?). Os livros do Novo Testamento que foram aceites naquela época têm ultrapassado o teste do tempo e a Ortodoxia Cristã tem aceitado esses livros, com pouco desafio, por séculos.
No século IV, a Igreja reuniu-se em Concilio em Nicéia, e uma das tarefas foi organizar o “cânone”, ou a lista de livros sagrados considerados autênticos. Neste Concilio, os livros foram estudados e investigou-se quais os que sempre foram lidos nos cultos e sempre foram considerados legítimos. E estabeleceu-se a ordem ainda hoje conservada. O motivo pelo qual alguns livros foram postos em dúvida era a grande quantidade de livros apócrifos, que fazia com que se duvidasse dos verdadeiros. Havia muitos livros que os judeus não aceitavam. Então os Ss. Padres ponderaram os prós e contras e definiram a lista que foi aprovada.
Os livros que compõem a Bíblia Católica são 73, sendo 46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento.
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Novo testamento:
No início, os cristãos usavam as Antigas escrituras juntamente como os Judeus, assim como a narrativa oral da vida, morte e ressurreição de Jesus: o centro do anúncio da doutrina Cristã estava na narrativa da morte e ressurreição de Jesus, justificando o Antigo Testamento.
Depois de Pentecostes, os apóstolos pregavam o que tinham vivido com Jesus, a partir dos olhos da fé, falavam, mas não escreveram. Assim, o Cristianismo não se formou voltado para um livro, mas fundado no testemunho de quem fez uma experiência com Jesus.
A pregação era tão entusiasta e impregnada do Espírito que muitos acreditaram e se converteram. Uma pregação que tinha como base o Kerygma.
Os primeiros Evangelhos, chamados sinóticos – Marcos, Mateus e Lucas – nasceram com os primeiros pregadores.
O primeiro evangelho escrito foi o de Marcos. Marcos era primo de Barnabé, companheiro de Paulo nas suas viagens de evangelização. O Evangelho de Marcos foi escrito depois do ano de 64. Muitos historiadores apresentam Marcos como ouvinte de Pedro quando este ministrava a catequese em Jerusalém. Quando no ano de 64 a perseguição se agravou e Pedro foi martirizado, Marcos registou todas as memórias por escrito e assim nasceu o Evangelho.
Dois dos evangelhos são atribuídos a testemunhas diretas, o Evangelho de São Mateus e o de São João. O outro Evangelho foi atribuído a Lucas. Lucas é também considerado o autor dos Atos dos Apóstolos, sendo este livro encarado como o segundo volume do terceiro Evangelho.
Segundo uma tradição antiga, desde Santo Irineu, Lucas era discípulo de Paulo, era grego, natural de Antioquia e médico de profissão. Há outros estudos que afirmam que Lucas, evangelista, não é o mesmo que é referido nas Cartas de São Paulo, mas sim, alguém não judeu, que se apaixonou por Jesus Cristo e por Paulo e que decidiu aderir ao cristianismo, apresentando no seu Evangelho, Jesus, filho de Deus, mas humano cheio de compaixão para com os fracos, os aflitos e os marginalizados.
Além dos evangelhos sinóticos também surgiram outros “evangelhos” que são chamados de apócrifos; mas a Igreja afirma que a revelação da verdade completa está nos quatro evangelhos, isto é, nos três evangelhos sinópticos e no Evangelho de João.
Antigo Testamento: Deus falou através dos profetas
Uma outra forma de propagação do evangelho foi uma forma mix, chamada Diatessarão, que durante muitos séculos foi usada em várias comunidades do Oriente: ela era uma síntese deste quatro evangelhos.
Vamos saber melhor :
O Diatessarão é a mais importante Harmonia Evangélica, criada por Tatiano, um apologista dentre os primeiros cristãos. O termo “diatessarão” em português advém diretamente do latim diatessarōn (“composto por quatro [ingredientes]”) e que, por sua vez, derivou do grego διὰ τεσσάρων (dia tessarōn), cujo significado é: διά – dia (“em intervalos de”) e tessarōn (genitivo de τέσσαρες, tessares – “quatro”). Tatiano combinou os quatro evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João – numa única narrativa. O nome siríaco para esta harmonia é Ewangeliyôn Damhalltê, que significa ‘Evangelho dos Misturados’, enquanto temos o Evangelion de Mepharreshe, que significa ‘Evangelho dos Separados’.
Durante os primeiros anos do Cristianismo, os evangelhos circularam de forma independente, sendo o de Mateus o mais popular. O Diatessarão é uma notável evidência da considerável autoridade que os quatro evangelhos canónicos tinham já na segunda metade do século II d.C. Vinte anos após a harmonia de Tatiano, Ireneu expressamente proclamou a autoridade formal dos quatro evangelhos. O Diatessarão tornou-se a versão padrão dos evangelhos em algumas igrejas siríacas até pelo menos o século quinto, quando cedeu espaço para as versões independentes, na versão da Bíblia.
Quase ao mesmo tempo que surgiram os quatro evangelhos também surgiram outros textos ilegítimos denominados evangelhos apócrifos, que têm o seu valor para estudos Históricos, mas que lançam muitas confusões e discussões ainda hoje.
Saberemos mais sobre eles na próxima postagem.
A Bíblia foi escrita em três línguas diferentes: o hebraico, o aramaico e o grego (Koiné). Quase a totalidade do Antigo Testamento foi redigida em hebraico, embora existam algumas palavras, trechos ou livros em aramaico e grego. Quanto ao Novo Testamento, este foi completamente redigido em grego – a única exceção parece ser o livro de Mateus, originariamente escrito em aramaico, contudo esse original foi perdido (de maneira que resta-nos hoje a versão em grego).
Quanto ao Antigo Testamento, a Bíblia protestante possui sete livros a menos que a Bíblia católica. Ocorre que a Igreja Católica, desde o início, utilizou a tradução grega da Bíblia chamada Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX). Essa tradução para o grego foi feita no séc. III a.C, em Alexandria (Egito), por setenta e dois sábios em virtude da existência de uma grande comunidade judaica nessa cidade que já não compreendia a língua hebraica. Na época em que foi feita essa tradução, a lista (cânone) dos livros sagrados ainda não estava concluída, de forma que essa versão acabou abrigando outros livros, ficando mais extensa. Essa foi a Bíblia adotada pelos Apóstolos de Jesus nas suas pregações e textos: das 350 citações que o Novo Testamento faz dos livros do Antigo Testamento, 300 concordam perfeitamente com a versão dos Setenta, inclusive quanto às diferenças com o hebraico.
Por volta do ano 100 d.C, os judeus da Palestina reuniram-se num sínodo na cidade de Jâmnia e estabeleceram alguns critérios para formarem o seu cânone bíblico. Esses critérios eram os seguintes:
1. O livro não poderia ter sido escrito fora do território de Israel.
2. O livro não poderia conter passagens ou textos em aramaico ou grego, mas apenas em hebraico.
3. O livro não poderia ter sido redigido após a época de Esdras (458-428 aC).
4. O livro não poderia contradizer a Lei de Moisés (Pentateuco).
Assim, os livros escritos por aquela enorme comunidade judaica do Egito não foram reconhecidos pelo sínodo de Jâmnia, por causa de seus critérios ultranacionalistas. Também em virtude desses critérios, o livro de Ester – que em parte alguma cita o nome de Deus – foi reconhecido como inspirado mas somente a parte escrita em hebraico; os acréscimos gregos, que incluíam orações e demonstravam a real presença de Deus como condutor dos factos narrados, foram completamente desprezados, deixando uma lacuna irreparável.
Os livros não reconhecidos pelo sínodo da Jâmnia e que aparecem na tradução dos Setenta são tecnicamente chamados de deuterocanónicos, em virtude de não terem sido unanimemente aceites. São, portanto, deuterocanónicos no Antigo Testamento os seguintes livros: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, 1 Macabeus e 2 Macabeus, além das secções gregas de Ester e Daniel.
Com a dúvida levantada pelo sínodo de Jâmnia, alguns cristãos passaram a questionar a inspiração divina dos livros deuterocanónicos. Os Concílios regionais de Hipona (393), Cartago III (397) e IV (419), e Trulos (692), bem como os Concílios Ecuménicos de Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870), confirmaram a validade dos deuterocanónicos do Antigo Testamento, baseando-se na autoridade dos Apóstolos e da Sagrada Tradição.
Da mesma forma como existem livros deuterocanónicos no Antigo Testamento, também o Novo Testamento contém livros e extratos que causaram dúvidas até o séc. IV, quando a Igreja definiu, de uma vez por todas, o cânone do Novo Testamento. São deuterocanónicos no Novo Testamento os livros de Hebreus, Tiago, 2 Pedro, Judas, 2 João, 3 João e Apocalipse, além de alguns trechos dos evangelhos de Marcos, Lucas e João.
Com o advento da Reforma Protestante, os evangélicos – a partir do séc. XVII – passaram a omitir os livros deuterocanónicos do Antigo Testamento. Alguns grupos mais radicais chegaram – sem sucesso – a tentar retirar também os livros deuterocanónicos do Novo Testamento. É de se observar, dessa forma, que caem em grande contradição por não aceitarem os deuterocanónicos do Antigo Testamento enquanto aceitam, incontestavelmente, os deuterocanónicos do Novo Testamento.
A formação dos textos sagrados foi fundamental para o início de uma estrutura teológica da nossa religião. Assim nasce ou melhor é estruturada a Teológica católica.