Estamos acostumados a ver o Natal apenas como um encantavel menino que sorri (ou chora). E então a unica motivação que se pode vir é o retorno à inocencia verdadeira da infancia. Mas esta infancia muitas vezes é confundida com uma transferencia de sentimentos ou situações confundidas e marcadas ao longo da nossa historia. Ou seja, no Natal, queremos nós muitas vezes voltar a ser crianças, no atraente mundo das compras e gastos, onde a desculpa, ou o culpado é sempre o famoso “espírito natalino”.
Eu sempre me perguntei, quem é este famoso espirito natalino que sempre enche as lojas, os shopings, os magazines? Como pode alguem se aventurar em mergulhar num mar de gente, por exemplo, os grande centros de uma cidade como São Paulo, na rua 25 de março, nas ultimas horas antes da ceia natalina? Realmente ele é muito bondoso, pois sempre dá presente para todos e principalmente para nós mesmos. É ou não é verdade que motivado pelo espírito natalino queremos ficar mais bonitos, mais bem vestidos, mais chierosos, mais fofinhos, pois queremos comer bem e melhor….e tantas outras coisas, que fazem parte do mundo encontado das crianças.
Voltemos ao presepio de Belem. Ali, muito mais que falta das coisas
materiais, o verdadeiro espírito natalino se fez pobre, para que os pobres pudessem ser ricos. Não neste mundo, mas herdeiros do verdadeiro tesouro que não passa: o Reino dos ceus. Com isto eu não estou dizendo que não podemos nos presentear com um natal cheio de coisas belas, mas convidando a conhecer mais profundamente quem é este espírito natalino
A primeira coisa que posso dizer, que este espírito natalino não está nas lojas, não está festas, não está na ceia, não esta na roupa nova, ou no sapato novo. Então onde está este espírito natalino, para que o possamos conhecer?
Com certeza ele está no coração de cada um que reconhece que o natal só terá sentido se for cheio de, primeiramente gratidão por um Deus que, amando tanto a pessoa humana, se fez pessoa. A gratidão nos leva à um segundo sentimento, a partilha. A partilha não é apenas uma troca de presentes feita no popular “amigo secreto”. Mas é um saber presentar. Não com aquilo que o outro quer, mas com aquilo que o outro precisa. Por exemplo, tem tantas pessoas ao nosso lado, as vezes na nossa propria casa, que muito mais que um par de sapatos novos, precisaria de um abraço de reconciliação. Do sentimento que nos leva à partilha, nasce uma postura, aquela da comunhão. Muitas vezes, no natal temos mais comunhão com as pessoas que estão conosco nas filas gigantescas das grande lojas, do que com Aquele que realmente nos chama à verdadeira comunhão, que nada mais é que um pertencer a um Outro, e isto experiemtamos maravilhosamente na missa de natal. Esta comunhão com Deus, nos convida à uma comunhão com os irmãos. Que sentido tem dar um monte de presente frios para todos, se não sou capaz de dar o calor do meu coração aos irmãos?
Com algumas destas pistas podemos buscar conhecer o verdadeiro espirito do natal, que vai muito além do chamado consumismo natalino. O cristão é chamado a ser luz para os povos, mostrando em tudo que faz, sua verdadeira alegria: Jesus Verbo encarnado de Deus.
CARTA CIRCULAR
para ajudar as Conferências Episcopais na preparação de linhas diretrizes
no tratamento dos casos de abuso sexual contra menores por parte de clérigos
Dentre as importantes responsabilidades do Bispo diocesano para assegurar o bem comum dos fiéis e, especialmente das crianças e dos jovens, existe o dever de dar uma resposta adequada aos eventuais casos de abuso sexual contra menores, cometidos por clérigos na própria diocese. Tal resposta implica a instituição de procedimentos capazes de dar assistência às vítimas de tais abusos, bem como a formação da comunidade eclesial com vistas à proteção dos menores. Tal resposta deverá prover à aplicação do direito canônico neste campo, e, ao mesmo tempo, levar em consideração as disposições das leis civis.
I. Apectos gerais:
a) As vítimas do abuso sexual:
A Igreja, na pessoa do Bispo ou de um seu delegado, deve se mostrar pronta para ouvir as vítimas e os seus familiares e para se empenhar na sua assistência espiritual e psicológica. No decorrer das suas viagens apostólicas, o Santo Padre Bento XVI deu um exemplo particularmente importante com a sua disposição para encontrar e ouvir as vítimas de abuso sexual. Por ocasião destes encontros, o Santo Padre quis se dirigir às vítimas com palavras de compaixão e de apoio, como aquelas que se encontram na sua Carta Pastoral aos Católicos da Irlanda (n. 6): “Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade.”
b) A proteção dos menores:
Em algumas nações foram lançados, em âmbito eclesiástico, programas educativos de prevenção, a fim de assegurar “ambientes seguros” para os menores. Tais programas tentam ajudar os pais, e também os operadores pastorais ou escolásticos, a reconhecer os sinais do abuso sexual e a adotar as medidas adequadas. Os supracitados programas mereceram amiúde um reconhecimento como modelos na luta para eliminar os casos de abuso sexual contra menores nas sociedades hodiernas.
c) A formação dos futuros sacerdotes e religiosos
O Papa João Paulo II dizia no ano de 2002: “No sacerdócio e na vida religiosa não existe lugar para quem poderia fazer mal aos jovens” (n. 3, Discurso aos Cardeais americanos, 23 de abril de 2002). Estas palavras chamam à atenção para a responsabilidade específica dos Bispos, dos Superiores Maiores e daqueles que são responsáveis pelos futuros sacerdotes e religiosos. As indicações dadas na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, bem como as instruções dos Dicastérios competentes da Santa Sé, possuem uma importância sempre crescente com vistas a um correto discernimento vocacional e a uma formação humana e espiritual sadia dos candidatos. Em particular façam-se esforços de sorte que os candidatos apreciem a castidade, o celibato e a paternidade espiritual do clérigo e que possam aprofundar o conhecimento da disciplina da Igreja sobre o assunto. Indicações mais específicas podem ser integradas nos programas formativos dos seminários e das casas de formação previstas na respectiva Ratio Institutionis Sacerdotalis de cada nação e Instituto de Vida Consagrada e Sociedade de Vida Apostólica.
Uma diligência especial deve ser ademais reservada à indispensável troca de informações acerca daqueles candidatos ao sacerdócio ou à vida religiosa que são transferidos de um seminário a outro, de uma a outra Diocese ou de Institutos religosos a Dioceses.
d) O acompanhamento dos sacerdotes
1. O Bispo tem o dever de tratar a todos os seus sacerdotes como pai e irmão. Além disso, o Bispo deve providenciar com atenção especial à formação permanente do clero, sobretudo nos primeiros anos seguintes à sagrada Ordenação, valorizando a importância da oração e do mútuo apoio na fraternidade sacerdotal. Os sacerdotes devem ser infomados sobre o dano provocado por um clérigo à vítima de abuso sexual e sobre a própria responsabilidade diante da legislação canônica e civil, como também a reconhecer os sinais de eventuais abusos perpetrados contra menores;
2. Os Bispos devem assegurar todo esforço no tratamento dos casos de eventuais abusos que porventura lhes sejam denunciados de acordo com a disciplina canônica e civil, no respeito dos direitos de todas as partes;
3. O clérigo acusado goza da presunção de inocência até prova contrária, mesmo se o Bispo, com cautela, pode limitar o exercício do ministério, enquanto espera que se esclareçam as acusações. Em caso de inocência, não se poupem esforços para reabilitar a boa fama do clérigo acusado injustamente.
e) A cooperação com as autoridades civis
O abuso sexual de menores não é só um delito canônico, mas também um crime perseguido pela autoridade civil. Se bem que as relações com as autoridades civis sejam diferentes nos diversos países, é contudo importante cooperar com elas no âmbito das respectivas competências. Em particular se seguirão sempre as prescrições das leis civis no que toca o remeter os crimes às autoridades competentes, sem prejudicar o foro interno sacramental. É evidente que esta colaboração não se refere só aos casos de abuso cometidos por clérigos, mas diz respeito também aos casos de abuso que implicam o pessoal religioso ou leigo que trabalha nas estruturas eclesiásticas.
II. Breve relatório da legislação canônica em vigor relativa ao delito de abuso sexual de menores perpretado por um clérigo
No dia 30 de abril de 2001, o Papa João Paulo II promulgou o Motu Própio Sacramentorum Sanctitatis Tutela (SST), com o qual se inseriu o abuso sexual de um menor perpetrado por um clérigo no elenco de delicta graviora, reservado à Congregação para a Doutrina da Fé (CDF). A prescrição de um tal delito foi fixada em 10 anos a partir do 18º aniversário da vítima. A legislação do Motu Próprio vale tanto para os clérigos latinos quanto para os clérigos orientais, igualmente para o clero diocesano como para o religioso.
Em 2003, o então Prefeito da CDF, o Cardeal Ratzinger, obteve de João Paulo II a concessão de algumas faculdades especiais para oferecer maior flexibilidade nos processos penais para os casos de delicta graviora, dentre os quais o uso do processo penal administrativo e o pedido da demissão ex officio nos casos mais graves. Estas faculdades foram integradas na revisão do Motu Próprio aprovada pelo Santo Padre Bento XVI aos 21 de maio de 2010. Segundo as novas normas a prescrição é de 20 anos, os quais nos casos de abuso de menores se calculam a partir do 18º aniversário da vítima. A CDF pode eventualmente derrogar às prescrições em casos particulares. Especificou-se também o delito canônico da aquisição, detenção ou divulgação de material pedopornográfico.
A responsabilidade de tratar os casos de abuso sexual contra menores é, num primeiro momento, dos Bispos ou dos Superiores Maiores. Se a acusação parecer verossímil, o Bispo, o Superior Maior ou o seu delegado devem proceder a uma inquisição preliminar de acordo com os cân. 1717 do CIC, 1468 CCEO e o art. 16 SST.
Se a acusação for considerada crível – digna de crédito, pede-se que o caso seja remetido à CDF. Uma vez estudado o caso, a CDF indicará ao Bispo ou al Superior Maior os ulteriores passos a serem dados. Ao mesmo tempo, a CDF oferecerá uma diretriz para assegurar as medidas apropriadas, seja grantindo um procedimento justo aos clérigos acusados, no respeito do seu direito fundamental à defesa, seja tutelando o bem da Igreja, inclusive o bem das vítimas. É útil recordar que normalmente a imposição de uma pena perpétua, como a dimissio do estado clerical requer um processo penal judicial. De acordo com o Direito Canônico (cf. can. 1342 CIC) os Ordinários não podem decretar penas perpétuas por decretos extra-judiciários; para tanto devem se dirigir à CDF, à qual compete o juízo definitivo a respeito da culpabilidade e da eventual inidoneidade do clérigo para o ministério, bem como a consequente imposição da pena perpétua (SST Art. 21, § 2).
As medidas canônicas aplicadas contra um clérigo reconhecido culpado de abuso sexual de um menor são geralmente de dois tipos: 1) medidas que restringem o ministério público de modo completo ou pelo menos excluindo os contatos com menores. Tais medidas podem ser acompanhadas por um preceito penal; 2) penas eclesiásticas, dentre as quais a mais grave é a dimissio do estado clerical.
Em alguns casos, prévio pedido do próprio clérigo, pode-se conceder a dispensa, pro bono Ecclesiae das obrigações inerentes ao estado clerical, inclusive do celibato.
A inquisição preliminar e todo o processo devem se desenvolver com o devido respeito a fim de proteger a discreção em torno às pessoas envolvidas, e com a devida atenção à sua reputação.
Ao menos que existam razões graves em contrário, o clérigo acusado dever ser informado da acusação apresentada, a fim de que lhe seja dada a possibilidade de responder à mesma, antes de se transmitir um caso à CDF. A prudência do Bispo ou do Superior Maior decidirá qual informação deva ser comunicada al acusado durante a inquisição preliminar.
Compete ao Bispo ou ao Superior Maior prover ao bem comum determinando quais medidas de precaução previstas pelo cân. 1722 CIC e pelo cân. 1473 CCEO devam ser impostas. De acordo com o art. 19 SST, isto se faz depois de começada a inquisição preliminar.
Recorda-se finalmente que se alguma Conferência Episcopal, excetuado o caso de uma aprovação da Santa Sé, julgue por bem dar normas específicas, tal legislação particular dever ser considerada como um complemento à legislação universal e não como substituição desta. A legislação particular dever portanto harmonizar-se com o CIC/CCEO, bem como com o Motu Próprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela (30 de abril de 2001) como foi atualizado aos 21 de maio de 2010. Se a Conferência Episcopal decidir estabelecer normas vinculantes, será necessário requerer a recognitio aos Dicastérios competentes da Cúria Romana.
III. Indicações aos Ordinários sobre o modo de proceder
As linhas diretrizes preparadas pela Conferência Episcopal deveriam fornecer orientações aos Bispos diocesanos e aos Superiores Maiores no caso em que fossem informados de possíveis (presunti) abusos sexuais contra menores perpetrados por clérigos presentes no território da sua jurisdição. Tais linhas diretrizes devem levar em conta as seguintes considerações:
a.) o conceito de “abuso sexual contra menores” deve coincidir com a definição do Motu Próprio SST art. 6 (“o delito contra o sexto mandamento do Decálogo cometido por um clérigo com um menor de dezoito anos”), bem como com a praxe interpretativa e a jurisprudência da Congregação para a Doutrina da Fé, levando em consideração as leis civis do País;
b.) a pessoa que denuncia o delito dever ser tratada com respeito. Nos casos em que o abuso sexual esteja ligado com um outro delito contra a dignidade do sacramento da Penitência (SST, art. 4), o denunciante tem direito de exigir que o seu nome não seja comunicado ao sacerdote denunciado (SST, art. 24);
c.) as autoridades eclesiásticas devem se empenhar para oferecer assitência espiritual e psicológica às vítimas;
d.) o exame das acusações seja feito com o devido respeito do princípio de privacy e da boa fama das pessoas;
e.) ao menos que haja graves razões em contrário, já durante o exame prévio, o clérigo acusado seja informado das acusações para ter a possibilidade de responder às mesmas;
f.) os órgãos consultivos de vigilância e de discernimento dos casos particulares, previstos em alguns lugares, não devem substituir o discernimento e a potestas regiminis dos Bispos em particular;
g.) as linhas diretrizes devem levar em consideração a legislação do País da Conferência, especialmente no tocante à eventual obrigação de avisar as autoridades civis;
h.) seja assegurado em todos os momentos dos processos disciplinares ou penais um sustento justo e digno ao clérigo acusado;
i.) exclua-se o retorno o clérigo ao ministério público se o mesmo for perigoso para os menores ou escandaloso para a comunidade.
Conclusão:
As linhas diretrizes preparadas pelas Conferências Episcopais intendem proteger os menores e ajudar as vítimas para encontrar assitência e reconciliação. As mesmas deverão indicar que a responsabilidade no tratamento dos delitos de abuso sexual de menores pro parte dos clérigos compete em primeiro lugar ao Bispo diocesano. Por fim, as linhas diretrizes deverão levar a uma orientação comum no seio de uma Conferência Episcopal, ajudando a harmonizar do melhor modo os esforços dos Bispos em particular a fim de salvaguardar os menores.
Roma, da sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 3 de Maio de 2011
William Cardinale Levada
Prefeito
+ Luis F. Ladaria, S.I.
Arcebispo Tit. de Thibica
Secretário
O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso publicou na manhã desta quinta-feira, 31 a mensagem enviada à comunidade budista felicitando-a pela tradicional festividade do “Vesakh/hanamatsuri”.
Este ano, o dia será celebrado segundo as diferentes tradições das comunidades: 8 de abril no Japão, 10 de maio na Coreia, China, Taiwan, Vietnã e Cingapura, que fazem parte da corrente budista “mahayana”; e 17 de maio em outros países como Tailândia, Sri Lanka, Camboja, Mianmar, Laos e pelos outros budistas da escola “theravada”. O “Vesakh/hanamatsuri” celebra o nascimento, a “iluminação” e o definitivo ingresso de Buda no Nirvana.
A mensagem assinada pelo Cardeal Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Jean-Louis Tauran, se intitula “À procura da verdade em liberdade: Cristãos e Budistas vivem em paz”.
O presidente do dicastério inicia a mensagem com os votos de que esta festa anual possa trazer serenidade e alegria a todos os budistas presentes no mundo inteiro.
No intento de reforçar o relacionamento entre as comunidades budista e católica, o cardeal francês defende que todas as pessoas têm uma obrigação natural de procurar a verdade, de a seguir e de a viver livremente em conformidade com ela.
“Esta tensão humana para a verdade oferece aos membros das diferentes religiões uma feliz oportunidade de um profundo encontro e de crescimento na estima recíproca pelos dons de cada um”, reafirma.
O cardeal propõe o diálogo inter-religioso como a alternativa para encontrar o “caminho de ouro” para vivermos em paz e trabalharmos juntos pelo bem comum. Segundo ele, este diálogo é também um incentivo para que todos respeitem os direitos humanos fundamentais da liberdade de consciência e da liberdade de culto.
“Quando a liberdade religiosa for efetivamente reconhecida, a dignidade da pessoa humana será respeitada na sua raiz; através de uma sincera procura daquilo que é verdadeiro e bom, a consciência moral e as instituições civis serão fortalecidas; e a justiça e a paz serão decididamente estabelecidas”.
Aos amigos budistas, o cardeal católico diz esperar que a celebração do Vesakh seja uma fonte de enriquecimento espiritual e uma ocasião para dar um novo salto na procura da verdade e da bondade, para mostrar compaixão para com todos aqueles que sofrem, e para que todos se esforcem em viver juntos em harmonia.
Caros amigos budistas,
1. É com muito prazer que, em nome do Conselho Pontifício para o Diálogo Interreligioso, me dirijo a todos vós para vos felicitar por ocasião do Vesakh/Hanamatsuri. Rezo para que esta festa anual possa trazer serenidade e alegria a todos os budistas presentes no mundo inteiro.
2. À luz de uma amizade recíproca, como tem acontecido no passado, gostaria de partilhar convosco algumas das nossas convicções, esperando assim poder reforçar o relacionamento entre as nossas comunidades. O meu pensamento dirige-se, antes de tudo, à relação entre paz, verdade e liberdade. A condição necessária para se conseguir uma paz autêntica é o empenho na procura da verdade. Todas as pessoas têm uma obrigação natural de procurar a verdade, de a seguir e de a viver livremente em conformidade com ela (cfr. Concílio Ecuménico Vaticano Segundo, Declaração sobre a liberdade religiosa Dignitatis Humanae, n. 1). Esta tensão humana para a verdade oferece aos membros das diferentes religiões, uma feliz oportunidade de um profundo encontro, e de crescimento na estima recíproca pelos dons de cada um.
3. No mundo actual, marcado por formas de secularismo e fundamentalismo que são frequentemente inimigos da verdadeira liberdade e dos valores espirituais, o diálogo interreligioso pode ser a alternativa para encontrar o “caminho de ouro” para vivermos em paz e trabalharmos juntos pelo bem comum. Como disse o Papa Bento XVI, «o diálogo entre os membros das várias religiões é, para a Igreja, um importante instrumento para colaborar, com todas as comunidades religiosas, para o bem comum». (Mensagem para a Jornada Mundial da Paz 2011, n.11). Este diálogo é também um poderoso incentivo para que todos respeitem os direitos humanos fundamentais da liberdade de consciência e da liberdade de culto. Quando a liberdade religiosa for efectivamente reconhecida, a dignidade da pessoa humana será respeitada na sua raiz; através de uma sincera procura daquilo que é verdadeiro e bom, a consciência moral e as instituições civis serão fortalecidas; e a justiça e a paz serão decididamente estabelecidas (cfr. ibidem, n.5).
4. Caros amigos budistas, rezamos para que a vossa celebração do Vesakh seja uma fonte de enriquecimento espiritual e uma ocasião para dar um novo salto na procura da verdade e da bondade, para mostrar compaixão para com todos aqueles que sofrem, e para que todos se esforcem em viver juntos em harmonia. Mais uma vez permitam-nos expressar as nossas cordiais saudações e desejar a todos vós uma feliz festa de Vesakh/Hanamatsuri.
Jean-Louis Cardinal Tauran
Presidente
Arcebispo Pier Luigi Celata
Secretário
Um comportamento sexual responsável e a fidelidade ao próprio parceiro foram os principais fatores que determinaram a fortíssima queda da incidência de Aids na nação africana do Zimbábue. E esses dados não provêm de nenhuma diocese católica ou instituição religiosa: a informação é defendida pela prestigiada Universidade de Harvard, a mais antiga instituição de estudos superiores dos Estados Unidos, com 375 anos de história.
O pesquisador do Departamento para a Saúde global e População de Harvard, Daniel Halperin, está empenhado desde 1998 em estudar as dinâmicas sociais que estão na base da difusão das doenças sexualmente transmissíveis nos países em via de desenvolvimento, que são os maiores afetados pelo flagelo da Aids.
Através de dados estatísticos e análises de campo, como entrevistas e grupos focais, Halperin conseguiu recolher testemunhos até mesmo dos bolsões mais pobres do país africano. A curva em queda em 10 anos é evidente: entre 1997 e 2007, a taxa de infecção entre a população adulta caiu de 29 para 16%. “A repentina e nítida diminuição anda de mãos dadas com a redução de comportamentos de risco, como relações extraconjugais, com prostitutas ou ocasionais”, diz, sem hesitar, o pesquisador.
O estudo foi publicado em PLoSMedicine.org e é financiado pela agência estadounidense para o Desenvolvimento internacional, da qual Halperin já foi conselheiro, e pelo Fundo das Nações Unidas para a População e o Desenvolvimento. Com isso, o pesquisador alimenta uma séria e honesta reflexão sobre as políticas até agora adotadas pelas principais agência de luta contra a Aids nos países em vias de desenvolvimento.
Segundo Halperin, é evidente que a drástica inversão dos comportamentos sexuais da população do Zimbábue “foi auxiliada por programas de prevenção nos mass media e por projetos formativos promovidos pelas igrejas e confissões religiosas”, relata. Essas intervenções são propriamente culturais, com resultados mais distantes no tempo. No entanto, são mais incisivas e duradouras que a prática da distribuição de profiláticos, como a camisinha, que se apresenta como ineficaz.
Bento XVI
Na viagem apostólica que realizou à África, em 2009, o Papa Bento XVI comentou que o preservativo não era a solução para a luta contra a Aids. As palavras do Papa foram alvo de ásperas críticas e polêmicas, preconceituosas e não científicas, como se pode compreender também com o auxílio desse estudo ora divulgado. Também no livro-entrevista Luz do Mundo, o Pontífice recorda que “os profiláticos estão à disposição em todos os lugares, mas somente isso não resolve a questão”.
Desse modo, cada vez mais a pesquisa científica – quando honesta e não baseada na busca de vantagens econômicas – reconhece que as ações mais eficazes contra a Aids são aquelas similares ao método ABC (abstinência, fidelidade e, somente em última análise, utilização dos profiláticos), adotada com sucesso na Uganda, por exemplo.
A própria revista Science lançou luzes sobre o fato de que “a parte de maior sucesso do programa foi a mudança do comportamento sexual, com uma redução de 60% das pessoas que declaravam ter tido mais relacionamentos sexuais e o aumento do percentual dos jovens entre 15 e 19 anos que se abstiveram de sexo”. A adoção do programa colocou Uganda em uma posição exemplar na luta contra a Aids no continente africano.
Definitivamente, segundo o estudo de Halperin, é preciso “ensinar a evitar a promiscuidade e promover a fidelidade”, apoiando aquelas iniciativas que buscam verdadeiramente construir na sociedade afetada pela Aids uma nova cultura.
Enfim, como afirma Bento XVI, trabalhar para uma “humanização da sexualidade”.
Queridos Irmãos e Irmãs,
Estou contente por acolher-vos na ocasião da Plenária do Dicastério. Saúdo o Presidente, Dom Claudio Maria Celli, a quem agradeço pelas corteses palavras, os Secretários, os Oficiais, os Consultores e todo o Pessoal de trabalho.
Na Mensagem para o Dia das Comunicações deste ano, convidei a refletir sobre o fato de que as novas tecnologias não somente transformam o modo de comunicar, mas estão operando uma vasta transformação cultural. Vai-se desenvolvendo um novo modo de aprender e de pensar, com inéditas oportunidades de estabelecer relações e construir comunhão. Desejo, portanto, deter-me sobre o fato de que o pensamento e a relação acontecem sempre na modalidade da linguagem, entendida naturalmente no sentido lato, não somente verbal. A linguagem não é simples revestimento intercambiável e provisório de conceitos, mas o contexto vivente e pulsante no qual os pensamentos, as inquietudes e os projetos dos homens vêm à consciência e são plasmados em gestos, símbolos e palavras. O homem, portanto, não somente “usa”, mas, em certo sentido, “habita” a linguagem. Em particular hoje, aquelas que o Concílio Vaticano II definiu como “maravilhosas invenções técnicas” (Inter mirifica, 1) estão transformando o ambiente cultural, e isso requer uma atenção específica às linguagens que aí se desenvolvem. As novas tecnologias “têm a capacidade de pesar, não só nos modos de pensar, mas também nos conteúdos do pensamento” (Aetatis novae, 4).
As novas linguagens que se desenvolvem na comunicação digital determinam, por um lado, uma capacidade mais intuitiva e emotiva que analítica, orientam rumo a uma diversa organização lógica do pensamento e do relacionamento com a realidade, privilegiam frequentemente as imagens e as ligações hipertextuais. A tradicional distinção nítida entre linguagem escrita e oral, pois, parece indefinir-se em favor de uma comunicação escrita que toma a forma e a imediação da oralidade. As dinâmicas próprias das “redes participativas” requerem também que a pessoa seja envolvida naquilo que comunica. Quando as pessoas trocam informações, estão já compartilhando a si mesmas e as suas visões de mundo: tornam-se “testemunhos” daquilo que dá sentido às suas existências. Os riscos que se correm, certamente, estão frente aos olhos de todos: a perda de interioridade, a superficialidade no viver as relações, a fuga na emotividade, o prevalecer da opinião mais convincente com relação ao desejo de verdade. E, todavia, essas são consequência de uma incapacidade de viver com plenitude e de maneira autêntica o sentido das inovações. Eis porque a reflexão sobre as linguagens desenvolvidas pelas novas tecnologias é urgente. O ponto de partida é a própria Revelação, que nos testemunha como Deus comunicou as suas maravilhas exatamente na linguagem e na experiência real dos homens, “segundo a cultura própria de cada época” (Gaudium et spes, 58), até a plena manifestação de si no Filho Encarnado. A fé sempre penetra, enriquece, exalta e vivifica a cultura, e essa, por sua vez, faz-se veículo da fé, que oferece a linguagem para se pensar e expressar. É necessário, portanto, que nos tornemos atentos ouvintes das linguagens dos homens de nosso tempo, para estarmos atentos à obra de Deus no mundo.
Nesse contexto, é importante o trabalho que desenvolve o Pontifício Conselho das Comunicações Sociais ao aprofundar-se na “cultura digital”, estimulando e apoiando a reflexão para um maior conhecimento acerca dos desafios que esperam a comunidade eclesial e civil. Não se trata somente de expressar a mensagem evangélica na linguagem de hoje, mas é preciso ter a coragem de pensar de modo mais profundo, como aconteceu em outras épocas, sobre o relacionamento entre fé, vida da Igreja e as mudanças que o homem está vivendo. É o empenho de ajudar a quantos têm responsabilidade na Igreja a estarem capazes de compreender, interpretar e falar a “nova linguagem” dos media em função pastoral (cf. Aetatis novae, 2), em diálogo com o mundo contemporâneo, perguntando-se: quais desafios o assim chamado “pensamento digital” coloca à fé e à teologia? Quais demandas e exigências?
O mundo da comunicação interessa a todo o universo cultural, social e espiritual da pessoa humana. Se as novas linguagens têm um impacto sobre o modo de pensar e viver, isso diz respeito, de algum modo, também ao mundo da fé, à sua inteligência e à sua expressão. A teologia, segundo uma clássica definição, é inteligência da fé, e sabemos bem como a inteligência, entendida como consciência refletida e crítica, não é estranha às mudanças culturais em curso. A cultura digital apresenta novos desafios à nossa capacidade de falar e de escutar uma linguagem simbólica que fale de transcendência. Jesus mesmo no anúncio do Reino soube utilizar os elementos da cultura e do ambiente do seu tempo: as ovelhas, os campos, o banquete, as sementes e assim por diante. Hoje, somos chamados a descobrir, também na cultura digital, símbolos e metáforas significativas para as pessoas, que possam ajudar a falar do Reino de Deus ao homem contemporâneo.
É preciso, também, considerar que a comunicação nos tempos dos “novos media” comporta uma relação sempre mais estreita e cotidiana entre o homem e as máquinas, como computadores e telefones celulares, para citar somente as mais comuns. Quais serão os efeitos dessa relação constante? Já o Papa Paulo VI, referindo-se aos primeiros projetos de automação das análises linguísticas do texto bíblico, indicava uma pista de reflexão quando se perguntava: “Não é esse esforço de difundir em instrumentos mecânicos o reflexo de funções espirituais algo enobrecido e exaltado por ser um serviço que se relaciona com o sagrado? É o espírito que se fez prisioneiro da matéria, ou não é talvez a matéria, já domada e obrigada a seguir as leis do espírito, que oferece ao mesmo espírito um sublime favor?” (Discorso al Centro di Automazione dell’Aloisianum di Gallarate, 19 giugno 1964). Intui-se nessas palavras o vínculo profundo com o espírito ao qual a tecnologia é chamada por vocação (cf. Encíclica Caritas in veritate, 69).
É exatamente o apelo aos valores espirituais que permitirá promover uma comunicação verdadeiramente humana: para além de todo o fácil entusiasmo ou ceticismo, sabemos que essa é uma resposta ao chamado impresso na nossa natureza de sermos criados à imagem e semelhança do Deus da comunhão. Por isso, a comunicação bíblica segundo a vontade de Deus está sempre ligada ao diálogo e à responsabilidade, como testemunham, por exemplo, as figuras de Abraão, Moisés, Jó e os Profetas, e nunca à sedução linguística, como é, ao contrário, o caso da serpente, ou à incomunicabilidade e violência, como no caso de Caim. A contribuição dos crentes, portanto, poderá ser a de auxiliar o próprio mundo dos media, abrindo horizontes de sentido e de valores que a cultura digital não é capaz de, sozinha, perceber e representar.
Por fim, apraz-me recordar, juntamente a muitas outras figuras de comunicadores, aquele de padre Matteo Ricci, protagonista do anúncio do Evangelho na China na era moderna, do qual celebramos o IV centenário da morte. Na sua obra de difusão da mensagem de Cristo, considerou sempre a pessoa, o seu contexto cultural e filosófico, os seus valores, a sua linguagem, colhendo tudo aquilo que de positivo se encontrava na sua tradição, e oferecendo-se para animá-la e elevá-la com a sabedoria e a verdade de Cristo.
Queridos amigos, agradeço-vos pelo vosso serviço; confio-vos à proteção da Virgem Maria e, ao assegurar-vos a minha oração, concedo-vos a Bênção Apostólica.