Durante o ministério da sua vida pública, Jesus “constituiu Doze – que os chamou apóstolos – para que estivessem com Ele e mandá-los a pregar” (Mc 3,14), “escolheu doze, aos quais deu também o nome de apóstolos” (Lc 6,13). Os “doze apóstolos” (Mt 10,1), não somente foram chamados ou vocacionados, mas foram também con-vocados, ou seja, chamados para viver juntos, formando uma comunidade ou uma nova família com Jesus. A identidade e a força do apostolado deles deveriam refletir da identidade e da força deles “estarem com Jesus”. Jesus queria que os apóstolos partilhassem a sua forma de vida e con-vivessem como irmãos de um peculiar e íntimo seguimento.
Para eles, seguir Jesus significava empenhar-se em uma forma de vida caracterizada por uma obediência a Deus, precisada pela mediação de Jesus, e de um Jesus mediador não somente como podia ser para qualquer israelita, mas também enquanto senhor e pai ou irmão maior da comunidade dos discípulos (cf. Mt 10,24; Jo 13,13.33; 20,17; 21,5). Tal obediência comportava a aceitação de uma espécie de regulamento de vida itinerante, estabelecido da figura carismática do próprio Jesus. Seguí-lo significava também renunciar à possibilidade de crear-se um próprio lugar de repouso doméstico ou um próprio programa econômico.
O seguimento significava também, a adesão a uma vida comum com as pessoas que precisavam empenhar-se a tratar como companheiros de grupo, irmãos e membros da mesma familia. Em Israel a festa da Páscoa era a maior festa da família. Os israelistas deveriam procurar “um cordeiro para a família, um cordeiro para a casa” (Ex 12,3). No tempo pascal, muitos israelitas que estimavam Jesus e seguiam o seu ensinamento de profeta de Deus, mas que perteciam ao especial círculo dos seus discípulos, celebravam justamente, a Páscoa com os membros das suas famílias naturais. A renúncia à metade dos seus bens e o seu estilo de seguimento de Jesus não impediam a Zaqueu de celebrar legitimamente a Páscoa na própria casa, juntamente com a esposa e os filhos. Os filhos de Zebedeu, inves disso, não iam ao pai deles, e nem mesmo celebravam a Páscoa em um lugar de repouso doméstico, porque, em virtude do especial seguimento e consagração, tinham renunciado à própria família para fazer parte de um novo tipo de família ou de uma nova família, que poderia ser qualificada como família religiosa.
Essa era, de fato, a família dos seguidores de Jesus, ou seja, uma família nascida de um movimento sagrado e sobrenatural, uma família de homens sem ninho ou de eunúcos para o Reino dos céus, uma família que extraíu sua identidade exclusivamente de uma especial vocação (con-vocação) recebida, uma família de pessoas comprometidas a viver com Jesus e como Jesus, uma família de companheiros e irmãos que aceitavam Jesus como guia, modelo e pai, e que ficavam unidos em torno dele no dia da suprema manifestação do espírito de família, ou seja no dia da celebração da Páscoa. Aqui podemos perceber a importância da missa celebrada e participada em comunidade.
Naquela família, tinha um âmbito de intimidade, caracterizado também de um especial formação à vida consagrada e ao apostolado: “Em particular, aos seus discípulos, explicava cada coisa” (Mc 4,34). A peculiar gravidade da traição de Judas foi devida ao fato que ele era um que comia com Jesus o pão partido pelo mesmo Jesus (cf. Jo 13,18), ou seja, era um membro da família criada por Jesus. Pedro se viu em perigo de morte, quando foi reconhecido como um daqueles que eram “com Jesus” (Mt 26,69), ou seja, como um que fazia vida comum com Jesus (cf. Mc 3,14).
O método mais adequado para descobrir o sentido do programa de vida de comunidade dos religiosos é aquele, de meditar sobre a família evangélica inaugurada por Jesus com o grupo dos doze apóstolos. Com o seu exemplo, em primeiro lugar, e depois com as suas palavras, Jesus ensinou à comunidade como viver na docilidade ao Pai, no amor fraterno, na humildade, no serviço, na generosidade, no perdão, etc.
Quando um religioso ou uma religiosa contempla um quadro ou um mural da última ceia de Jesus com os seus discípulos, por exemplo aquele pintado por Leonardo da Vinci, fará bem, recordar que se encontra diante daquela que, durante a vida públuca, foi a família de Jesus, e se encontrar nela.