O ser humano, religioso ou não, possui uma composição, se é que podemos dizer assim, que o une aos seus semelhantes, mas ao mesmo tempo o separa na sua individualidade e particularidade. Mas para chegarmos à consciência de quem somos, precisamos saber primeiro o que somos. Partimos então das faculdades humanas para começarmos a entender algumas coisas do bicho humano.

LEI MORAL
• A lei é uma regra de comportamento promulgada pela autoridade competente em vista do bem comum.
• A lei moral supõe a ordem racional estabelecida entre as criaturas, para seu bem e em vista de seu fim, pelo poder, pela sabedoria e pela bondade do Criador. (CIC 1951)
• Toda lei encontra na lei eterna sua verdade primeira e última.

LEI NATURAL
• “A lei “divina e natural” mostra ao homem o caminho a seguir para praticar o bem e atingir seu fim. A lei natural enuncia os preceitos primeiros e essenciais que regem a vida moral.” (CIC 1955).
• A transgressão das leis de Deus implica na perda do estado de graça ou na sua forte debilitação.

CONSCIÊNCIA
• O valor do homem está naquilo que ele é, não por aquilo que faz ou tem.
• Na essência do seu ser ele herdou do seu Senhor a inteligência, a liberdade, a vontade, a sensibilidade, a consciência.
• “Na intimidade da consciência o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. (Gaudium et Spes 16)

LIBERDADE HUMANA
• Não há dúvida de que a liberdade é um dos mais belos dons que Deus concedeu a nós, seres humanos. Quando nos criou, Deus nos amou tanto que nos deixou livres para acolhê-lo ou recusá-lo.
• A liberdade caminha de mãos dadas com a responsabilidade, sem esta, o que era liberdade passa a ser escravidão.
• “O progresso na virtude, o conhecimento do bem e a ascese aumentam o domínio da vontade sobre seus atos” (CIC 1734).

O EXERCÍCIO DA LIBERDADE
• “O exercício da liberdade não implica o direito de dizer e fazer tudo. É falso pretender que o homem, sujeito da liberdade, baste a si mesmo, tendo por fim a satisfação de seu próprio interesse no gozo dos bens terrenos” (CIC 1740).
• O homem recebeu de Deus o poder de decisão (cf. Elo 15,14), mas também recebeu a graça para que possa decidir-se pelo bem; buscar a sua essência, que é o amor.

LIBERDADE DE FILHOS
• A liberdade não é dos escravos, mas dos filhos. “Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres” (Jo 8,35).
• Sedento de liberdade precisa o homem moderno compreender que a verdadeira liberdade encontra-se somente em Cristo.
• Tanto mais livre é o homem quanto mais capaz de escolher e fazer o bem.

VONTADE DE SENTIDO
• “O homem procura sempre um significado para a sua vida. Está sempre se movendo em busca de um sentido de seu viver.” (Victor Frankl).
• O sentido não pode ser dado. Os pais não podem prescrever ao filho o que é sentido, nem o chefe ao seu empregado, nem o médico ao paciente.

SENTIDO DE VIVER
• O sentido, pois, como resposta à pergunta “para quê”, ultrapassa os limites estreitos em direção a uma conexão (próxima) maior, a partir da qual este sentido possa ser entendido.
• Para a compreensão do sentido é importante somente a compreensão de nós mesmos. (Quem sou eu?)

O QUE É SENTIDO DE VIDA
• O sentido para todos os tempos — este é impossível de aprendermos. O sentido para a nossa vida — este nós não possuímos.
• O que se entende por sentido é sempre uma possibilidade a ser apreendida e realizada de modo concreto que possui o sentido concreto
• Ele sempre vai ao nosso encontro sob a forma de situações de vida concretas.

A CHAVE PARA O SENTIDO
• A chave para o sentido é a abertura do homem, consiste em voltar-se para a vida.
• A primeira coisa a ser abordada é a visão ontológica do homem. (O QUE É O HOMEM?)
• Pessoal?
• Filho (a) de Deus?
• Esposo (a)?
• Paternidade / Maternidade?
• Profissional?

Estamos habitados por uma fome imensa de plenitude. Ao mesmo tempo vamos compreendendo que esta fome só pode ser saciada em relações de reciprocidade amorosa. Em primeiro lugar, precisamos do amor dos outros para sermos capazes de amar. Depois, precisamos de amar o próximo, a fim de crescermos em maturidade. Com efeito, é na medida em que nos damos que nos possuímos.
Os seres pessoais estão talhados para o dom. Isto não acontece com os animais. As pessoas humanas são imagem perfeita de Deus, três pessoas em reciprocidade plena de comunhão.O amor dos outros dá-nos segurança. Por outro lado, o nosso amor aos outros faz desabrochar em nós a alegria e a felicidade. A pessoa que se dá não se perde. Pelo contrário, encontra-se e possui-se.
A realidade da pessoa talhada para o dom e a reciprocidade amorosa é um mistério, isto é, uma realidade que não é evidente mas que se revela gradualmente. Por vezes distorcemos as respostas a este chamamento de plenitude e felicidade que se faz sentir no mais profundo de nós mesmos.
Uma maneira de iludir esta fome de plenitude que levamos dentro é a fuga para o mundo exterior da sexualidade, do dinheiro, do poder, do álcool ou da droga. Mas a experiência vai ensinando que estas fugas mutilam a pessoa, tanto a nível físico como psíquico, e não preenchem a nossa fome de plenitude. A fuga na sexualidade sem projeto de amor é uma distorção. A nível humano, a sexualidade é um grito a clamar por amor. Exprime-se como um apelo fundamental a construir a vida numa dinâmica de aliança que se concretiza como processo histórico de amor e comunhão.
A sexualidade humana não é apenas uma necessidade biológica de tipo instintivo, como no animal. Tem uma dimensão psíquica, a qual não pode ser iludida, pois está talhada para o amor e a comunhão. O desrespeito desta verdade gera desequilíbrios e distorções na personalidade. A sexualidade humana tem uma matriz mental, ponto de encontro entre o bio-psíquico e o espiritual. As simples aventuras sexuais não só não são geradoras de equilíbrio emocional, como provocam frustrações e experiências que marcam a vida de modo negativo.
O que dramatiza as nossas vidas são os conflitos que foram sendo registados no nosso cérebro. Muitos destes conflitos têm um cunho sexual. Formam uma estrutura emocional, um entretecido de interações negativas que condicionam os nossos comportamentos. As aventuras sexuais não passam de relações frustrantes, pois agudizam a fome de plenitude amorosa que levamos dentro. O mesmo podemos dizer de outros tipos de fuga, alguns dos quais geram dependências perigosas.
A fome de felicidade que levamos conosco tem uma direção e uma densidade espiritual. É um grito que brota da nossa realidade mais profunda, isto é, a nossa interioridade pessoal-espiritual e tende para a comunhão universal do Reino de Deus.
A pessoa, seja qual for a sua natureza, é um ser que se constitui como interioridade livre, consciente, responsável, única, original, irrepetível e capaz de comunhão amorosa. Para oferecer resposta à fome de plenitude que nos invade, Deus sonhou e planeou o mistério da Encarnação do seu Filho. Pela Encarnação, a Divindade enxerta-se na Humanidade, a fim de esta ser assumida e incorporada na Família Divina, onde cada pessoa encontra a sua plenitude. O grau de plenitude que a pessoa encontra na Família de Deus é proporcional à sua capacidade de amar e comungar.
Na sua densidade espiritual, a pessoa situa-se ao nível do ser, não do ter. Por isso, quando se dá, não se perde. Isto faz-nos compreender como a pessoa não vale pelo tem, mas pelo que é. O cristão sabe que o pão para matar a fome e a água para matar a sede de vida plena são-nos dados por Cristo Ressuscitado.
O grande dom de Cristo Ressuscitado é o Espírito Santo que nos habita e, com o seu jeito maternal de amar, nos conduz a Deus Pai que nos acolhe como filhos e a Deus Filho que nos abraça como irmãos. É também o Espírito Santo que, com seu jeito maternal de amar, alimenta a fraternidade humana universal.
Fomos batizados num mesmo Espírito, diz São Paulo a fim de fazermos um só corpo (1 Cor 12, 13). Isto significa que participamos do Espírito Santo com Cristo Ressuscitado a quem estamos unidos de modo orgânico. O Espírito Santo é o pão espiritual que comemos e faz de nós corpo de Cristo (1 Cor 10, 17; 12, 27). Em perspectivas cristãs, a fome de felicidade e plenitude que vibra nos mais íntimo do nosso ser, é um apelo a caminharmos na linha da fraternidade e da comunhão.
O Espírito Santo, com o seu jeito maternal de amar, introduz-nos na família divina como filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação a Deus Filho (Rm 8, 14-16; cf. Ga 4, 4-7). Eis o pão da plenitude ao nosso alcance. É gratuito e está vinte e quatro horas disponível para nós. Com Jesus Cristo a história humana deu um salto de qualidade. A Humanidade passou do estado de não divina, para a condição de Humanidade divinizada.
O ser humano é capaz de comungar na medida em que está humanizado. Isto quer dizer que será eternamente mais divino quem mais se tiver humanizado na história. É agora que construímos a nossa identidade eterna. Utilizando uma imagem de festa, diria que dançaremos eternamente o ritmo do amor e da comunhão com o jeito que tivermos treinado agora, na história. A festa do Reino é a superação total da solidão e a conquista definitiva da felicidade que só acontece em dinâmica de comunhão.
Como acabamos de ver, a nossa plenitude é proporcional à nossa realização. Somos nós que construímos aquilo que será plenificado por Deus. Em termos humanos podemos dizer que o futuro histórico de cada um de nós é o leque de possíveis de humanização que ainda temos para realizar.
Este futuro pode acontecer ou não, depende de nós. De fato, o ovo de galinha fecundado está cheio de possíveis capazes de dar um pintainho. Mas estes possíveis podem realizar-se ou não. Se estrelarmos este ovo não teremos pintainho.
A humanização do ser humano não é uma fatalidade. Depende de nós. Só acontece através de um encadeamento de opções, decisões, escolhas e realizações na linha do amor. O nosso futuro eterno é a divinização mediante a assunção do nosso ser pessoal-espiritual na comunidade divina.
A humanização do ser humano é um processo histórico cuja lei é: “emergência pessoal-espiritual mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal que, em perspectivas cristãs, é humano-divina. Somos o resultado personalizado da história que construímos com os talentos que recebemos dos outros. É este o mistério do Homem em construção.

25. maio 2010 · 6 comments · Categories: Celibato

A Humanidade foi concebida e talhada à imagem e semelhança da Divindade. Eis a razão pela qual as pessoas humanas, naquilo que têm de bom, são tão parecidas com Deus. Por ser constituída por pessoas, a Humanidade já faz parte da cúpula personalizada do Universo. Podemos dizer que a Humanidade pertence ao melhor que a Criação foi capaz de produzir.
De fato, a Humanidade é constituída por seres livres, conscientes, responsáveis e capazes de comunhão amorosa. A Humanidade é como uma árvore gigante na qual, o tronco e os ramos fazem uma unidade alimentada pela mesma seiva. Mas foi divinizada pela graça de Deus que nos vem por Cristo ressuscitado. Em Cristo o Divino enxertou-se no Humano, a fim deste ser divinizado. Acontece como emergência histórica no concreto de cada pessoa.
A Humanidade emerge de modo único, original e irrepetível no concreto de cada pessoa. Mas a plenitude humana só foi atingida pela ressurreição de Cristo, graças à qual as pessoas humanas são introduzidas na comunhão trinitária das pessoas divinas. A Humanidade está talhada para a divinização! Jesus Cristo inaugurou a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos.
No princípio dos tempos, Deus veio, amassou e configurou o barro. Depois deu-lhe um beijo e o hálito da vida divina passou para o interior do interior de Deus para o Homem (Gn 2, 7). Este hálito é o Espírito Santo que vivifica e vai modelando a interioridade da pessoa à imagem e semelhança de Deus. E Foi assim que o Homem se tornou barro com coração, isto é, capaz de eleger o outro como próximo.
Por outras palavras, a construção da Humanidade tornou-se uma tarefa ética cuja lei é o amor. O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão. A entrada do hálito de Deus, isto é, do Espírito Santo, no interior do Homem é o impulso que inicia a marcha histórica da humanização cuja lei é: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Orgânica Universal.
Tal como aconteceu no princípio dos tempos, também a plenitude dos tempos foi inaugurada por um beijo de Deus à Humanidade com a comunicação do Espírito Santo. O segundo beijo de Deus é, naturalmente, o mistério da Encarnação, o enxerto do divino no humano, a fim deste ser divinizado. Por outras palavras, mediante a Encarnação, o Filho Eterno de Deus encarnou pelo Espírito Santo, dando início à divinização do Homem.
No princípio dos tempos, o Espírito Santo foi dado à Humanidade como presença que anima o processo da sua humanização.O segundo beijo de Deus dá-nos a possibilidade de sermos membros da Família de Deus (Jo 1, 12-14; Rm 8, 14-16). Mediante a sua ressurreição, Jesus inaugura a plenitude dos tempos, possibilitando-nos a interacção e comunicação intrínseca com o Espírito Santo.
E é assim que somos incorporando-nos na comunhão familiar da Santíssima Trindade. Mediante esta interação intrínseca, o Espírito Santo, torna-se uma espécie de Água Viva que faz jorrar vida eterna no coração dos seres humanos (Jo 7, 37-39; 4, 14). Na verdade, o Espírito Santo é a ternura maternal de Deus através da qual somos inseridos na Família Divina. São Paulo diz que o Espírito é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). O Espírito Santo é uma pessoa cujo jeito de ser é animar relações de amor e criar vínculos de comunhão orgânica.
A História da Humanidade está marcada com o selo do Amor Criador de Deus! Ao nascer da aurora, Deus amassou o barro que serve de matriz à Humanidade. Depois, Deus deu-lhe um beijo e este ficou um ser animado pelo sopro vital de Deus. Quando chegou o meio-dia, isto é, o início da plenitude dos tempos, Deus deu outro beijo à Humanidade, oferecendo-lhe o dom da Salvação em Cristo.
Graças ao dom da revelação, os cristãos conhecem e celebram este plano amoroso de Deus. A sua missão, portanto, é completar a paixão de Cristo, isto é, anunciar aos homens o amor incondicional de Deus. Após o pecado humano, Deus, cheio de ternura, vem todos os dias ao alto da colina na esperança de ver o filho pródigo regressar (Lc 15, 11-32).
Com Cristo ressuscitado, a Humanidade recebe o grande dom do Espírito Santo, o qual faz surgir o Homem Novo reconciliado com Deus, como diz São Paulo (2 Cor 5, 17-21). Na verdade, a pessoa só se encontra na reciprocidade amorosa. Possui-se na medida em que se dá. Na verdade, é dando-se que a pessoa se encontra e possui plenamente.
A fome de plenitude que todos sentimos só pode ser saciada através das relações de comunhão amorosa. Na sua interioridade espiritual, a pessoa situa-se ao nível do ser, não do ter, eis a razão pela qual ao dar-se, não se perde, mas se encontra e se encontra assumida em Deus.
O Espírito Santo é o Sangue da Nova Aliança, a carne e o sangue de Cristo ressuscitado, isto é, o alimento da Vida Eterna (Jo 6, 62-63). É a Água Viva que gera um rio de Vida Eterna no nosso coração (Jo 4, 14; 7, 37-39).
Ao falar da Eucaristia, o Evangelho de São João associa Jesus ressuscitado à Árvore da Vida cujo fruto nos proporciona a vida eterna: “Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também quem me come, viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu” (Jo 6, 57-58). A Árvore da Vida, diz o Apocalipse, está na plenitude do Paraíso:“Felizes os que vencem as tribulações e a oposição dos inimigos da Fé, pois Deus dar-lhes-á a comer o fruto da Árvore da Vida” (Apc 2, 7).
Na Nova Jerusalém todos contemplam de modo direto a face do Senhor (Apc 22, 4). Esta passagem faz-nos lembrar a primeira Carta de São João a qual afirma que, no Céu, todos são semelhantes ao próprio Deus, pois contemplam-no tal como ele é (1 Jo 3, 2).
O Espírito Santo é o pão espiritual que comemos e faz de nós corpo de Cristo (1 Cor 10, 17; 12, 27). Em perspectivas cristãs, a fome de felicidade e plenitude que vibra no mais íntimo do nosso ser, é um apelo a caminharmos na linha da fraternidade e da comunhão.
Na verdade, não fomos feitos para estar sós. A morte espiritual é igual a solidão radical. É isto o que, em linguagem cristã, se chama estado de inferno. Cristo Ressuscitado comunica-nos o Espírito Santo, não como algo que lhe é exterior, mas como uma realidade intrínseca ao seu ser humano-divino.
Por outras palavras, é o Espírito Santo que faz de Jesus de Nazaré e da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade um só Cristo, homem connosco e Deus com o Pai e o Espírito Santo. É o mesmo Cristo que nos comunica o Espírito Santo de modo intrínseco, pois é deste modo que o Espírito Santo age e dinamiza a interação humano-divina de Cristo.
Jesus, no evangelho de João, explica este mistério usando uma imagem muito bonita: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, a fim de dar mais fruto (…). Permanecei em mim e eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim” (Jo 15, 1-4).
É este o jeito de Cristo se unir a nós através do Espírito Santo. O Espírito Santo, com o seu jeito maternal de amar, introduz-nos na família divina como filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação a Deus Filho (Rm 8, 14-16; cf. Ga 4, 4-7). O mistério da Encarnação significa a plenitude dos tempos, a qual acontece de modo gradual e progressivo.
Durante cerca de trinta anos só um homem, Jesus de Nazaré, era divino, isto é, organicamente incorporado da comunhão da Família Divina. Com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, a Humanidade é divinizada, isto é, organicamente assumida e incorporada na comunhão divina.
Com Jesus Cristo, a Humanidade entrou na fase dos acabamentos. Antes de Cristo, o Homem estava apenas em processo de humanização. Como a morte e ressurreição de Cristo, a Humanidade entra na fase da sua divinização.
A divinização significa a incorporação na comunhão orgânica da Santíssima Trindade como filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação a Deus filho. O ser humano é capaz de comungar na medida em que está humanizado. Isto quer dizer que será eternamente mais divino quem mais se tiver humanizado na história.
A festa do Reino é a superação total da solidão e a conquista definitiva da felicidade que só acontece no face a face da comunhão com Deus. Como vemos, a nossa humanização depende de nós, pois não é uma fatalidade. Acontece através de um encadeamento de opções, decisões, escolhas e realizações na linha do amor.
A humanização do ser humano é um processo histórico cuja lei é:“Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal. A história que construímos estrutura o nosso ser pessoal, o qual é na sua essência, espiritual e eterno.

20. maio 2010 · 1 comment · Categories: Celibato

Só quando vivemos uma forte solidão existencial, despojado de tudo e de todos, sem cultuar nada e ninguém no nosso interior, embora cercados de pessoas, é que podemos estar diante de Deus, reunindo toda a coragem de ser e ser só para Ele. E depois ser com Ele mais plenamente para todos os outros.
Os verdadeiros e grandes encontros com Jesus Cristo ocorrem quando estamos existencialmente a sós com Ele, quando nada mais nos resta, nem temos mais ninguém com quem contar. Realmente Jesus é o último a nos deixar e nunca se vai … Quando há uma solidão existencial afetiva, as orações e os encontros com Deus são mais fecundos e duradouros, como as primeiras notas musicais após a pausa.
Na Bíblia, em Habacuc 3, 16-19 vemos um texto que nos enche de esperança em situações difíceis. Quem já experimentou a dor da desestruturação afetiva, da rejeição, conhece a sensação de estar continuamente diante da morte, esperando por sua ameaça imprevisível. É viver a expectativa da desintegração. “…a cárie penetrou nos meus ossos, e os meus passos vacilam debaixo de mim.” (versículo 16) Além de doer, o desamor corrói os nossos apoios, fazendo os passos vacilarem; é uma verdadeira aflição. Apesar desse clima de fracasso exterior, de improdutividade, de pouca colheita, de falta de alimento afetivo, (versículo 17), podemos ainda encontrar alegria em Deus e receber d’Ele a força de viver. “Eu, porem, regozijar-me-ei no Senhor. Encontrarei minha alegria no Deus de minha salvação. Javé, meu senhor, é minha força, ele torna os meus pés ágeis como os da corça, e me faz andar sobre os cimos.” versículo 18 e 19. Realmente, Os Evangelhos apresentam vários casos de encontros profundos com o Senhor Jesus, após estes períodos de solidão existencial. Nesse contexto, o celibato pode ser visto como uma situação especial de solidão afetiva que só encontra sentido na contemplação, ocasião de fonte de fecundidade para consolidar com Deus um Amor indiviso, capaz de levar avante o projeto do Amor de Deus para todos os homens.
O celibato, às vezes, é erroneamente considerado como um grande heroísmo, devido ao engano da inflação sexual desta época em que vivemos. Podemos constatar este erro, se considerarmos que há um grande número de pessoas rejeitadas que estão em solidão existencial desde que nasceram, sem terem feito opção, sem ser por Deus, sem ser por Amor. E o celibato é só um pálido reflexo da dor dos rejeitados, uma vez que a solidão existencial dos consagrados, além de ser parcial (só conjugal), é plena de sentido (por Jesus).
A mulher adultera, em João 8,1-11, quando apanhada em flagrante, foi abandonada até pelo seu parceiro. Mas, o Senhor estava lá, e não foi embora. Quando a gente peca, Jesus assiste a todos os nossos pecados, é sempre testemunha ocular. Ela só teve um encontro forte com o Senhor depois que ficaram à sós. No versículo 9, diz que Jesus ficou sozinho com a mulher, e perguntou a ela: “Mulher, onde estão os que te acusavam ? Ninguém te condenou ? Respondeu ela : Ninguém, Senhor.” Todos se foram. Jesus disse : ”Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar. “ Que alívio , quando a mulher adúltera pôde ser existencialmente diante do Senhor Jesus! Sem máscaras, sem cobranças, e ser ela mesma gratuitamente, pecadora, diante do Senhor que ama, e a amou de verdade e lhe deu Vida Nova! Isto é Ressurreição!
A mulher hemorroísa de Marcos 5,25-34 deixou os médicos, os remédios, 12 anos de vida sofrendo decepções humanas, sofrendo muito nas mãos de vários médicos, verso 25-26, tendo gasto todo o seu dinheiro sem alívio, depois de tanta confiança depositada em soluções humanas resolveu confiar só em Jesus, na sua solidão contentou-se com a orla de seu manto, verso 27-28.
Os muito rejeitados do mundo contentam-se com tão pouco, um sorriso, um olhar de atenção, já é o suficiente, é a orla do manto! Mas, se não tem formação e com baixa auto-estima, prostituem-se devido à carência de afeto, aceitando qualquer carinho.
“Se eu tocar, ainda que seja na orla de seu manto, ficarei curada.” Na sua humildade, na sua solidão, queria pelo menos que a presença amorosa de Jesus, procurou um pedaço do pano de sua roupa… Mas Jesus nos ensina que não devemos nos contentar só com o manto, Ele quer encontrar-se conosco! Ele não rejeita um coração sozinho!
Jesus é o Eterno Companheiro, Amoroso, Habitante Permanente das nossas solidões! O necessário é que tendo deixado tudo e a todos não nos contentemos só com o manto, mas busquemos o Olhar de Jesus! (alguns religiosos tem se contentado só com a veste, consumindo-se unicamente no serviço). A mulher ficou constrangida quando Ele perguntou: “Quem tocou minhas vestes?” Jesus a procurava com Amor, verso 30 e 32. Seu Coração é atraído quando só temos a Ele! Ele nos busca!… É condição necessária para assumir uma vida celibatária, crer na Ressurreição!
A própria reclamação de Marta, “Senhor não te importa que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude” revela que a Maria deixou o serviço e a irmã para estar só com Jesus. Na resposta de Jesus, a contemplação deve ser anterior ao serviço e necessária para sustentá-lo. (ver em Lucas 10,38-42). Santa Teresa diz: “Eis a finalidade deste matrimônio espiritual com Deus, da oração de União: que dele nasçam obras, sempre obras.”
Quando Pedro, em Lucas 22,54-62, se sentiu sozinho no meio da multidão, após ter traído Jesus, encontrou o olhar acolhedor de Jesus, verso 61, e mergulhou no “Tu”. Jesus é este que nunca condena que nunca rejeita no pior estado em que estivermos. Pedro chorou amargamente, é duro machucarmos quem nos ama de verdade!…
O cego de Jericó, em Marcos 10,46-52, também ignorou tudo e todos, tirou a capa, desconsiderou as recomendações dos outros e gritou como alguém que só tinha Jesus pela frente: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim !” (ele não tinha outras vontades: ele queria a Jesus). Ele teve um encontro com Jesus exatamente porque estava muito só e em extrema pobreza. Era um mendigo. A sua solidão, sua pobreza e o seu pedido de socorro atraíram Jesus que parou e disse: “Chamai-o”. Ele teve pobreza de coisas, de pessoas, de vontade, de normas e etiquetas sociais, então pôde encontrar-se com o Último a nos deixar.
Zaqueu, em Lucas 19,1-10, também desconsiderou sua posição sócio-econômica, seus bens, as pessoas, e se lançou para ver Jesus, tentando superar sua pequenez, afastou-se de todos subindo a uma árvore, um sicômoro. Jesus, chegando àquele lugar, viu a solidão de Zaqueu, verso 5, e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que Eu fique hoje, em tua casa.” Jesus se hospeda na nossa solidão existencial.
Um dos mais interessantes encontros com Jesus foi o de Pedro em Mateus 14,22-33. Pedro estava com os outros discípulos na mesma barca, mas só Pedro teve o encontro com Jesus sobre as águas. Qual a diferença entre Pedro e os outros discípulos?
Pedro teve a coragem de deixar a segurança da barca, o serviço, deixar os companheiros para ser só com Jesus. E, entrou em solidão existencial deixando sua própria sabedoria, seu ser racional, confiou só em Jesus, pisando duro em águas moles. A força desta audácia está no Olhar de Jesus, só a contemplação nos dá a segurança de existir só. E se vacilarmos na caminhada, estaremos nos Braços de Jesus ou bem perto dele, se nos mantermos em contemplação.
Pedro ignorou a barca, as pessoas, suas teorias de bom pescador e confiou em Jesus então andou sobre as águas. Mas, momentos antes de confiar em Jesus precisou deixar tudo, ser totalmente pobre.
Além da pobreza de coisas, de pessoas, de carinhos, de reconhecimento, pobreza de vontade, de desejos, de emoções, de querer prodígios, milagres é necessário a pobreza de contentar-se só com Jesus, de ser só para Jesus no cotidiano, no comum, no dia à dia, sem acontecer nada de novo. Quando só restar a nossa fidelidade constante e diária de ser de Jesus, para servir e amar os irmãos, em Nome dele, somos mesmo consagrados.
Todas estas pessoas: a mulher adúltera, a hemorroísa sofredora, a Marta, o Zaqueu, o cego de Jericó, o Pedro, estão na vida dos consagrados, para serem amados por eles e por Jesus neles. Mas, para que os consagrados aprendam a amá-los é necessário vivenciar as condições existenciais da vida deles: a solidão dos abandonados e rejeitados. O celibato é um pálido reflexo da solidão afetiva da vida dos rejeitados e dá condição para, em verdade, poder atender bem e dizer: “Eras Tu, Senhor, neste que amei com paixão, com dor, com Teu Amor e com minha vida?!”.
Tudo para a maior Glória de Deus! E que não tenhamos medo de ser só com o “Último a nos deixar e que nunca se vai”… O Nosso Senhor Jesus Cristo!

De alguns anos para cá tem sido desenvolvida uma poderosa campanha, por parte da mídia e de grupos (pseudo) católicos, contra o celibato, especialmente o sacerdotal. É fato que tais ataques coincidem com a crise que assola a Igreja desde meados da década de 1960 e com a chamada “revolução sexual” – que veio como efeito colateral ao surgimento de métodos anticoncepcionais altamente eficazes. Houve, nesse período, forte mudança na mentalidade ocidental, que vinha se caracterizando, desde o final do século XVIII – especialmente – por uma constante secularização de seus costumes. Porém, na segunda metade do século XX, esse fenômeno intensificou-se muito, com boa parte da sociedade ignorando cada vez mais os princípios de uma via cristã reta.
O celibato é um dos grandes presentes que Deus concede à Igreja. O próprio Deus feito homem – e perfeito homem -, Jesus Cristo, assumiu a condição de celibatário. Não só Ele, como também a mais perfeita das criaturas – a Santíssima Sempre Virgem Maria – e também seu castíssimo esposo, São José. Todos eles, celibatários. Os apóstolos, também, celibatários. Mesmo São Pedro, que possuía uma sogra – e, por extensão e obviamente, uma esposa – abandonou tudo para seguir a Jesus. E “tudo” pressupõe uma entrega, de fato, total, pois São Paulo explicita que o homem casado deve dividir suas atenções entre Deus e a família, e o fato de São Pedro ter deixado tudo para trás indica total dedicação ao apostolado.
A grande tradição espiritual da Igreja ainda sustenta que o perfeito modelo de homem a ser seguido é, evidentemente, o de Nosso Senhor, o que deixa claríssimo que a pessoa que esteja disposta a buscar um estado de “maior perfeição”, por assim dizer, deve buscar o celibato. O celibatário imita, com maior perfeição, à Nosso Senhor.
Além disso, conforme bem nos indica São Paulo, o celibatário pode dedicar-se integralmente suas atenções ao apostolado, enquanto o casado deve santificar-se tanto no apostolado, como na vida em família, ou seja, dividindo atenções. Principalmente no caso dos sacerdotes, a dedicação total aos trabalhos apostólicos é fundamental. Já nos ensina o Mestre: “a messe é grande e pouco são os operários”. De fato, Cristo, com essa afirmação, acaba anunciando que o número de fiéis será sempre grande, e que o número de pessoas dispostas a servi-Lo com seriedade seria pequeno. Ocorre que, da década de 1960 para cá, o número de vocações caiu assustadoramente. Inclusive, um número impressionante de sacerdotes pediu dispensa de suas funções, nesse período. Esse é o mote de que muitos (pseudo) católicos precisavam: a solução para tal crise seria, portanto, acabar com o celibato obrigatório. Com isso haveria aumento no número de vocações. Nada mais falso.
O núcleo deste argumento é que o celibato não é um dogma, antes uma disciplina da Igreja que, assim como foi instituída em um determinado período, pode ser revogada a qualquer momento. A questão não é tão simples assim. O celibato tornou-se disciplina obrigatória para os sacerdotes, na Igreja Latina, a partir do século XI. Isso não significa que, antes disso, havia enorme quantidade de padres casados, muito pelo contrário.
No Ocidente foi notável o número de sacerdotes que, livremente, decidiam-se a ser celibatários, tanto para buscar melhor imitação de Cristo, como para dedicar-se com mais afinco às atividades sacerdotais. Os próprios bizantinos, antes do cisma de 1054, achavam estranho essa postura dos sacerdotes ocidentais em manter-se, em sua ampla maioria, celibatários. Além disso, vários concílios regionais já haviam optado pelo celibato obrigatório aos sacerdotes, vendo os grandes benefícios que esta condição trazia.
Passado um milênio, não é assim tão simples alterar uma norma como essa. A própria implantação dessa norma foi em um contexto no qual o celibato já era a “regra” para os sacerdotes, e não a “exceção”. Está fortemente arraigada, na mentalidade ocidental, a noção de sacerdócio associado ao celibato. E essa é uma regra que trouxe impressionantes frutos para a Igreja, ao longo dos séculos, especialmente pensando as audazes missões, como a dos jesuítas, por exemplo, que seriam completamente impossibilitadas para uma pessoa com família.
Porém, os argumentos desses grupos não acabam por aí. Com muita audácia, sustentam que, com o fim do celibato obrigatório, haveria um aumento considerável no número de vocações, resolvendo assim o problema da escassez de sacerdotes. A falta de fé, contida nesse argumento, é impressionante. Como mencionado anteriormente, o próprio Cristo avisou que haveria poucos operários para a messe, e ordenou (sim, no imperativo): “Rogai, pois, ao Senhor da messe, para que envie mais operários”. Parece que para algumas pessoas é muito difícil a oração, e preferem revoltar-se contra as disposições da Igreja a seguir as recomendações do Senhor. Além disso, como a própria etimologia da palavra indica, a “vocação” é algo dado por Deus, um chamado. Ora, como assegurar, então, que, cessando a norma do celibato, aumentaria – certamente – o número de sacerdotes? Como essas pessoas sabem que Deus suscitaria mais vocações nesse caso? Acaso é possível fazer uma análise estatística e probabilística sobre a ação de Deus na vida das pessoas?
Alguns acabam esquecendo que a Igreja possui as chaves do céu e da terra, e que tudo que for ligado/desligado na terra será ligado/desligado no céu. Ora, a Igreja sabiamente “desligou” a possibilidade (ao menos na Igreja Latina, no Ocidente) de pessoas casadas tornarem-se sacerdotes. Logo, Deus – em conformidade com a promessa feita por Jesus – também “desliga” essa possibilidade: pessoas casadas definitivamente não possuem vocação sacerdotal. Evidente que para pessoas com um resquício mínimo de fé, como esses (pseudo) católicos, fica difícil aceitar esse argumento. Por outro lado, uma pessoa com verdadeira confiança em Deus sabe que a Divina Providência guia indiretamente a Igreja e que Cristo, verdadeira cabeça da Igreja, faz Sua Vontade prevalecer.
Também é importante lembrar que há várias igrejas orientais, em perfeita comunhão com Roma, nas quais o celibato não é regra e há, portanto, sacerdotes casados. Um exemplo dessas é a Igreja Maronita. No último Sínodo dos Bispos, realizado em 2005 por ocasião do encerramento do Ano da Eucaristia, a questão do celibato foi tratada por nossos amados pastores. Dentre esses bispos, participou o Cardeal Nasrallah Pierre Sfeir, Patriarca da Antioquia dos Maronitas (Líbano). Ele explicou que o celibato não é solução para a falta de clero, explicando que: “a metade de nossos sacerdotes diocesanos estão casados. Mas terá que reconhecer que se o matrimônio dos sacerdotes resolve um problema, também cria outros graves”. Ele argumenta que “um sacerdote casado tem o dever de ocupar-se de sua esposa e de seus filhos, de lhes assegurar uma boa educação, de lhes garantir o futuro”. “Outra dificuldade para um sacerdote casado pode ser a de não entender-se com seus paroquianos. Apesar disso, seu bispo não pode transferi-lo devido à impossibilidade de que sua família se desloque com ele”.
E conclui: “o celibato é a jóia mais preciosa do tesouro da Igreja Católica”. Na Igreja Maronita também há escassez de sacerdotes, mesmo não havendo celibato obrigatório.
Então, qual seria a explicação para a escassez de vocações? Ora, a crise no clero está associada a uma crise mais ampla, da sociedade como um todo. Não há apenas falta de sacerdotes, mas carência de matrimônios cristãos, onde o casal esteja aberto a receber os filhos que Deus queira enviar, com muita generosidade, educando os filhos num ambiente verdadeiramente cristão. Aliás, se a maioria das famílias se preocupassem de fato a dar uma educação cristã digna à seus filhos, certamente haveria muito mais vocações sacerdotais e religiosas. Tanto que em grupos católicos onde a fé é vivida com mais seriedade, como na RCC, Regnum Christi, dentre outros movimentos, há enorme abundância de vocações. Logo vê-se que o problema não é a falta de vocações, mas sim a falta de fé.
Impressionante ainda é o fato de que muitas pessoas, mesmo não católicas, optam pelo celibato. Eu mesmo conheço uma pessoa assim, que optou, em boa parte de sua vida (até hoje, aliás), a não formar uma família, pois deveria cuidar dos pais gravemente doentes. Há, ainda, muitos leigos, atualmente, que praticam o celibato apostólico – não religioso. Essa escolha é feita por amor à Cristo, para dedicar sua vida exclusivamente ao apostolado, além de manter as atividades normais de um leigo, notadamente um trabalho profissional.
Mais curioso, porém, é o argumento sobre a dificuldade de manter-se celibatário. As pessoas olham com pena a um celibatário, pensando: “coitadinho, não vai ter família”. Ou – pior ainda – “nunca vai manter uma relação sexual”. Esquecem que Cristo prometeu que daria cem vezes mais àqueles que entregaram tudo – e isso inclui a família, eventualmente – por amor a Ele. E que a vocação, seja ela ao celibato ou ao matrimônio, é um presente maravilhoso de Deus que deve ser acolhido com muita alegria. Pior ainda é aqueles que defendem que, caso os padres fossem casados, haveria a diminuição dos problemas de homossexualidade no clero, e de pedofilia, afinal é “muito difícil” manter o celibato. Ora, se por um lado o celibatário abre mão de todas as mulheres do mundo, por outro lado a pessoa casada abre mão de todas, menos uma – que é a sua esposa. A diferença é apenas de uma pessoa, afinal também não é nada fácil para um marido manter-se fiel à sua esposa, especialmente sabendo que Cristo assegurou-nos que aquele que apenas deseja uma mulher com o olhar já cometeu adultério no coração. É muito difícil viver essa pura intenção na prática, e por acaso alguém aí defende a poligamia para os cristãos? Ou a infidelidade conjugal? Afinal, Deus concede graças especiais para as pessoas viverem santamente em seu estado, seja o celibato, seja o matrimônio, e portanto as falhas provêm de nossas misérias e fraquezas, e não pela impossibilidade de manter-se casto no celibato ou no matrimônio.
O mais importante disso tudo é que, em todas as circunstâncias, o celibato é um ato extremo de amor. Em alguns casos, amor dos filhos em relação aos pais gravemente doentes, e que precisam de cuidados especiais; no caso de muitos cristãos, um profundo amor a Deus. Amor tão grande que possibilita a própria negação de si mesmo, afinal, Cristo exige grandes renúncias para segui-Lo: a uns pede mais – o celibato, ou seja, a própria vida – e a outros pede um pouco menos. E essa entrega não encerra em si tristeza, muito pelo contrário, é fonte de grande alegria, pois cumprir a vontade de Deus em nossas vidas é sempre a maior felicidade que podemos alcançar. O que não podemos permitir, como cristãos, é que o maravilhoso dom do celibato seja atacado covardemente por pessoas que, infelizmente, não conseguem compreender a grandeza de amor que este encerra em si.