Esta quinta-feira vai ao ar pela Canção Nova, mais um programa DIREÇÃO ESPIRITUAL em que participo de alguns debates com Pe. Fábio de Melo. O assunto desta vez será a difícil e maravilhosa questão do Deus Uno e Trino. Abordaremos algumas coisas referentes ao livro A CABANA que está muito em voga no momento. Há alguns dias Padre Fábio e eu fizemos um desses programas e entramos em assuntos que merecem sempre aprofundamento. Dois deles são a experiência de fé de Maria Madalena e como ela, de pecadora, tornou-se uma grande discípula-missionária. Outra é a questão da Eucaristia como presença real. Tentamos mostrar que aquele pão e vinho consagrados são “substancialmente” Cristo. Acreditamos na transubstanciação e não na transmaterialização. Não é quimicamente carne e sangue. Eucaristia é sacramento, não é magia. Recebi um comentário de um irmão no sacerdócio que reproduzo para aprofundar este debate.
Pe. Joãozinho,
Em primeiro lugar, gostaria de parabenizá-lo pelo dia do padre. Seja feliz!
Em segundo, não poderia me furtar de dizer-lhe que me causou estranheza o modo pelo qual o senhor, defendendo num programa de TV da CN afirmações no mínimo muito ambíguas do Pe. Fábio de Melo sobre a eucaristia e outras coisas, deu a entender que a proclamação da Ressurreição de Nosso Senhor pela Igreja nascente teria sido apenas o resultado de uma espécie de “intuição” de Maria Madalena. E que dessa “fé” de Maria Madalena toda a Igreja, inclusive Tomé, teria bebido (sic).
Ora, se o entendi bem, assim o senhor corrobora uma tese simplesmente incompatível com o ensinamento da Igreja Católica. A Ressurreição não pode ser tida simplesmente fruto das “saudades” dos discípulos. É um fato real – para além das intuições e das mentes dos discípulos – que provocou o reconhecimento dos desanimados seguidores, que a princípio relutaram em acreditar no Cristo Jesus que se lhes mostrava redivivo.
—-
O autor do comentário é Pe. Elílio, presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana, incardinado na Arquidiocese de Juiz de Fora. Atualmente, mestrando em Filosofia pela FAJE (Belo Horizonte). Também ele tem um BLOG muito interessante: http://padreelilio.blogspot.com/
—-
Alegra-me sempre a atenção de um colega no sacerdócio, ainda mais vinda de um mestrando da Faje, onde eu mesmo fiz o mestrado nos idos de 1996-1997, sob orientação do Pe. João Batista Libanio.
Não acredito ter afirmado que “A Ressurreição foi simplesmente fruto das ‘saudades’ dos discípulos ou de uma ‘intuição’ de Madalena”. Seria simplória heresia. O programa foi gravado próximo do dia 22 de julho, festa de Santa Maria Madalena. Sem dúvida ela foi a PRIMEIRA a ver o Redentor ressuscitado (cf. Mc 16,9). Seu testemunho foi muito importante para a Igreja dos primórdios. Conforme diz a coleta deste dia: “Ó Deus, o vosso Filho confiou a Maria Madalena o primeiro anúncio da alegria pascal; dai-nos, por suas preces e a seu exemplo, anunciar também que Cristo vive…” Neste sentido podemos dizer que a experiência de fé da Igreja passou pela experiência de fé de Maria Madalena.
Sobre isso vale o texto de Bento XVI em 2005: “Ontem celebrámos a memória litúrgica de Santa Maria Madalena, discípula do Senhor, que nos Evangelhos ocupa um lugar de primeiro plano. São Lucas enumera-a entre as mulheres que tinham seguido Jesus depois de terem sido “curadas de espíritos malignos e de enfermidades”, especificando que dela “tinham saído sete demónios” (Lc 8, 2). Madalena estará presente aos pés da Cruz, juntamente com a Mãe de Jesus e com outras mulheres. Ela descobrirá, na manhã do primeiro dia após o sábado, o túmulo vazio, ao lado do qual permanecerá em lágrimas, até que Jesus ressuscitado compareça diante dela (cf. Jo 20, 11). A história de Maria Madalena recorda a todos uma verdade fundamental: discípulo de Cristo é aquele que, na experiência da debilidade humana, teve a humildade de lhe pedir ajuda, foi por Ele curado e se pôs no seu seguimento de perto, tornando-se testemunha do poder do seu amor misericordioso, mais forte do que o pecado e a morte”. Cf. http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/angelus/2006/documents/hf_ben-xvi_ang_20060723_po.html
Teria sido mais preciso utilizar a expressão, sempre precisa, do papa teólogo: “Maria Madalena ocupa um lugar de primeiro plano”. Afinal de contas, nós somos confirmados na fé por Pedro. Sobre isso poderíamos continuar o discurso… quem sabe em outro programa de TV. Espero que Pe. Fábio e eu tenhamos esta oportunidade. Convidaremos pessoas inteligentes e estudadas como Pe. Elílio para o debate. O objetivo não é a polêmica pela polêmica, mas aprofundar as “razões de nossa esperança”.
Concluindo, confirmo a convicção de fé da Igreja Católica na realidade objetiva da ressurreição e da Eucaristia. Não são realidades subjetivas. Seria simplório subjetivismo relativista. Nem Pe. Fábio, nem eu nos enquadramos neste tipo pouco inteligente de perspectiva pós-moderna. Seria “humano demais”.