Nesta Santa Missa que tenho a alegria de presidir, concelebrando com numerosos Irmãos no episcopado e com um grande número de sacerdotes, agradeço ao Senhor por todas as queridas famílias aqui reunidas e por muitas outras que estão unidas conosco através do rádio e da televisão.

O meu agradecimento particular ao Cardeal Josip Bozanić, Arcebispo de Zagrábia, pelas sentidas palavras que me dirigiu no início da Santa Missa. A todos dirijo a minha saudação e exprimo a minha grande estima com um abraço de paz.

Celebramos há pouco a Ascensão do Senhor e preparamo-nos para receber o grande dom do Espírito Santo. Vimos, na primeira leitura, como a comunidade apostólica se reunira em oração no Cenáculo com Maria, a Mãe de Jesus (cf. Ato 1, 12-14). Este é um retrato da Igreja cujas raízes assentam no evento pascal: de fato, o Cenáculo é o lugar onde Jesus instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio na Última Ceia, e onde, ressuscitado dos mortos, efundiu o seu Espírito sobre os Apóstolos ao entardecer do dia de Páscoa (cf. Jo 20, 19-23).

O Senhor ordenara aos seus discípulos que “não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a Promessa do Pai” (Ato 1, 4), isto é, pedira que permanecessem juntos preparando-se para receber o dom do Espírito Santo. E eles reuniram-se em oração com Maria no Cenáculo à espera do acontecimento prometido (Ato 1, 14).

Permanecer juntos foi a condição que Jesus pôs para acolherem a vinda do Paráclito, e a prolongada oração foi o pressuposto da sua concórdia. Aqui encontramos uma lição estupenda para cada comunidade cristã. Às vezes pensa-se que a eficácia missionária dependa principalmente de uma cuidadosa programação e da sua realização inteligente através de um compromisso concreto.

O Senhor pede certamente a nossa colaboração, mas, antes de qualquer resposta da nossa parte, é necessária a sua iniciativa: o verdadeiro protagonista é o seu Espírito, que se deve invocar e acolher.

No Evangelho, ouvimos a primeira parte da chamada “oração sacerdotal” de Jesus (cf. Jo 17, 1-11a) – depois dos discursos de despedida – repleta de familiaridade, ternura e amor. Designa-se “oração sacerdotal”, porque nela Jesus aparece na atitude de sacerdote que intercede pelos seus, quando está para deixar este mundo. Predomina no texto um duplo tema: o da hora e o da glória. Trata-se da hora da morte (cf. Jo 2, 4; 7, 30; 8, 20), a hora em que o Filho deve passar deste mundo para o Pai (Jo 13, 1); mas ao mesmo tempo é também a hora da sua glorificação que se realiza através da cruz, designada pelo evangelista João como “exaltação”, isto é, levantamento, elevação à glória: a hora da morte de Jesus, a hora do amor supremo, é a hora da sua glória mais alta. Também para a Igreja, para cada cristão, a glória mais alta é aquela Cruz, é viver a caridade, dom total a Deus e aos outros.

Amados irmãos e irmãs! De bom grado acolhi o convite que me fizeram os Bispos da Croácia para visitar este País por ocasião do primeiro Encontro Nacional das Famílias Católicas Croatas. Desejo exprimir vivo apreço pela vossa solicitude e empenho a favor da família, não só porque esta realidade humana fundamental tem hoje no vosso país, como noutros lados, de enfrentar dificuldades e ameaças e, por conseguinte, precisa particularmente de ser evangelizada e sustentada, mas também porque as famílias cristãs são um recurso decisivo para a educação na fé, para a edificação da Igreja como comunhão e para a sua presença missionária nas mais diversas situações da vida.

Conheço a generosidade e dedicação com que vós, queridos Pastores, servis o Senhor e a Igreja. O vosso trabalho diário, tanto na formação da fé das novas gerações como na preparação para o matrimônio e no acompanhamento das famílias, é o caminho fundamental para regenerar incessantemente a Igreja e também para vivificar o tecido social do país. Possa este precioso serviço pastoral continuar a contar com a vossa disponibilidade!

Cada um bem sabe como a família cristã é um sinal especial da presença e do amor de Cristo e como está chamada a dar uma contribuição específica e insubstituível para a evangelização. O Beato João Paulo II, que visitou três vezes este nobre país, afirmava que “a família cristã é chamada a tomar parte viva e responsável na missão da Igreja de modo próprio e original, colocando-se ao serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e agir, enquanto comunidade íntima de vida e de amor” (Familiaris consortio, 50).

A família cristã foi sempre a primeira via de transmissão da fé e ainda hoje conserva grandes possibilidades para a evangelização em muitos âmbitos.

Queridos pais, empenhai-vos sempre em ensinar os vossos filhos a rezar, e rezai com eles; aproximai-os dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia (este ano, celebrais seis séculos do “milagre eucarístico de Ludberg”); introduzi-os na vida da Igreja; na intimidade doméstica, não tenhais medo de ler a Sagrada Escritura, iluminando a vida familiar com a luz da fé e louvando a Deus como Pai. Sede uma espécie de Cenáculo em miniatura, como o de Maria e dos discípulos, onde se vive a unidade, a comunhão, a oração.

Hoje, graças a Deus, muitas famílias cristãs vão adquirindo cada vez maior consciência da sua vocação missionária, e comprometem-se seriamente dando testemunho de Cristo Senhor. O Beato João Paulo II fez questão de salientar: “Uma família autêntica, fundada no matrimônio, é em si mesma uma ‘boa notícia’ para o mundo”. E acrescentou: “No nosso tempo, são cada vez mais numerosas as famílias que colaboram ativamente na evangelização. Amadureceu na Igreja a hora da família, que é também a hora da família missionária” (Angelus, 21 de Outubro de 2001).

Na sociedade atual, é muito necessária e urgente a presença de famílias cristãs exemplares. Infelizmente temos de constatar, sobretudo na Europa, o aumento de uma secularização que leva a deixar Deus à margem da vida e a uma crescente desagregação da família. Absolutiza-se uma liberdade sem compromisso com a verdade, e cultiva-se como ideal o bem-estar individual através do consumo de bens materiais e de experiências efêmeras, descuidando a qualidade das relações com as pessoas e os valores humanos mais profundos; reduz-se o amor a mera emoção sentimental e à satisfação de impulsos instintivos, sem empenhar-se por construir laços duradouros de mútua pertença e sem abertura à vida. Somos chamados a contrastar esta mentalidade.

A par da palavra da Igreja, é muito importante o testemunho e o compromisso das famílias cristãs, o seu testemunho concreto, sobretudo para afirmar a intangibilidade da vida humana desde a concepção até ao seu fim natural, o valor único e insubstituível da família fundada no matrimônio e a necessidade de disposições legislativas que sustentem as famílias na sua tarefa de gerar e educar os filhos. Queridas famílias, sede corajosas!

Não cedais à mentalidade secularizada que propõe a convivência como preparação ou mesmo substituição do matrimônio.

Mostrai com o vosso testemunho de vida que é possível amar, como Cristo, sem reservas, que não é preciso ter medo de assumir um compromisso com outra pessoa. Queridas famílias, alegrai-vos com a paternidade e a maternidade! A abertura à vida é sinal de abertura ao futuro, de confiança no futuro, tal como o respeito da moral natural, antes que mortificar a pessoa, liberta-a. O bem da família é igualmente o bem da Igreja.

Quero repetir aqui o que disse um dia: “A edificação de cada uma das famílias cristãs situa-se no contexto daquela família mais ampla que é a Igreja, a qual a sustenta e leva consigo. E, vice-versa, a Igreja é edificada pelas famílias, pequenas Igrejas domésticas” (Discurso de abertura do Congresso eclesial diocesano de Roma, 6 de Junho de 2005: Insegnamenti di Benedetto XVI, vol. I, 2005, p. 205).

Peçamos ao Senhor que cada vez mais as famílias se tornem pequenas Igrejas e as comunidades eclesiais sejam cada vez mais família.

Queridas famílias croatas, vivendo na comunhão de fé e caridade, sede testemunhas de maneira sempre mais transparente da promessa que o Senhor, ao subir ao Céu, fez a cada um de nós: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20).

Amados cristãos croatas, senti-vos chamados a evangelizar com toda a vossa vida; senti intensamente a palavra do Senhor: “Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações” (Mt 28, 19). A Virgem Maria, Rainha dos Croatas, vele incessantemente sobre este vosso caminho. Amém. Sejam louvados Jesus e Maria!

“Verdadeiramente este era o Filho de Deus!”

Na sua paixão – escreve São Paulo a Timóteo – Jesus Cristo “deu o seu testemunho fazendo sua bela profissão” (1 Tm 6, 13). Nós nos perguntamos, testemunho de quê? Não da verdade de sua vida e da sua causa. Muitos morreram e, ainda hoje, morrem, por uma causa equivocada, acreditando que seja justa. A ressurreição, esta sim testemunha a verdade de Cristo: “Deus deu a todos prova segura sobre Jesus, ressuscitando-o dos mortos”, diz o apóstolo, no Areópago de Atenas (At 17, 31).

A morte não testemunha a verdade, mas o amor de Cristo. De tal amor se constitui, de fato, a prova suprema: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Pode-se objetar que há um amor maior do que dar a vida por seus amigos, é dar sua vida pelos seus inimigos. Mas foi isso precisamente que Jesus fez: “Cristo morreu pelos ímpios – escreve o apóstolo na Carta aos Romanos –. A rigor, alguém morreria por um justo; por uma pessoa muito boa talvez alguém se anime a morrer. Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós” (Ro 5, 6-8). “Amou-nos quando éramos inimigos, para poder nos tornar amigos” [1].

Uma cerca unilateral “teologia da cruz” pode fazer-nos esquecer o essencial. A cruz não é só juízo de Deus sobre o mundo, refutação de sua sabedoria e revelação de seu pecado. Não, não é um “não” de Deus ao mundo, mas o seu “sim” de amor: “A injustiça, o mal como realidade não pode ser simplesmente ignorado, deixado como está. Deve ser eliminado, vencido. Apenas esta é a verdadeira misericórdia. E que agora, já que os homens não são capazes de fazê-lo, Deus mesmo o faz – esta é a bondade incondicional de Deus” [2].

* * *

Mas como ter a coragem de falar do amor de Deus, enquanto temos diante dos olhos tantas tragédias humanas, como a catástrofe que se abateu sobre o Japão, ou as mortes no mar nas últimas semanas? Não fale de tudo? Mas permanecer em completo silêncio seria trair a fé e ignorar o significado do mistério que celebramos.

Há uma verdade a se proclamar com força na Sexta-feira Santa. Aquele que contemplamos sobre a cruz é Deus “in persona”. Sim, é também o homem Jesus de Nazaré, mas esta é uma pessoa com o Filho do Pai Eterno. Até que não se reconheça e leve a sério o dogma fundamental da fé cristã – o primeiro definido dogmaticamente em Niceia – que Jesus Cristo é o Filho de Deus, o próprio Deus, da mesma substância do Pai, a dor humana permanecerá sem resposta.

Não se pode dizer que “a questão de Jó permanece sem resposta”, que nem mesmo a fé cristã teria uma resposta ao sofrimento humano, se de saída se recusa a resposta que essa afirma ter. O que se faz para assegurar a alguém que certa bebida não contém veneno? Bebe-se antes dele, na frente dele! Assim fez Deus com os homens. Ele bebeu o amargo cálice da paixão. Não pode ser assim tão envenenado o sofrimento humano, não pode ser apenas negatividade, perda, absurdo, se o próprio Deus escolheu prová-lo. No fundo do cálice deve haver uma pérola.

O nome da pérola nós conhecemos: Ressurreição! “Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8, 18), e ainda “Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição” (Ap 21, 4).

Se a corrida da sua vida acaba aqui, seria muito desesperador pensar nos milhões, talvez bilhões, de seres humanos que iniciam em desvantagem, mergulhados na pobreza e no subdesenvolvimento desde o ponto de partida, até mesmo sem poder participar corrida. Mas não é assim. A morte não só elimina as diferenças, mas as derruba. “Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado” no inferno (cf. Lc 16, 22-23).

Não podemos aplicar de forma simplista este esquema à realidade social, mas ele está lá para nos alertar que a fé na ressurreição não deixa que ninguém em seu silencioso viver. Lembra-nos que a máxima “viver e deixar viver” nunca deve se tornar a máxima “viver e deixar morrer”.

A resposta da cruz não é apenas para nós, cristãos, é para todos, porque o Filho de Deus morreu por todos. Há no mistério da redenção um aspecto objetivo e um aspecto subjetivo; é o fato em si, e a tomada de consciência e resposta de fé a ele. O primeiro se estende para além do segundo. “O Espírito Santo – diz o texto do Concílio Vaticano II – de um modo conhecido por Deus, dá a todos a oportunidade de estar associados ao mistério pascal” [3].

Um dos modos de estar envolvido no mistério pascal é próprio do sofrimento: “Sofrer – escreveu João Paulo II na sequência do atentado que sofreu e da longa convalescença – significa tornar-se particularmente receptivo, particularmente aberto à ação das forças salvíficas de Deus, oferecidas em Cristo à humanidade” [4]. O sofrimento, cada sofrimento, mas especialmente o dos inocentes, põe em contato de modo misterioso, ‘conhecido só a Deus’, com a cruz de Cristo.

* * *

Depois de Jesus, aqueles que têm dado a ele o seu belo testemunho e que têm bebido do cálice são os mártires! As histórias de suas mortes eram intituladas inicialmente “passio”, paixão, como o sofrimento de Jesus que acabamos de escutar. O mundo cristão volta a ser visitado pela prova do martírio, que se acreditava finda com a queda dos regimes totalitários ateus. Não podemos silenciar perante este testemunho. Os primeiros cristãos honravam seus mártires. Os atos de seus martírios eram lidos e distribuídos entre as igrejas com grande respeito. Hoje mesmo, Sexta-feira Santa de 2011, em um grande país asiático, os cristãos oraram e marcharam em silêncio pelas ruas de algumas cidades para protestar contra a ameaça que paira sobre eles.

Há uma coisa que distingue os atos autênticos dos mártires dos legendários, verificada depois que finda a perseguição. Nos primeiros, quase não há vestígios de polêmica contra os perseguidores, toda a atenção é concentrada no heroísmo dos mártires, não sobre a perversidade dos juízes e carrascos. São Cipriano ordenaria aos seus dar 25 moedas de ouro para o carrasco que cortaria a cabeça. Eles são discípulos de alguém que morreu dizendo: “Pai, perdoai-os, pois não sabem o que fazem”. “O sangue de Jesus – recorda o Santo Padre em seu último livro – fala uma linguagem diferente da do sangue de Abel: não pede vingança nem punição, mas é reconciliação [5].

Também o mundo se inclina diante dos testemunhos modernos da fé. Isso se explica por exemplo pelo sucesso inesperado na França do filme “Homens e Deuses”, que conta a história de sete monges cistercienses assassinados em Tibhirine, em março de 1996. E como não ficar admirados com as palavras escritas em seu testamento por um político católico, Shahbaz Bhatti, assassinado por causa de sua fé no mês passado? Sue testamento é deixado também para nós, seus irmãos na fé, e seria ingratidão deixá-lo cair no esquecimento.

“Foram-me propostos – escrevia ele – altos cargos no governo e me pediram para abandonar a minha batalha, mas eu sempre recusei isso, mesmo sob o risco da minha própria vida. Eu não quero popularidade, não quero posições de poder. Eu só quero um lugar aos pés de Jesus. Quero que a minha vida, o meu caráter, as minhas ações falem por mim e digam que estou seguindo Jesus Cristo. Esse desejo é tão forte em mim que eu me considerarei privilegiado se, no meu esforço e na minha luta para ajudar os necessitados, os pobres, os cristãos perseguidos de meu país, Jesus quisesse aceitar o sacrifício da minha vida. Eu quero viver para Cristo e por Ele quero morrer”.
Parece ressoar o mártir Inácio de Antioquia, quando veio a Roma e sofreu o martírio. O silêncio das vítimas não justifica a culpável indiferença do mundo para com seu destino. “O justo perece sem que ninguém se aperceba; as pessoas de bem são arrebatadas e ninguém se importa (Is 57,1)”!

* * *

Os mártires cristãos não são os únicos sozinhos, temos visto, a sofrer e morrer ao nosso redor. O que podemos oferecer aos que não crêem, além da certeza da nossa fé de que há um resgate para a dor? Podemos sofrer com os que sofrem, chorar com os que choram (Rm 12, 15). Antes de anunciar a ressurreição e a vida, na frente das irmãs enlutadas de Lázaro, Jesus chorou (Jo 11, 35).

Neste momento, sofrer e chorar em particular com o povo japonês, imerso em uma das mais terríveis catástrofes naturais da história. Podemos dizer a esses nossos irmãos em humanidade que estamos admirados por sua dignidade e exemplo de postura e ajuda mútua que deram ao mundo.

A globalização tem ao menos este efeito positivo: a dor de um povo se torna a dor de todos, suscita a solidariedade de todos. Dá-nos a chance de descobrir que somos uma família humana, ligada no bem e no mal. Ajuda-nos a superar as barreiras de raça, cor e religião. Como diz o verso de um de nossos poetas, “Homens, paz! Na extensa terra, grande é o mistério” [6].

Mas devemos também recolher o ensinamento de eventos como este. Terremotos, furacões e outros desastres que atingem inocentes e culpáveis nunca são um castigo de Deus. Dizer o contrário disso significa ofender a Deus e os homens. Mas servem de alerta: neste caso, a advertência de não se iludir que bastam a ciência e a técnica para se salvar. Se não formos capazes de estabelecer limites, podemos nos tornar, estamos vendo, a ameaça mais grave de todas.

Também houve um terremoto no momento da morte de Cristo: “O centurião e seus homens que montavam guarda a Jesus, diante do estremecimento da terra e de tudo o que se passava, disseram entre si, possuídos de grande temor: Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mt 27, 54). Mas houve um outro ainda “maior” no momento de sua ressurreição: “E eis que houve um violento tremor de terra: um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela” (Mt 28, 2).

Assim será sempre. A cada terremoto de morte sucederá um terremoto de ressurreição de vida. Alguém disse: “Agora só um Deus pode nos salvar” (Nur noch ein uns kann Gott retten [7]). Temos a garantia de que o fará porque “de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3, 16).

O Domingo de Ramos abre, por excelência, a Semana Santa. Relembramos e celebramos a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição. Esse dia é chamado assim porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão por onde o Senhor passava montado num jumento. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo O aclamava: “Rei dos Judeus”, “Hosana ao Filho de Davi”, “Salve o Messias…” E dessa forma, Cristo entra triunfante em Jerusalém despertando nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder. Começa, então, uma trama para condená-Lo à morte, e morte de cruz.

O povo O aclama cheio de alegria e esperança, pois, para eles – Ele como o profeta de Nazaré da Galiléia, o Messias, o Libertador –, certamente, iria libertá-los da escravidão política e econômica, imposta cruelmente pelos romanos naquela época, e religiosa, massacrando a todos com rigores excessivos e absurdos. Mas, essa mesma multidão, poucos dias depois, manipulada pelas autoridades religiosas, O acusaria de impostor, de blasfemador, de falso messias. E, incitada pelos sacerdotes e mestres da lei, exigiria de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que O condenasse à morte de cruz.

Afinal de contas, hoje temos Jesus como esse rei, que permanentemente entra em Jerusalém, ou O temos como no sistema governamental da Inglaterra: onde se tem a figura da senhora Rainha, mas quem toma as decisões é o Primeiro-Ministro?

A realeza de Cristo, que nasce da morte no Calvário e culmina no acontecimento, desta [morte] é inseparável, e a ressurreição recorda-nos a centralidade que a Ele compete por motivo do que é e do que fez. Verbo de Deus e Filho de Deus, primeiro de tudo e acima de tudo, “por Ele — como em breve repetiremos no Credo — todas as coisas foram feitas”. O Senhor tem um intrínseco, essencial e inalienável primado na ordem da criação – a respeito da qual é a suprema causa exemplar. E depois que «o Verbo se fez homem e habitou entre nós» (Jo 1, 14), também como homem e Filho do homem, consegue um segundo título na ordem da redenção, mediante a obediência ao desígnio do Pai, mediante o sofrimento da morte e conseqüente triunfo da ressurreição.

Motivados por tantos “reis”, que se apresentam aos nossos olhos hoje, corremos o risco de tê-Lo [Jesus] como mais um somente. Diante da Festa de Ramos, na qual Cristo entra triunfante em Jerusalém, não para instalar um reino cheio de prazeres passageiros, Ele instala o Reino, no qual o trono é a cruz, que apesar de ser tido como um escândalo aos olhos do mundo, passa a ser canal de salvação.

Ser cristão é estar disposto a abraçar a cruz, que não é um peso, mas uma missão, pois só quem carrega a sua cruz é que pode dizer que está decidido a morrer, pois não deve nada. Mas também está decidido a morrer para suas próprias vontades, desejos, sonhos, para realmente assumir não um rei, mas o verdadeiro Rei, Jesus Cristo.

É para esse Reino que Cristo Jesus nos chama, dando-nos uma vocação que nos leva a participar nos poderes d’Ele. Nós todos estamos a serviço, em virtude da consagração batismal. Estamos investidos de uma dignidade e de um cargo real, sacerdotal e profético, para que possamos eficazmente colaborar no seu crescimento e na sua difusão.

Nessa verdade se encerram, igualmente, as palavras do Apocalipse, com as quais o Discípulo Amado [São João] completa, de certo modo e à luz do colóquio, na Sexta-feira Santa, (na residência de Pilatos, em Jerusalém), o fato que já havia sido escrito pelo profeta Daniel. São João anota: “Eis o que vem entre as nuvens” (assim se exprimira já Daniel). “Todos o verão com os seus próprios olhos, até aqueles que O transpassaram (…) Sim. Amém!” (Apoc 1, 7). Precisamente: Amém, essa única palavra autêntica, por assim dizer, a verdade sobre Cristo Rei. Ele não é apenas “a Testemunha fiel”, mas também o Primogênito dos mortos. E se é o Soberano da terra e daqueles que a governam — o Soberano dos reis da terra — é por isso, sobretudo por isso, e definitivamente por isso: porque nos ama e, pelo Seu Sangue, nos libertou do pecado e fez de nós um Reino de sacerdotes para o Seu Deus e Seu Pai.

Tenha uma santa Semana Santa!

Quando lentamente foi se encaminhando a votação para escolha de um novo Papa, o então Cardeal Joseph Ratzinger pensou que a “guilhotina teria caído sobre sua cabeça” e começou até a ter “vertigens”. “Estava convencido de que tinha desempenhado a obra de toda uma vida e de poder transcorrer meus últimos dias em tranquilidade”, confessou Bento XVI no conclave que o elegeu.

O então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, com profunda convicção, disse a Deus: “Não me faças isso! Dispões de pessoas mais jovens e melhores, que podem enfrentar esta grande tarefa com outro impulso e vigor”, conta ele.

Mesmo sendo um teólogo altamente respeitado com diversas publicações e prefeito de um dicastério da Cúria Romana – a Congregação para a Doutrina da Fé -, Joseph Ratzinger acreditava ser um instrumento insuficiente.

“Fiquei então muito comovido com uma breve carta que me escreveu um irmão do colégio cardinalício. Recordou-me que, por ocasião da Missa por João Paulo II, eu tinha centrado a homilia, partindo do Evangelho, na palavra que o Senhor disse a Pedro, junto do lago de Genesaré: ‘Segue-me!’. Expliquei que Karol Wojtyla recebeu sempre de novo este chamado do Senhor e, como sempre de novo, tivera de renunciar a muito e dizer simplesmente: ‘Sim, sigo-te, mesmo se me conduzes onde não quero'”, conta o agora Papa Bento XVI.

O religioso escreveu a ele: “Se agora o Senhor dissesse a ti ‘Segue-me’, então recorda-te do que pregaste. Não te recuses! Seja obediente como descreveste o grande Papa, que voltou à casa do Pai”.

“Isso admirou-me profundamente. As vias do Senhor não são confortáveis, mas nós não somos criados para o conforto, mas para as coisas grandes, para o bem. Assim, no final, não pude fazer mais do que dizer sim”.

O Papa que a mídia secular descreve

Neste sábado, 16, Bento XVI completa 84 anos de vida e, mesmo depois de quase seis anos de pontificado, ele ainda é descrito pela mídia secular como um homem frio, distante e conservador. Tais descrições levaram até mesmo alguns católicos a criar um certo distanciamento em relação às suas palavras e fazer pré-julgamentos a partir de informações de mídias seculares.

“No seu livro de entrevista O Sal da Terra, o Papa Bento XVI fala dessa problemática. E ele demonstra ter consciência de que foi vítima de uma propaganda desleal. Na verdade, a mídia progressista se uniu a vários teólogos liberais, dentro da própria Igreja, com o interesse de separar a figura do Cardeal Joseph Ratzinger da figura carismática de João Paulo II. Como se o Papa fosse refém de um cruel inquisidor. Nós sabemos, porém, que esses dois homens estavam intimamente ligados e trabalhavam em profunda sintonia um com o outro. Não é possível compreender o pontificado de João Paulo II deixando de lado a figura de Joseph Ratzinger”, enfatiza o Vigário Judicial da Arquidiocese de Cuiabá (MT), padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior.

O sacerdote conheceu Bento XVI quando morou em Roma, de 1988 a 1992. Nesta época, o Papa era ainda o Cardeal Joseph Ratzinger. Ele lembra que como prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, sempre que Joseph Ratzinger precisava dirigir uma palavra mais fime a algum teólogo fazia sempre por amor à verdade e amor pelo povo de Deus.

“Joseph Ratzinger continua sendo o homem de Deus que sempre foi. Não houve mudança em sua personalidade. Trata-se apenas do fato que a mídia sonegou e escondeu de nós, durante muito tempo, o homem extraordinário e cativante que ele sempre foi”, afirma padre Paulo Ricardo.

Bento XVI: Pastor da Igreja

O Papa Bento XVI é hoje a figura real do pastor que a Igreja Católica precisa num tempo de profundas transformações sociais, econômicas e políticas, num tempo de consolidações de diálogos inter-religiosos e construções de novos diálogos culturais, explica padre Paulo Ricardo.

“O povo não pode ser deixado como ovelha sem pastor. O povo de Deus espera uma palavra que venha de seus pastores e que indique o caminho a ser seguido. Pois a própria Escritura nos adverte: ‘surgirão falsos profetas'”, destaca o presbítero.

Padre Paulo Ricardo ressalta que as pessoas devem receber a mensagem do Papa com o coração aberto.

“Na introdução do seu livro Jesus de Nazaré, o Papa diz que não é possível as pessoas dialogarem e se compreenderem mutuamente sem um mínimo de benevolência. Ou seja, para que nós possamos ouvir o Papa e aquilo que ele quer nos dizer, precisamos querer bem a ele e saber que ele não é um inimigo”, destaca.

O sacerdote lembra que a guerra. antes de ser um conflito de armas, é uma realidade espiritual; isto é, quando as pessoas não querem se ouvir mutuamente, estão em guerra.

“O Papa vem trazer uma mensagem de paz, mas para que nós acolhamos essa mensagem de paz é necessário que haja esta benevolência e a disposição de saber que é um homem de bem que vem nos dirigir uma palavra, e não simplesmente uma palavra dele, mas uma Palavra que vem de Deus”, enfatiza.

Caros irmãos e irmãs,

Nas audiências gerais destes últimos dois anos, nos acompanharam as figuras de tantos santos e santas: aprendemos a conhecê-los mais de perto e a entendemos que toda a história da Igreja é marcada por estes homens e mulheres que com a fé deles, com a caridade deles, com a vida deles foram faróis para tantas gerações e também para nós.

Os santos manifestam em diversos modos, a presença potente e transformadora do Ressuscitado; eles deixaram que Cristo envolvesse plenamente a vida deles ao ponto de poderem afirmar como São Paulo: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). Seguir o exemplo deles, recorrer à intercessão deles, entrar em comunhão com eles, nos une a Cristo, do qual emana toda a graça e toda a vida para o mesmo povo de Deus” (Conc. Ec. Vat. II, Cost. dogm.Lumen gentium 50). Ao final deste ciclo de catequeses gostaria então de oferecer uma meditação sobre o que seja a santidade.

O que quer dizer ser santos? Quem é chamado a ser santo? Por vezes somos levados ainda a pensar que a santidade seja uma meta reservada a poucos eleitos. São Paulo, ao contrário, fala do grande desígnio de Deus e afirma: “Nele – Cristo – Deus nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados diante dEle na caridade” (Ef 1,4).

Aqui, ele fala de todos nós. No centro do desígnio divino está Cristo, no qual Deus mostra a sua face: O mistério escondido nos séculos é revelado em plenitude no Verbo feito carne. E Paulo depois diz: “Agrada a Deus de fato, que habite Nele toda a plenitude” (Col 1,19). Em Cristo, Deus vivente se fez próximo, visível, audível, tocável, a fim que todos pudessem atingir a sua plenitude de graça e de verdade (cfr Jo I,14-16).

Por isto, toda a existência cristã conhece uma única lei suprema, aquela que São Paulo exprime em uma fórmula que aparece em todos os seus escritos: em Cristo Jesus. A santidade, a plenitude da vida cristã não consiste no cumprir coisas extraordinárias, mas no unir-se a Cristo, no viver os seus mistérios, no fazer nossas as suas atitudes, os seus pensamentos, os seus comportamentos. A medida da santidade é dada pela estatura que Cristo alcança em nós, com a qual, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida na dEle.

E o ser conformes a Cristo, como afirma São Paulo: “Aqueles que Ele desde sempre conheceu, os predestinou a ser conformes à imagem do seu Filho” (Rm 8,29). E Santo Agostinho exclama: “Viva e será a minha vida toda repleta de Ti” (Confissões, 10,28).

O Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a Igreja, fala com clareza sobre o chamado universal a santidade, afirmando que ninguém está excluído: “Nos vários gêneros da vida e nas várias profissões, uma única santidade é praticada por todos aqueles que foram movidos pelo Espírito de Deus e seguem Cristo pobre, humilde, que carrega a cruz, para merecerem ser participantes da sua glória” (n. 41).

Mas permanece a questão: Como podemos percorrer a estrada da santidade, responder a este chamado? Posso fazê-lo com as minhas forças?

A resposta é clara: uma vida santa não é fruto principalmente do nosso esforço, das nossas ações, porque é Deus, o três vezes Santo que nos faz santos, é a ação do Espírito Santo que nos anima a partir de dentro, é a mesma vida de Cristo Ressuscitado que nos é comunicada e que nos transforma.

Para dizer isto mais uma vez com o Concílio Vaticano II: “Os seguidores de Cristo, chamados por Deus não segundo as suas obras, mas segundo o desígnio da sua graça e justificados em Jesus Senhor no batismo da fé, foram feitos verdadeiramente filhos de Deus e co participantes da natureza divina, e por isto, realmente santos.

Esses, portanto, devem com a ajuda de Deus, manter isto na vida deles e aperfeiçoar a santidade que receberam” (ibid., 40). A santidade tem, portanto, a sua raiz ultima na graça batismal, no ser nutrido no Mistério pascal de Cristo, com o qual nos vem comunicado o seu Espírito, a sua vida de Ressuscitado.

São Paulo sublinha em modo forte, a transformação que opera no homem a graça batismal e chega a cunhar uma terminologia nova, formada com a preposição “com”: co-mortos, co-sepultados, co-ressuscitados, co- vivificados com Cristo: o nosso destino está ligado indissoluvelmente ao seu. “Por meio do batismo – escreve – formos sepultados juntos com Ele na morte, a fim que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos assim também podemos caminhar em uma vida nova” (Rm 6,4).

Mas Deus respeita sempre a nossa liberdade e pede que aceitemos este dom e vivamos as exigências que isto comporta, pede que nos deixemos transformar pela ação do Espírito Santo, conformando a nossa vontade a vontade de Deus.

Como pode acontecer que o nosso modo de pensar e as nossas ações se tornem o pensar e o agir com Cristo e de Cristo? Qual a alma da santidade? De novo o Concílio Vaticano II explica: diz-nos que a santidade cristã não é outra coisa se não a caridade plenamente vivida. “Deus é amor, quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nEle” (IJo, 4,16).

Agora, Deus difundiu largamente o seu amor nos nossos corações por meio do Espírito santo, que nos foi dado (cfr Rm 5,5); por isto, o primeiro dom e o mais necessário é a caridade, com a qual amamos a Deus sobre todas as coisas e próximo por amor dEle.

Mas, para que a caridade, como uma boa semente, cresça na alma e frutifique cada fiel deve escutar com prazer a palavra de Deus e, com a ajuda da sua graça, cumprir com as obras da sua vontade, participar frequentemente dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia e da santa liturgia; aplicar-se constantemente a oração, na abnegação de si mesmo, no serviço ativo aos irmãos e a serviço de todas as virtudes. A caridade, de fato, vínculo da perfeição e cumprimento da Lei (cfr Col 3,14; Rm 13,10), conduz todos os meios de santificação, dá forma a eles e os conduz ao fim deles.

Talvez também esta linguagem do Concílio Vaticano II para nós é ainda um pouco difícil, talvez devamos dizer as coisas em modo mais simples. O que é essencial? Essencial é nunca deixar um domingo sem um encontro com o Cristo Ressuscitado na Eucaristia; isto não é um peso acrescentado, mas é a luz para a toda a semana. Não começar e não terminar nunca um dia sem um breve contato com Deus. E, na estrada da nossa vida, seguir os “indicadores do caminho” que Deus nos comunicou no Decálogo lido com Cristo, que é simplesmente a explicitação de que coisa seja a caridade em determinadas situações.

Parece-me que esta seja a verdadeira simplicidade e grandeza da vida de santidade: o encontro com o Ressuscitado no domingo; o contato com Deus no início e no fim do dia; e seguir nas decisões os indicadores do caminho que Deus nos comunicou, que são as formas de caridade. Por isto, o verdadeiro discípulo de Cristo se caracteriza pela caridade dirigida a Deus e ao próximo. (Lumen gentium, 42). Esta é a verdadeira simplicidade, grandeza e profundidade da vida cristã, do ser santos.

Eis porque Santo Agostinho, comentando o capitulo quarto da Primeira carta de São João, pode afirmar uma coisa corajosa: : “Dilige et fac quod vis”, “Ame e faça o que quiser”. E continua: “Se repreenderes, que repreendas por amor, se falares, então fales por amor, se corrigires, corrijas por amor, se perdoares, perdoes por amor; esteja em Ti a raiz do amor, já que desta raiz só pode proceder o bem” (7,8: PL 35).

Quem é guiado pelo amor, quem vive a caridade plenamente é guiado por Deus, porque Deus é amor. Assim vale esta palavra grande: “Dilige et fac quod vis”, “Ame e faça aquilo que queres”.

Talvez nos perguntemos: podemos nós, com os nossos limites, com a nossa fraqueza, nos projetarmos assim para o alto?

A Igreja, durante o ano litúrgico, nos convida a fazer memória de uma legião de santos, daqueles que viveram plenamente a caridade, souberam amar e seguir Cristo na vida cotidiana. Eles nos dizem que é possível para todos percorrer esta estrada. Em todas as épocas da história da Igreja, em cada latitude da geografia do mundo, os santos pertencem a todos as idades e a todos os estados de vida, são rostos concretos de todos os povos, línguas e nações. E são tipos muito diversos.

Na realidade devo dizer que também para a minha fé pessoal, muitos santos, não todos, são verdadeiras estrelas no firmamento da história. E gostaria de acrescentar que para mim, não somente alguns grandes santos que amo e que conheço bem são estes “indicadores do caminho”, mas também aqueles santos simples, as pessoas boas que vejo na minha vida, que não serão nunca canonizadas. São pessoas normais, por assim dizer, sem heroísmo visível, mas na bondade delas de todos os dias, vejo a verdade da fé.

Esta bondade, que amadureceu na fé da Igreja, é para mim a mais segura apologia do cristianismo e o sinal de onde esteja a verdade.

Na comunhão dos Santos, canonizados e não canonizados, que a Igreja vive graças a Cristo em todos os seus membros, nos regozijamos com a presença e a companhia deles e cultivamos a forte esperança de poder imitar o caminho deles e partilhar um dia a mesma vida agraciada, a vida eterna.

Caros amigos, como é grande e bela e também simples a vocação cristã vista nessa luz!

Todos somos chamados a santidade: é a medida desta mesma vida cristã. Ainda uma vez São Paulo a exprime com grande intensidade quando escreve: “A cada um de nós foi dada a graça segundo a medida do dom de Cristo. Ele deu a alguns de serem apóstolos, a outros de serem pastores e mestres, para preparar os irmãos a cumprir o ministério, com o objetivo de edificar o corpo de Cristo, a fim que cheguemos todos a unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, até o homem perfeito, até atingir a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4,7.11-13).

Gostaria de convidar todos a abrir-se a ação do Espírito Santo, que transforma a nossa vida, para ser também nós como fragmentos do grande mosaico de santidade que Deus vai criando na história, a fim que a face de Cristo esplenda na plenitude do seu fulgor.

Não tenhamos medo de nos projetarmos em direção ao alto, em direção as alturas de Deus, não tenhamos medo que Deus nos peça muito, mas nos deixemos guiar em todas as nossas ações cotidianas pela Sua palavra, também se nos sentimos pobres, inadequados pecadores, será Ele a transformar-nos segundo o seu Amor. Obrigado.