Somos sempre um pouco desconfiados destas novidades de época, como é o caso das grandes invenções. Diziam que o cinema mataria o teatro; que o rádio mataria o jornal; que a TV mataria o cinema; que o rádio morreria quando todos tivessem uma TV; que a Internet mataria a TV, o rádio, o cinema, e o jornal. O fato é que o velho e bom teatro está mais forte do que nunca e disputa espaço com a Internet. Milagres? Nada disso, as diversas mídias têm o seu espaço próprio.
Outro mito que vem caindo é o de que a Internet analfabetizaria os nossos jovens. Segundo alguns profetas do mau agouro a linguagem virtual seria fatal para a norma culta. A oralidade dominaria todo tipo de linguagem e emburreceria nossos adolescentes. Engano. O século 19 foi um intenso tempo de troca de correspondências. Antes disso já se escrevia muita carta, porém no século 19 os correios se tornaram mais ágeis graças melhoria dos meios de transporte e das estradas. Estudei durante alguns anos um autor francês do século 19 e percebi que ele escrevia cartas diariamente. São milhares de manuscritos que permitem refazer detalhadamente a sua história. Estamos no tempo em que a energia elétrica ocupava os primeiros experimentos de Thomas Edison (1847-1931), que em 1882 construiu sua primeira central elétrica movida a carvão e conseguiu acender 7.200 lâmpadas e iluminar um bairro, enquanto o resto do mundo ficava às escuras ou escrevia cartas à luz de vela.
Porém, nos últimos anos do século 19, lá pelos idos de 1898, Alexander Graham Bell concebia outra invenção revolucionaria que ameaçaria a popularidade da carta: o telefone. Se o século 19 foi o tempo da carta… o século XX foi o tempo do telefone. Para quê escrever à luz de vela e esperar dois meses uma resposta, se podemos nos comunicar instantaneamente por meio de um fio?!!! Todos os pesquisadores são unânimes em afirmar que a correspondência escrita entrou em crise com a chegada do telefone.
O século 21 será o tempo de predomínio de uma terceira invenção marcante: a Internet. Por incrível que pareça esta novidade está ajudando a recuperar o hábito da escrita tão popular no século 19. É um milagre. Nossos jovens hoje aprendem mais rápido a digitar do que seus pais a datilografar. Vejo muitos adultos constrangidos pedindo a seus filhos para digitar um longo e-mail. Os dedinhos de algumas crianças parece que nasceram para o teclado. Os e-mails e MSNs da vida ocupam naturalmente o cotidiano dos adolescentes. É interessante que nem sequer o celular tira o charme de uma mensagem escrita. Aliás, muitos jovens preferem mesmo mandar mensagens escritas pelo celular do que falar. É verdade que a qualidade literária dos nossos e-mails não é a melhor. As abreviações e gírias virtuais de alguns adolescentes são incompreensíveis para alguns adultos: vc, tc, bj, abç, nw, tks, tb, n, naum, td, qts, h, m, d+, cast, cl, kra, +ou-, kd, niver…
A filologia já está se ocupando em estudar este novo fenômeno. Um interessante artigo científico sobre este tema, assinado por Marcelo Alves da Silva (PUC-RIO) encontra em
http://www.filologia.org.br/anais/anais%20iv/civ06_6.htm
Uma coisa é certa. Hoje nossos jovens escrevem mais do que seus pais. Estamos voltando para o século 19… mas agora com energia elétrica. São milagres da Internet.