“Caros jovens, a Igreja conta com vocês! A vossa presença renova a Igreja, rejuvenesce a faz deslanchar. Por isto, as Jornadas Mundiais da Juventude é uma graça não apenas para vocês, mas para todo o povo de Deus. A Igreja da Espanha esta se preparando ativamente para acolher cada um de vocês e viver em comunhão a feliz experiência da fé”.
São estas palavras de Bento XVI aos jovens do mundo inteiro, que estamos também nós nos preparando para viver mais esta Jornada Mundial da Juventude, que este ano será em Madri dos dias 16 a 21 de agosto deste ano, com o tema “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (Cl 2,7). Este ano o próprio tema nos permite exaltar a presença central da figura de Jesus na vivência de fé de cada jovem cristão. De fato somente fixando o olhar sobre Jesus e seguindo seus passos, se consegue a inspiração e a força para fazer-se testemunha da própria fé na complexidade da nossa sociedade contemporânea.
Mas por que um encontro mundial de jovens? Qual o sentido para toda esta preparação? Existe realmente algum resultado nisso?
Desde 1984, quando se teve em Roma, a primeira jornada mundial da juventude, querida pelo então Papa João Paulo II, até a última em 2008, com Bento XVI, estes encontros são marcados por profundos encontros de fé viva e vivada pelos jovens do mundo inteiro, que se reúnem em torno do Sucessor de São Pedro, para um dialogo de fé entendido e falado na linguagem jovem. Jovens estes, que brilham, não com coisas superficiais que passam, mas, porque em Cristo, são luz do mundo. Esta é a intenção de cada JMJ, “recarregar as lâmpadas de cada jovem, para cada jovem iluminado por Cristo, iluminar o mundo”.
Jovem evangeliza outro jovem, porque fala a mesma língua, gosta de desafios, se sente motivado a viver perigosamente. Um jovem que vive uma experiência de ver milhares de outros jovens, profetizando a mesma fé, terá a coragem de dizer, que no mundo, não se está sozinho, pois milhares de outros jovens vivem as mesmas coisas que todo jovem vive, de maneira diferente, por ter Cristo nos seus corações e nas suas escolhas. Qual outro sentido teria um encontro mundial de jovens, se não fosse levar estes jovens a um encontro com Cristo, e um encontro com outros jovens?
Estes encontros não teriam sentido, se não desafiassem cada jovem – do mundo globalizado, do mundo cibernético, do mundo das modas – a viver a santidade de cada dia. A santidade não é algo que ficou na antiguidade da vida da Igreja, nem mesmo apenas para padres ou freiras. A santidade é uma vocação, que todos e cada um têm como apelo a viver, na realidade concreta do dia-a-dia. Seja na escola, na faculdade, no grupo de amigos, no trabalho, em casa, na família, com jovens que não conhecem a Deus, a santidade é para todos, é possível a todos, é compromisso de todos. E este compromisso só terá sentido, se antes cada um de nós formos interpelados por um Amor tão grande, que é capaz de reunir milhares e milhares de jovens em algum lugar do mundo (este ano em Madri) para dizer pessoalmente a cada um, é possível viver hoje a santidade. Hoje porque o amanha a Deus pertence, e o ontem já passou.
Este é o sentido do nos preparar e preparar bem para vivermos de perto ou de longe a Jornada Mundial da Juventude, “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé”.
Deus te abençoe e te faça viver a cada dia o apelo de Deus à santidade.

Um comportamento sexual responsável e a fidelidade ao próprio parceiro foram os principais fatores que determinaram a fortíssima queda da incidência de Aids na nação africana do Zimbábue. E esses dados não provêm de nenhuma diocese católica ou instituição religiosa: a informação é defendida pela prestigiada Universidade de Harvard, a mais antiga instituição de estudos superiores dos Estados Unidos, com 375 anos de história.

O pesquisador do Departamento para a Saúde global e População de Harvard, Daniel Halperin, está empenhado desde 1998 em estudar as dinâmicas sociais que estão na base da difusão das doenças sexualmente transmissíveis nos países em via de desenvolvimento, que são os maiores afetados pelo flagelo da Aids.

Através de dados estatísticos e análises de campo, como entrevistas e grupos focais, Halperin conseguiu recolher testemunhos até mesmo dos bolsões mais pobres do país africano. A curva em queda em 10 anos é evidente: entre 1997 e 2007, a taxa de infecção entre a população adulta caiu de 29 para 16%. “A repentina e nítida diminuição anda de mãos dadas com a redução de comportamentos de risco, como relações extraconjugais, com prostitutas ou ocasionais”, diz, sem hesitar, o pesquisador.

O estudo foi publicado em PLoSMedicine.org e é financiado pela agência estadounidense para o Desenvolvimento internacional, da qual Halperin já foi conselheiro, e pelo Fundo das Nações Unidas para a População e o Desenvolvimento. Com isso, o pesquisador alimenta uma séria e honesta reflexão sobre as políticas até agora adotadas pelas principais agência de luta contra a Aids nos países em vias de desenvolvimento.

Segundo Halperin, é evidente que a drástica inversão dos comportamentos sexuais da população do Zimbábue “foi auxiliada por programas de prevenção nos mass media e por projetos formativos promovidos pelas igrejas e confissões religiosas”, relata. Essas intervenções são propriamente culturais, com resultados mais distantes no tempo. No entanto, são mais incisivas e duradouras que a prática da distribuição de profiláticos, como a camisinha, que se apresenta como ineficaz.

Bento XVI

Na viagem apostólica que realizou à África, em 2009, o Papa Bento XVI comentou que o preservativo não era a solução para a luta contra a Aids. As palavras do Papa foram alvo de ásperas críticas e polêmicas, preconceituosas e não científicas, como se pode compreender também com o auxílio desse estudo ora divulgado. Também no livro-entrevista Luz do Mundo, o Pontífice recorda que “os profiláticos estão à disposição em todos os lugares, mas somente isso não resolve a questão”.

Desse modo, cada vez mais a pesquisa científica – quando honesta e não baseada na busca de vantagens econômicas – reconhece que as ações mais eficazes contra a Aids são aquelas similares ao método ABC (abstinência, fidelidade e, somente em última análise, utilização dos profiláticos), adotada com sucesso na Uganda, por exemplo.

A própria revista Science lançou luzes sobre o fato de que “a parte de maior sucesso do programa foi a mudança do comportamento sexual, com uma redução de 60% das pessoas que declaravam ter tido mais relacionamentos sexuais e o aumento do percentual dos jovens entre 15 e 19 anos que se abstiveram de sexo”. A adoção do programa colocou Uganda em uma posição exemplar na luta contra a Aids no continente africano.

Definitivamente, segundo o estudo de Halperin, é preciso “ensinar a evitar a promiscuidade e promover a fidelidade”, apoiando aquelas iniciativas que buscam verdadeiramente construir na sociedade afetada pela Aids uma nova cultura.

Enfim, como afirma Bento XVI, trabalhar para uma “humanização da sexualidade”.

Queridos Irmãos e Irmãs,

Estou contente por acolher-vos na ocasião da Plenária do Dicastério. Saúdo o Presidente, Dom Claudio Maria Celli, a quem agradeço pelas corteses palavras, os Secretários, os Oficiais, os Consultores e todo o Pessoal de trabalho.

Na Mensagem para o Dia das Comunicações deste ano, convidei a refletir sobre o fato de que as novas tecnologias não somente transformam o modo de comunicar, mas estão operando uma vasta transformação cultural. Vai-se desenvolvendo um novo modo de aprender e de pensar, com inéditas oportunidades de estabelecer relações e construir comunhão. Desejo, portanto, deter-me sobre o fato de que o pensamento e a relação acontecem sempre na modalidade da linguagem, entendida naturalmente no sentido lato, não somente verbal. A linguagem não é simples revestimento intercambiável e provisório de conceitos, mas o contexto vivente e pulsante no qual os pensamentos, as inquietudes e os projetos dos homens vêm à consciência e são plasmados em gestos, símbolos e palavras. O homem, portanto, não somente “usa”, mas, em certo sentido, “habita” a linguagem. Em particular hoje, aquelas que o Concílio Vaticano II definiu como “maravilhosas invenções técnicas” (Inter mirifica, 1) estão transformando o ambiente cultural, e isso requer uma atenção específica às linguagens que aí se desenvolvem. As novas tecnologias “têm a capacidade de pesar, não só nos modos de pensar, mas também nos conteúdos do pensamento” (Aetatis novae, 4).

As novas linguagens que se desenvolvem na comunicação digital determinam, por um lado, uma capacidade mais intuitiva e emotiva que analítica, orientam rumo a uma diversa organização lógica do pensamento e do relacionamento com a realidade, privilegiam frequentemente as imagens e as ligações hipertextuais. A tradicional distinção nítida entre linguagem escrita e oral, pois, parece indefinir-se em favor de uma comunicação escrita que toma a forma e a imediação da oralidade. As dinâmicas próprias das “redes participativas” requerem também que a pessoa seja envolvida naquilo que comunica. Quando as pessoas trocam informações, estão já compartilhando a si mesmas e as suas visões de mundo: tornam-se “testemunhos” daquilo que dá sentido às suas existências. Os riscos que se correm, certamente, estão frente aos olhos de todos: a perda de interioridade, a superficialidade no viver as relações, a fuga na emotividade, o prevalecer da opinião mais convincente com relação ao desejo de verdade. E, todavia, essas são consequência de uma incapacidade de viver com plenitude e de maneira autêntica o sentido das inovações. Eis porque a reflexão sobre as linguagens desenvolvidas pelas novas tecnologias é urgente. O ponto de partida é a própria Revelação, que nos testemunha como Deus comunicou as suas maravilhas exatamente na linguagem e na experiência real dos homens, “segundo a cultura própria de cada época” (Gaudium et spes, 58), até a plena manifestação de si no Filho Encarnado. A fé sempre penetra, enriquece, exalta e vivifica a cultura, e essa, por sua vez, faz-se veículo da fé, que oferece a linguagem para se pensar e expressar. É necessário, portanto, que nos tornemos atentos ouvintes das linguagens dos homens de nosso tempo, para estarmos atentos à obra de Deus no mundo.

Nesse contexto, é importante o trabalho que desenvolve o Pontifício Conselho das Comunicações Sociais ao aprofundar-se na “cultura digital”, estimulando e apoiando a reflexão para um maior conhecimento acerca dos desafios que esperam a comunidade eclesial e civil. Não se trata somente de expressar a mensagem evangélica na linguagem de hoje, mas é preciso ter a coragem de pensar de modo mais profundo, como aconteceu em outras épocas, sobre o relacionamento entre fé, vida da Igreja e as mudanças que o homem está vivendo. É o empenho de ajudar a quantos têm responsabilidade na Igreja a estarem capazes de compreender, interpretar e falar a “nova linguagem” dos media em função pastoral (cf. Aetatis novae, 2), em diálogo com o mundo contemporâneo, perguntando-se: quais desafios o assim chamado “pensamento digital” coloca à fé e à teologia? Quais demandas e exigências?

O mundo da comunicação interessa a todo o universo cultural, social e espiritual da pessoa humana. Se as novas linguagens têm um impacto sobre o modo de pensar e viver, isso diz respeito, de algum modo, também ao mundo da fé, à sua inteligência e à sua expressão. A teologia, segundo uma clássica definição, é inteligência da fé, e sabemos bem como a inteligência, entendida como consciência refletida e crítica, não é estranha às mudanças culturais em curso. A cultura digital apresenta novos desafios à nossa capacidade de falar e de escutar uma linguagem simbólica que fale de transcendência. Jesus mesmo no anúncio do Reino soube utilizar os elementos da cultura e do ambiente do seu tempo: as ovelhas, os campos, o banquete, as sementes e assim por diante. Hoje, somos chamados a descobrir, também na cultura digital, símbolos e metáforas significativas para as pessoas, que possam ajudar a falar do Reino de Deus ao homem contemporâneo.

É preciso, também, considerar que a comunicação nos tempos dos “novos media” comporta uma relação sempre mais estreita e cotidiana entre o homem e as máquinas, como computadores e telefones celulares, para citar somente as mais comuns. Quais serão os efeitos dessa relação constante? Já o Papa Paulo VI, referindo-se aos primeiros projetos de automação das análises linguísticas do texto bíblico, indicava uma pista de reflexão quando se perguntava: “Não é esse esforço de difundir em instrumentos mecânicos o reflexo de funções espirituais algo enobrecido e exaltado por ser um serviço que se relaciona com o sagrado? É o espírito que se fez prisioneiro da matéria, ou não é talvez a matéria, já domada e obrigada a seguir as leis do espírito, que oferece ao mesmo espírito um sublime favor?” (Discorso al Centro di Automazione dell’Aloisianum di Gallarate, 19 giugno 1964). Intui-se nessas palavras o vínculo profundo com o espírito ao qual a tecnologia é chamada por vocação (cf. Encíclica Caritas in veritate, 69).

É exatamente o apelo aos valores espirituais que permitirá promover uma comunicação verdadeiramente humana: para além de todo o fácil entusiasmo ou ceticismo, sabemos que essa é uma resposta ao chamado impresso na nossa natureza de sermos criados à imagem e semelhança do Deus da comunhão. Por isso, a comunicação bíblica segundo a vontade de Deus está sempre ligada ao diálogo e à responsabilidade, como testemunham, por exemplo, as figuras de Abraão, Moisés, Jó e os Profetas, e nunca à sedução linguística, como é, ao contrário, o caso da serpente, ou à incomunicabilidade e violência, como no caso de Caim. A contribuição dos crentes, portanto, poderá ser a de auxiliar o próprio mundo dos media, abrindo horizontes de sentido e de valores que a cultura digital não é capaz de, sozinha, perceber e representar.

Por fim, apraz-me recordar, juntamente a muitas outras figuras de comunicadores, aquele de padre Matteo Ricci, protagonista do anúncio do Evangelho na China na era moderna, do qual celebramos o IV centenário da morte. Na sua obra de difusão da mensagem de Cristo, considerou sempre a pessoa, o seu contexto cultural e filosófico, os seus valores, a sua linguagem, colhendo tudo aquilo que de positivo se encontrava na sua tradição, e oferecendo-se para animá-la e elevá-la com a sabedoria e a verdade de Cristo.

Queridos amigos, agradeço-vos pelo vosso serviço; confio-vos à proteção da Virgem Maria e, ao assegurar-vos a minha oração, concedo-vos a Bênção Apostólica.

Há pouco mais de dois meses para a Beatificação do Papa João Paulo II, começam a multiplicar-se os eventos de natureza eclesial e cultural ao redor do mundo com o objetivo de preparar para a cerimônia.

Nesta sexta-feira, 25, o postulador da Causa de Beatificação de Karol Wojtyla (nome de batismo do Papa polonês), padre Slawomir Oder, participou da Conferência “O segredo e a essência da santidade de João Paulo II”, junto ao Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, em Roma. O encontro foi promovido pelo Centro de Estudos João Paulo II, estrutura do Ateneu que recolhe publicações e escritos do e sobre o futuro Beato.

“Aquilo que caracteriza, no entanto, a [santidade da] figura de João Paulo II, como emerge das cartas do processo de Beatificação, são essencialmente duas dimensões. A sua dimensão de homem de oração, de homem de Deus, e a dimensão da sua ânsia apostólica, o seu ser missionário de Cristo. De fato, urgia nele aquela caridade de Cristo que o incentivava a levar o Senhor a todos os lugares”, explica o postulador.

A seguir, confira uma entrevista de padre Oder à Rádio Vaticano, na qual ele fala sobre os preparativos para o acontecimento e a experiência com João Paulo II:

Padre Slawomir Oder – Não há dúvidas de que, antes de tudo em nível humano, trata-se de uma grande emoção. Para mim, a Causa de Beatificação de João Paulo II foi, sem dúvida, uma aventura espiritual que assinalou a minha pessoa e constitui um marco na minha vida. Ter, portanto, a consciência de ter podido contribuir com a realização desta realidade extraordinária, de termos chegado ao ponto em que chegamos, me dá um sentido de satisfação, de alegria frente ao Senhor.

Rádio Vaticano – Seguramente, há muitos aspectos importantes deste processo para a Causa de Beatificação. Se o senhor tivesse que citar aquilo que mais lhe marcou nestes anos…

Padre Oder – Seguramente a sua espiritualidade, o seu modo de rezar, o seu modo de ser. Da figura de João Paulo II atrai, sem dúvidas, a profundidade da sua vida espiritual. Uma expressão que o define muito bem é “homem de Deus”, “homem de oração”. E isso é um aspecto que levarei comigo no coração, um tesouro para mim, para o meu sacerdócio. Além disso, o processo é feito também por encontros com pessoas que escrevem os testemunhos. Nesse caso, aquilo que me marcou foi a proximidade deste grande homem de Deus – este grande místico, podemos dizer – da vida de tantas pessoas. Ele entrou nos corações, nas nossas famílias, e ali permaneceu. O afeto que se percebe dos testemunhos que ainda chegam à sede da postulação faz compreender que Papa Wojtyla é uma pessoa viva nos nossos corações, nos nossos sentimentos.

RV – Chegamos ao tema da Conferência no Regina Apostolorum, um tema com um título já muito ambicioso: “O segredo e a essência da santidade de João Paulo II”. É obviamente muito difícil responder a essa pergunta. Mas qual foi a essência desse testemunho de santidade?

Padre Oder – Efetivamente, restituir com uma frase – ainda que com uma conferência – um quadro completo desse personagem é impossível. Aquilo que caracteriza, no entanto, a figura de João Paulo II, como emerge das cartas do processo de Beatificação, são essencialmente duas dimensões. A sua dimensão de homem de oração, de homem de Deus, e a dimensão da sua ânsia apostólica, o seu ser missionário de Cristo. De fato, urgia nele aquela caridade de Cristo que o incentivava a levar o Senhor a todos os lugares. O ponto comum desses dois aspectos é o seu amor por Cristo. Ele amou o Senhor porque se sentiu profundamente amado por Ele, por isso não podia fazer outra coisa senão responder com essa profundiade de vida espiritual e com essa abertura do seu coração ao mudo.

RV – Quais frutos se poderão colher desta Beatificação de primeiro de maio?

Padre Oder – Penso no seguinte: nos anos deste processo, tive a nítida sensação de que quem o fez foi, na realidade, o Senhor: é Ele que dita os seus tempos, o seu modo de agir, muitas vezes surpreendente. Por isso, estou convencido de que o Senhor, através da bondade da mensagem de João Paulo II, semeará nos corações de tantas pessoas muitos frutos espirituais. Mas aquilo que seguramente será um elemento comum, como eu espero e desejo, é o suscitar a esperança, a renovada esperança de que João Paulo II foi justamente chamado a ser testemunha, e ele o é. É a esperança que o mundo não dá, mas a dá somente a amizade com o Senhor, com Cristo.

Queridos irmãos no Episcopado

Amados presbíteros,

religiosas, religiosos e fiéis leigos

Próximo de se completar os 17 anos do I Congresso Continental Latinoamericano sobre as Vocações, convocado pela Santa Sé, em estreita colaboração com o Conselho Episcopal Latinoamericano e a Confederação de Religiosos. Aquele evento significou uma importante ocasião para relançar, em todo o continente a Pastoral Vocacional.

O presente Congresso, que acontece em Cartago, na Costa Rica, é uma inciativa dos bispos responsáveis da Pastoral Vocacional da América Latina e Caribe, com a qual se pretende seguir o caminho já iniciado, no contexto desse grande impulso missionário promovido pela V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Aparecida (Documento Final, 548). A grande tarefa da evangelização requer um número crescente de pessoas que respondem com generosidade ao chamado de Deus e entreguem a vida pela causa do Evangelho. A atividade missionária mais incisiva traz frutos preciosos, juntamente ao fortalecimento da vida cristã em geral, o aumento das vocações de especial consagração. De alguma forma, a abundância de vocações é um sinal eloquente da vitalidade eclesial, bem como a forte vivência da fé por todos os membros do povo de Deus.

A Igreja, no mais íntimo do seu ser, tem uma dimensão vocacional, implícita em seu significado etimológico: “assembleia convocada” por Deus. A vida cristã participa também desta mesma dimensão vocacional que caracteriza a Igreja. Na alma de cada cristão ressoa sempre de novo aquele “segue-me” de Jesus aos apóstolos, que mudou para sempre suas vidas (cf. Mt 4, 19).

No segundo Congresso, que tem como tema “Mestre, em atenção a tua Palavra, lançarei as redes” (Lc 5, 5), os distintos agentes da Pastoral Vocacional da Igreja na América Latina e no Caribe tem se reunido com o objetivo de fortalecer a Pastoral, de modo que os batizados asssuma seu chamado de discípulos e missionários de Cristo, nas circunstâncias atuais destas amadas terras. A este respeito, o Concílio Vaticano II afirma que “toda a comunidade cristã tem o dever de fomentar as vocações e deve, procurá-lo, antes de tudo, com uma vida plenamente cristã” (Optatam totius, 2). A Pastoral Vocacional deve ser totalmente inserida no conjunto das pastorais em geral e com uma presença capilar em todos as pastorais concretos (cf. V Conferência Geral de Aparecida, documento final, 314). A experiência mostra que, onde houver um bom planejamento e uma prática constante da Pastoral Vocacional, as vocações não faltam. Deus é generoso e igualmente generoso deve ser o empenho da Pastoral em todas as Igrejas particulares.

Entre os muitos aspectos que poderiam ser consideradas para o cultivo das vocações, gostaria de salientar a importância de cuidar da vida espiritual. A vocação não é o resultado de qualquer projeto humano ou de uma hábil estratégia organizativa. Na sua realidade mais profunda, é um dom de Deus, uma iniciativa misteriosa e inefável do Senhor, que entra na vida de uma pessoa cativando-a com a beleza do seu amor e suscitando, consequentemente, uma entrega total e definitiva a esse amor divino (cf. Jo 15, 9.16). Tenha sempre presente a primazia da vida espiritual como a base de toda a programação pastoral. É necessário oferecer às jovens gerações a oportunidade de abrir seus corações para uma realidade maior: Cristo, o único que pode dar sentido e plenitude a sua vida. Precisamos superar nossa auto-suficiência e ir com humildade ao Senhor, implorando-lhe para continuar chamando a muitos. Mas, ao mesmo tempo, o fortalecimento de nossa vida espiritual deve nos levar à identificação cada vez maior com a vontade de Deus e oferecer um testemunho mais limpo e transparente de fé, esperança e caridade.

De fato, o testemunho pessoal e comunitário para uma vida de amizade e intimidade com Cristo, em devoção plena e feliz a Deus, ocupa um lugar de primeira ordem no trabalho de promoção das vocações. O testemunho fiel e alegre da própria vocação tem sido e é um excelente meio para despertar em tantos jovens o desejo de seguir os passos de Cristo. E junto a isso, a coragem de propor-lhe com delicadez e respeito a possibilidade de que Deus também os chame. Muitas vezes, a vocação divina abre espaço através de uma palavra humana ou através de um ambiente em que se experimenta uma fé viva. Hoje, como sempre, os jovens “são sensíveis ao chamado de Cristo que os convida a seguir ” (Discurso proferido na sessão de abertura da V Conferência Geral de Aparecida, 13 de maio, 2007). O mundo precisa de Deus e, por isso, sempre terá a ncessidade de pessoas que de vivam para Ele e que O anunciem aos outros (cf. Carta aos seminaristas, 18 de outubro de 2010).

A preocupação com as vocações ocupa um lugar especial no meu coração e minhas orações. Peço, então, queridos irmãos e irmãs, que se consagrem com todas as suas forças e talentos a esta apaixonate e urgente tarefa, que o Senhor saberá recompensar generosamente. Imploro sobre os organizadores e participantes do Congresso a intercessão da Virgem Maria, verdadeiro modelo de resposta generosa à iniciativa de Deus, ao mesmo tempo que concedo uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 21 de janeiro de 2011