As pessoas consagradas e os fiéis leigos juntos na escola
“Um dos frutos da doutrina da Igreja como comunhão, nestes anos, foi a tomada de consciência de que os seus vários membros podem e devem unir as suas forças, numa atitude de colaboração e permuta de dons, para participar mais eficazmente na missão eclesial. Isto concorre para dar uma imagem mais articulada e completa da própria Igreja, para além de tornar mais eficiente a resposta aos grandes desafios do nosso tempo, graças ao concurso harmonioso dos diversos dons”. Neste contexto eclesial a missão da escola católica, vivida por uma comunidade constituída por pessoas consagradas e por fiéis leigos, assume um significado muito particular e manifesta uma riqueza que é preciso saber reconhecer e valorizar. Esta missão exige, de todos os membros da comunidade educativa, a consciência de que uma iniludível responsabilidade em criar o estilo original cristão compete aos educadores, como pessoas e como comunidade. Exige deles que sejam testemunhas de Jesus Cristo e manifestem que a vida cristã é portadora de luz e de sentido para todos. Assim como a pessoa consagrada está chamada a testemunhar a sua vocação específica à vida de comunhão no amor, para ser na comunidade escolar sinal, memória e profecia dos valores do Evangelho, assim também ao educador leigo é pedido que realize “a sua missão na Igreja vivendo na fé a sua vocação secular na estrutura comunitária da escola”.
O que torna verdadeiramente eficaz este testemunho é a promoção, também no interior da comunidade educativa da escola católica, daquela espiritualidade da comunhão que foi indicada como a grande perspectiva que se abre de par em par à Igreja do terceiro milênio. E espiritualidade da comunhão significa “capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico, isto é como ‘um que faz parte de mim'”; “capacidade que tem a comunidade cristã de dar espaço a todos os dons do Espírito” numa relação de reciprocidade entre as várias vocações eclesiais. Também naquela particular expressão da Igreja que é a escola católica, a espiritualidade da comunhão deve tornar-se o respiro da comunidade educativa, o critério para a plena valorização eclesial dos seus componentes e o ponto de referência fundamental para a realização de uma missão autenticamente partilhada.
Assim, nas escolas católicas que nasceram das famílias religiosas, das dioceses, das paróquias ou de fiéis, que hoje no seu interior contam com a presença de movimentos eclesiais, esta espiritualidade de comunhão deverá traduzir-se numa atitude de marcada fraternidade evangélica entre as pessoas que respectivamente se reconhecem nos carismas dos Institutos de vida consagrada, nos dos movimentos ou das novas comunidades, e nos outros fiéis que trabalham na escola. Deste modo a comunidade educativa dá espaço aos dons do Espírito e reconhece estas diversidades como riqueza. Uma genuína maturidade eclesial, alimentada no encontro com Cristo nos sacramentos, permitirá valorizar, “quer nas formas mais tradicionais, quer nas mais recentes dos movimentos eclesiais […] uma vivacidade que é dom de Deus”, para toda a comunidade escolar e para o próprio percurso educativo.
As associações católicas de categoria constituem outro exemplo de “comunhão”, uma ajuda estruturada à missão educativa, e são um espaço de diálogo entre as famílias, as instituições do território e a escola. Estas associações, com as suas ramificações a níveis local, nacional e internacional, são uma riqueza que dá uma contribuição particularmente fecunda para o mundo educativo em nível das motivações e da profissionalidade. Muitas associações reúnem professores e responsáveis presentes tanto na escola católica como noutras realidades escolares. Graças ao pluralismo das pertenças, elas podem desempenhar uma importante função de diálogo e de cooperação entre instituições diversas, mas que têm em comum as mesmas finalidades educativas. Estas realidades associativas são chamadas a ter em consideração a mudança das situações, adequando assim a sua estrutura e o seu modo de trabalhar, para continuar a ser uma presença eficaz e incisiva no sector educativo. Elas devem intensificar também a colaboração recíproca, sobretudo para garantir a consecução dos objetivos comuns, no pleno respeito do valor e da especificidade de cada associação.
Além disso, é de importância fundamental que o serviço desempenhado pelas associações seja impulsionado pela plena participação na atividade pastoral da Igreja. Às Conferências Episcopais e às suas expressões continentais está confiado um papel promotor para valorizar as especificidades de cada associação, favorecendo e encorajando um trabalho mais coordenado no setor escolar.
A contribuição dos consagrados para a formação partilhada
As pessoas consagradas com a profissão dos conselhos evangélicos manifestam viver para Deus e de Deus e torna-se testemunho concreto do amor trinitário, para que os homens possam sentir o fascínio da beleza divina. Assim o primeiro e original contributo para a missão partilhada é a radicalidade evangélica da vida das pessoas consagradas. Em virtude do seu caminho vocacional, possuem uma preparação teológico-espiritual que, centrada no mistério de Cristo vivo na Igreja, tem necessidade de progredir incessantemente, em sintonia com a Igreja que caminha, na história, rumo “à verdade plena” (Jo 16, 13). Sempre nesta dinâmica requintadamente eclesial, as pessoas consagradas são convidadas a partilhar os frutos da sua formação também com os leigos, sobretudo com quantos se sentem chamados “a viver aspectos e momentos específicos da espiritualidade e da missão do Instituto”. Deste modo, os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica comprometidos na educação conseguirão garantir a abertura indispensável à Igreja e a manter vivo o espírito das Fundadoras e dos Fundadores, renovando, além disso, um aspecto particularmente precioso da tradição da escola católica. De fato, desde a origem as Fundadoras e os Fundadores dedicaram especial atenção à formação dos formadores e a ela dedicaram com freqüência as melhores energias. Uma tal formação, hoje como então, visa-se não só consolidar as competências profissionais, mas, sobretudo evidenciar a dimensão vocacional da profissão docente, favorecendo a maturação de uma mentalidade inspirada nos valores evangélicos, segundo as características específicas da missão do Instituto. Por esta razão “são bastante vantajosos àqueles programas de formação que incluem cursos periódicos de estudo e de reflexão orante sobre o fundador, o carisma e as constituições”.
Em muitos Institutos religiosos, a partilha da missão educativa com os leigos existe há muito tempo, tendo nascido com a comunidade religiosa presente na escola. O desenvolvimento das “famílias espirituais”, dos grupos de “leigos associados” ou de outras formas que permitem que os fiéis hauram fecundidade espiritual e apostólica do carisma originário, apresenta-se como um elemento positivo e de grande esperança para o futuro da missão educativa católica.
É quase supérfluo observar que, na perspectiva da Igreja-comunhão, estes programas de formação para a partilha da missão e da vida com os leigos, na luz do próprio carisma, devem ser considerados e realizados também onde as vocações para a vida consagrada são numerosas.
A contribuição dos leigos para a formação partilhada
Também os leigos, enquanto são convidados a aprofundar a sua vocação como educadores na escola católica, em comunhão com os consagrados, são também chamados a fornecer ao percurso formativo comum a contribuição original e insubstituível da sua plena subjetividade eclesial. Isto comporta, antes de mais, que eles descubram e vivam na sua “vida laical uma vocação específica e maravilhosa no âmbito da Igreja”: a vocação a “procurar o reino de Deus tratando as coisas temporais e ordenando-as segundo Deus”. Como educadores, eles são chamados a viver “na fé a [sua] vocação secular na estrutura comunitária da escola, com a maior qualificação profissional possível e com um projeto apostólico inspirado na fé para a formação integral do homem”.
É positivo ressaltar que a contribuição peculiar que os educadores leigos podem dar para o caminho formativo surge precisamente da sua índole secular, que os torna particularmente capazes de captar “os sinais dos tempos”. De fato, vivendo a sua fé nas condições ordinárias da família e da sociedade, podem ajudar toda a comunidade educativa a distinguir com mais clareza os valores evangélicos e os contra-valores que estes sinais contêm.
Com a progressiva maturação da sua vocação eclesial, os leigos são tornados cada vez mais conscientes de participar na mesma missão educadora da Igreja. Ao mesmo tempo, são estimulados a desempenhar um papel ativo também na animação espiritual da comunidade que constroem juntamente com os consagrados. “A comunhão e a reciprocidade na Igreja nunca vão em sentido único”. De fato, se noutros tempos eram, sobretudo os sacerdotes e os religiosos que nutriam espiritualmente e dirigiam os leigos, hoje pode acontecer que sejam “os próprios fiéis leigos que ajudam os sacerdotes e os religiosos no seu caminho espiritual e pastoral”.
Na perspectiva da formação, os fiéis leigos e as pessoas consagradas, partilhando a vida de oração e, nas formas oportunas, também de comunidade, alimentarão a sua reflexão, o sentido da fraternidade e da dedicação generosa. Neste comum caminho formativo catequético-teológico e espiritual, podemos ver o rosto de uma Igreja, que apresenta o de Cristo, rezando, escutando, aprendendo, ensinando em comunhão fraterna.