OITAVA PROMESSA

 

 

 

“ As almas fervorosas elevar-se-ão rapidamente a uma grande perfeição.”

 

 

 

      A sétima promessa garantia aos tíbios o fervor. Agora o Coração de Jesus dá uma passo a mais prometendo aos fervorosos a perfeição. O que seria isso?  Os perfeitos seriam uma classe de cristãos que podem se orgulhar de ter todos os dons? Certamente que não. Esta falsa perfeição não seria mais do que o terrível pecado da “presunção”. É o caso daquela pessoa que diz até com certa ingenuidade: – Lutei muito para conseguir ter  todas as virtudes. Faltava somente a humildade. Agora que a conquistei estou feliz: alcancei a perfeição. Certo estava o apóstolo Paulo que dizia: a meta está sempre um pouco adiante. Quando pensamos chegar ainda temos um pouco para caminhar.

      Mas então o que seria esta perfeição? É necessário ler tres frases fundamentais da Bíblia: 1) Sede perfeitos como  vosso Pai é perfeito (           ). 2) Sede santos como vosso Deus é santo (           ). 3) Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso. Portanto a perfeição de Deus é a misericórdia e a santidade. Ser perfeito é ser santo e misericordioso. É cumprir em nós a “imagem e semelhança de Deus” segundo a qual fomos criados. O Coração de Jesus nos ajuda porque é o modelo pronto e acabado de de perfeição, santidade e misericórdia. É o modelo do amor!

                        No tempo dos primeiros cristãos existia uma canção que, pelo jeito, era muito cantada nas celebrações. O apóstolo Paulo recolheu esta poesia e a colocou em uma carta escrita aos irmãos Filipenses (cf. Fil 2,5-11). Antes, porém, faz esta preciosa observação: “Tenham os mesmos sentimentos em Cristo Jesus” (Fil 2,5). Mais ou menos a mesma coisa ele vai dizer aos Gálatas: “Já estou crucificado com  Cristo; e vivo, não mais eu mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gal 2,20). Veja com que insistência o apóstolo dos gentios repete esta verdade aos Efésios: “Cristo habite ela fé nos vossos corações; a fim de que, estando arraigados e fundados no amor, para poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo o entendimento, para que estejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Ef 3,17-19). Folheando as cartas de Paulo você vai encontrar esta insistência em cada versículo: ser perfeito ou ser santo é tornar-se um “outro Cristo”. Ele vai insistir nisso de mil maneiras diferentes. Vais dizer que quem está em Cristo é uma “nova criatura” (cf. Ef 4, 22-24). Isto até lembra aquela profecia de Ezequiel de que receberíamos um novo coração. Ser perfeito é assumir em nossa história o rítmo do Coração de Deus. Paulo vai dizer ainda que somos todos membros de um mesmo corpo: o Corpo Místico de Cristo. Leia, por exemplo, o capítulo 12 da primeira carta escrita aos Coríntios. O batismo nos faz membros do corpo de Cristo. Somos cristãos. O Coração do mestre bate em nosso peito. Amamos deste amor. Sorrimos desta alegria. Falamos desta voz. Como será que Paulo descobriu isso? É que no caminho de Damasco, quando estava perseguindo os discípulos de Jesus, ouviu uma voz que disse: “Saulo, Saulo, por que me persegues? (          ) Ele, que era muito inteligente pensou com seus botões: – Mas eu estou perseguindo os discípulos e não o mestre. A partir daquele dia, Paulo compreendeu que o cristão é um outro cristo. Esta é a perfeição que o Coração de Jesus nos promete e garante.

SÉTIMA  PROMESSA

 

“As almas tíbias se tornarão fervorosas.”

 

      Tibieza… Esta palavra já caiu quase em desuso. Mas, infelizmente o que ela significa está muito presente no meio de nós. É uma frieza espiritual. Uma falta de motivações mais profundas. Um desinteresse pelas coisas do alto. Normalmente o “tíbio” é um cristão praticante. Vai à missa. Reza. Comunga. Mas não sente o sabor do Pão da Vida. Não sente o afeto de Deus. Está frio.

      Existem muitos motivos para se cair na tibieza. Um deles é viver constantemente na beira do abismo. Existem pessoas que fazem a seguinte pergunta: “até onde posso pecar levemente, sem o risco de ir para o inferno?” De pecadinho em pecadinho vamos cavando nossa própria sepultura. É claro que existem os pecados veniais e os pecados mortais. Os veniais seriam buracos em uma estrada que me leva para a cidade no alto da serra. Os mortais seriam a queda de uma barreira que impede totalmente a passagem. Mas se deixarmos a estrada sem reparos a chuva vai acabar aumentando o tamanho dos buracos e um dia acabamos sendo surpreendidos por aquela placa indesejada: trânsito impedido!!!

      O fervor espiritual é para quem exercita-se na graça de Deus. O Coração de Jesus é uma “fornalha ardente de caridade” e de misericórdia. Na confissão Deus repara nossos caminhos e nos faz andar com mais determinação, alegria e consolo. Não vamos esquecer que depois do perdão dado ao seu Filho Pródigo, o Pai não economizou na festa. E havia música e danças. O céu deve ser um lugar bastante animado. Por outro lado, o filho mais velho não quis entrar no baile. Ficou lá fora curtindo o seu mau humor e reclamando. Isto é tibieza. É ouvir as músicas de uma festa e não entrar. É saber que alguém está de aniversário e não dar um abraço. É economizar o sorriso, o cuidado, a gentileza. É cultivar o amargor e a indiferença.

      Mas a pior tibieza talvez nem seja a do pecador, mas a do indiferente. Existem pessoas que vivem tão próximas de Deus que já nem sentem mais sua presença. É o caso daquele ministro da Eucaristia (ou padre!) que perdeu o gosto pela Eucaristia. Tornou-se um funcionário do Sagrado. Já não consegue se maravilhar com a graça de Deus. Vive num inverno (ou seria inferno?). A tibieza é uma doença espiritual. O remédio é a espiritualidade e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Olhando para a imagem que temos em nossas casas vejo aquele coração pegando fogo e me pergunto: meu coração está quente ou frio? E sinto que o senhor repete para mim a advertência feita na Bíblia: O morno Ele cospe de sua boca (Ap 3,15). O tíbio é alguém morno. Neste novo milênio precisamos de cristãos quentes. Gente com fogo no coração que tenha a coragem de anunciar e defender a Vida, com “renovado ardor missionário”. E não vamos esquecer que este fogo é o mesmo que acendeu os apóstolos no dia de Pentecostes: É o fogo do Espírito Santo. Com este dom do Coração de Jesus não há lugar para a tibieza.

SEXTA PROMESSA:

 

“Os pecadores acharão, em meu coração, a fonte e o oceano infinito de misericórdia.”

 

            Se você observar bem, cada uma das promessas do Coração de Jesus tem uma palavra-chave: graça, paz, consolo, refúgio, bênção… Nesta sexta promessa palavra é “misericórdia”! O Sagrado Coração de Jesus é uma fonte e um oceano de misericórdia. O que poderia significar isso? Vamos parar durante cinco minutos e beber desta fonte, mergulhar neste mar, receber a ternura deste Deus que é “rico em misericórdia” (Efésios 2,4). Vou lhe fazer um desafio: vamos mergulhar mesmo. Vamos ler o que está por detrás das palavras. Vamos remexer as dobras do manto da Sagrada Escritura para conhecer o significado escondido. Exige um certo esforço. Mas garanto que vale a pena.

O que seria então esta “riqueza de Deus” que a Bíblia chama de misericórdia? Esta palavra vem de outras duas palavras latinas: miser, que significa miséria; e cor (cordis), que significa coração. Neste caso misericórdia poderia ser a “compaixão suscitada pela miséria alheia” (Dicionário Aurélio). Mas poderia ser também um “coração de pobre”, conforme diz Jesus no seu sermão da montanha: “Felizes os pobres de coração: deles é o Reino dos céus” (Mt 5,3). E o discurso continua até dizer em alta voz: “Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). Parece até uma contradição: a riqueza de Deus é ter um coração pobre.

Se lembrarmos outras orientações do Mestre veremos que existe uma lição que precisa ficar gravada em cada um de nós e que às vezes passa despercebido. Jesus, quando envia seus apóstolos em missão diz para não levar muitas coisas. Só o essencial. Sabe por que? Malas pesadas tornam mais difícil o caminhar. O missionário precisa ser pobre, leve, livre, para poder caminhar melhor. Por outro lado o Senhor nos consola dizendo que os cansados sob o peso de seu fardo encontrarão repouso em seu coração manso e humilde, porque “seu fardo é leve”  (Mt 12,30). O Coração de Jesus é um lugar onde existe espaço para todos nós, ovelhas perdidas, que precisamos do seu colo seguro. Sua riqueza é Ter este coração grande, acolhedor, leve, pobre.

Tudo isso encontramos na palavra latina “misericórdia”. Acontece que a Bíblia não foi escrita em latim. Ao que tudo indica, Jesus nunca falou este idioma. Misericórdia é uma tradução do hebraico, língua em que foi escrita a maior parte do Antigo Testamento. O Novo Testamento, por sua vez foi escrito em grego, mas traduziu de modo inspirado os termos que estavam lá no velho testamento. Mas que palavras eram estas? Prepare-se para um mergulho mais profundo. Se estiver com sono é melhor parar a leitura por aqui e continuar amanhã. Quem tiver coragem me acompanhe.

Existem muitos termos em hebraico que procuram traduzir o significado da misericórdia. Vamos tomar apenas os dois mais importantes. O primeiro é hesed, que significa uma atitude de bondade e benevolência, misturada com uma fidelidade muito profunda a um compromisso, uma aliança. A hesed de Deus é mais forte que a infidelidade de seu povo, porque Deus permanece fiel a si próprio. O Pai do filho pródigo não renunciou à sua paternidade porque o filho pecou. Lembra? “Trata-me com um de teus empregados”. Nada disso. Deus é Pai. Por isso é misericordioso. O segundo vocábulo é rahamin, que significa entranhas, útero, amor de mãe. O rico-pobre coração de Deus é um útero onde somos sempre de novo gerados para a vida. Deus é mãe. Terminou o espaço do artigo. A misericórdia é muito mais do que consegui escrever. Quer uma sugestão? Aninhe-se no colo de Deus, tome sua Bíblia e leia Isaías 49,15. Ou então procure o documento “A Misericórdia Divina”, do Papa João Paulo II. Você ficará “apaixonado” pela misericórdia do Coração de Jesus.

QUINTA PROMESSA:

 

“Derramarei abundantes bênçãos sobre os seus empreendimentos.”

 

Esta é a quinta promessa que o Sagrado Coração de Jesus inspirou à Santa Margarida Maria. Você lembra das quatro anteriores? Perceba que em cada uma delas Jesus concede algum benefício. Na primeira ele oferece a “graça”. Na segunda promete a “paz”. A terceira oferta “consolação” e a quarta, “refúgio”. Chegamos à Quinta: agora o Coração de Jesus promete a “bênção” aos seus devotos.

Você já parou para pensar no que significa a “bênção”? É uma palavra que indica a “ação de bendizer”. Bênção é “dizer o bem”. Existem dois tipos de “bênção”. A primeira é a que desce dos céus. Deus nos “bendiz”. Está entendendo? Deus diz uma palavra favorável para você. Estamos em um mundo de tantas palavras vazias que já nem acreditamos na palavra das pessoas. E às vezes acabamos tendo pouca fé na Palavra de Deus. Lembra do tempo em que os contratos eram feitos só de palavra? Nem precisava papel com carimbo de cartório. As pessoas se orgulhavam de dizer: “sou um homem de palavra”. Hoje, até com papel passado é difícil acreditar. Existe tanta corrupção que ficamos muito desconfiados.

Mas com Deus é diferente. Ele fala e faz. Ele promete e cumpre. A Palavra de Deus é como a chuva caída na terra que não volta para o céu sem ter feito a semente germinar e crescer. Veja o que diz a Bíblia: “…assim acontece com a minha palavra que sai da minha boca; ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem Ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55,11). Isto é a bênção que desce do céu. Deus fala uma palavra sobre você. E esta palavra se realiza em sua história.

Para ter alguns exemplos bastaria lembrar a vida de Jesus. O apóstolo São Pedro, em um dos seus sermões deu o seguinte testemunho: “Deus enviou sua palavra aos Israelitas, e lhes anunciou a Boa Notícia da paz por meio de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vocês sabem o que aconteceu em toda a Judéia, a começar da Galiléia, depois do batismo pregado por João. Eu me refiro a Jesus de Nazaré: Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder. E Jesus andou por toda a parte, fazendo o bem…” (At 10,36-38). Viu que maravilha? Fala da Palavra, das Boas Notícias, do Espírito Santo, e termina de maneira fantástica dizendo: Jesus foi uma bênção! Passou por aqui fazendo o bem. É exatamente isso. Aquelas terras viram Jesus curando, perdoando, expulsando o mal, partilhando o pão. Mas o maior bem que nos deixou foi, com toda a certeza, a salvação. Esta é de fato a grande bênção. Podemos pedir tudo. Mas não podemos esquecer que o maior benefício que Deus pode nos conceder é a vida eterna. Para garantir esta bênção Jesus nos deixou o seu Espírito. Nele se cumpriram as profecias que diziam: “Derramarei sobre vocês uma agua pura. Darei para vocês um coração novo, e colocarei um espírito novo em vocês” (cf. Ez 36, 25). Na Quinta promessa do Coração de Jesus esta profecia é relembrada. A abundante bênção derramada em nossos corações é o Espírito Santo, com seus dons e carismas, que nos ajudam a progredir no caminho da salvação.

Você deve estar perguntando: mas no começo deste artigo se falava que existem dois tipos de bênção. A primeira é esta que desce do céu. E a segunda? A bênção volta para o céu quando “bendizemos o Senhor”. O louvor é esta segunda forma de bênção. Aqui está o grande significado da oração de ação de graças, de louvor: Deus nos bendiz, e nós, com toda a gratidão, bendizemos o Senhor.

QUARTA PROMESSA:

 

“Serei o seu refúgio seguro durante a vida e, sobretudo, na hora da morte.”

 

            Enquanto escrevia este artigo, lá fora chovia. Fiquei alguns momentos meditando sobre esta Quarta promessa do Coração de Jesus. Muitas coisas passaram pela minha mente e pelo meu coração. Mas aos poucos fui ficando distraído com a chuva que continuava a cair com força naquele final de tarde. Pensei nas pessoas que não têm onde morar, no pobre que vi  vagando pelas ruas, naquele trabalhador que precisa ficar na rua com chuva ou com sol, nas pessoas que podem ter sido surpreendidas pela chuva e ficaram resfriadas… Depois olhei ao meu redor e vi que meu quarto era um “refúgio seguro”. Voltei à promessa do Coração de Jesus e tudo ficou mais claro. Como é bom saber que temos um refúgio no colo de Deus.

            Imediatamente pensei naquela passagem da ovelha perdida. Jesus conta que o “Bom Pastor vai em busca dela, a encontrar e a leva para um refúgio seguro, cura suas feridas, alimenta sua fome, sacia sua sede com alguma bebida quente, a segura em seus braços e ela fica mais tranqüila.

Pode estar chovendo na sua vida. Você pode estar como aquela ovelha perdida e ferida, e ainda por cima, para piorar tudo, chove. A sensação é de total impotência. Realmente, há situações em que não seríamos capazes de retomar o caminho sozinhos. É neste momento que colocamos nossa esperança em um “refúgio seguro”. Só que tem uma diferença interessante entre o refúgio do meu quarto e o refúgio do coração de Deus. Quando chove, tenho que encontrar forças para chegar até minha casa. Caso contrário certamente chegarei encharcado. O refúgio do Coração de Jesus vem ao nosso encontro nas dificuldades. É um oásis inesperado na seca do deserto. Esta é a promessa.

            A chuva podem ser as tentações do inimigo, podem ser nossas fraquezas pessoais, nossos pecados, uma doença do corpo ou dos afetos, um medo, mágoa ou dor. Cada um tem suas chuvas pessoais. Alguns reclamam de uma simples garoa. Outros têm que enfrentar raios e trovões. De qualquer maneira você eu temos um refúgio seguro: o Coração de Jesus.

            Dentro de nós, ensina a psicologia, existem duas forças poderosíssimas: a força da vida e a força da morte. Dizem que o fator que mais desencadeia o stress, por exemplo, está relacionado com a perda de um ente querido. Ou seja, a morte provoca cansaço e medo. No entanto é a única certeza absoluta que temos: uma dia será o nosso dia. Muitos entram em síndrome do pânico pelo simples fato de imaginar que um dia irão morrer. Neste caso a morte parece algo que vai acontecer a qualquer instante. Um simples sintoma de gripe pode levar você à depressão. Onde encontrar refúgio? Já sabemos a resposta. É promessa do Coração de Jesus. Ele será nossa garantia na “hora H”.

Para quem tem fé o medo muda de cor. Já não tememos a morte. Mas tememos a morte eterna. Tememos morrer no pecado. Esta é uma garantia insistente do Sagrado Coração de Jesus aos seus devotos: não permitirei que você morra no pecado. Serei o seu refúgio agora e na hora da morte. Amém!

TERCEIRA PROMESSA:

 

“Eu os consolarei em todas as suas aflições”

 

            As promessas feitas pelo Coração de Jesus à Santa Margarida Maria não representam uma novidade total. Na verdade Jesus já tinha prometido estas coisas, com outras palavras, durante o tempo em que peregrinou entre nós aqui na terra. Está tudo registrado nos Evangelhos. Esta é a “plenitude da revelação”.  Mas às vezes uma revelação particular, como estas a Santa Margarida Maria, nos ajudam a entender as promessas de Deus, escondidas nas redobras do manto da Sagrada Escritura, escondidas por detrás das palavras.

            A terceira promessa é a que está mais clara e explícita na Palavra de Deus. Vou transcrever o texto todo aqui para que você possa meditar:

 

            Vinde a mim, todos vós que estais cansados sob o peso do fardo,

            E eu vos darei descanso.

            Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus,

            Porque eu sou manso e humilde de coração,

            E encontrareis descanso para vossas almas.

            Sim, o meu jugo é fácil de carregar e o meu fardo é leve. (Mt 11,28-30)

           

Quem de nós não tem suas aflições, seus cansaços, desilusões, doenças e problemas. Tudo isso às vezes parece pesado demais. O peso de nossos problemas muitas vezes nos assusta e chegamos a pensar em desistir. Desanimamos porque é pesado demais. Conheço pais desanimados diante do peso de educar seus filhos. Muitos dizem:  – antigamente era mais fácil; hoje temos que competir com a televisão, com os “amigos”, com a droga, com os modismos… está pesado demais.

Conheço doentes que carregam o fardo pesado de uma doença incurável como o câncer. Muitos desanimam e até perdem a vontade de viver. Chegam a pedir para morrer. Você conhece muitas outras situações. Se pudéssemos fazer uma lista, encheria esta revista inteira. Vivemos em um mundo de muitas e muitas aflições.

É para todos estes que o Coração de Jesus diz: Venha a mim. Quero ajudar você a carregar a sua cruz.  Sim! No calvário Simão Cirineu ajudou Jesus a carregar a cruz. Hoje é Jesus quem nos ajuda a tornar mais leve o peso dos problemas e aflições.

Por que será que preferimos sempre sofrer sozinhos? Diante de um grande sofrimento a gente se cala e não partilha com ninguém. Reze ao Coração de Jesus. Confie em sua promessa. Ele manifestará concretamente a sua presença de amor na sua vida.

Quero lhe contar um fato. Morei três anos em São Paulo. Nos primeiros dias resolvi sair de carro para conhecer a cidade. De repente era final de tarde e eu estava completamente perdido. Fiquei muito aflito e com com medo. Mas lá pelas tantas reconheci uma avenida e consegui voltar para casa. Passou-se algum tempo e eu estava de novo perdido num dos bairros de São Paulo, já era noite, só que agora tinha uma diferença: havia outro irmão sacerdote comigo. Ele era tão analfabeto nas ruas de São Paulo quanto eu. Só que dessa vez não tive medo. Cheguei a uma conclusão. Estar perdido sozinho é muito pior. Se você estiver perdido nas estradas da vida, tenha certeza: não está sozinho. Não fique aflito, o Coração de Jesus está com você. Logo acharão o caminho de volta.

 

SEGUNDA PROMESSA:

 

“Farei reinar a paz em suas famílias.”

 

            A segunda promessa do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria (1647-1690) aparece em frases como estas: “- Ele reunirá as famílias desunidas”; “- Ele prometeu reunir as famílias divididas, proteger e assistir as que se encontram em alguma necessidade e lhe pedirem com confiança.” Hoje existe uma verdadeira guerra contra a família. As novelas reservam o último capítulo para um casamento. Porém os outros 200 capítulos são propaganda explícita do divórcio. Muitos jovens já não podem crer na frase: “até que a morte os separe.” Além disso cresce o número de abortos, há cada vez mais violência dentro de casa; aumentam os conflitos entre pais e filhos; muitos jovens alimentam uma postura fria e até agressiva para com os idosos. A lista dos desafios enfrentados pela família seria interminável.

Diante de tudo isso a promessa do Coração de Jesus é como que um oásis de esperança: “Farei reinar a paz em suas famílias”. Veja que Deus escolheu nascer em uma família: Jesus, Maria e José! Seu primeiro milagre foi em uma festa de casamento: as bodas de Caná. Tinha uma família muito amiga em Bethânia: Lázaro, Marta e Maria. Gostava de entrar na casa das pessoas, como no caso de Zaqueu e tantos outros. Na Bíblia Jesus aparece muito mais em casas de família do que no templo de Jerusalém. Os primeiros cristãos entenderam esta mensagem. As primeiras missas aconteciam nas casas: lugar da partilha do pão, da Palavra, dos bens, da oração…

Hoje precisamos convidar novamente o Rei da Paz para reinar em nossos lares. Um primeiro passo é consagrar sua casa ao Coração de Jesus. Faça a entronização da imagem ou gravura do Sagrado Coração em seu lar. Reze todos os dias pedindo que sua casa seja um Santuário da Vida, uma Igreja Doméstica, uma lugar de paz.

Sim! Mas a paz não se resume na ausência de problemas ou conflitos. É preciso que sua casa seja uma Igreja onde marido e mulher são os sacerdotes que presidem a partilha do pão e a celebração da vida.

Penso que nossas famílias ainda não fizeram esta descoberta maravilhosa na prática. Vamos dar alguns exemplos. A festa de aniversário é um acontecimento tipicamente familiar. Normalmente é celebrado… ou pelo menos “lembrado”. Fazemos memória do dia do nosso nascimento. Em muitos lugares a festa de aniversário de um cristão não tem nenhuma diferença do aniversário de um pagão. Canta-se os parabéns. Apaga-se as velas do bolo. Beijo. Abraço. Fim. E a oração? E o louvo? E a ação de graça pela vida? Os sacerdotes do lar deverão ter a criatividade de provocar isto. Alguns até mandam celebrar uma missa de ação de graças. Mas estamos falando daquilo que pode acontecer dentro de casa. Missas do lar. Entendeu!? Agora pense como é que acontecem normalmente os noivados, bodas de prata, natal, bênção da casa, bênção dos filhos, velórios, enterros, etc… É tanta coisa. Pense simplesmente na oração antes das refeições. Muitos têm até vergonha de “puxar” a prece. Enquanto isso os jogadores de futebol continuam fazendo o sinal da cruz ao entrar em campo. Menos mau.

Se a Igreja deve ser uma família, e cada padre, um pai; então as famílias devem ser Igrejas, e os pais: sacerdotes do lar. E a paz reinará. É promessa do Coração de Jesus.