Reflexão

O que é o essencial?

Em nosso mundo acelerado, somos constantemente bombardeados por uma avalanche de informações, tarefas e distrações. A mente, agitada e febril, corre de um lado para o outro, muitas vezes “sem saber para que” . Vivemos na era do “como” — como ser mais produtivo, como ter sucesso, como otimizar o tempo — mas raramente paramos para questionar o “para que”. E, como advertiu o educador, “caminhando sem rumo, perderam o endereço” . Esta agitação constante nos afasta de uma pergunta fundamental, a única que verdadeiramente importa: afinal, o que é o essencial?

uma linha de trilho com o brilho do sol.

Imagem ilustrativa – Foto: Adailton Batista

A filosofia perene, da qual nos falam os grandes mestres, ensina que toda a sabedoria se articula em torno da questão do fim último . O essencial não é uma tarefa a mais em nossa lista, mas o próprio “problema fundamental dos fins” , o destino para o qual toda a nossa vida deve convergir. Monsenhor Álvaro Negromonte, em seu livro “A Educação Dos Filhos – A missão dos pais e educadores”, com clareza pastoral, aponta que a grande falha da educação moderna é precisamente o “desconhecimento dos fins”. Negromonte fala que preocupamo-nos em formar médicos, engenheiros e advogados, mas “ninguém se lembra de fazer dele um homem” .

Eis o ponto crucial: o essencial é, antes de tudo, formar o homem interior, a pessoa em sua totalidade, orientada para sua finalidade última e eterna. Todo o resto, por mais importante que pareça, é acréscimo.

O inimigo do essencial

O grande inimigo do essencial é a frivolidade. É a tendência de encher a vida e a mente com o que é superficial, passageiro e inútil. É a mentalidade que troca a profundidade da contemplação pela espuma dos acontecimentos banais. São Josemaria Escrivá, no livro Sulco, faz um diagnóstico preciso e severo desta condição:

“Enquanto não lutares contra a frivolidade, a tua cabeça será semelhante a uma loja de bricabraque: não conterá senão utopias, sonhos e… trastes velhos.” (Sulco, 535)

Esta “loja de bricabraque” – um brécho de coisas velhas e usadas – é uma imagem perfeita da mente moderna. Em suas prateleiras empoeiradas, encontramos os “trastes velhos” de preocupações mundanas, a busca incessante por status, as opiniões volúveis das redes sociais, as notícias que são urgentes hoje e esquecidas amanhã. São as “utopias” de uma felicidade puramente material e os “sonhos” de uma vida sem sacrifício e sem dever. Uma mente assim, abarrotada de inutilidades, não tem espaço para o que é permanente, para a verdade que liberta e para o bem que perdura.

Lutar contra a frivolidade é, portanto, o primeiro passo para focar no essencial. Significa fazer uma limpeza interior, varrer os trastes e abrir espaço para o que realmente importa.

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O essencial na prática: trabalho e retidão

Cumprir bem o trabalho: Nosso trabalho diário não é um obstáculo à vida espiritual, mas o principal meio de vivê-la. É no cumprimento fiel dos nossos deveres de estado — como profissional, pai, mãe, filho — que construímos algo que transcende o tempo. O trabalho bem-feito, oferecido a Deus, torna-se oração e serviço. É a maneira concreta de ordenar a nossa vida segundo o nosso fim último, transformando a rotina em um caminho para a santidade.

Ser justo e honesto: A justiça e a honestidade são a manifestação externa de uma alma ordenada. Viver a justiça é dar a cada um o que lhe é devido, a começar por Deus, a quem devemos tudo. Ser honesto é viver na verdade, alinhando nossas palavras e ações com a realidade. Em uma sociedade onde muitos buscam atalhos e se valem da desonestidade para “vencer na vida” , o homem que se pauta pela retidão é uma luz que aponta para uma ordem superior, para os “valores morais definitivos” que a frivolidade tenta negar.

Portanto meu leitores o essencial é reconhecer nosso fim último — Deus — e ordenar toda a nossa existência para Ele. Isso exige uma luta constante contra a superficialidade que nos distrai e se traduz, na prática, em um trabalho bem-acabado e em uma vida justa e honesta. É assim que esvaziamos a loja de trastes velhos e começamos a construir, em nossa alma, um edifício sólido, digno de seu destino eterno.

Deus os abençoe e até a próxima reflexão.

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