A segunda parte da obra “Jesus de Nazaré”, de Joseph Ratzinger – Bento XVI, foi lançada nesta quinta-feira, 10. A obra está dividida em nove capítulos e é dedicada aos momentos que precederam a morte de Jesus e a sua ressurreição, mostrando as palavras e acontecimentos decisivos da vida de Cristo.

A seguir, confira um resumo dos principais pontos abordados em cada um dos capítulos da obra:

Capítulo 1 – Fala sobre a entrada de Jesus em Jerusalém, recebido com festa pela multidão, sentado sobre um jumentinho, como “um rei da paz e um rei da simplicidade, um rei dos pobres”. Não é um revolucionário político, “não se fundamenta sobre a violência; não inicia uma revolta militar contra Roma. O seu poder é de caráter contrário: é na pobreza de Deus, na paz de Deus que Ele identifica o único poder salvífico”, salienta Bento XVI.

O Santo Padre destaca que a violência não instaura o Reino de Deus. Ao contrário, é um dos instrumentos preferidos do anticristo, não servindo à humanidade, e sim desumanizando-a. “Jesus não vem como destruidor; não vem com a espada do revolucionário. Vem com o dom da cura”. Cristo, salienta o Bispo de Roma, dedica-se àqueles que, por causa de suas enfermidades, são colocados a margem da sociedade, mostrando Deus como Aquele que ama.

Particularmente, Ele é recebido com alegria pelos pequenos, “por aqueles que são capazes de ver com o coração puro e com simplicidade e que são abertos a sua bondade”, enfatiza o Papa. No dia seguinte à entrada em Jerusalém, Jesus combate a relação entre religião e comércio, salientando que o tempo se tornou um covil de ladrões.

Capítulo 2 – Após a entrada em Jerusalém, é proclamado “o grande discurso escatológico de Jesus, com os temas centrais da destruição do templo, da destruição de Jerusalém, do Juízo final e do fim do mundo”. Jesus, conta o Pontífice, tantas vezes quis acolher os filhos de Jerusalém, mas eles não quiseram, e depois os romanos destróem o templo e fazem um massacre dos judeus.

Para o judaísmo, “a destruição do templo deve ter sido um grande choque”: com o fim dos sacrifícios expiatórios eles não poderiam fazer nada que compensasse o mal crescente no mundo. Mas, com Jesus, “é superada a época do tempo de pedra. Inicio-se algo novo. Jesus mesmo é colocado no lugar do tempo, é Ele o novo templo, é a presença de Deus vivente. Nele Deus e homem, Deus e o mundo se encontram”. No seu amor, desfaz-se todo o pecado do mundo.

Jesus, no discurso escatológico, fala do tempo dos pagãos, localizado entre a destruição de Jerusalém e do fim do mundo: durante esse tempo, “o Evangelho deve ser levado a todo o mundo e a todos os homens: somente depois a história poderá chegar a sua meta”.

Deus quer salvar a todos. Jesus diz “o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”. A Palavra, salienta Bento XVI, é mais real e mais duradoura que todo o mundo material, “é a realidade verdadeira e confiável. Os elementos cósmicos passam; a palavra de Jesus é o verdadeiro ‘firmamento’ no qual o homem pode estar e permanecer”.

Capítulo 3 – Ao lavar os pecados, Jesus se despoja de seu esplendor divino para purificar a sujeira do mundo e para “tornar-nos capazes de participar do banquete nupcial de Deus”, realizando uma mudança radical na história da religião: diante de Deus, “não é a prática de rituais que purifica”, mas é “a fé que purifica o coração”.

O Papa explica que a novidade do Evangelho não pode consistir na elevação da prestação moral. “A nova Lei é a graça do Espírito Santo, não é uma nova norma, mas a nova interioridade doada pelo próprio Espírito de Deus”, salienta.

Segundo Bento XVI, somente se as pessoas se deixarem ser lavadas repetidamente por Deus poderão aprender a fazer junto a Ele aquilo que Ele fez. “Devemos deixar-nos imergir na misericórdia do Senhor para que, assim, nosso coração possa ser caminho de justiça”, salienta o Papa. O mandamento novo do amor “não é simplesmente uma exigência nova e superior: ele está ligado à novidade de Jesus Cristo – ao crescente ser imerso n’Ele”, afirma o Santo Padre.

A pureza é um dom, como ser cristão também é um dom que se desenvolve na dinâmica do viver e agir junto com este dom. Joseph Ratzinger explica que Pedro e Judas são dois modos diferentes de reagir diante desse dom. Ambos o acolhem, mas depois um o renega e outro o trai. Pedro, arrependido, crê no perdão. Também Judas arrepende-se, mas não “consegue mais acreditar no perdão. O seu arrependimento torna-se desespero… vê então somente as próprias trevas, é destrutivo e não é um verdadeiro arrependimento”. Em Judas, encontra-se o perigo que percorre todos os tempos, o perigo de quem, uma vez iluminado, através de uma série de formas aparentemente pequenas de infidelidade, decai espiritualmente e chega, ao final, saindo da luz, entra na noite e não é mais capaz de conversão.

Além disso, em Judas, que o trai, Jesus experimenta “a incompreensão, a infidelidade até no interior do círculo mais íntimo dos amigos. A ruptura da amizade acontece até na comunidade sacramental da Igreja, onde sempre de novo há pessoas que tomam ‘o seu pão’ e o atraiçoam”.

Capítulo 4 – A oração sacerdotal de Jesus é compreensível somente com o pano de fundo da liturgia da festa judaica da Expiação (Yom kippùr). A elevação de Jesus sobre a Cruz constitui “o dia da Expiação do mundo, em que toda a história do mundo encontra o seu sentido”: aquele de reconciliar-se com Deus. O não ser reconciliado com Deus constitui o problema essencial de toda a história do mundo.

A missão de Jesus é universal, é a de fazer com que “o homem, no tornar-se uma só coisa com Deus, volte a ser totalmente ele mesmo. Essa transformação, no entanto, tem o preço da cruz e, para as testemunhas de Cristo, aquele da disponibilidade do martírio”.

Capítulo 5 – O Papa afronta a questão das datas distintas da Última Ceia entre os Evangelhos Sinóticos e o Evangelho segundo João. Salienta que a pesquisa histórica pode chegar somente até certo grau de probabilidade, nunca a uma certeza última. “Se a certeza da fé baseasse-se exclusivamente sobre uma abordagem histórico-científica, permaneceria sempre passível de revisão”, adverte Bento XVI, complementando que a certeza última é-nos dada pela fé – o crer com a Igreja guiada pelo Espírito Santo.

Segundo o Papa, “a Última Ceia significa a sua despedida, pois não pertencia a nenhum determinado rito judaico. Ele dava algo de novo, dava a si mesmo como o verdadeiro Cordeiro, instituindo assim a Páscoa”. Bento XVI salienta que “aquilo que a Igreja celebra na Missa não é a última ceia, mas aquilo que o Senhor, durante a última ceia, instituiu e confiou à Igreja: a memória da sua morte sacrifical”.

Capítulo 6 – No Getsêmani, Jesus experimentou a última solidão e toda a tribulação do ser homem. Pedro é contrário à cruz e é apontado pelo Papa como sinal daquela atitude que tenta continuamente os cristãos e também a Igreja: sem a cruz, chegar ao sucesso.

Jesus pede que os discípulos façam vigília, mas é em vão. Uma angústia suprema assola Jesus, na consciência de tomar sobre si todo o mal do mundo: “é o encontra mesmo entre luz e trevas, entre vida e morte – o verdadeiro drama da escolha que caracteriza a história humana”. Jesus eleva a sua súplica ao Pai, Àquele que pode salvá-lo da morte.

Capítulo 7 – Bento XVI aborda o processo contra Jesus e sublinha que não foi o povo judeu como tal que desejou a morte de Cristo, pois também Jesus e seus discípulos eram judeus. Quem o acusava era a aristocracia do templo, mas com exceções (como Nicodemos), e os apoiadores da soltura de Barrabás.

Durante o processo, Pilatos pergunta: “O que é a verdade?”. O Papa indica: “A não redenção do mundo consiste no não reconhecimento da verdade, uma situação que, depois, conduz inevitavelmente ao domínio do pragmatismo e, desde modo, faz que o poder dos mais fortes torne-se deus deste mundo”.

Bento XVI recorda que, da mesma forma como Pilatos, muitos hoje entendem a questão acerca da verdade “irresolvível”. “Mas, sem a verdade, o homem não alcança o sentido da vida, deixa o campo aos mais fortes. A verdade torna-se reconhecível em Jesus Cristo. Externamente, ela é imponente no mundo – como Cristo, frente aos critérios do mundo, parece sem poder… é crucificada. Mas exatamente assim, na total falta de poder, Ele é poderoso, e somente assim a verdade torna-se sempre novamente uma potência”.

Capítulo 8 – A crucificação e a deposição de Jesus no sepulcro. O Papa recorda que ninguém esperava o fim do Messias na cruz, um fato, num primeiro momento, incompreensível e que levou a uma nova compreensão da Escritura.

Bento XVI recorda que a primeira palavra de Jesus sobre a Cruz é o pedido de perdão para os crucificadores, pois “não sabem o que fazem”. Ele também indica a figura do bom ladrão sobre a cruz como a imagem da esperança, “a certeza consoladora de que a misericórdia de Deus pode alcançar-nos também no último instante; a certeza de que a oração que implora a sua bondade não é em vão”.

O Papa também defende que “o bem é sempre infinitamente maior que todo o mal, por mais terrível que seja. Por isso, ao centro do ministério apostólico e do anúncio do Evangelho deve estar o ingresso no mistério da cruz. Ali, a obscuridade e a ilogicidade do pecado encontram-se com a santidade de Deus na sua luminosidade deslumbrante para os nossos olhos e isso vai além da nossa lógica. No entanto, na mensagem do Novo Testamento e na sua verificação na vida dos santos, o grande mistério torna-se totalmente luminoso. O mistério da expiação não deve ser sacrificado devido a qualquer racionalismo pedante”.

Capítulo 9 – A ressurreição de Jesus dentre os mortos. “Sem a fé na ressurreição a fé cristã é morta. Somente se Jesus ressuscitou aconteceu aquilo de verdadeiramente novo que transforma o mundo e a situação do homem”, diz o Papa.

O Pontífice explica que a ressurreição não foi o milagre de um cadáver reanimado. “Foi a entrada em um gênero de vida totalmente novo, rumo a uma vida não mais sujeita à lei do morrer e do tornar-se, mas que vai além disso – uma vida que inaugurou uma nova dimensão do ser homens. É uma espécie de ‘mutação decisiva’, um salto de qualidade. Está aberta uma nova possibilidade de ser homem, uma possibilidade que interessa a todos e abre um futuro, um novo gênero de futuro para os homens”.

Bento XVI questiona se a ressurreição estaria em contraste com a ciência. “Em toda a história daquilo que vive, os inícios das novidades são pequenos, quase invisíveis – podem ser ignorados. O Senhor mesmo disse que o ‘reino dos céus’, neste mundo, é como um grão de mostarda, a menor de todas as sementes. Mas traz em si a potencialidade infinita de Deus. A ressurreição de Jesus, do ponto de vista da história do mundo, é imperceptível, é a menor semente da história. Essa inversão da proporções faz parte dos mistérios de Deus. No final da contas, aquilo que é grande, poderoso, é o pequeno. E a semente pequena é a verdadeiramente grande. A ressurreição é um evento dentro da história que, todavia, quebra o âmbito da história e a supera”.

O Pontífice declara que é próprio do mistério de Deus agir de modo submisso. “Somente aos poucos Ele constrói na grande história da humanidade a sua história… Continuamente Ele bate de modo submisso na porta de nossos corações e, se lhe abrimos, lentamente torna-nos capazes de ‘ver’. Não é exatamente esse o estilo divino? Não sobrecarregar com o poder exterior, mas dar liberdade, doar e suscitar amor”.

Conclusão – E subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai e, de novo, vira em glória. O testemunho dos discípulos de Jesus “traduz-se essencialmente em uma missão: devem anunciar ao mundo que Jesus é o Vivente – a Vida mesma”.

Segundo o Papa, a narrativa do Evangelho de São Lucas sobre a ascensão diz que “os discípulos ficaram cheios de alegria depois que o Senhor ficou definitivamente distante deles. Não se sentem abandonados. Estão seguros de que o Ressuscitado exatamente agora está presente em meio a eles de uma maneira nova e poderosa, que não se pode mais perder. Está sempre presente em meio a nós e por nós”.

A confiança e a razão da alegria dos cristãos é que o Senhor sempre vem no momento oportuno, na expectativa de que Ele virá na glória. A fé no retorno de Cristo é o segundo pilar da profissão cristã. Isso implica a certeza na esperança de que Deus enxugará toda a lágrima, não permanecerá nada que seja privado de sentido, toda injustiça será superada e estabelecida a justiça. A vitória do amor será a última palavra da história do mundo. Nesse meio tempo, é pedida aos cristãos a vigilância. Vigilância significa sobretudo abertura ao bem, à verdade, a Deus, em meio a um mundo frequentemente inexplicável e em meio ao poder do mal. Os cristãos invocam a vinda definitiva de Jesus e veem, ao mesmo tempo, com alegria e gratidão Ele já agora antecipa a sua vinda, já agora entra em meio a nós. ‘Eu estou convosco todos os dias, até o fim do mundo'”.

O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso publicou na manhã desta quinta-feira, 31 a mensagem enviada à comunidade budista felicitando-a pela tradicional festividade do “Vesakh/hanamatsuri”.
Este ano, o dia será celebrado segundo as diferentes tradições das comunidades: 8 de abril no Japão, 10 de maio na Coreia, China, Taiwan, Vietnã e Cingapura, que fazem parte da corrente budista “mahayana”; e 17 de maio em outros países como Tailândia, Sri Lanka, Camboja, Mianmar, Laos e pelos outros budistas da escola “theravada”. O “Vesakh/hanamatsuri” celebra o nascimento, a “iluminação” e o definitivo ingresso de Buda no Nirvana.

A mensagem assinada pelo Cardeal Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Jean-Louis Tauran, se intitula “À procura da verdade em liberdade: Cristãos e Budistas vivem em paz”.

O presidente do dicastério inicia a mensagem com os votos de que esta festa anual possa trazer serenidade e alegria a todos os budistas presentes no mundo inteiro.

No intento de reforçar o relacionamento entre as comunidades budista e católica, o cardeal francês defende que todas as pessoas têm uma obrigação natural de procurar a verdade, de a seguir e de a viver livremente em conformidade com ela.

“Esta tensão humana para a verdade oferece aos membros das diferentes religiões uma feliz oportunidade de um profundo encontro e de crescimento na estima recíproca pelos dons de cada um”, reafirma.

O cardeal propõe o diálogo inter-religioso como a alternativa para encontrar o “caminho de ouro” para vivermos em paz e trabalharmos juntos pelo bem comum. Segundo ele, este diálogo é também um incentivo para que todos respeitem os direitos humanos fundamentais da liberdade de consciência e da liberdade de culto.

“Quando a liberdade religiosa for efetivamente reconhecida, a dignidade da pessoa humana será respeitada na sua raiz; através de uma sincera procura daquilo que é verdadeiro e bom, a consciência moral e as instituições civis serão fortalecidas; e a justiça e a paz serão decididamente estabelecidas”.

Aos amigos budistas, o cardeal católico diz esperar que a celebração do Vesakh seja uma fonte de enriquecimento espiritual e uma ocasião para dar um novo salto na procura da verdade e da bondade, para mostrar compaixão para com todos aqueles que sofrem, e para que todos se esforcem em viver juntos em harmonia.

Caros amigos budistas,

1. É com muito prazer que, em nome do Conselho Pontifício para o Diálogo Interreligioso, me dirijo a todos vós para vos felicitar por ocasião do Vesakh/Hanamatsuri. Rezo para que esta festa anual possa trazer serenidade e alegria a todos os budistas presentes no mundo inteiro.

2. À luz de uma amizade recíproca, como tem acontecido no passado, gostaria de partilhar convosco algumas das nossas convicções, esperando assim poder reforçar o relacionamento entre as nossas comunidades. O meu pensamento dirige-se, antes de tudo, à relação entre paz, verdade e liberdade. A condição necessária para se conseguir uma paz autêntica é o empenho na procura da verdade. Todas as pessoas têm uma obrigação natural de procurar a verdade, de a seguir e de a viver livremente em conformidade com ela (cfr. Concílio Ecuménico Vaticano Segundo, Declaração sobre a liberdade religiosa Dignitatis Humanae, n. 1). Esta tensão humana para a verdade oferece aos membros das diferentes religiões, uma feliz oportunidade de um profundo encontro, e de crescimento na estima recíproca pelos dons de cada um.

3. No mundo actual, marcado por formas de secularismo e fundamentalismo que são frequentemente inimigos da verdadeira liberdade e dos valores espirituais, o diálogo interreligioso pode ser a alternativa para encontrar o “caminho de ouro” para vivermos em paz e trabalharmos juntos pelo bem comum. Como disse o Papa Bento XVI, «o diálogo entre os membros das várias religiões é, para a Igreja, um importante instrumento para colaborar, com todas as comunidades religiosas, para o bem comum». (Mensagem para a Jornada Mundial da Paz 2011, n.11). Este diálogo é também um poderoso incentivo para que todos respeitem os direitos humanos fundamentais da liberdade de consciência e da liberdade de culto. Quando a liberdade religiosa for efectivamente reconhecida, a dignidade da pessoa humana será respeitada na sua raiz; através de uma sincera procura daquilo que é verdadeiro e bom, a consciência moral e as instituições civis serão fortalecidas; e a justiça e a paz serão decididamente estabelecidas (cfr. ibidem, n.5).

4. Caros amigos budistas, rezamos para que a vossa celebração do Vesakh seja uma fonte de enriquecimento espiritual e uma ocasião para dar um novo salto na procura da verdade e da bondade, para mostrar compaixão para com todos aqueles que sofrem, e para que todos se esforcem em viver juntos em harmonia. Mais uma vez permitam-nos expressar as nossas cordiais saudações e desejar a todos vós uma feliz festa de Vesakh/Hanamatsuri.

Jean-Louis Cardinal Tauran
Presidente

Arcebispo Pier Luigi Celata
Secretário

Um comportamento sexual responsável e a fidelidade ao próprio parceiro foram os principais fatores que determinaram a fortíssima queda da incidência de Aids na nação africana do Zimbábue. E esses dados não provêm de nenhuma diocese católica ou instituição religiosa: a informação é defendida pela prestigiada Universidade de Harvard, a mais antiga instituição de estudos superiores dos Estados Unidos, com 375 anos de história.

O pesquisador do Departamento para a Saúde global e População de Harvard, Daniel Halperin, está empenhado desde 1998 em estudar as dinâmicas sociais que estão na base da difusão das doenças sexualmente transmissíveis nos países em via de desenvolvimento, que são os maiores afetados pelo flagelo da Aids.

Através de dados estatísticos e análises de campo, como entrevistas e grupos focais, Halperin conseguiu recolher testemunhos até mesmo dos bolsões mais pobres do país africano. A curva em queda em 10 anos é evidente: entre 1997 e 2007, a taxa de infecção entre a população adulta caiu de 29 para 16%. “A repentina e nítida diminuição anda de mãos dadas com a redução de comportamentos de risco, como relações extraconjugais, com prostitutas ou ocasionais”, diz, sem hesitar, o pesquisador.

O estudo foi publicado em PLoSMedicine.org e é financiado pela agência estadounidense para o Desenvolvimento internacional, da qual Halperin já foi conselheiro, e pelo Fundo das Nações Unidas para a População e o Desenvolvimento. Com isso, o pesquisador alimenta uma séria e honesta reflexão sobre as políticas até agora adotadas pelas principais agência de luta contra a Aids nos países em vias de desenvolvimento.

Segundo Halperin, é evidente que a drástica inversão dos comportamentos sexuais da população do Zimbábue “foi auxiliada por programas de prevenção nos mass media e por projetos formativos promovidos pelas igrejas e confissões religiosas”, relata. Essas intervenções são propriamente culturais, com resultados mais distantes no tempo. No entanto, são mais incisivas e duradouras que a prática da distribuição de profiláticos, como a camisinha, que se apresenta como ineficaz.

Bento XVI

Na viagem apostólica que realizou à África, em 2009, o Papa Bento XVI comentou que o preservativo não era a solução para a luta contra a Aids. As palavras do Papa foram alvo de ásperas críticas e polêmicas, preconceituosas e não científicas, como se pode compreender também com o auxílio desse estudo ora divulgado. Também no livro-entrevista Luz do Mundo, o Pontífice recorda que “os profiláticos estão à disposição em todos os lugares, mas somente isso não resolve a questão”.

Desse modo, cada vez mais a pesquisa científica – quando honesta e não baseada na busca de vantagens econômicas – reconhece que as ações mais eficazes contra a Aids são aquelas similares ao método ABC (abstinência, fidelidade e, somente em última análise, utilização dos profiláticos), adotada com sucesso na Uganda, por exemplo.

A própria revista Science lançou luzes sobre o fato de que “a parte de maior sucesso do programa foi a mudança do comportamento sexual, com uma redução de 60% das pessoas que declaravam ter tido mais relacionamentos sexuais e o aumento do percentual dos jovens entre 15 e 19 anos que se abstiveram de sexo”. A adoção do programa colocou Uganda em uma posição exemplar na luta contra a Aids no continente africano.

Definitivamente, segundo o estudo de Halperin, é preciso “ensinar a evitar a promiscuidade e promover a fidelidade”, apoiando aquelas iniciativas que buscam verdadeiramente construir na sociedade afetada pela Aids uma nova cultura.

Enfim, como afirma Bento XVI, trabalhar para uma “humanização da sexualidade”.

Há pouco mais de dois meses para a Beatificação do Papa João Paulo II, começam a multiplicar-se os eventos de natureza eclesial e cultural ao redor do mundo com o objetivo de preparar para a cerimônia.

Nesta sexta-feira, 25, o postulador da Causa de Beatificação de Karol Wojtyla (nome de batismo do Papa polonês), padre Slawomir Oder, participou da Conferência “O segredo e a essência da santidade de João Paulo II”, junto ao Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, em Roma. O encontro foi promovido pelo Centro de Estudos João Paulo II, estrutura do Ateneu que recolhe publicações e escritos do e sobre o futuro Beato.

“Aquilo que caracteriza, no entanto, a [santidade da] figura de João Paulo II, como emerge das cartas do processo de Beatificação, são essencialmente duas dimensões. A sua dimensão de homem de oração, de homem de Deus, e a dimensão da sua ânsia apostólica, o seu ser missionário de Cristo. De fato, urgia nele aquela caridade de Cristo que o incentivava a levar o Senhor a todos os lugares”, explica o postulador.

A seguir, confira uma entrevista de padre Oder à Rádio Vaticano, na qual ele fala sobre os preparativos para o acontecimento e a experiência com João Paulo II:

Padre Slawomir Oder – Não há dúvidas de que, antes de tudo em nível humano, trata-se de uma grande emoção. Para mim, a Causa de Beatificação de João Paulo II foi, sem dúvida, uma aventura espiritual que assinalou a minha pessoa e constitui um marco na minha vida. Ter, portanto, a consciência de ter podido contribuir com a realização desta realidade extraordinária, de termos chegado ao ponto em que chegamos, me dá um sentido de satisfação, de alegria frente ao Senhor.

Rádio Vaticano – Seguramente, há muitos aspectos importantes deste processo para a Causa de Beatificação. Se o senhor tivesse que citar aquilo que mais lhe marcou nestes anos…

Padre Oder – Seguramente a sua espiritualidade, o seu modo de rezar, o seu modo de ser. Da figura de João Paulo II atrai, sem dúvidas, a profundidade da sua vida espiritual. Uma expressão que o define muito bem é “homem de Deus”, “homem de oração”. E isso é um aspecto que levarei comigo no coração, um tesouro para mim, para o meu sacerdócio. Além disso, o processo é feito também por encontros com pessoas que escrevem os testemunhos. Nesse caso, aquilo que me marcou foi a proximidade deste grande homem de Deus – este grande místico, podemos dizer – da vida de tantas pessoas. Ele entrou nos corações, nas nossas famílias, e ali permaneceu. O afeto que se percebe dos testemunhos que ainda chegam à sede da postulação faz compreender que Papa Wojtyla é uma pessoa viva nos nossos corações, nos nossos sentimentos.

RV – Chegamos ao tema da Conferência no Regina Apostolorum, um tema com um título já muito ambicioso: “O segredo e a essência da santidade de João Paulo II”. É obviamente muito difícil responder a essa pergunta. Mas qual foi a essência desse testemunho de santidade?

Padre Oder – Efetivamente, restituir com uma frase – ainda que com uma conferência – um quadro completo desse personagem é impossível. Aquilo que caracteriza, no entanto, a figura de João Paulo II, como emerge das cartas do processo de Beatificação, são essencialmente duas dimensões. A sua dimensão de homem de oração, de homem de Deus, e a dimensão da sua ânsia apostólica, o seu ser missionário de Cristo. De fato, urgia nele aquela caridade de Cristo que o incentivava a levar o Senhor a todos os lugares. O ponto comum desses dois aspectos é o seu amor por Cristo. Ele amou o Senhor porque se sentiu profundamente amado por Ele, por isso não podia fazer outra coisa senão responder com essa profundiade de vida espiritual e com essa abertura do seu coração ao mudo.

RV – Quais frutos se poderão colher desta Beatificação de primeiro de maio?

Padre Oder – Penso no seguinte: nos anos deste processo, tive a nítida sensação de que quem o fez foi, na realidade, o Senhor: é Ele que dita os seus tempos, o seu modo de agir, muitas vezes surpreendente. Por isso, estou convencido de que o Senhor, através da bondade da mensagem de João Paulo II, semeará nos corações de tantas pessoas muitos frutos espirituais. Mas aquilo que seguramente será um elemento comum, como eu espero e desejo, é o suscitar a esperança, a renovada esperança de que João Paulo II foi justamente chamado a ser testemunha, e ele o é. É a esperança que o mundo não dá, mas a dá somente a amizade com o Senhor, com Cristo.

Entre 2008 e 2009, o número de católicos no mundo aumentou 1,3% (de 1,166 para 1,181 bilhão). Já o total de sacerdotes cresceu 0,34% (de 409.197 para 410.593). Os dados fazem parte do Anuário Pontifício, divulgado na manhã deste sábado, 19.

O volume revela várias novidades sobre a vida da Igreja Católica no mundo. Confira as principais.

Fiéis batizados

O aumento absoluto de fiéis foi de 15 milhões, mas a distribuição do número de católicos é diferente da populacional – isto é, nem sempre a maior concentração de pessoas é sinônimo de quantidades maiores de cristãos.

Nas Américas, de 2008 a 2009, a população total correspondeu a 13,6% do total de habitantes no planeta. Por sua vez, o continente concentra 49,4% da população católica do mundo. Na Ásia, onde os habitantes correspondem a 60,7% da população mundial, o número de católicos está na ordem de 10,7% do total. Já na Europa, onde o número de habitantes é apenas três pontos percentuais inferior à América, a população católica corresponde a apenas 24% – praticamente metade do número de fiéis presentes nas Américas. Tanto para os países africanos quanto para os da Oceania, o peso da população sobre o total mundial não difere muito do número de católicos (15,2% e 0,8%, respectivamente, para a África e Oceania).

Clero

A população sacerdotal permanece com uma onda de crescimento moderada, iniciada no ano 2000, após um longo período de resultados bastante decepcionantes. O número dos sacerdotes, seja diocesanos, seja religiosos, aumentou 1,34% ao longo dos últimos 10 anos, passando de 405.178 em 2000 para 410.593 em 2009.

O aumento deriva do crescimento de 0,08% do clero religioso e ao aumento de 0,56% do diocesano. O decrescimento percentual afetou somente a Europa (-0,82% para os diocesanos e -0,99% para os religiosos), dado que nos outros continentes o número de sacerdotes como um todo aumentou. Com exceção da Ásia e da África, o clero religioso diminuiu em todos os lugares.

Já o número de Bispos no mundo passou – de 2008 a 2009 – passou de 5002 a 5065, com um aumento de 1,3%. O continente mais dinâmico é o africano (1,8%), seguido da Oceania (1,5%), enquanto Ásia (0,8%) e Américas (1,2%) estão abaixo da média geral. Para a Europa, o aumento é de cerca de 1,3%.

Os diáconos permanentes aumentaram 2,5%, passando de 37.203 em 2008 para 38.155 em 2009. A presença dos diáconos melhorou na Oceania e na Ásia em ritmos elevados: na Oceania, onde os diáconos não chegam ainda a 1% do total, o aumento foi de mais de 19%, chegando a 346 diáconos em 2009. Na Ásia, o incremento foi de 16%.

Mas o aumento mais considerável registra-se também nas áreas onde a presença já é quantitativamente mais relevante. Nas Américas e na Europa, onde, em 2009, residiam cerca de 98% dos diáconos permanentes do mundo, o crescimento foi de, respectivamente, 2,3% e 2,6% com relação a 2008.

O número dos candidatos ao sacerdócio no mundo cresceu 0,82%, passando de 117.024 em 2008 para 117.978 em 2009. Grande parte desse aumento atribui-se a Ásia e a África, com ritmos de crescimento de 2,39% e 2,20%, respectivamente. A Europa e as Américas registraram uma contração, respectivamente, de 1,64% e 0,17% no mesmo período.

Uma diminuição foi registrada entre os religiosos professos. Em 2008, eram 739.068; em 2009, eram 729.371. A crise, portanto, permanece, exceto na África e Ásia, onde há um aumento nos números.

Estrutura

Em 2010, foram erigidas pelo Santo Padre 10 novas Sedes Episcopais, 1 Exarcado Apostólico e 1 Vicariato Apostólico. Também foram elevadas: 1 Diocese a Sede Metropolitana; 2 Prelaturas a Dioceses; 2 Prefeituras e 1 Administração Apostólica a Vicariatos Apostólicos.

Os dados estatísticos, referentes ao ano de 2009, fornecem uma análise sintética das principais dinâmicas referentes à Igreja Católica nas 2956 circunscrições eclesiásticas do planeta.

O Anuário

O Annuarium Statisticum Ecclesiae (Anuário Estatístico da Igreja) informa sobre os aspectos salientes que caracterizam a atividade da Igreja Católica nos diversos Países e nos Continentes em particular.

O Anuário Pontifício 2011 foi apresentado ao Papa Bento XVI na manhã deste sábado, 19, pelo secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, e pelo Substituto da Secretaria de Estado para Assuntos Gerais, Dom Fernando Filoni.

A redação do novo Anuário esteve aos cuidados do encarregado do Escritório Central de Estatística da Igreja, monsenhor Vittorio Formenti, do professor Enrico Nenna e de outros colaboradores.

Já o complexo trabalho de imprensa foi, por sua vez, gerenciado pelos padres Pietro Migliasso, SDB, Antonio Maggiotto,SDB, e Giuseppe Canesso, SDB, respectivamente Diretor-Geral, Diretor-Comercial e Diretor-Técnico da Tipografia Vaticana. O volume estará disponível em brave para venda nas livrarias.

O Santo Padre agradeceu pela homenagem, mostrando vivo interesse pelos dados ilustrados e desejando expressar Sua gratidão a todos aqueles que colaboraram para a nova edição do Anuário.