Nesta Santa Missa que tenho a alegria de presidir, concelebrando com numerosos Irmãos no episcopado e com um grande número de sacerdotes, agradeço ao Senhor por todas as queridas famílias aqui reunidas e por muitas outras que estão unidas conosco através do rádio e da televisão.

O meu agradecimento particular ao Cardeal Josip Bozanić, Arcebispo de Zagrábia, pelas sentidas palavras que me dirigiu no início da Santa Missa. A todos dirijo a minha saudação e exprimo a minha grande estima com um abraço de paz.

Celebramos há pouco a Ascensão do Senhor e preparamo-nos para receber o grande dom do Espírito Santo. Vimos, na primeira leitura, como a comunidade apostólica se reunira em oração no Cenáculo com Maria, a Mãe de Jesus (cf. Ato 1, 12-14). Este é um retrato da Igreja cujas raízes assentam no evento pascal: de fato, o Cenáculo é o lugar onde Jesus instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio na Última Ceia, e onde, ressuscitado dos mortos, efundiu o seu Espírito sobre os Apóstolos ao entardecer do dia de Páscoa (cf. Jo 20, 19-23).

O Senhor ordenara aos seus discípulos que “não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a Promessa do Pai” (Ato 1, 4), isto é, pedira que permanecessem juntos preparando-se para receber o dom do Espírito Santo. E eles reuniram-se em oração com Maria no Cenáculo à espera do acontecimento prometido (Ato 1, 14).

Permanecer juntos foi a condição que Jesus pôs para acolherem a vinda do Paráclito, e a prolongada oração foi o pressuposto da sua concórdia. Aqui encontramos uma lição estupenda para cada comunidade cristã. Às vezes pensa-se que a eficácia missionária dependa principalmente de uma cuidadosa programação e da sua realização inteligente através de um compromisso concreto.

O Senhor pede certamente a nossa colaboração, mas, antes de qualquer resposta da nossa parte, é necessária a sua iniciativa: o verdadeiro protagonista é o seu Espírito, que se deve invocar e acolher.

No Evangelho, ouvimos a primeira parte da chamada “oração sacerdotal” de Jesus (cf. Jo 17, 1-11a) – depois dos discursos de despedida – repleta de familiaridade, ternura e amor. Designa-se “oração sacerdotal”, porque nela Jesus aparece na atitude de sacerdote que intercede pelos seus, quando está para deixar este mundo. Predomina no texto um duplo tema: o da hora e o da glória. Trata-se da hora da morte (cf. Jo 2, 4; 7, 30; 8, 20), a hora em que o Filho deve passar deste mundo para o Pai (Jo 13, 1); mas ao mesmo tempo é também a hora da sua glorificação que se realiza através da cruz, designada pelo evangelista João como “exaltação”, isto é, levantamento, elevação à glória: a hora da morte de Jesus, a hora do amor supremo, é a hora da sua glória mais alta. Também para a Igreja, para cada cristão, a glória mais alta é aquela Cruz, é viver a caridade, dom total a Deus e aos outros.

Amados irmãos e irmãs! De bom grado acolhi o convite que me fizeram os Bispos da Croácia para visitar este País por ocasião do primeiro Encontro Nacional das Famílias Católicas Croatas. Desejo exprimir vivo apreço pela vossa solicitude e empenho a favor da família, não só porque esta realidade humana fundamental tem hoje no vosso país, como noutros lados, de enfrentar dificuldades e ameaças e, por conseguinte, precisa particularmente de ser evangelizada e sustentada, mas também porque as famílias cristãs são um recurso decisivo para a educação na fé, para a edificação da Igreja como comunhão e para a sua presença missionária nas mais diversas situações da vida.

Conheço a generosidade e dedicação com que vós, queridos Pastores, servis o Senhor e a Igreja. O vosso trabalho diário, tanto na formação da fé das novas gerações como na preparação para o matrimônio e no acompanhamento das famílias, é o caminho fundamental para regenerar incessantemente a Igreja e também para vivificar o tecido social do país. Possa este precioso serviço pastoral continuar a contar com a vossa disponibilidade!

Cada um bem sabe como a família cristã é um sinal especial da presença e do amor de Cristo e como está chamada a dar uma contribuição específica e insubstituível para a evangelização. O Beato João Paulo II, que visitou três vezes este nobre país, afirmava que “a família cristã é chamada a tomar parte viva e responsável na missão da Igreja de modo próprio e original, colocando-se ao serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e agir, enquanto comunidade íntima de vida e de amor” (Familiaris consortio, 50).

A família cristã foi sempre a primeira via de transmissão da fé e ainda hoje conserva grandes possibilidades para a evangelização em muitos âmbitos.

Queridos pais, empenhai-vos sempre em ensinar os vossos filhos a rezar, e rezai com eles; aproximai-os dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia (este ano, celebrais seis séculos do “milagre eucarístico de Ludberg”); introduzi-os na vida da Igreja; na intimidade doméstica, não tenhais medo de ler a Sagrada Escritura, iluminando a vida familiar com a luz da fé e louvando a Deus como Pai. Sede uma espécie de Cenáculo em miniatura, como o de Maria e dos discípulos, onde se vive a unidade, a comunhão, a oração.

Hoje, graças a Deus, muitas famílias cristãs vão adquirindo cada vez maior consciência da sua vocação missionária, e comprometem-se seriamente dando testemunho de Cristo Senhor. O Beato João Paulo II fez questão de salientar: “Uma família autêntica, fundada no matrimônio, é em si mesma uma ‘boa notícia’ para o mundo”. E acrescentou: “No nosso tempo, são cada vez mais numerosas as famílias que colaboram ativamente na evangelização. Amadureceu na Igreja a hora da família, que é também a hora da família missionária” (Angelus, 21 de Outubro de 2001).

Na sociedade atual, é muito necessária e urgente a presença de famílias cristãs exemplares. Infelizmente temos de constatar, sobretudo na Europa, o aumento de uma secularização que leva a deixar Deus à margem da vida e a uma crescente desagregação da família. Absolutiza-se uma liberdade sem compromisso com a verdade, e cultiva-se como ideal o bem-estar individual através do consumo de bens materiais e de experiências efêmeras, descuidando a qualidade das relações com as pessoas e os valores humanos mais profundos; reduz-se o amor a mera emoção sentimental e à satisfação de impulsos instintivos, sem empenhar-se por construir laços duradouros de mútua pertença e sem abertura à vida. Somos chamados a contrastar esta mentalidade.

A par da palavra da Igreja, é muito importante o testemunho e o compromisso das famílias cristãs, o seu testemunho concreto, sobretudo para afirmar a intangibilidade da vida humana desde a concepção até ao seu fim natural, o valor único e insubstituível da família fundada no matrimônio e a necessidade de disposições legislativas que sustentem as famílias na sua tarefa de gerar e educar os filhos. Queridas famílias, sede corajosas!

Não cedais à mentalidade secularizada que propõe a convivência como preparação ou mesmo substituição do matrimônio.

Mostrai com o vosso testemunho de vida que é possível amar, como Cristo, sem reservas, que não é preciso ter medo de assumir um compromisso com outra pessoa. Queridas famílias, alegrai-vos com a paternidade e a maternidade! A abertura à vida é sinal de abertura ao futuro, de confiança no futuro, tal como o respeito da moral natural, antes que mortificar a pessoa, liberta-a. O bem da família é igualmente o bem da Igreja.

Quero repetir aqui o que disse um dia: “A edificação de cada uma das famílias cristãs situa-se no contexto daquela família mais ampla que é a Igreja, a qual a sustenta e leva consigo. E, vice-versa, a Igreja é edificada pelas famílias, pequenas Igrejas domésticas” (Discurso de abertura do Congresso eclesial diocesano de Roma, 6 de Junho de 2005: Insegnamenti di Benedetto XVI, vol. I, 2005, p. 205).

Peçamos ao Senhor que cada vez mais as famílias se tornem pequenas Igrejas e as comunidades eclesiais sejam cada vez mais família.

Queridas famílias croatas, vivendo na comunhão de fé e caridade, sede testemunhas de maneira sempre mais transparente da promessa que o Senhor, ao subir ao Céu, fez a cada um de nós: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20).

Amados cristãos croatas, senti-vos chamados a evangelizar com toda a vossa vida; senti intensamente a palavra do Senhor: “Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações” (Mt 28, 19). A Virgem Maria, Rainha dos Croatas, vele incessantemente sobre este vosso caminho. Amém. Sejam louvados Jesus e Maria!

“Não podemos permanecer indiferentes” diante dos ataques que atingem hoje a família, célula fundamental da sociedade, disse o Papa Bento XVI em mensagem enviada nesta segunda-feira, 28, ao encontro realizado em Bogotá, Colômbia, que reuniu os bispos responsáveis pelas Comissões episcopais da Família e da Vida na América Latina e no Caribe.

O bem da família é um dos principais valores dos povos da América Latina, mas muitas famílias, salienta o Santo Padre, sofrem por causa de muitas “situações muitas vezes provocadas por mudanças culturais, instabilidades sociais, fusões migratórias, pobreza, programas educacionais que banalizam a sexualidade e falsas teologias”.

É no Evangelho, destaca Bento XVI, que se encontra a luz para responder a estes fenômenos. “É dele que recebemos diligência e entusiasmo para acompanhar as famílias na descoberta do projeto de amor que Deus tem para nós”, disse.

O Papa enfatizou que nenhum esforço será inútil para que as famílias – fundadas na união indissolúvel entre um homem e uma mulher – levem sempre sua missão de ser célula viva da sociedade, berço de virtudes, escola de convivência construtiva e pacífica, instrumento de concórdia e âmbito privilegiado no qual acolher a vida e protegê-la desde seu inicio até seu fim natural.

O Pontífice ressaltou também a importância de continuar animando os padres em seu direito e obrigação fundamental de educar as novas gerações na fé e nos valores que dignificam a existência humana.

Aparecida foi o tema da segunda parte da mensagem lida pelo presidente do Pontifício Conselho para a Família, Cardeal Ennio Antonelli. Para o Papa, o evento de 2007 é fonte de estímulo para as Pastorais Matrimonial e Familiar. “A Igreja conta com os lares cristãos e os chama a ser verdadeiros atores da evangelização e do apostolado, convidando-os a conscientizar-se de sua valorosa missão no mundo”, enfatizou o Santo Padre.

Neste sentido, Bento XVI exortou os participantes da reunião a refletirem sobre as grandes linhas pastorais definidas pelos episcopados em Aparecida, a fim de que a família possa vivenciar um profundo encontro com Cristo através da escuta de sua Palavra, da oração, da vida sacramental e da prática da caridade. Para isso, frisou o Papa, é preciso incrementar a formação de todos os que, de uma forma ou de outra, se dedicam à evangelização das famílias.

Expressando seu afeto e solidariedade a todas as famílias da América Latina e do Caribe, especialmente as que estão em condição difícil, Bento XVI concedeu sua bênção apostólica a todos os presentes e aos engajados com a evangelização e a promoção do bem das famílias. O encontro termina na sexta-feira, 1º de abril.

O fundamento do matrimonio na lei natural

 A lei natural é a nascente da qual brotam, juntos a direitos fundamentais, também imperativos éticos que é dever honrar. Na atual ética e filosofia do Direito, são largamente difusos os postulados do positivismo jurídico. A conseqüência é que a legislação torna-se compacto só um compromisso entre diferentes interesses privados ou desejos que rangem com os deveres derivados da responsabilidade social.

Nesta situação é oportuno recordar que cada ordenamento jurídico, a nível seja interno que internacional, portam ultimamente a sua legitimidade do radicar na lei natural, na mensagem ética inscrito no mesmo ser humano. A lei natural é, em definitiva, o sozinho baluardo, contra o arbítrio do poder ou os enganos da manipulação ideológica. O conhecimento desta lei inscrita no coração do homem aumenta com o progredir da consciência moral.

A primeira preocupação para todos, e particularmente para quem tem responsabilidade publica, deveria, portanto, ser aquela de promover a maturação da consciência moral. É este o progresso fundamental sem o qual todos os outros progressos terminam por resultar não autênticos. A lei escrita na nossa natureza é a verdadeira garantia oferecida a cada um para poder viver livre e respeitado na própria dignidade.

Quanto ao fim aqui dito tem aplicação muito concreta se si faz referencia à família, isto é aquela “intima comunidade de vida e de amor conjugal fundada pelo Criador e estruturada com leis próprias” (Gaudium et Spes, 48). O Vaticano II tem o cuidado, oportunamente rebatido que o instituto do matrimonio “tem estabilidade para ordenamento divino”, e por isso “este vínculo sagrado, em vista do bem seja dos cônjuges e da prole que da sociedade, não depende do arbítrio do homem” (ibid).

Nenhuma lei feita dos homens pode por isso, perturbar a norma escrita pelo Criador, sem que a sociedade venha dramaticamente ferida nisto que constitui o seu mesmo fundamento basilar. Esquecer-lo significaria demolir a família, penalizar os filhos e render incerto o futuro da sociedade.

O fundamento teológico do matrimonio

Matrimonio e família não são na realidade uma construção sociológica casual, fruto de particulares situações históricas e econômicas. Ao contrario, a questão do justo relacionamento entre o homem e a mulher mergulha as suas raízes dentro da essência mais profunda do ser humano e pode encontrar a sua reposta somente a partir daqui. Não pode ser separada, isto é da pergunta antiga sempre nova do homem sobre si mesmo: quem sou? O que é o homem? E esta pergunta, por sua vez, não pode ser separada do interrogativo sobre Deus: existe Deus? E quem é Deus? Qual é verdadeiramente o seu rosto?

A resposta da bíblia a estes dois quesitos é unitária e conseqüencial: o homem é criado à imagem e semelhança de Deus e Deus é amor. Por isto a vocação ao amor é o que faz do homem a autentica imagem de Deus: ele torna-se semelhante a Deus na medida da qual se torna alguém que ama.

Desta fundamental conexão entre Deus e o homem se consegue outra: a conexão indissolúvel entre espírito e corpo: o homem é de fato, alma que se exprime no corpo e corpo que é vivificado de um espírito imortal. Também o corpo do homem e da mulher tem, portanto, para assim dizer, em caráter teológico, não é simplesmente corpo, e isto que é biológico no homem não é somente biológico, mas é expressão e cumprimento da humanidade. Igualmente, a sexualidade humana não esta de lado ao nosso ser pessoa, mas pertence a esse. Só quando a sexualidade é integrada na pessoa, consegue dar um sentido a si mesmo.

O relato bíblico do matrimonio

A primeira novidade da fé bíblica consiste, como vimos na imagem de Deus; a segunda, com esta essencialmente conexa, a encontramos na imagem do homem. O relato bíblico da criação fala da solidão do primeiro homem, Adão, ao qual Deus quem o sustentar com um ajuda. Entre todas as criaturas nenhuma pode ser para o homem aquela ajuda da qual tem necessidade, se bem que a todos os animais selvagens e a todos os domésticos ele lhe deu um nome, integrando-os assim no contexto da sua vida. Então, de uma costela do homem, Deus plasma a mulher. Agora Adão encontra a ajuda da qual tem necessidade: “Esta vez é carne da minha carne e osso dos meus ossos” (Gn 2,23). É possível ver sobre o fundo deste relato concepções quais aparecem, por exemplo, também no mito referido a Platão segundo qual o homem originariamente era esférico, porque completo em si mesmo e auto-suficiente. Mas como punição pela sua soberba vem de Zeus, que agora sempre une a outra metade e é em caminho em direção a essa para reencontra a sua inteireza.

No relato bíblico não se fala de punição; a idéia, porém que o homem seja de qualquer modo incompleto, constitucionalmente em caminho para encontrar no outro a parte integrante para a sua inteireza, a idéia, isto é que ele só na comunhão com outro sexo possa tornar-se completo. E assim o relato bíblico se conclui com uma profecia sobre Adão: “Por isto, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua esposa e os dois serão uma só carne” (Gn 2,24). Dois são aqui os aspectos importantes: o Eros é como radicado na natureza mesma do homem; Adão é em busca e abandona seu pai e sua mãe para encontrar a mulher; só no estar juntos representam a inteireza da humanidade, tornando-se uma só carne. Não menos importante é o segundo aspecto: em uma orientação fundada na criação, o Eros mantém o homem ao matrimonio, a uma ligação caracterizada de unicidade e definitiva; assim, e só assim se realiza a sua intima destinação.

A imagem do Deus monoteísta corresponde o matrimonio monogâmico. O matrimonio baseado sobre um amor exclusivo e definitivo torna-se um ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e vice-versa: o modo de amar de Deus torna-se a medida do amor humano. Este estreito nexo entre Eros e matrimonio na Bíblia quase não encontra paralelos na literatura de fora dela.