O Antigo Norte Goiano, as lutas do Movimento Pro-criação
do Estado do Tocantins e o nascimento do Tocantins
O norte de Goiás significou riqueza durante o descobrimento das grandes minas de ouro e outros metais preciosos, principalmente no século XVIII. Após a queda da mineração, passou a ser sinônimo de muitos atrasos, gerador de um infeliz quadro de pobreza.
Com o passar dos anos, foi se tornando mais visível o estado de abandono do Norte de Goiás e ficando à margem da administração estadual: péssimas condições de vida básica, de estradas e pontes. Uma boa educação era privilegio de poucos, pois, escolas, além de poucas, funcionavam precariamente. O comércio indo à falência, a cultura desvalorizada. No setor rodoviário não havia asfalto e as estradas de chão: poeira, lama e uma buraqueira infernal. Energia elétrica e hospital, só em Porto Nacional.
O visível estado de abandono do Norte de Goiás, levou grandes vultos da nossa história a proporem e reivindicarem a divisão territorial da região. Era incoerente aceitar tal situação crítica, de natureza econômica, política, administrativa e geográfica. Após as lutas de Teotônio Segurado e muitos outros líderes, surge o Movimento Pró-Criação do Tocantins. O movimento nasce em 13 de maio de 1956, lançado por Feliciano Machado Braga, juiz de Direito de Porto Nacional, juntamente com Fabrício César Freire. O “Movimento Pró- Criação do Estado do Tocantins” se torna uma forte expressão do nobre desejo emancipacionista dos nortenses.
Em suas capacidades e paixão pelo Tocantins, o movimento convenceu os mais céticos, criou jornais, associações; agregou comerciantes e funcionários públicos; levou a proposta para discussão na Assembleia de Goiás e na imprensa nacional; criou bandeira, o hino e durante quatro anos eram realizadas paradas cívicas em 13 de maio, alusivas à data de lançamento do movimento. Dom Alano Marie Du Noday destaca-se, dentre os religiosos que abraçaram a causa nortense, pela sua notável cultura, fé e perseverança. Dom Alano, a partir de 1936, durante mais de três décadas, exerceu a função de Bispo de Porto Nacional, e foi considerado o bispo do povo e o bispo das ações Sociais.
Não deu outra! O abandono da região, por parte das autoridades do Sul de Goiás e do Império, foi forjando nos pulsos, nas mentes e corações dos nortenses o nobre ideal de liberdade, até que nas décadas de 1970 e 1980 o movimento pela emancipação do Norte Goiano ganhou força no Congresso Nacional. O apoio decorria, em boa parte, do consenso sobre a necessidade de acelerar a ocupação da área conhecida como Bico do Papagaio. Essa região foi palco, desde os anos 60, de violentos conflitos pela terra e, também, do confronto militar nos anos de 1970, conhecido como Guerrilha do Araguaia. Padre Josimo Morais Tavares, o defensor dos pobres lavradores do Bico do Papagaio, foi assassinado nesses conflitos, covardemente por pistoleiros, no dia 10 de maio de 1986, com 33 anos de idade, na sede da Comissão Pastoral da Terra, em Imperatriz-MA. Em sua memória, anualmente, é realizada a Semana da Terra, que lembra a luta do padre. Sua luta: defender os lavradores pobres, constantemente ameaçados por grileiros nos inúmeros conflitos agrários que se espalharam pela região do Bico do Papagaio. Seu sangue derramado se tornou um dos clamores mais eloquentes por justiça aos pobres e indefesos dessa terra.
O deputado José Wilson Siqueira Campos uniu-se ao movimento que foi se fortalecendo e se articulando cada vez melhor. Siqueira Campos apresentou projetos de lei para criação do Tocantins. Dois deles foram aprovados pelo Congresso e vetados pelo, então, presidente da Republica, José Sarney. O movimento foi em frente sem perder o pique, Siqueira Campos, em 1986, apresenta mais um projeto e desta vez, na Assembleia Nacional Constituinte. Esse foi o projeto definitivo.
O parto foi demorado. Foram necessárias muitas lutas, sonhos, ânimos e esperanças, mas o novo polo de desenvolvimento do Brasil veio à luz. Com o projeto definitivo resultou, finalmente, na divisão do Estado de Goiás e criação do Estado do Tocantins em 5 de outubro de 1988 com a nova Constituição Nacional. Fizeram de um ideal, resultados concretos; do distante, o próximo; do desejo de vencer, reais vitórias.
“Levanta altaneiro, contempla o futuro. Caminha seguro, persegue teus fins.
Por tua beleza, por tuas riquezas, És o Tocantins!”[1]
[1] ( Do Hino do Tocantins: Letra de Liberato Costa Póvoa).
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