Ano da Fé

No Evangelho 20121023-092207.jpgde São Luca 4, 19, Jesus começando seu ministério, vai a Sinagoga come era do seu costume, em dia de sábado, e proclama que veio para cumprir a profecia dada por Isaias, dizendo que proclama um ano de graça. Na linguagem bíblica, isso significa um Kairós, um ano da graça de Deus.
A força do anuncio cristão se baseia, não somente na dimensão do perdão dos pecados da pessoa, mas na salvação de todo o homem. Isso nos dá uma dimensão que o cristianismo, não para simplesmente numa mudança de comportamento moral, mas num projeto de vida, que parte de um encontro pessoal com Jesus Cristo.

Aqui entramos no centro do Ano da Fé, desejado por Bento XVI. Favorecer um constante encontro pessoal com Jesus Cristo, e este encontro que cria em nós a fé. Mas para que serve o Ano da fé? Como podemos viver este Ano da Fé? E o que será este Ano da Fé? Continue lendo…

Do Catecismo de São João Maria Vianney, presbítero
(Catéchisme sur la prière: A.Monnin, Esprit du Curé d’Ars, Paris1 899, pp.87-89)

(Séc.XIX)

20120804-083955.jpgA mais bela profissão do homem é rezar e amar

Prestai atenção, meus filhinhos: o tesouro do cristão não está na terra, mas nos céus. Por isso, o nosso pensamento deve estar voltado para onde está o nosso tesouro. Esta é a mais bela profissão do homem: rezar e amar. Se rezais e amais, eis aí a felicidade do homem sobre a terra.

A oração nada mais é do que a união com Deus. Quando alguém tem o coração puro e unido a Deus, sente em si mesmo uma suavidade e doçura que inebria, e uma luz maravilhosa que o envolve. Nesta íntima união, Deus e a alma são como dois pedaços de cera, fundidos num só, de tal modo que ninguém pode mais separar. Como é bela esta união de Deus com sua pequenina criatura! É uma felicidade impossível de se compreender. Nós nos havíamos tornado indignos de rezar. Deus, porém, na sua bondade, permitiu-nos falar com ele. Nossa oração é o incenso que mais lhe agrada. Contineu lendo…

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA BENTO XVI QUARESMA DE 2012
«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos
ao amor e às boas obras» (Heb 10, 24)

Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011

BENEDICTUS PP. XVI

Caríssimos irmãos e irmãs, depois de quarenta dias do Natal, nos encontramos aqui para esta solenidade que particularmente envolve três realidades da vida dos cristãos: Apresentação do Senhor ao tempo e ao mundo, a antiga festa das luzes, ou melhor da Luz, e a festa da Vida Consagrada.
Três realidades que se relacionam muito bem entre elas. O Cristo é apresentado hoje ao mundo como luz das nações através a continuidade da sua passagem no mundo pelo testemunho fervoroso e vivo dos religiosos consagrados ao Senhor.
Estas três festas em um único dia nos é explicado na pessoa de Simeão.
Simeão, piedoso e justo, como diz o Evangelho, esperava a consolação do povo de Israel. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Cristo Senhor (Lc 2, 25.26).
Poderíamos perguntar em que se beneficiou ele por ter visto a Cristo. Fora-lhe prometido somente vê-lo, sem que esta visão lhe trouxesse algo de salutar, ou esta promessa esconderia um presente digno de Deus, que Simeão mereceu receber?
Certa mulher foi curada por ter apenas tocado a franja da veste de Jesus! Se ela se beneficiou de tal favor, que pensar de Simeão, que recebeu o menino nos braços? Feliz de tê-lo nos braços, alegrava-se ao pensar que sustentava o que viera libertar os cativos, e também a ele dos laços de seu corpo. Sabia que ninguém pode libertar um outro da prisão do corpo com a esperança da vida futura, a não ser aquele que tinha em seus braços. Por isso ele diz: Agora, Senhor, deixa teu servo ir em paz (Lc 2, 29), pois estava prisioneiro e não podia libertar-se de seus laços, enquanto não tinha Cristo em seus braços. Note-se, todavia, que isto é válido não somente para Simeão, mas para todo o gênero humano. Se alguém deixa este mundo e quer conquistar o Reino, tome Jesus nas mãos, envolva-o em seus braços, aperte-o contra o peito e então poderá dirigir-se velozmente para onde deseja!
Considera tudo o que precedeu o momento em que Simeão teve a ventura de carregar o Filho de Deus. Recebeu primeiramente a revelação do Espírito Santo, de que não veria a morte antes de ter visto o Cristo Senhor. Em seguida, não foi por acaso nem totalmente sozinho que entrou no Templo; mas veio impelido pelo Espírito Santo. E todos aqueles que o Espírito Santo anima, são filhos de Deus. É, pois, o Espírito Santo que os leva ao Templo. Se tu também queres ter Jesus, abraçá-lo em teus braços e tornar-te digno de sair da prisão, esforça-te por te deixares conduzir pelo Espírito, para alcançares o templo de Deus. Ora, já te encontras no templo do Senhor Jesus, isto é, na Igreja, seu templo construído de pedras vivas.
Se vens impelido pelo Espírito, encontrarás o Menino Jesus, tomá-lo-ás em teus braços, e dirás: Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixa teu servo ir em paz. Observa, de passagem, que a libertação e o ponto de partida acompanham-se da paz. E quem morre em paz, senão aquele que tem a paz de Deus que ultrapassa toda compreensão e guarda o coração de quem a possui? Quem é que se retira em paz deste mundo, senão aquele que compreende que Deus veio, em Cristo, reconciliar-se com o mundo?
Comunidade Canção Nova, eis aqui a nossa missão. Não foi por acaso que exatamente num dia tão simbólico para o cristianismo a 34 anos atras os nossos primeiros irmãos faziam o sonho de Deus se realizar em uma pequena cidade do interior do estado de São Paulo.
Olhando para a história da Canção Nova os sonhos são outros? Pois muita coisa mudou, cresceu, desenvolveu, apareceu. Não, o sonho de Deus, não mudou. Pelo contrario, ainda não foi totalmente realizado. Por que? Três coisas simples, mas muito empenharias.
1- Nem todos os filhos de Deus ainda não viveram a experiência de Simeão, de ter Jesus, mais do que nos braços, mas inteiramente no coração, aderindo a Ele como Senhor e Salvador.
2- Com isto, nem todos os filhos de Deus tomaram consciência de que em Jesus, são sal da terra e luz do mundo, e por isso, as vezes parece que vivemos em uma constante escuridão.
3- A nossa consagração precisa ser mais que um ato de renovação anual, como estamos fazendo hoje, mas deve se tornar um verdadeiro ato profético consciente para nós e para todos aqueles aos quais somos enviados.
Ao renovar o nosso compromisso, nos lembremos de tantos e tantos Simeão que conscientes ou não esperam ansiosamente a apresentação de Jesus, Luz do mundo pelo testemunho sincero dos consagrados a Deus na Cancao Nova.
Assim seja!

Solenidade de Pentecostes
Basílica de São Pedro
Domingo, 12 de junho de 2011

Queridos irmãos e irmãs!

Celebramos hoje a grande Solenidade de Pentecostes. Se, em certo sentido, todas as solenidades litúrgicas da Igreja são grandes, esta de Pentecostes o é de maneira singular, porque assinala, chegado o quinquagésimo dia, o cumprimento do evento da Páscoa, da morte e ressurreição do Senhor Jesus, através do dom do Espírito do Ressuscitado. Para Pentecostes, a Igreja preparou-nos nos dias passados com a sua oração, com a invocação repetida e intensa a Deus para obter uma renovada efusão do Espírito Santo sobre nós. A Igreja reviveu, assim, aquilo que aconteceu nas suas origens, quando os Apóstolos, reunidos no Cenáculo de Jerusalém, “eram perseverantes e unânimes na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele” (At 1,14). Estavam reunidos em humilde e confiante espera de que se cumprisse a promessa do Pai comunicada a eles por Jesus: “Vós sereis batizados no Espírito Santo daqui há poucos dias… descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força” (At 1,5.8).

Na liturgia de Pentecostes, à narração dos Atos dos Apóstolos sobre o nascimento da Igreja (cf. At 2,1-11), corresponde o salmo 103, que escutamos: um louvor a toda a criação, que exalta o Espírito Criador, o qual fez tudo com sabedoria: “Ó Senhor, quão variadas são as vossas obras! Feitas, todas, com sabedoria, a terra está cheia das coisas que criastes… Ao Senhor, glória eterna; alegre-se o Senhor em suas obras!” (Sal 103,24.31). Aquilo que deseja dizer-vos a Igreja é isto: o Espírito Criador de todas as coisas e o Espírito Santo que Cristo fez descer do Pai sobre a comunidade dos discípulos são um e o mesmo: criação e redenção se pertencem reciprocamente e constituem, em profundidade, um único mistério de amor e de salvação. O Espírito Santo é, antes de tudo, o Espírito Criador e, portanto, Pentecostes é a festa da criação. Para nós, cristãos, o mundo é fruto de um ato de amor de Deus, que fez todas as coisas e das quais Ele se alegra porque é “coisa boa”, “coisa muito boa”, como recorda-nos a narração da criação (cf. Gen 1,1-31). Deus, por isso, não é o totalmente Outro, inominável e obscuro. Deus revela-se, tem um rosto, Deus é razão, Deus é vontade, Deus é amor, Deus é beleza. A fé no Espírito Criador e a fé no Espírito que o Cristo Ressuscitado dá aos Apóstolos e dá a cada um de nós estão, portanto, inseparavelmente unidas.

A segunda Leitura e o Evangelho de hoje mostram-nos essa conexão. O Espírito é Aquele que nos faz reconhecer em Cristo o Senhor, e faz-nos pronunciar a profissão de fé da Igreja: “Jesus é o Senhor” (cf. 1 Cor 12,3b). Senhor é o título atribuído a Deus no Antigo testamento, título que na leitura da Bíblia ocupava o lugar do seu impronunciável nome. O Credo da Igreja é nada mais que desenvolvimento disto que se diz com esta simples afirmação: “Jesus é o Senhor”. Dessa profissão de fé, São Paulo diz-nos que se trata da palavra e da obra do Espírito Santo. Se desejamos estar no Espírito, devemos aderir a esse Credo. Fazendo-o nosso, aceitando-o como nossa palavra, adentramos na obra do Espírito Santo. A expressão “Jesus é o Senhor” pode-se ler nos dois sentidos. Significa: Jesus é Deus, e contemporaneamente: Deus é Jesus. O Espírito Santo ilumina esta reciprocidade: Jesus tem dignidade divina, e Deus tem o rosto humano de Jesus. Deus se mostra em Jesus e, com isso, dá-nos a verdade sobre nós mesmos. Deixar-nos iluminar no profundo por essa palavra é o evento de Pentecostes. Recitando o Credo, nós entramos no mistério do primeiro Pentecostes: da desordem de Babel, daquelas vozes que se chocam uma contra a outra, acontece uma radical transformação: a multiplicidade se faz multiforme unidade, do poder unificador da Verdade cresce a compreensão. No Credo, que nos une de todos os ângulos da Terra, que, mediante o Espírito Santo, permite que nos compreendamos, ainda que na diversidade das línguas, por meio da fé, a esperança e o amor, forma-se a nova comunidade da Igreja de Deus.

O trecho evangélico oferece-nos depois uma maravilhosa imagem para clarear a conexão entre Jesus, o Espírito Santo e o Pai: o Espírito Santo é representado como o sopro de Jesus ressuscitado (cf. Jo 20,22). O evangelista João retoma aqui uma imagem da narração da criação, lá onde se diz que Deus soprou nas narinas do homem um sopro de vida (cf. Gen 2,7). O sopro de Deus é vida. Ora, o Senhor sopra na nossa alma um novo sopro de vida, o Espírito Santo, a sua mais íntima essência, e, desse modo, acolhe-nos na família de Deus. Com o Batismo e a Crisma, nos é dado este dom de modo específico, e com os sacramentos da Eucaristia e da Penitência, isso se repete continuamente: o Senhor sopra na nossa alma um sopro de vida. Todos os Sacramentos, cada um de maneira própria, comunicam ao homem a vida divina, graças ao Espírito Santo que opera neles.

Na liturgia de hoje, colhemos ainda uma ulterior conexão. O Espírito Santo é Criador, é ao mesmo tempo Espírito de Jesus Cristo, ainda que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam um só e único Deus. E à luz da primeira Leitura podemos complementar: o Espírito Santo anima a Igreja. Ela não deriva da vontade humana, da reflexão, da habilidade do homem e da sua capacidade organizativa, posto que se assim fosse já há tempos estaria extinta, assim como passa cada coisa humana. Ela é, ao contrário, o Corpo de Cristo, animado pelo Espírito Santo. As imagens do vento e do fogo, usadas por São Lucas para representar a vinda do Espírito Santo, (cf. At 2,2-3), recordam o Sinai, onde Deus revelou-se ao povo de Israel e lhe havia concedido a sua aliança: “Todo o monte Sinai fumegava – lê-se no Livro do Êxodo –, porque o Senhor tinha descido sobre ele no meio de chamas” (19,18). De fato, Israel festejava o quinquagésimo dia após a Páscoa, depois da comemoração da fuga do Egito, como a festa do Sinai, a festa do Pacto. Quando São Lucas fala de línguas de fogo para representar o Espírito Santo, relembra aquele antigo Pacto, estabelecido com base na Lei recebida por Israel sobre o Sinai. Assim, o evento de Pentecostes é representado como um novo Sinai, como o dom de um novo Pacto em que a aliança com Israel é estendida a todos os povos da Terra, em que caem todos os obstáculos da velha Lei e aparece o seu coração mais santo e imutável, isto é, o amor que exatamente o Espírito Santo comunica e difunde, o amor que abraça todas as coisas. Ao mesmo tempo, a Lei dilata-se, abre-se, também se tornando mais simples: é o Novo Pacto, que o espírito “escreve” nos corações de quanto creem em Cristo. A extensão do Pacto a todos os povos da Terra é representada por São Lucas através de um elenco de populações consideráveis por aquela época (cf. At 2,9-11). Com isso, nos é dita uma coisa muito importante: que a Igreja é católica desde o primeiro momento, que a sua universalidade não é o fruto da inclusão sucessiva de diversas comunidades. Desde o primeiro instante, de fato, o Espírito Santo a criou como a Igreja de todos os povos; essa abraça o mundo inteiro, supera todas as fronteiras de raça, classe, nação; abate todas as barreiras e une os homens na profissão do Deus uno e trino. Desde o início a Igreja é una, católica e apostólica: essa é a sua verdadeira natureza e como tal deve ser reconhecida. Ela é santa, não graças à capacidade dos seus membros, mas porque Deus mesmo, com o seu Espírito, cria-a, purifica-a e santifica-a sempre.

Enfim, o Evangelho de hoje disponibiliza-nos esta belíssima expressão: “Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor” (Jo 20,20). Essas palavras são profundamente humanas, O Amigo perdido está de novo presente, e quem antes estava chateado se alegra. Mas isso diz muito mais. Porque o Amigo perdido não vem de um lugar qualquer, mas da noite da morte; e Ele a superou! Ele não é um qualquer, mas sim é o Amigo e conjuntamente Aquele que é a Verdade que faz os homens viverem; e aquilo que dá não é uma alegria qualquer, mas a alegria mesma, dom do Espírito Santo. Sim, é belo viver porque sou amado, e é a Verdade que me ama. Alegraram-se os discípulos, vendo o Senhor. Hoje, em Pentecostes, essa expressão é destinada também a nós, porque na fé podemos vê-Lo; na fé Ele vem entre nós e também a nós mostra as mãos e o lado, e nós nos alegramos. Por isso queremos rezar: Senhor, mostra-te! Dá-nos o dom da tua presença, e teremos o dom mais belo: a tua alegria. Amém!