“Sua Misericórdia se estende, de geração em geração sobre os que o temem”. Lc 1, 50
Por Henrique Almeida
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Com este versículo expresso todo o conteúdo desse texto, pois o mesmo guarda em si a compreensão de Maria acerca da Misericórdia Divina.
A humanidade necessita reavivar a experiência com a Misericórdia e o Senhor a tem derramado abundantemente sobre o mundo há muitas gerações, por meio de Sua Igreja, Seus santos e santas e por meio de Vocações específicas que Ele suscita sobre a face da terra, a exemplo de nosso Carisma Filhos de Maria.
Nunca o sofrimento humano tornou-se tão expressivo. É um grito de dor de muitos homens e mulheres que mergulham no vazio de suas misérias e, diante da nudez que se encontram, querem se esconder de Deus, a exemplo de Adão e Eva. E quão inumeráveis são as misérias humanas! Elas se mostram não somente na ordem social, pelo incontável número de pobres, indigentes, famintos que existem. Há também uma miséria moral, fruto do pecado original diante da qual o homem se encontra. Uma miséria que nos abate a alma, que nos conduz à tristeza e à amargura, que nos fecham no egoísmo e na vaidade, que nos fazem “correr atrás de vento”. E são estas que geram as misérias sociais.
Tais misérias, tais fraquezas da carne nos conduzem a agir mal quando não fazemos uma experiência no Amor Misericordioso do Pai. Em si, somos todos limitados e frágeis, por sermos criaturas. E sob essa condição é que o nosso coração poderá encontrar repouso em Deus e em nenhum outro lugar.
Essa miséria, fruto do pecado original, enraíza no ser humano, mas não é pecado somente pelo fato de sermos miseráveis. Torna-se pecado aquele ato que cometemos quando cedemos à miséria que há em nós e, assim, rompemos com o Amor de Deus e nos afastamos da Misericórdia. E a nossa dor se torna cada vez mais insuportável, tão insuportável que rompe o silêncio com um imenso grito. Mas Deus escutou a dor do Seu povo, de Sua criatura, de Seu vermezinho de alma abatida. O homem já não suportava mais a dor e o sofrimento que o afligiam, oriundos do pecado.
O Pai amou tanto o mundo que nos disse uma Palavra. E o Verbo que saiu de Sua boca encarnou-se e habitou entre nós. Experimentou em si, sendo Deus, a condição humana, exceto o pecado. Viveu as angústias e aflições da humanidade, tomou sobre si o peso de nossos pecados e sofreu o suplício da Cruz sendo inocente. “Eu vim para os enfermos” dizia Jesus, os enfermos e abatidos na alma pelas fragilidades e limitações, pela miséria.
Assim se manifesta a Misericórdia de Deus a nós: na pessoa de Seu Filho Jesus. Ele nos deu Seu Filho Único para salvar-nos do pecado.
Experimentamos em nossa carne a fraqueza, como diz São Paulo e é também nela que experimentamos da maior graça que o Senhor já nos deu: a salvação por meio de Jesus. Essa é a maior e mais sublime graça derramada sobre nós. Por isso podemos ouvir de Deus as palavras que o apóstolo ouviu: “Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força” (II Cor 12, 9).
É nesse mistério que devemos depositar nossas misérias e fraquezas, rendendo-nos ao Amor Misericordioso de Deus que quer revelar em nós toda a Sua graça.
Esse é o segredo que fez tantos ladrões, prostitutas, tristes, pobres, miseráveis em tudo se tornarem santos. Porque a Misericórdia do Senhor revela em nós Sua força. O Senhor, em Sua infinita Misericórdia, não somente vê as nossas misérias com o coração, mas toma-as sob si e ama profundamente.
Assim, quem faz a experiência com Misericórdia pode cantar como Maria. Ela experimentou em si a fraqueza e pequenez de sua humanidade apesar de ter sido concebida sem pecado original. Essa mesma graça foi-lhe conferida não por seus méritos, mas pela Misericórdia de Deus que a escolheu para ser Mãe do Salvador. E quando o Anjo Gabriel a visitou, ela experimentou dessa Misericórdia que se estendeu a ela e que se estenderá de geração em geração sobre os que temem o Senhor.
Essa virtude, o temor de Deus, é que nos auxilia a agir com nossas misérias como fonte de salvação e não de nossa condenação, pois tal dom do Espírito nos conduz à reverência e adoração ao Senhor, ou seja, ensina-nos a reconhecer quem devidamente é Deus. E Deus é Amor. Trazemos em nós mesmo essas marcas, mas o Senhor quer estender sobre nós a Sua Misericórdia. Cabe a nós deixarmo-nos ser banhados por este Amor Misericordioso.
Que nos tempos de hoje, em que somos chamados pelo mundo a aprisionarmo-nos nas misérias de nossa humanidade, tiremos os olhos de nós mesmos e miremos o Coração Aberto de Jesus, que não cessa de jorrar Sangue e Água sobre nós e de derramar o Seu Espírito.
Esse é o Caminho que nos foi aberto para passarmos por Ele. E que, banhados em Cristo, escutemos a Voz d’Ele que nos chama a seguir Seu exemplo: ser no mundo a Manifestação do Amor Misericordioso do Pai!
Henrique Almeida
Comunidade Filhos de Maria
Montes Claros – MG