A difícil experiência da perca de uma mãe
Após a noticia do falecimento de uma mãe o mundo sai de nossos pés, ficamos sem teto para estar e sem chão para pisar. Nossos dias parecem não passar, como se fossem barcos parados. Nossas noites se tornam mais escuras.
Neste momento tão difícil, a dor é intensa e demorada; pois a presença de quem se foi é tão real quanto o corpo que embaixo da terra jaz. Cruamente falando, cada passo rumo ao enterro era como se fosse uma punhalada num coração sangrando sem parar, como se fossem flechadas no peito dolorido. Assim compreendemos as palavras ditas pelo velho Simeão a virgem Maria: “Uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2,35).
O senhor Bispo nos dizia: “velório de quem tem fé, tem uma diferença, pois, é sem escândalo e desespero” (Dom Alberto). Sabemos que essa diferença é fruto da nossa fé, da companhia de cada um e de tantos, próximos ou distantes. Do bálsamo suave, do abraço aconchegante, do silencio orante, do olhar compenetrante e da lagrima que cai sem retorno. Aprendemos também que “muitas vezes não temos o poder de mudar os fatos, mas sempre temos o poder de permitir que ele nos mude e que o sofrimento bem interpretado e bem administrado nos torna mais humanos” (Pe Fabio de Melo). Espero não perder nem um momento desses aprendizados e ter capacidade de gerenciar com humildade esse sofrimento. Pois, como nos ensina a doutrina crista, a morte é o término de um caminho neste espaço-tempo, esta faz cair todas as barreiras para se irromper uma nova realidade, incapaz de ser vivida aqui, é o grande momento da travessia que nos conduz à plena realização, o lugar do verdadeiro nascimento do homem, seu nascimento para Deus e em Deus (cf. CIC, 1010s).
Diante do verso bíblico: “Em todas as circunstancias, daí graças” (ITs, 5,18), pensava eu na noite fria do meu quarto, em que dar graças neste momento, o que agradecer neste contexto tão difícil, em que as vezes a nossa visão se turva como nuvens em dias estranhos. Mas essa luz que ainda brilha dentro de nós, com maestria, nos guia nas veredas do agradecimento. Então encontro respostas e, agradeço: primeiramente pela a oportunidade de reunir a família, outrora dispersa com vínculos distanciados, como filhos longe da mãe, hoje laços refeitos e vínculos aproximados. Outrora endereços-fones trocados, velhos e errados, hoje acertados e entrelaçados num sonho em comum.
Ainda agradecemos os que vieram de perto e de longe, como pássaros voando e portanto uma mensagem de paz, como brisa leve carregando em se a mansidão da alma e pelos abraços cheios de calor e energia, impulsionando a vontade de vencer. Os pêsames, os sentimentos, as ligações, as mensagens pela internet e telefones. E aquelas ocultas no intimo do coração, transformadas em preces.
Agradeço de forma especial à Igreja, que como mãe neste momento, nos toma em seus braços, nos acolhendo e entregando minha falecida mãe nos braços do Grande Pai, seu lugar eterno. Ela o acolheu no batismo, o alimentou durante sua caminhada por meio do pão da palavra e da eucaristia e agora a acolhe em seus braços para colocá-la na outra margem, onde Deus mesmo estará com ela e “enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem dor, porque passou a primeira condição. Pois o que está sentado no trono diz: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21, 4.5).
Me tornei órfão de pai e mãe, mas filho de muitos. Pois temos lugares para estar, pessoas para nos olhar, mentes para nos iluminar, corações para nos sentir, palavras para nos acalmar, vidas a nos doar.
Obrigado.
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