Mesa-redonda é uma ideia ou conceito que parte do princípio da ausência de hierarquia num debate ou numa reunião, em que os participantes discutem um assunto abertamente. Cada participante pode apresentar sua opinião e ponto de vista de maneira democrática, pois ninguém está à cabeceira da mesa.
A ideia mais popular e difundida da mesa-redonda aparece na lenda do Rei Artur e seus cavaleiros, reunidos em torno da “Távola Redonda” para discutir assuntos relacionados à segurança do reino e à vida política e social. Embora o princípio da mesa-redonda seja a igualdade hierárquica entre os participantes, existem outros dois elementos fundamentais que não podem ser desconsiderados: a honra pessoal e o conjunto de valores comuns. Por essa razão, um cavaleiro da Távola Redonda nunca poderia entrar em disputa com outro cavaleiro, porque ambos defendiam os mesmos valores e ideais, e, também por isso, se a honra de um fosse afetada, todos se sentiam ofendidos.
Mais que um ideal de corporativismo, o ponto central da mesa-redonda é a convergência das capacidades individuais, em que ideias diferentes não são assumidas como um problema, porque apresentam com mais clareza as diversas faces de um mesmo assunto, e o diálogo é o meio para solucionar as diferenças.
Aquilo que hoje chamamos de redes sociais, de certa maneira, tem alguma semelhança com a ideia da mesa-redonda. Mas será que existe verdadeiro diálogo nas redes sociais?
Atualmente, é possível encontrar nas redes sociais discussões e debates acalorados sobre praticamente qualquer assunto. Alguns temas despertam mais interesse, geram polêmica e são compartilhados rapidamente, mas isso não quer dizer que se trata propriamente de um debate democrático. Enquanto na mesa-redonda os participantes se sentam frente a frente, nas redes sociais as pessoas podem permanecer ocultas, e, mesmo quando se apresentam em vídeos, existe sempre a possibilidade da edição de imagens, gerando a fragmentação e deturpação do pensamento original. Se num debate, em forma de mesa-redonda, o diálogo cria um movimento convergente, discussões acaloradas e polarizadas pelas redes sociais geram um movimento divergente, e esse resultado pode se tornar um grande problema para a sociedade, uma vez que dificulta a busca da verdade.
No ambiente das redes sociais também é difícil falar de valores comuns, pois qualquer opinião assume o caráter de verdade, e, assim, cada envolvido disputa para impor o que defende. Tudo, portanto, torna-se terreno fértil para ideologias e extremismos. Com a finalidade de impor-se vale usar todos os recursos, principalmente desacreditar ou desmoralizar o oponente com a propagação de notícias falsas, fragmentos de frases, pensamentos descontextualizados e imagens montadas. Nessas távolas virtuais, a sociedade contemporânea encontra espaço para fazer denúncias, apresentar provas, julgar e condenar, mesmo quando tudo isso não possua nenhuma consistência e verdade. Diante dessa realidade atual e complexa, surge uma pergunta: o que fazer?
Publicado originalmente em O São Paulo