Lembro da primeira vez que vi meu nome e fotografia estampados na capa de um livro ou de um disco: Pe. Joãozinho! A partir daquele momento eu seria pessoa pública. É um ouco estranho você perceber que pessoas que você nunca viu o conhecem mais que bem e até têm uma certa intimidade com você, cantam suas canções, leram seus livros e artigos. Isto foi em 1993, meu primeiro ano de padre. Já naquele tempo eu mantinha programa nas diversas TVs católicas. Logo a canção “Conheço um Coração” conquistou o Brasil.
Algum tempo depois comecei meus programas na TV Canção Nova. Foram vários anos fazendo “Toque de Vida”, que depois se transformou no “Direção Espiritual”. Experimentei o ápice da publicidade. Era reconhecido até pelo cobrador do pedágio: “- Bom dia Padre Joãozinho, manda um abraço para a minha mãe lá no seu programa”. Um dia o guarda de uma rodovia me parou na volta para Taubaté, apenas para dizer que tinha assistido o meu programa naquela noite – feito ao vivo de São Paulo – e sabia quela era meu carro e resolveu me parar só para pedir uma bênção. São muitas as histórias deste tipo. Mas jamais imaginava que seria tão fragil e passageira esta memória popular.
Em 2005 passei o programa de TV para o Pe. Fábio de Melo e fiquei dois anos enclausurado entre São Paulo e Roma, cercado de livros, terminando teses de doutorado. Em 2007 terminei tudo isso e retornei a Taubaté, reassumindo o cargo de diretor da Faculdade Dehoniana e professor de Teologia. Comemoro 15 anos de padre. Resolvi gravar um novo disco cantando as coisas que aprendi nestes anos todos. Logo reassumi a missão de pregador itinerante e cantor do Sagrado Coração. Mas não voltei logo para a TV. Esta tarefa é muito envolvente e tenho que reorganizar minha vida aos poucos. É impressionante como dois anos de ausência nos Meios de Comunicação foram suficientes para me apagar da memória de muitas pessoas. Esqueceram de mim. Não esqueceram do Pe. Joãozinho nem de suas canções. Mas não sou mais reconhecido por muitos nem em minha cidade natal. Celebrando lá no dia de finados uma senhora me disse na sacristia: “- Sua voz lembra muito a daquele Padre Joãozinho da Canção Nova”. Voltei a ser o filho da Dona Glória. Antes ela é que era a mãe do Padre Joãozinho.
Ao meu lado num vôo qualquer está um coordenador de grupo de oração que conversa comigo animadamente sem ter a mínima noção de quem sou. Não tive coragem de me apresentar. Ninguém precisa me conhecer. Esta nova realidade me dá a oportunidade de refetir sobre o significado da “memória” para a fé. Ao deixar os seus, Jesus deixou o pão e vinho como herança sagrada e disse: “Fazei isso em memória de mim”. A liturgia não é só “ce-lebrar”; é também “se-lembrar”! Não me importa muito que esqueceram de mim. Na verdade é até um pouco agradável. Mas me incomoda profundamente que esqueçam de Jesus. Por isso preciso cantar mais, escrever mais, proclamar de cima dos telhados, evangelizar. Se pararmos de proclamar os jovens rapidamente esquecerão de quem foi Jesus. Na Europa isso já está acontecendo. Há muitos jovens que não saberiam muito bem distinguir Jesus de Moisés, Maomé, Buda ou Krishna. Precisamos acordar esta memória adormecida. Precisamos de menos padres famosos e mais proclamação daquele que é o caminho verdadeiro para a vida. Podem esquecer o Padre Joãozinho; mas existe um nome que está acima de todo nome! Este não podemos deixar esquecido, nem fazer dele nosso palco. Importa que ele cresça e a gente diminua. Pensando bem… até que é divertido ser esquecido!