MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA BENTO XVI QUARESMA DE 2012
«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos
ao amor e às boas obras» (Heb 10, 24)

Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011

BENEDICTUS PP. XVI

Caríssimos irmãos e irmãs, depois de quarenta dias do Natal, nos encontramos aqui para esta solenidade que particularmente envolve três realidades da vida dos cristãos: Apresentação do Senhor ao tempo e ao mundo, a antiga festa das luzes, ou melhor da Luz, e a festa da Vida Consagrada.
Três realidades que se relacionam muito bem entre elas. O Cristo é apresentado hoje ao mundo como luz das nações através a continuidade da sua passagem no mundo pelo testemunho fervoroso e vivo dos religiosos consagrados ao Senhor.
Estas três festas em um único dia nos é explicado na pessoa de Simeão.
Simeão, piedoso e justo, como diz o Evangelho, esperava a consolação do povo de Israel. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Cristo Senhor (Lc 2, 25.26).
Poderíamos perguntar em que se beneficiou ele por ter visto a Cristo. Fora-lhe prometido somente vê-lo, sem que esta visão lhe trouxesse algo de salutar, ou esta promessa esconderia um presente digno de Deus, que Simeão mereceu receber?
Certa mulher foi curada por ter apenas tocado a franja da veste de Jesus! Se ela se beneficiou de tal favor, que pensar de Simeão, que recebeu o menino nos braços? Feliz de tê-lo nos braços, alegrava-se ao pensar que sustentava o que viera libertar os cativos, e também a ele dos laços de seu corpo. Sabia que ninguém pode libertar um outro da prisão do corpo com a esperança da vida futura, a não ser aquele que tinha em seus braços. Por isso ele diz: Agora, Senhor, deixa teu servo ir em paz (Lc 2, 29), pois estava prisioneiro e não podia libertar-se de seus laços, enquanto não tinha Cristo em seus braços. Note-se, todavia, que isto é válido não somente para Simeão, mas para todo o gênero humano. Se alguém deixa este mundo e quer conquistar o Reino, tome Jesus nas mãos, envolva-o em seus braços, aperte-o contra o peito e então poderá dirigir-se velozmente para onde deseja!
Considera tudo o que precedeu o momento em que Simeão teve a ventura de carregar o Filho de Deus. Recebeu primeiramente a revelação do Espírito Santo, de que não veria a morte antes de ter visto o Cristo Senhor. Em seguida, não foi por acaso nem totalmente sozinho que entrou no Templo; mas veio impelido pelo Espírito Santo. E todos aqueles que o Espírito Santo anima, são filhos de Deus. É, pois, o Espírito Santo que os leva ao Templo. Se tu também queres ter Jesus, abraçá-lo em teus braços e tornar-te digno de sair da prisão, esforça-te por te deixares conduzir pelo Espírito, para alcançares o templo de Deus. Ora, já te encontras no templo do Senhor Jesus, isto é, na Igreja, seu templo construído de pedras vivas.
Se vens impelido pelo Espírito, encontrarás o Menino Jesus, tomá-lo-ás em teus braços, e dirás: Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixa teu servo ir em paz. Observa, de passagem, que a libertação e o ponto de partida acompanham-se da paz. E quem morre em paz, senão aquele que tem a paz de Deus que ultrapassa toda compreensão e guarda o coração de quem a possui? Quem é que se retira em paz deste mundo, senão aquele que compreende que Deus veio, em Cristo, reconciliar-se com o mundo?
Comunidade Canção Nova, eis aqui a nossa missão. Não foi por acaso que exatamente num dia tão simbólico para o cristianismo a 34 anos atras os nossos primeiros irmãos faziam o sonho de Deus se realizar em uma pequena cidade do interior do estado de São Paulo.
Olhando para a história da Canção Nova os sonhos são outros? Pois muita coisa mudou, cresceu, desenvolveu, apareceu. Não, o sonho de Deus, não mudou. Pelo contrario, ainda não foi totalmente realizado. Por que? Três coisas simples, mas muito empenharias.
1- Nem todos os filhos de Deus ainda não viveram a experiência de Simeão, de ter Jesus, mais do que nos braços, mas inteiramente no coração, aderindo a Ele como Senhor e Salvador.
2- Com isto, nem todos os filhos de Deus tomaram consciência de que em Jesus, são sal da terra e luz do mundo, e por isso, as vezes parece que vivemos em uma constante escuridão.
3- A nossa consagração precisa ser mais que um ato de renovação anual, como estamos fazendo hoje, mas deve se tornar um verdadeiro ato profético consciente para nós e para todos aqueles aos quais somos enviados.
Ao renovar o nosso compromisso, nos lembremos de tantos e tantos Simeão que conscientes ou não esperam ansiosamente a apresentação de Jesus, Luz do mundo pelo testemunho sincero dos consagrados a Deus na Cancao Nova.
Assim seja!

Estamos acostumados a ver o Natal apenas como um encantavel menino que sorri (ou chora). E então a unica motivação que se pode vir é o retorno à inocencia verdadeira da infancia. Mas esta infancia muitas vezes é confundida com uma transferencia de sentimentos ou situações confundidas e marcadas ao longo da nossa historia. Ou seja, no Natal, queremos nós muitas vezes voltar a ser crianças, no atraente mundo das compras e gastos, onde a desculpa, ou o culpado é sempre o famoso “espírito natalino”.
Eu sempre me perguntei, quem é este famoso espirito natalino que sempre enche as lojas, os shopings, os magazines? Como pode alguem se aventurar em mergulhar num mar de gente, por exemplo, os grande centros de uma cidade como São Paulo, na rua 25 de março, nas ultimas horas antes da ceia natalina? Realmente ele é muito bondoso, pois sempre dá presente para todos e principalmente para nós mesmos. É ou não é verdade que motivado pelo espírito natalino queremos ficar mais bonitos, mais bem vestidos, mais chierosos, mais fofinhos, pois queremos comer bem e melhor….e tantas outras coisas, que fazem parte do mundo encontado das crianças.
Voltemos ao presepio de Belem. Ali, muito mais que falta das coisas
materiais, o verdadeiro espírito natalino se fez pobre, para que os pobres pudessem ser ricos. Não neste mundo, mas herdeiros do verdadeiro tesouro que não passa: o Reino dos ceus. Com isto eu não estou dizendo que não podemos nos presentear com um natal cheio de coisas belas, mas convidando a conhecer mais profundamente quem é este espírito natalino
A primeira coisa que posso dizer, que este espírito natalino não está nas lojas, não está festas, não está na ceia, não esta na roupa nova, ou no sapato novo. Então onde está este espírito natalino, para que o possamos conhecer?
Com certeza ele está no coração de cada um que reconhece que o natal só terá sentido se for cheio de, primeiramente gratidão por um Deus que, amando tanto a pessoa humana, se fez pessoa. A gratidão nos leva à um segundo sentimento, a partilha. A partilha não é apenas uma troca de presentes feita no popular “amigo secreto”. Mas é um saber presentar. Não com aquilo que o outro quer, mas com aquilo que o outro precisa. Por exemplo, tem tantas pessoas ao nosso lado, as vezes na nossa propria casa, que muito mais que um par de sapatos novos, precisaria de um abraço de reconciliação. Do sentimento que nos leva à partilha, nasce uma postura, aquela da comunhão. Muitas vezes, no natal temos mais comunhão com as pessoas que estão conosco nas filas gigantescas das grande lojas, do que com Aquele que realmente nos chama à verdadeira comunhão, que nada mais é que um pertencer a um Outro, e isto experiemtamos maravilhosamente na missa de natal. Esta comunhão com Deus, nos convida à uma comunhão com os irmãos. Que sentido tem dar um monte de presente frios para todos, se não sou capaz de dar o calor do meu coração aos irmãos?
Com algumas destas pistas podemos buscar conhecer o verdadeiro espirito do natal, que vai muito além do chamado consumismo natalino. O cristão é chamado a ser luz para os povos, mostrando em tudo que faz, sua verdadeira alegria: Jesus Verbo encarnado de Deus.

Livros Proféticos

Lugar no cânon

A segunda das três grandes seções em que se divide a Bíblia Hebraica é a chamada de os Profetas (hebr. nebiim), por sua vez, subdividida em dois grupos: Profetas anteriores e Profetas posteriores.
Diferentemente das nossas Bíblias atuais, entre as quais se conta a presente edição, a Bíblia Hebraica considera proféticos e assim cataloga no grupo dos “anteriores” seis livros de caráter histórico: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2Reis.
O conjunto dos posteriores é formado por Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze profetas menores, assim nomeados não porque o seu conteúdo seja de menor importância, mas porque são notavelmente menores que os escritos dos “três grandes profetas”. Por outro lado, enquanto que o índice da LXX (que é o adaptado pela Almeida) inclui Lamentações e Daniel entre os livros proféticos, a Bíblia Hebraica os coloca na terceira seção, entre os Escritos (ketubim).

Os profetas e a sua mensagem

Profeta é uma palavra derivada do vocábulo grego profetés, composto pela preposição pro, que tem valor locativo e equivale a “diante de”, “na presença de”, e o verbo femí, que significa “dizer” ou “anunciar”. Na LXX, encontramos profetés como tradução da palavra hebraica nabí, relacionada esta última a várias outras semíticas cujo sentido principal é anunciar ou comunicar alguma mensagem.
Em âmbitos alheios ao texto da Bíblia, é freqüente dar o nome de profeta a alguém que transmite mensagens da parte de alguma divindade ou que se dedica à adivinhação do futuro. Porém, se sê restringe o uso da palavra ao seu sentido bíblico, profeta é especialmente alguém a quem Deus escolhe e envia como o seu porta-voz, seja diante do povo ou de uma ou várias pessoas em particular. Não se trata, pois, na Bíblia, de adivinhos, magos, astrólogos ou futurólogos entregues a predizer acontecimentos futuros, mas de mensageiros do Deus de Israel, enviados para proclamar a sua palavra em precisos momentos históricos. Em certas ocasiões, a mensagem profética se referia a algum evento futuro, porém sempre vinculada a uma situação concreta e imediata na qual surgia a profecia (cf., p. ex., Is 7.1-25). Para descreverem o fato histórico, estão destinadas certas passagens que, na maioria dos livros, contemplam acontecimentos bem conhecidos e datados (p. ex., Jr 1.3, a conquista de Jerusalém Ez 1.1-3, a deportação para a Babilônia Is 1.1, Os 1.1, cronologias reais). Para se compreender o profundo sentido da palavra de Deus transmitida pelos profetas, deve-se prestar máxima atenção ao contexto histórico em que foi originalmente proclamada. Somente dessa forma será possível também atualizar a mensagem profética e aplicar o seu ensinamento às necessidades e circunstâncias do momento atual.

Os profetas nos textos históricos

A figura do profeta freqüentemente ocupa um lugar importante nos livros narrativos da Bíblia. Tal é o caso de Samuel, Natã, Elias e Eliseu, os quais tiveram uma significação especial na história de Israel. Porém, juntamente com eles, aparecem também outros profetas, homens e mulheres cujos nomes, em geral, são menos familiares ao leitor, como, p. ex., Aías, de Siló (1Rs 14.2-18) Débora (Jz 4.4-5.31) Gade, “vidente de Davi” (2Sm 24.11-14,18-19) Hulda (2Rs 22.14-20) Miriã, a irmã de Moisés e Arão (Êx 15.20-21) Micaías, filho de Inlá (1Rs 22.7-28). Esses relatos, às vezes, conservam palavras ou cantos dos profetas (p. ex., 1Sm 8.11-18 2Sm 7.4-16), ainda que a atenção do texto esteja voltada em geral para realçar a importância do ministério profético em circunstâncias decisivas da história de Israel (p. ex., 1Rs 18).

A mensagem dos profetas

Os profetas habitualmente introduzem as suas mensagens mediante fórmulas expressivas como “Assim diz o SENHOR”, “Palavra do SENHOR que veio a…” ou outras semelhantes e, freqüentemente, apresentam-se a si mesmos como enviados de Deus e investidos de autoridade para proclamar a sua palavra. Essa certeza pessoal de terem sido divinamente escolhidos para comunicar determinadas mensagens é um sinal característico da consciência profética. Assim, Isaías, que responde ao chamado do SENHOR: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6.8) ou Jeremias, que escuta a voz do SENHOR: “Eis que ponho na tua boca as minhas palavras” (Jr 1.9) ou Ezequiel, que ouve a ordem de Deus: “Vai, entra na casa de Israel e dize-lhe as minhas palavras” (Ez 3.4) ou Amós, que se sente separado das suas tarefas pastoris e transforma-se em porta-voz de Deus: “Vai e profetiza ao meu povo de Israel” (Am 7.15).

A literatura profética

A literatura produzida pelo profetismo israelita na sua comunicação da palavra de Deus é rica em formas e estilos. Nela, estão visões (Jr 1.11-13 Am 7.1-9 8.1-3 9.1-4), hinos e salmos (Is 12.1-6 25.1-12 35.1-10), orações (Jn 2.2-10 Hc 3.2-19), reflexões de caráter sapiencial (Is 28.23-29 cf. Am 3.3-8) e temas alegóricos (Is 5.1-7) ou simbólicos (Is 20.1-6 Jr 13.1-14 Os 1-3).
Significações particulares revestem os textos vocacionais, nos quais se descreve a situação em cujo meio Deus chama o profeta para exercer a sua atividade (Is 6.1-13 Jr 1.4-10 Ez 1.1-3.27 Os 1.1-3.5). Em relação à freqüência de aparições, as mensagens que mais se empregam são as que se referem à salvação ou ao juízo e à condenação.
No primeiro caso, proclamam o amor, a misericórdia e a disposição perdoadora e restauradora de Deus em favor de seu povo (cf. Is 4.3-6 Jr 31.31-34 Ez 37.1,14).
No segundo caso, os discursos sobre temas condenatórios – que, às vezes, começam com uma figura imprecatória como “Ai de… !” – primeiro denunciam os pecados cometidos pelas pessoas, seja por um ou vários indivíduos (cf. Is 22.15-19 Jr 20.1-6 Ez 34.1-10), pelas nações pagãs (cf. Am 1.3-2.3) ou pela nação israelita como um todo (cf. Is 5.8-30 Am 2.6-16) e, em continuação, anunciam o castigo correspondente.
O Deus que os profetas pregam é um Deus exigente, que põe descoberto e faz justiça com extrema severidade ao pecado do seu povo eleito um Deus justo e santo que, por isso mesmo, não tolera a mentira, nem a idolatria, nem a injustiça, em nenhuma das suas manifestações. Porém, ao mesmo tempo, é um Deus cheio de compaixão, cuja glória consiste em revelar-se como libertador e salvador um Deus que quer beneficiar, com o seu favor e dons, a todos os seres humanos e não somente ao povo de Israel.
E assim chegará o dia em que, ao ver a libertação desse povo que parecia perdido e sem remédio, todas as nações reconhecerão que o seu Deus é o único Deus e dirão: “Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas” (Is 2.3 cf. Ez 36.23,36 37.28 39.7-8).

A influência dos profetas

Os profetas exerceram uma influência decisiva tanto na religião de Israel quanto posteriormente no Cristianismo. Contudo, foram bem menos as ocasiões em que os primeiros destinatários da mensagem prestaram a devida atenção (cf. Ag 1.2-15). Pelo contrário, segundo o testemunho dos próprios textos bíblicos, a princípio faziam-se de surdos à voz dos profetas, as suas palavras caíam no vazio ou eram rechaçadas sem terem obtido a resposta requerida. Mais ainda, quando a comunicação profética molestava os ouvidos dos seus receptores, estes tratavam freqüentemente de fazer calar o mensageiro de Deus.
Como diz Isaías: “Porque povo rebelde é este, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do SENHOR. Eles dizem aos videntes: Não tenhais visões e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto dizei-nos coisas aprazíveis, profetizai-nos ilusões;… não nos faleis mais do Santo de Israel” (Is 30.9-11) e Amós acusa Israel: “Aos profetas ordenastes, dizendo: Não profetizeis” (Am 2.12 cf. 7.10-13).
Quando os intentos de fazer calar a mensagem profética se chocavam contra a fidelidade do profeta à palavra de Deus (cf. Jr 20.9), os ataques se dirigiam contra os próprios mensageiros, alegando que os seus anúncios tardavam muito em cumprir-se. Por isso, Isaías reprova o ceticismo dos seus ouvintes, que reclamavam: “Apresse-se Deus, leve a cabo a sua obra, para que a vejamos aproxime-se, manifeste-se o conselho do Santo de Israel, para que o conheçamos” (Is 5.19 cf. 28.9-10) e o mesmo faz Ezequiel aos que diziam: “Prolongue-se o tempo, e não se cumpra a profecia?” (Ez 12.22 cf. 2.3,7 12.26-28 33.30-33).
Jesus conhecia os valores e o profundo significado do profetismo de Israel e também as dificuldades que rodeavam a existência dos profetas enviados por Deus. Por isso, deu testemunho de que o profeta não tem honra na sua própria terra (Jo 4.44) e, em certa ocasião, declarou isso para mostrar que o profeta não tem honra na sua própria terra, nem entre os seus parentes, nem mesmo em sua casa (Mc 6.4). Porém a mensagem profética continua vigente e não deixa de apelar à consciência humana, porque é a palavra de Deus, e há de prestar-lhe atenção como uma luz que ilumina lugares escuros, até que o dia amanheça e brilhe nos corações dos seres humanos (2Pe 1.19 cf. vs. 20-21).

Nosso mundo e nossa cultura têm mudado profundamente nos últimos séculos. Mas isto não deve impedir-nos de compreender a mentalidade do homem antigo, ainda bastante parecida à de alguns contemporâneos nossos. Muita gente não é capaz de encarar as incertezas da vida com atitude lógica e cientifica, também ela fria e sem carne. Busca-se ajuda em um mundo diferente, o dos deuses, dos espíritos, dos astros, ou do destino. No mundo que cerca Israel antigo, as religiões já estavam bem organizadas e difundidas naquela época, e, embora por vezes se recorra aos espíritos antepassados, acredita-se que são os deuses que podem transmitir a informação desejada. Todavia, estarão eles dispostos a revelar os seus conhecimentos.

1.1 Os deuses e a adivinhação

Na antiguidade, quem melhor formulou este ponto de vista foram os estóicos. Cícero expõe a mentalidade deles da seguinte maneira: “se existem deuses e estes não dão a conhecer o futuro aos homens, ou não amam os homens, ou eles mesmos desconhecem o futuro, ou consideram que o conhecimento do futuro não nos interessa, ou pensam não ser próprio da majestade divina anunciar-nos as coisas que irão acontecer, ou, em ultimo caso os próprios deuses não podem comunicar-nos este conhecimento…” Todavia por mais que Cícero tenha razão, muita gente, na Antiguidade estava convencida de que os deuses ou os espíritos estão dispostos a revelar-nos o futuro ou resolver os nossos problemas presentes.

1.2 Adivinhação e magia

Surge assim uma das atividades mais antigas e misteriosas: a adivinhação, que no seu inicio estava intimamente ligada à magia. Efetivamente, o importante não era só conhecer o futuro, mas também modificá-lo em caso de necessidade.

1.3 As formas de adivinhação

1.3.1 A adivinhação indutiva

a) A partir da observação da natureza:

Baseia-se na estreita relação que imagina existir entre o céu e a terra; o que acontece na terra é pressagiado no céu.

b) A partir da observação dos animais:

O comportamento ou os movimentos dos animais também são usados com freqüência para adivinhar.

c) A partir dos sacrifícios:

A forma principal de adivinhação nesta linha é o estudo das vísceras da vitima (aruspicação). A técnica mais desenvolvida e valorizada era a observação do fígado (hepatoscopia). Os sacrifícios prestam também para observar a chama, a forma como sobe a fumaça, a sua cor (capnomancia).

d) A partir da observação de alguns líquidos:

Em quase todos os povos considera-se a água como elemento gerador e revelador. Uma técnica mais refinada consiste no uso de diversos líquidos, geralmente água e azeite (lecanomancia).

e) Mediante diversos instrumentos:

Tem-se feito uso dos mais diversos instrumentos para fins de adivinhação: taça, flechas, bastão, dados, varinhas e, em Israel, esses objetos misteriosos e intraduzíveis que são o “urim e tummim”, e o “efod”.

1.3.2 A adivinhação intuitiva

a) Oniromancia

Efetivamente, desde tempos antigos se considerou que os sonhos encerram um sinal dos deuses. Mas o sonho também pode exercer uma função mais ampla, a saber desvendar todo o curso da historia. Os sonhos, as vezes tão estimados como meio de revelação divina, em outros casos suscitam muitas reservas e até fortes criticas.

b) Necromancia

A consulta aos mortos para obter deles a informação desejada é um fenômeno bastante difundido no mundo antigo. Quando o homem se sente esquecido por Deus, acode a um defunto, para que o diga o que deve fazer.

c) Oráculos

Embora na Mesopotâmia se recorra habitualmente à adivinhação indutiva, que é de longe a mais estimada, em Israel e na Grécia as formas mais freqüentes e dignas de conhecer a vontade divina é consultar o oráculo, onde sinais e portentos são substituídos pela palavra enigmática, mas afinal de contas palavra, como a dos homens.

1.4 Oráculos não solicitados

Existe outra possibilidade: que o oráculo seja dado pelo deus sem ter sido pedido. Esse passo dos oráculos solicitados por interesses pessoais para o oráculo que transmite a vontade de Deus, ate contrariando interesses pessoais ou nacionais, é o que dará ao profetismo de Israel a importância e a dignidade que não encontramos em outras culturas.