Pausa para a alma: encontrando descanso no silêncio de Deus

O silêncio, quando habitado pela oração, deixa de ser assustador 

Por Adailton Batista

É uma sensação familiar para muitos: o fim de um longo dia de trabalho, de encontros e de conversas. Ou, talvez, o término de um fim de semana repleto de compromissos sociais. O corpo não está necessariamente fatigado, mas a alma parece esgotada. A mente, ruidosa. É o fenômeno que se convencionou chamar de “bateria social descarregada” — um desejo profundo de isolamento, de ficar em silêncio, uma necessidade de não interagir, de simplesmente “desligar-se”.

Foto de Adailton Batista: https://www.pexels.com/pt-br/foto/6390479/

A ditadura do barulho

Este sentimento é um dos sinais mais eloquentes do nosso tempo. Vivemos imersos no que o Cardeal Robert Sarah, em sua profunda obra, definiu como “a ditadura do barulho”. É um ruído que não emana apenas do exterior – do trânsito, das notificações incessantes dos dispositivos móveis, da música ambiente onipresente. Trata-se também de um ruído interno: a pressão para responder, para opinar, para estar sempre disponível, para produzir, para ser interessante. Esse barulho constante nos exaure e, mais gravemente, afasta-nos da única voz que pode verdadeiramente nos apaziguar.

Solidão vs. Solitude: A chave espiritual

Na busca por restaurar as energias, frequentemente incorremos em uma armadilha: a substituição de um ruído por outro. Afastamo-nos das interações humanas e mergulhamos no fluxo incessante das redes sociais, em maratonas de séries ou em podcasts que preenchem cada segundo de silêncio. Fazemos de tudo para estarmos a sós, mas nutrimos um medo terrível de nos sentirmos solitários.

Aqui reside, portanto, a chave espiritual da questão: há uma profunda diferença entre estar só e sentir-se em solidão. A solidão é um vazio, uma ausência que fere. A solitude, por outro lado, é uma presença. É o ato de escolher estar só para estar com Alguém. É transformar o silêncio de um lugar vazio em um santuário preenchido pela presença de Deus.

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O repouso da alma

O salmista, em um dos mais belos cantos de confiança, oferece-nos a senda para encontrar essa paz. Ele não busca a agitação das grandezas do mundo, mas o repouso da alma em Deus:

“Senhor, meu coração não se enche de orgulho, meu olhar não se levanta arrogante. Não procuro grandezas, nem coisas superiores a mim. Ao contrário, mantenho em calma e sossego a minha alma, tal como uma criança no seio materno, assim está minha alma em mim mesmo.” (Salmo 131, 1-2).

Visualizemos esta cena: uma criança pequena, completamente segura e em paz no colo de sua mãe. Ela não precisa falar, não precisa provar nada, não precisa fazer esforço. Sua simples presença é suficiente. Esse é o convite que Deus nos faz quando nossa bateria social e espiritual se esgota. Ele nos chama a repousar Nele dessa forma, a simplesmente estar, sem a pressão de fazer.

Passos práticos: trazendo o silêncio para a rotina

Esse descanso não restaura apenas nossa capacidade de interagir com os outros; ele restaura nossa alma. O silêncio, quando habitado pela oração, deixa de ser assustador e se torna um diálogo íntimo e profundo. É nesse silêncio que conseguimos ouvir os sussurros de Deus, que distinguimos a Sua vontade em meio ao caos de nossas próprias ansiedades e das expectativas do mundo.

Para nós, leigos, colocar isso em prática não exige um retiro em um mosteiro. Começa com pequenas e intencionais atitudes:

  • Estabeleça santuários de quietude: Cinco minutos no carro antes de entrar em casa. Os primeiros dez minutos da manhã, com uma xícara de café, antes de consultar o celular. Momentos breves, mas sagrados.
  • Agende um encontro com o silêncio: Assim como se agenda uma reunião, marque em sua agenda “15 minutos com Deus”. Trate esse compromisso como o mais importante do seu dia.
  • Reze com o salmo: Quando sentir a ansiedade e o cansaço mental se aproximarem, recite o Salmo 131. Permita que essas palavras acalmem seu coração.

O mundo continuará ruidoso e exigente. Nossa bateria social, inevitavelmente, se esgotará de tempos em tempos. A boa nova, contudo, é que temos acesso a uma fonte de energia inesgotável.

A solitude com o Senhor não é uma fuga do mundo, mas a preparação necessária para retornarmos a ele com o coração em paz, a alma serena e a bateria recarregada pelo único Amor que verdadeiramente nos sustenta.


Um Convite à Prática:

Hoje, antes de dormir, reserve 5 minutos. Apenas 5. Sente-se em silêncio, sem pedir nada. Apenas repita em seu coração: “Senhor, mantenho em calma e sossego a minha alma em Ti”. Permita que Deus o recarregue.

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