Hoje refletiremos acerca de um texto muito significativo das Sagradas Escrituras, que nos indica uma temática muito marcante acerca da vida cristã frutífera. Tomaremos o texto do Evangelho, Mateus 21,18-22, que narra acerca da figueira amaldiçoada.
Árvore estéril
Era muito comum no Antigo Testamento comparar o povo infiel a uma árvore estéril, onde ser cortado significava ser rejeitado por Deus. Em Lucas 13,6-9, diante de uma figueira que não produziu frutos, o agricultor faz uma extrema tentativa, esperar ainda um ano, mas com o propósito de cortá-la, se suas esperanças porém, de novo, frustradas.
Essa constitui uma denúncia contra a incredulidade, e consequentemente, uma forte ameaça de condenação. Na sequência, Jesus trata da fé capaz de qualquer milagre e da oração confiante. Com isso, o relato da maldição da figueira revela-nos o poder extraordinário da fé e da súplica. É preciso crer com firmeza e suplicar com abandono confiante. Miquéias vai identificar os frutos com homens leais e honrados (Mq. 7, 1-2). A falha aqui se encontra no fato da não produção do fruto esperado.
A figueira representa o povo de Israel incrédulo, que tem folhagem de aparências e não dá frutos. A fecundidade precisa ser autêntica e não aparente. Sem desculpas ou justificativas, mas com a verdade da vida.
Perante o gesto de Jesus com a figueira, pode-se pensar que Jesus exagerou, sobretudo quando nos voltamos para a narração do Evangelho de Marcos (Mc. 11, 12-14; 20-26), que afirma que não era tempo de figos. Surgem disso algumas possibilidades: poderia não ser tempo de figos; estando a figueira a beira do caminho, talvez, outros se tivessem adiantado, colhido ou comido os frutos; talvez, o dono tivesse colhido os frutos no dia anterior. Poderíamos enumerar uma série de desculpas para a figueira sem frutos.
Frutos permanentes na vida cristã
A mensagem evangélica, se fundamenta no fato de que não existem desculpas para não ter frutos. O fruto não deve ser de temporada, mas permanente; não escasso, mas abundante; não para alguns, mas para todos e quando precisarem; não deve depender da estação, mas da necessidade dos outros. Outras árvores tem seu valor pelas flores, madeira, etc. A figueira, só tem valor dando frutos, caso contrário, para nada serve. Fomos criados para frutificar, as flores servem como sinal que aponta para os frutos.
Realizar uma avaliação da vida cristã a partir dessa verdade do evangelho, nos ajuda certamente a viver um cristianismo valoroso e frutífero. Onde refletimos um cristianismo: não de temporada, mas permanente no amor; não escasso, mas abundante; não de exclusividades, mas para todos os necessitados; não de aparências, mas de frutos verdadeiros.
No âmbito agrícola conhecemos a prática da poda, cujo significado, dentro de diversas perspectivas, sabemos muito bem: a poda tem por função o crescimento, o desenvolvimento da planta, sua fecundidade. A luz do nosso texto evangélico, também devemos identificar a poda dentro dessa perspectiva, onde o ramo frutífero é podado e o estéril queimado.
O que Jesus fez com a figueira foi colocar a sua maldição interior, sua secura, para fora. Nunca mais enganes a ninguém com tua aparência frondosa nas folhas, e ao mesmo tempo, vazia nos frutos. Na verdade, a figueira já estava maldita e seca no seu interior. Portanto, devemos entender e refletir que a mera aparência é maldição, uma secura oculta ou sustentação de inverdades.
A importância da poda na vida cristã
Concluímos que todo aquele, que não quer ser podado, revela na verdade uma indisposição ao dinamismo e ao crescimento na vida cristã. Quanto mais a árvore é podada na coerência das suas necessidades, mais ela cresce. Infelizmente, contemplamos na atualidade um extremo interesse de muitos em apenas florescer, destacar-se, para subir os degraus da glória e poder. Em vez de serem verdadeiramente focados, na missão de crescer, amadurecer e desenvolver para frutificar. Ou seja, ser uma presença de serviço frutífera e edificante no seio da Igreja.
Sem dúvida, podemos afirmar que é entristecedor contemplar a grande preocupação vigente com os êxitos das flores que aparecem, do que com os frutos que não precisam de presunção, pois, eles se revelam por si mesmos. O fruto não é algo forçado, que necessite de propaganda barata, mas algo natural e espontâneo, numa árvore frutífera.
Na vida cristã é necessário sempre aceitar as podas para crescer num novo vigor, quem rejeita a poda, seca e definha, ou seja, morre. Quando um cacho de uva, por exemplo, está muito carregado, o vinhateiro experiente se aproxima e corta alguns galhos, gesto que produz a perda de alguns frutos, para que os frutos restantes tenham mais espaço para se desenvolver e crescer. Sacrifica-se a quantidade em favor da qualidade.
O cacho ideal não é o que tem muitas uvas, mas é aquele que não passa de setenta e dois. A poda revela-se como uma purificação, para que não se viva uma enganação, pois, não basta ter fruto, o essencial é ter bom fruto, fruto de qualidade. Quanto maior for a vocação da árvore, maior deve ser a raiz que a sustenta. Que essa reflexão possa ajudar muitos irmãos e irmãs a retomarem o foco do frutificar como essencial, como também, tornem-se dóceis as podas, tão necessárias para os que anseiam pela fecundidade de raízes profundas.
Padre Eliano Luiz Gonçalves.
Vice Reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora Mãe dos Sacerdotes.