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abr
07

Homilia da Vigília Pascal

         Vigília PascalA “mãe de todas as vigílias”.

 

“Porque essa noite é especial e diferente de todas as outras noites?”

Gostaria de começar respondendo pelos próprios sinais e significados desta santa vigília: os antigos cristãos tinham o costume de celebrar cada Eucaristia em forma de vigília e Santo Agostinho dizia que esta era a “mãe de todas as vigílias”, a mais solene, porque nela nós celebramos de forma específica a Ressurreição do Senhor Nosso Jesus Cristo.

Começamos com a bênção do fogo e com o lucernário. A Igreja estava até então escura, como estava escura a humanidade antes que o Cristo Ressurgisse dos mortos; estava nas trevas e privada de entrar no Reino dos Céus: “O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; e aos que estavam na região e sombra da morte, a luz resplandeceu” (Is 9,2). Então um fogo novo surgiu, um fogo abençoado, no qual foi aceso nosso Círio Pascal, que traz gravado em si a Cruz como sinal do amor maior e com as letras Alfa e Omega: Cristo principio e fim.

O Círio Pascal aceso simboliza a coluna de fogo que guiava Israel. No livro do Êxodo, quando Israel estava saindo da escravidão, fugindo dos egípcios, Deus colocou à frente deles uma coluna de fogo e a noite se tornou como o dia. Assim como o povo de Israel foi guiado pela coluna de fogo, nós também entramos na Igreja tendo à nossa frente a coluna de fogo. Esta coluna de fogo é símbolo, é sacramental de Cristo, “luz do mundo” (Jo 8,12). Ele vai à nossa frente, conduzindo nossos passos, e nós o seguimos porque sabemos que Ele nos guia num caminho da vida nova. Acendemos nossas velas no círio, a fim de que Cristo ilumine a vida de cada um de nós com a sua luz, para que não andemos mais nas trevas, mas tenhamos “a luz da vida” (Jo 8,12).

Depois ouvimos este belo hino pascal, ‘Exultet’- Exulte de alegria dos anjos a multidão / Exultemos também nós por tão grande salvação – que canta a alegria da Ressurreição. Nós o ouvimos de pé e com nossas velas acesas. Estávamos de pé, como o Cristo Ressuscitado. Estávamos com nossas velas acesas, porque no Batismo nós fomos iluminados por Ele e queremos que a sua luz esteja sempre em nós, nos guiando, aquecendo e resplandecendo em cada dia de nossa vida.

Em seguida ouvimos as leituras bíblicas; após a homilia entraremos na “liturgia batismal” e, todos nós renovaremos as promessas do nosso Batismo e seremos aspergidos com a água abençoada, a fim de nos recordamos que também nós renascemos com Cristo da água e do Espírito Santo.

O ápice, o coroamento de todos esses santos gestos se dará na consagração do pão e do vinho que serão o Corpo e o Sangue do Senhor. A Eucaristia é o coração de tudo o que vamos realizar. Nela nós celebramos o sacrifício de Cristo; nela nós fazemos memória da morte e da ressurreição gloriosa de nosso Redentor. Nela esse sacrifício de amor se renova e nós comungamos dessa mesa mística para nos tornamos uma “Eucaristia viva” e um só corpo em Cristo Jesus. Quando comungamos, comungamos também da sua Ressurreição e da vida plena que só Ele possui.

A Liturgia da Palavra desta noite quer nos introduzir no sentido profundo da Páscoa de Cristo, nos traz um resumo de toda a história da salvação desde gênese, da primeira criação, ate a nova criação em Cristo Jesus.

A primeira leitura nos fala que: Deus, na sua bondade, criou o mundo para nossa alegria e tudo o que Deus fez era bom. Nada havia de mal na criação de Deus e, no início, Deus não criou o mal e a morte, porque Deus criou o mundo para que participássemos de sua alegria. Deus nunca quis lágrimas de dor. Mas, nós sabemos que Deus criou o homem livre, podendo escolher entre fazer o bem ou simplesmente não fazê-lo. E o homem, seduzido pela proposta diabólica, se afastou de Deus. Com a desobediência de Adão veio para nós “o salário do pecado que é a morte”, como nos diz a Carta aos Romanos (cf. Rm 6,23). Mas a mesma Palavra de Deus, também na Carta aos Romanos, diz que, por sua vez, “o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus”. Por isso o Pai não ficou de braços cruzados vendo a desgraça cair sobre a humanidade. Desde o início de tudo, o coração da Trindade sofreu com o pecado dos homens, e o Filho decidiu ser homem, a fim de morrer a nossa morte, para nos dar a vida eterna com Ele. Contudo, era necessário que a vinda de Cristo fosse preparada e, por isso, ela foi prefigurada no Antigo Testamento, preparada pelos nossos primeiros pais na fé.

A segunda leitura nos apresenta Abraão posto à prova por Deus que lhe pediu o sacrifício de seu Filho único. Todavia, Abraão teve Isaac poupado por Deus. Abraão se torna pai de uma grande nação, faz a aliança com Deus, uma aliança de amor e fidelidade de Deus para com o seu povo e do povo para com Deus.

Depois vemos o povo de Israel que celebra a Páscoa da Libertação da escravidão do Egito. A Páscoa do povo de Israel ja prefigurada na Páscoa de Cristo. Assim como eles atravessaram o Mar Vermelho a cantaram de alegria pela vitória da libertação, assim também nós cristãos, depois da ressurreição de Cristo, cantamos de alegria, porque atravessamos as águas do Batismo e vemos que o nosso pecado ficou lá e nós saímos vitoriosos, jubilosos, em direção à Terra Prometida, à Jerusalém Celeste que o Senhor preparou para nós.

Através dos profetas, Deus não cessou de convidar os homens à conversão, a fim de que o seu Filho encontrasse os corações preparados para acolherem a sua vinda. Os profetas foram os principais mensageiros da vinda do messias salvador e, na plenitude dos tempos, Ele veio. Ele nasceu da Virgem, fez-se menino, viveu uma humanidade como a nossa no lar de Nazaré e, na consumação da sua vida, “aprendeu o que significa a obediência por aquilo que Ele sofreu” (Hb 5,8) e entregou-se livremente à morte por nós. As mulheres encontraram apenas o túmulo vazio e o anjo que lhes anunciou a grande boa-nova “Ele não está aqui, pois ressuscitou, conforme havia dito” (Mt 28,6).

A Ressurreição de Cristo, que celebramos em cada Eucaristia e que, de maneira especial, celebramos nesta vigília anual, é a nossa alegria e a certeza da nossa vitória. A Ressurreição de Cristo é esperança, é certeza de que também eu posso ressuscitar dos meus pecados, dos meus problemas, dificuldades e obstáculos dessa vida para viver com Ele uma vida nova. Porque ao fecharem nosso túmulo aqui, Cristo o abrirá na vida eterna e nos dirá como disse a Lázaro: “Vem para fora!” Sim, Ele nos chamará pelo nome e nos ordenará: “Vem para fora!” “Hoje estarás comigo no paraíso”. Diante dessa certeza de vida eterna, toda dor que possamos enfrentar nesse mundo se reduz a nada, porque sabemos que, em Cristo, nós somos mais que vencedores.

Sejamos portadores dessa certeza. Sejamos mensageiros da boa-nova da ressurreição, como as mulheres que outrora encontraram o túmulo vazio. Sejamos portadores da alegre notícia: “Ele Ressuscitou!” Ele não está mais no sepulcro. Ele agora está vivo e ressuscitado no meio de nós. “Porque procurais entre os mortos, aquele que vive”.

Queridos paroquianos! “Porque essa noite é especial e diferente de todas as outras noites?”, assim nos perguntou a criança.

Porque nessa noite santa os cristão não estão dormindo. Nessa noite nós não temos nenhuma pressa. Não queremos dormir! Agora não! Celebremos os louvores do Ressuscitado. Os filhos de Deus estão convidados a velar, a permanecer em oração esperando a vinda do seu Senhor ressuscitado, que nos dar a vitória sobre todo mal. Renovados em Cristo, não podemos mais dormir sobe o peso dos vícios e dos pecados, mas continuar lutando para que a luz que levamos hoje em nossas mãos seja, verdadeiramente, símbolo da luz que levamos nos nossos corações, Cristo.

Para concluirmos, voltemos ao belíssimo canto do “exsultet” que escutamos no inicio desta celebração, ele canta a vitória de Cristo e a nossa vitória nele e nos repete varias vezes a expressão: “Esta é a noite”: noite da liberação, da coluna de fogo protetora, da graça e da restituição, da vitória de Cristo, do gozo e da alegria, do renascimento da Igreja, da glória de Deus, da felicidade, da união do céu com a terra e do divino com o humano. Esta é a noite! Como essa noite não há nenhuma no ano.

A partir de hoje teremos 50 dias de festa, vividos como um só dia. Caso ainda não tenhamos pensado as coisas segundo o Coração de Deus, ainda podemos começar, nunca é tarde! Cristo ressuscitou e nos espera de braços abertos.

Como diziam os primeiros cristãos: Cristo ressuscitou aleluia! Aleluia!

Ressuscitou verdadeiramente! Aleluia! Aleluia!

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