O Concílio Vaticano II propôs uma análise realista da situação religiosa do nosso tempo; antes, fez mesmo referência expressa à condição juvenil. Outro tanto devem fazer os educadores. Seja qual for o método que se use, devem ter-se presentes os resultados das investigações acerca dos jovens do próprio ambiente, sem esquecer que as novas gerações são, em certos aspectos, diversas daquelas a que se referia o Concílio.

Um grande número de escolas católicas encontram-se naquelas partes do mundo onde se estão realizando profundas mudanças de mentalidade e de vida. Trata-se de grandes áreas urbanizadas, industrializadas, que progridem na chamada economia terciária. Caracterizam-se por uma larga disponibilidade de bens de consumo, por múltiplas oportunidades de estudo, por complexos sistemas de comunicação. Os jovens entram em contacto com os mass-media desde os primeiros anos de vida. Ouvem opiniões de todo o gênero. São informados precocemente acerca de tudo.

Através de todos os canais possíveis, entre os quais a escola, são colocados em contacto com informações muito divergentes sem terem capacidade para as ordenar e para realizar a síntese. Não têm ainda ou nem sempre têm, com efeito, a capacidade crítica para distinguir o que é verdadeiro e bom daquilo que o não é, nem sempre dispõem de pontos de referência religiosa e moral, para assumir uma posição independente e justa, perante as mentalidades e os costumes dominantes. O perfil do verdadeiro, do bem e do belo é apresentado dum modo tão vago que os jovens não sabem para que direção voltar-se; e se ainda acreditam em alguns valores, são todavia incapazes de lhes dar uma sistematização e muitas vezes são inclinados a seguir a própria filosofia segundo o gosto dominante.

As mudanças não se realizam em toda a parte do mesmo modo e com o mesmo ritmo. Em todo o caso, as escolas devem estudar in loco o comportamento religioso dos jovens para saberem o que pensam, como vivem, como reagem lá onde as mudanças são profundas, onde estão iniciando, onde são rejeitadas pelas culturas locais, chegando porém igualmente através das ondas das comunicações que não têm fronteiras.

Não obstante a grande diversidade das situações ambientais, os jovens manifestam características comuns dignas de atenção por parte dos educadores.

Muitos deles vivem numa grande instabilidade. Por um lado, encontram-se num universo unidimensional, no qual não se toma a sério outra coisa que não seja o que é útil e, sobretudo, o que oferece resultados práticos e técnicos. Por outro lado, eles parecem ter já superado este estádio: constata-se uma vontade de sair dele um pouco por toda a parte.

Muitos outros jovens vivem num ambiente pobre de relações e sofrem, portanto, de solidão e de falta de afeto. É um fenômeno universal, apesar das diferenças entre as condições de vida nas situações de opressão, no desenraizamento dos bidonvilles e nas habitações frias do mundo próspero. Nota-se, mais do que noutros tempos, a depressão dos jovens e isto testemunha sem dúvida a grande pobreza de relações na família e na sociedade.

Uma faixa larga de jovens vive preocupada em relação à insegurança do seu próprio futuro. Isto é devido ao fato que facilmente escorregam para a anarquia de valores, já desenraizados de Deus e tornados exclusiva propriedade do homem.

Esta situação cria neles um certo medo ligado evidentemente aos grandes problemas do nosso tempo, como o perigo atômico, o desemprego, a alta percentagem das separações e dos divórcios, a pobreza, etc. O medo e a insegurança em relação ao futuro implicam, além disso, uma forte tendência para a privatização e favorecem ao mesmo tempo a violência não só verbal, nos lugares onde os jovens se reúnem.

Não são poucos os jovens, que não sabendo dar um sentido à vida e para fugirem à solidão, recorrem ao álcool, à droga, ao erotismo, a experiências exóticas, etc. A educação cristã tem, neste campo, uma grande tarefa a realizar em relação à juventude: ajudá-la a dar um significado à vida.

A instabilidade dos jovens acentua-se em relação ao tempo; as suas decisões têm falta de solidez: do « sim » de hoje passa-se com extrema facilidade ao « não » de amanhã. Enfim, uma generosidade vaga caracteriza muitos jovens. Vêem-se desabrochar movimentos movidos de grande entusiasmo, porém, nem sempre orientados por uma lógica definida e iluminada a partir de dentro. É importante então valorizar aquelas energias potenciais e orientá-las oportunamente à luz da fé.

Em certas regiões, uma investigação particular a fazer poderia ser o fenômeno do afastamento de muitos jovens da fé. Muitas vezes o fenômeno começa com o abandono gradual da prática religiosa. Com o passar do tempo, ele é acompanhado da hostilidade às instituições eclesiásticas e duma crise da adesão às verdades da fé e aos valores morais com elas conexos, especialmente nos países onde a educação geral é laicista ou mesmo ateia. Parece que o fenômeno se manifesta com mais freqüência nas zonas de grande progresso econômico e de rápidas mudanças culturais e sociais. As vezes não é fenômeno recente. Tendo acontecido aos pais, transmite-se às gerações novas. Não se trata mais de crise pessoal, mas de crise religiosa de uma civilização. Falou-se de « ruptura entre o evangelho e a cultura ».

O afastamento assume muitas vezes o aspecto de total indiferença religiosa. Os especialistas interrogam-se se certos comportamentos juvenis se podem interpretar como substitutivos para preencher um vácuo religioso: culto pagão do corpo, fuga para a droga, colossais « ritos de massa » que podem explodir em formas de fanatismo e de alienação.

Os educadores não se devem limitar a observar os fenômenos, mas devem procurar as suas causas. Talvez existam carências no ponto de partida, ou seja no ambiente familiar. Talvez seja insuficiente a proposta da comunidade eclesial. A formação cristã da infância e da primeira adolescência não resiste sempre aos impactos do ambiente. Às vezes é chamada em causa a própria escola católica.

Há numerosos aspectos positivos e muito prometedores. Numa escola católica podem encontrar-se jovens exemplares no comportamento religioso, moral, escolar. Estudando as razões desta exemplaridade, encontra-se muitas vezes um ótimo terreno familiar, coadjuvado pela comunidade eclesial e pela própria escola. Um conjunto de condições aberto ao trabalho interior da graça.

Há outros jovens, que procuram uma religiosidade mais consciente, que se interrogam sobre o sentido da vida e descobrem no evangelho a resposta para a sua inquietude. Outros ainda, superando a crise da indiferença e da dúvida, aproximam-se ou reaproximam-se da vida cristã. Estas realidades positivas são sinais de esperança de que a religiosidade juvenil pode crescer em extensão e profundidade.

Existem também jovens para os quais a permanência na escola católica tem escassa incidência na sua vida religiosa; manifestam comportamentos não positivos em relação às principais experiências da prática cristã – oração, participação na santa missa, freqüência dos sacramentos ou mesmo certas formas de rejeição, sobretudo em relação à religião da Igreja. Poderemos ter escolas irrepreensíveis do ponto de vista didático, mas defeituosas no testemunho e na proposta clara dos valores autênticos. Nestes casos resulta evidente, do ponto de vista pedagógico pastoral, a necessidade de uma revisão não só da metodologia e dos conteúdos educativos religiosos, mas também do projeto global como se processa a educação dos alunos.

Seria necessário conhecer melhor a qualidade das exigências religiosas juvenis. Não poucos se interrogam sobre o valor de tanta ciência e tecnologia se tudo pode acabar numa hecatombe nuclear; refletem sobre a civilização que inundou o mundo de « coisas », mesmo belas e úteis, e interrogam-se se o fim do homem consista em ter muitas « coisas », ou antes em algo que vale muito mais; permanecem perturbados pela injustiça que divide os povos livres e ricos dos povos pobres e sem liberdade.

Em muitos jovens, a posição crítica em relação ao mundo transforma-se em procura crítica em relação à religião, para saber se ela pode responder aos problemas da humanidade. Em muitos, há uma procura exigente de aprofundamento da fé e de a viver com coerência. Junte-se-lhe uma procura operante de empenhamento responsável na ação. Os observadores avaliarão o fenômeno dos grupos juvenis e dos movimentos de espiritualidade, de apostolado e de serviço. Eles são um sinal de que os jovens não se contentam com palavras, mas querem fazer qualquer coisa que valha para si e para os outros.

A Escola católica acolhe milhões de jovens de todo o mundo, filhos das suas estirpes, nacionalidades, tradições, famílias e também filhos do nosso tempo. Cada aluno leva consigo os sinais da sua origem e individualidade. Esta escola não se limita a ministrar lições, mas realiza um projeto educativo iluminado pela mensagem evangélica e atento às exigências dos jovens de hoje. O exato conhecimento da realidade sugere os comportamentos educativos melhores .

Deve-se recomeçar a partir dos alicerces, conforme os casos; integrar o que os alunos já assimilaram; dar resposta às perguntas que surgem no seu espírito inquieto e crítico; derrubar o muro da indiferença; ajudar os já bem educados a conseguir uma « via melhor » e dar-lhes uma ciência aliada à sabedoria cristã. As formas e a gradualidade no desenvolvimento do projeto educativo estão condicionadas e guiadas pelo nível de conhecimento das condições pessoais dos alunos.

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