Crianças cristãs são discriminadas no Egito

Uma das maneiras mais cruéis que encontramos de discriminação aos cristãos egípcios é direcionada às crianças

Por Missão Portas Abertas

Apesar de parecer um país livre e que respeita os direitos humanos, a terra das pirâmides e um dos principais destinos turísticos do mundo guarda históricos de perseguição e hostilidade contra cristãos

Imagem ilustrativa / https://www.portasabertas.org.br/

Quem nunca sonhou em ir ao Egito? Ver o esplendor das pirâmides, maravilhar-se com a máscara de ouro do faraó Tutancâmon e passear de camelo pelo deserto.

Mas enquanto o Egito é um grande destino de férias, e muitos muçulmanos e cristãos vivem juntos em paz, longe do olho dos turistas, muitos cristãos enfrentam o extremismo muçulmano.

Uma das maneiras mais cruéis que encontramos de discriminação aos cristãos egípcios é direcionada às crianças. No Egito, a sua carteira de identidade menciona a sua religião e, mesmo que não fosse os cristãos são facilmente reconhecidos pelo seu nome e, especialmente se forem mulheres, pela sua aparência. Em algumas escolas, as crianças cristãs têm de se sentar nos bancos de trás de sua classe já sobrecarregada, de modo que dificilmente conseguem acompanhar a aula.

Marina, uma dessas crianças cristãs, conta como a professora a repreendeu na aula: “Ela apontou para o meu cabelo descoberto – sem o hijab – e as mangas da minha camisa que eu tinha enrolado. Na frente de toda a turma ela me chamou de garota malvada”.

A menina, de dez anos de idade, é a mais nova de seis filhos de uma pobre família cristã, vivendo em uma pequena aldeia no Alto Egito.

A precária no Egito

A vida em muitas aldeias primitivas do Egito não oferece nenhum luxo, e até mesmo carece das necessidades básicas essenciais da vida. Em muitos casos, a água limpa da casa e um banheiro sanitário são ambos um luxo! O pai de Marina faz trabalhos diários em fazendas da região e sai todas as manhãs para o trabalho, carregando sua pá no ombro, junto com uma bolsa com sua marmita muito básica contendo um pão e um pequeno pedaço de queijo branco caseiro. Às vezes há uma cebola e um tomate, para ajudar a encher o estômago vazio.

O mercado é o ponto central aonde os trabalhadores rurais pobres vão, na esperança de que possam ser escolhidos por alguém para trabalhar em seus campos. Enquanto seu pai Isaac sai ao sol quente no começo de um novo dia, ele anda todas as manhãs com muitas dúvidas, imaginando se ele será um dos sortudos escolhidos naquele dia para ir trabalhar em algum lugar. Se assim for, ele voltará só a noite, desgastado após um longo dia de trabalhos de muito esforço, mas com seu pagamento diário de 30 libras egípcias (no valor de US$ 5), para comprar comida e outros itens essenciais para sua família.

Como mais nova, Marina também é a única garota da família, com cinco irmãos mais velhos. Isso a coloca sob muita pressão social e cultural, apenas por ser a única garota de sua família que vive em uma aldeia egípcia. No contexto da cultura e crença islâmica local, a maioria das pessoas em sua aldeia vê as meninas e as mulheres em uma posição muito abaixo dos homens, como criaturas insuficientes, embora criadas tão maravilhosamente pelas mãos do Deus. Então, na realidade, essa mentalidade afeta de muitas maneiras até mesmo as famílias cristãs, que vivem lado a lado com seus vizinhos muçulmanos, compartilhando não apenas a mesma nação e a mesma terra, mas também as sombras escuras de muitas atitudes e comportamentos sociais.

Embora os pais de Marina sejam analfabetos e não haja escola em sua pequena aldeia, eles enviaram todos os seis filhos para a escola pública na aldeia vizinha. Eles querem que seus filhos frequentem a escola e concluam sua educação, para poderem ter uma vida melhor do que seus pais poderiam viver.

A educação pública no Egito continua com uma qualidade muito baixa, e os professores mal pagos e mal treinados não tornam o processo educacional próximo a uma experiência útil ou construtiva. Pelo contrário, as crianças aprendem muito pouco e são tão maltratadas que muitas delas desistem em idade precoce e nunca voltam. Quatro dos irmãos mais velhos de Marina odiavam a escola e pararam de frequentar ainda na adolescência e, em vez disso, procuraram emprego. Mesmo as crianças que continuam sua educação fundamental passam para a próxima série sem serem capazes de ler ou escrever corretamente.

Além disso, muitos professores muçulmanos enviam as crianças cristãs para sentar-se no final da sala e as ignoram, concentrando-se apenas em ensinar os estudantes muçulmanos.

Segure minha mão

Dois anos atrás, Marina era uma dessas crianças cristãs.

Mas através do apoio dos parceiros da Portas Abertas, o futuro educacional de Marina foi transformado. Tudo gira em torno de um programa muito simples, iniciado por meio de igrejas locais de aldeias de todo o Alto Egito.

Chamado de “Segure minha mão”, o programa é liderado por equipes itinerantes que visitam as igrejas das aldeias para entrevistar todos os seus alunos, a fim de identificar quais estudantes precisam de mais ajuda em sua educação. As crianças recebem um breve teste de leitura e escrita, para classificar os que precisam de reforço em alfabetização e matemática para que se tornem estudantes fortes.

Quando Marina foi testada e qualificada para participar das aulas de reforço do “Segure minha mão”, ela começou a frequentar a igreja três vezes por semana para participar das aulas de apoio, juntamente com outras 19 crianças. Cada aula de duas horas começou com 30 minutos de ensino bíblico, seguida por 60 minutos de treinamento em habilidades de leitura e escrita, e depois 30 minutos de diversão educacional e tempo de jogo.

Essas aulas tornaram-se o destaque da semana para a Marina. De seu ambiente limitado, eles se tornaram sua janela para um mundo aberto de autodesenvolvimento. A diferença entre esta classe da igreja e sua aula de escola pública foi tremenda! Antes, ela era um dos 60 alunos com professores entediados que só iam para a aula receber o pagamento no final do mês. A atmosfera da sala de aula era fria, desanimadora e sombria.

Mas como uma das 20 crianças na classe da igreja, Marina foi ensinada por um professor cristão preparado, amoroso e comprometido. Não apenas os professores do “Segure minha mão” oraram por ela e pelos outros alunos, mas também fizeram o melhor para serem criativos, deixando um impacto profundo em suas vidas.

Nas últimas semanas daquele ano, a jovem Marina caminhou com confiança até o quadro branco em sua sala de aula do “Segure minha mão” para contar aos visitantes o que este programa significou para ela. Com uma faísca de triunfo brilhando em seu rosto, ela começou a escrever palavras e calcular números de 6 dígitos no quadro.

“Eu sou a aluna mais esperta da minha turma agora, e sempre recebo as notas mais altas em todas as matérias”, ela disse com orgulho. “Os professores da minha escola pública costumavam me ignorar, e nunca me pediram para responder perguntas, porque eu era uma das piores crianças da minha turma. Mas agora todos os meus professores me consideram a melhor aluna da turma! ”

* Conteúdo enviado pela Regina Andrade | Assessora de Imprensa assessoria@portasabertas.org.br  (11) 95035-0747

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