Joel continua perguntando sobre o sentido de uma frase que pronunciei em um programa de TV. Antes da resposta gostaria de lembrar que uma frase sempre deve ser lida em todo o contexto em que foi afirmada. Veja a dúvida do nosso irmão Joel:

Estou fazendo um sincero esforço para entender a explicação que o senhor teve a bondade de fornecer. Vamos lá: Padre João escreveu: “Não é mais pão. É carne e sangue, no sentido bíblico.” Na Eucaristia temos a Carne e o Sangue de Nosso Senhor escondidas sob as aparências (os acidentes) do pão e do vinho. Acredito que quando o senhor diz “É carne e sangue, no sentido bíblico”, está dizendo: é carne e sangue escondidos sob a aparência (os acidentes) do pão e vinho. Correto? Bem, se o raciocínio contido no parágrafo acima estiver correto, não faz sentido dizer que “[A Eucaristia] não é comer carne e beber sangue.” Conforme o senhor mesmo disse – vide lá em cima a última frase transcrita da TV. Permita-me ser ainda mais claro e direto, ainda que correndo o risco de ser repetitivo: entendo que o senhor erra ao afirmar que “[A Eucaristia]não é comer carne e beber sangue” – última frase transcrita. Poderia explicar isso?”

Joel

Se você ouviu com atenção o discurso todo em seu contexto, cheguei a dar um exemplo bastante claro. Jesus não nos deixou na Eucaristia, um pedaço de seu carne. Ao comungarmos, por exemplo, não estamos nos alimentando de um dedo, ou de um braço de Jesus. Não é este o sentido do Sacramento. Comemos sua carne e bebemos o seu sangue VERDADEIRAMENTE. Não é mais pão. Não é mais vinho. Porém, permanecem os acidentes. Se tomar dois litros do sangue de Cristo, vai ficar alcoolizado. Minha afirmação teria sido mais clara se tivesse dito que comer a carne de Cristo na Eucaristia significa participar do seu Corpo Místico. Não é antropofagia, como já ficou claro em nossos debates. É um banquete místico. É memorial do sacrifício de Cristo na Cruz. É comer e bebem a nossa salvação!

Esta parecia uma questão superada há vinte séculos, mas não é. Hoje vemos um mundo cada vez menos descristianizado. Precisamos dar as razões de nossa esperança. Veja este texto do bispo Atenágoras de Atenas, do século II:

“Quem, em plena razão, poderia dizer que, sendo assim, somos assassinos? Não é possível saciar-se de carne humana, se antes não matamos alguém. Se eles mentem quanto ao primeiro ponto, mentem também quanto ao segundo. Com efeito, se lhes é perguntado se viram o que dizem, não existe ninguém tão sem-vergonha que diga ter visto. Entretanto, temos escravos, alguns mais outros menos, para os quais não é possível ocultarnos. No entanto, nenhum deles chegou a caluniar-nos com semelhantes coisas. De fato, os que sabem que não suportamos ver uma execução com justiça, como vão nos acusar de matar e comer homens? Quem de vós não se entusiasma em ver os espetáculos de gladiadores ou de feras, principalmente os que são organizados por vós? Nós, porém, que consideramos que ver matar está próximo do próprio matar, nos abstemos de tais espetáculos. Portanto, como podemos matar os que não queremos sequer ver para não contrair mancha ou impureza em nós? Afirmamos que as mulheres que tentam o aborto cometem homicídio e terão que dar contas a Deus por ele 4; então, por que iríamos matar alguém? Não se pode pensar que aquele que a mulher leva no ventre é um ser vivente e objeto, conseqüentemente, da providência de Deus e em seguida matar aquele que já tem anos de vida; não expor o nascido, crendo que expor os filhos equivale a matá-los, e tirar a vida ao que já foi criado. Não! Nós somos em tudo e sempre iguais e concordes com nós mesmos, pois servimos à razão e não a violentamos.”  (nº 35 – Tradução: Ivo Storniolo, Euclides M. Balancin; Fonte: Padres Apostólicos, Volume I, Coleção Patrística. Ed. Paulus)

Joel responde à minha indagação com a seguinte observação:

Padre Joãozinho,

Há relatos (eu já vi fotos) do pão consagrado que se transforma em Carne visível de Nosso Senhor. Nesses relatos (e na foto que vi) essa carne e sangue visíveis estavam já na língua do fiel que recebeu a Eucaristia.

Sabendo que esse “milagre eucarístico” se deu quando o pão consagrado já tinha sido recebido na boca do fiel, eu pergunto: não deveria o fiel terminar sua comunhão? Claro que sim!

Qualquer coisa que fugisse disso seria descabida e imprópria.

Se Deus aprouve por bem realizar esse milagre após o fiel ter recebido as espécies consagradas, claro que o fiel deve terminar normalmente sua comunhão.

Se Deus aprouve por bem realizar esse milagre ANTES da distribuição das espécies, é bom que esse milagre seja preservado para o fim de aumentar a fé das pessoas. Assim foi feito em Lanciano.

Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.

Joel

A questão é no mínimo curiosa. Não tenho notícias de que a Igreja tenha incentivado e nem mesmo aprovado que algum sacerdote ou fiel comungasse as espécies eucarísticas de algum milagre em que tivessem se transformado em carne e sangue (no sentido hilemorfistico de matéria, ou no sentido químico, ou ainda mantendo os acidentes de carne e sangue). No caso de Padre Cícero, no Juareiro do Norte o caso deu “pano pra manga”. Mas parece que meus irmãos do Monfort tem já um estudo feito a respeito. Gostaria de me aprofundar neste particular, pois em princípio não me parece adequado comungar as espécies de um milagre eucarístico. Falo isso a propósito do seguinte comentário:

“Pergunto aos meus inquisitores: ALGUÉM QUE COMUNGASSE A CARNE E O SANGUE DO MILAGRE EUCARISTICO DE LANCIANO ESTARIA COMUNGANDO EUCARISTICAMENTE?”

Sim, Padre João, estaria comungando eucaristicamente. O trecho abaixo explica bem isso, veja:

“Pio XII nos diz: “Pela sagrada Eucaristia alimentam-se e fortificam-se os fiéis com um mesmo alimento e se unem entre si e a divina Cabeça de todo o Corpo com um vínculo inefável e divino.” (MYSTICI CORPORIS 18). O resto da argumentação só segue as tolices modernistas, como o Milagre Eucarístico não é Eucaristia, ora então não deveria ser “Milagre EUCARÍSTICO”, seria então “MILAGRE MATERIALISTICO”?????. Entre os milagres já houve os que foram comungados, mas isso é uma outra história. O de Lanciano foi guardado por outros motivos, não os alegados pelo padre, mas sim pela visibilidade do milagre e não porque não fosse Eucaristia.”

FONTE: http://www.montfort.org.br/ind…..p;lang=bra

Um dos comentaristas deste BLOG se deu ao cuidado de transcrever minhas palavras na TV e faz uma pergunda invertida:

Pera aí, eu falei, você está bebendo… esta bebendo vinho materialmente. Substancialmente você está se alimentando do sangue de Cristo. Sangue na Bíblia significa vida. (…) A pessoa confundiu transubstanciação com transmaterialização. Tanto que, lá naquele milagre eucarístico de Lanciano, na Itália, no norte da Itália, o corpo e o sangue de Cristo viraram carne e sangue. É um milagre eucarístico, está até hoje preservado lá. Só que a Igreja não preserva mais no sacrário, e ninguém poderia comungar aquilo. A Igreja tem consciência de que aquilo não é mais Eucaristia. Opa! Não é Eucaristia por quê? Porque não é mais pão e vinho. Agora é carne e sangue. Nós não somos antropófagos. A Eucaristia não é antropofagia. Não é comer carne e beber sangue.”. (Pe. Joãozinho)

http://www.youtube.com/watch?v…..re=related

Padre Joãozinho, quer dizer então que na Eucaristia não se come Carne nem se bebe Sangue?

Poderia nos explicar isso?

Resposta: A Igreja Católica afirma e reafirma de modo insistente há séculos que na Eucaristia encontramos a presença real, SUBSTANCIAL, de Jesus Cristo. Ali está toda a sua pessoa sob as “espécies” de vinho e pão. Permanecem os acidentes, para utilizar a linguagem tomista, mas muda a essência. Não é mais pão. É carne e sangue, no sentido bíblico. No caso de um milagre eucarístico, já não existem os acidentes. Agora é carne e sangue mesmo. `Pergunto aos meus inquisitores: ALGUÉM QUE COMUNGASSE A CARNE E O SANGUE DO MILAGRE EUCARISTICO DE LANCIANO ESTARIA COMUNGANDO EUCARISTICAMENTE?

Em reação à minha aula de Pneumatologia de hoje recebi este ótimo comentário. Como ajuda na reflexão sugiro este vídeo do teólogo João Batista Libanio:

http://www.youtube.com/watch?v=nK-UVy48mpY

Padre, tentei refletir junto contigo e com a Igreja…

1-) Como você avaliaria a “Fome” ou “Surto” do Espírito que constatamos em nossos dias, após um tempo de “silêncio” do Espírito?

Acho que esse suposto “Surto” do Espírito está mais ligado ao advento da modernidade, por ocasião da revolução copernicana, na qual o o homem passa a ser o sujeito das transformações da natureza. Contudo, as mais altas tecnologias não respondem as mais profundas questões existenciais do homem.

2-) A força da pentecostalidade de um lado e a rejeição das formas de expressão intitucionalizada da religião mostra que talvez tenha chegado a tal “Era do Espírito”, predita por Joaquim de Fiore. Seria verdade?

Se verificarmos o que o povo acha, constataremos que o povo não tem atração por uma religião, como um catálogo de preceitos. Eles pensam que isso tiraria a sua liberdade de ir e de vir. Então, recorrem a uma teologia da prosperidade, que em certo sentido, permeia a RCC e as Igrejas Protestantes, pois essa Teologia exalta a individualidade, em detrimento da coletividade, o milagre fácil. Como o teólogo jesuíta Libânio disse, há marcas de neo-paganismo nessas tendências.

3-) Igreja e carisma se contrapõem? Por outro lado a Igreja Católica assiste a fenômenos de massa como é o caso da RCC e das expressões religiosas midiáticas que buscam aceitação institucional e popular. Poder e Carisma estão nas duas pontas desta corda. Como você vê tudo isso? As CEBs lutam por seu lugar na ponta do Carisma. Seria incômodo ter RCC e CEBs na mesma ponta? Ou uma das duas pulará para a ponta da Igreja instituição?

A história da Igreja nos ensina que os carismas floresceram no jardim da Igreja, sob os cuidados dos Papas. Não se contrapõem, todavia, para que esses movimentos de carismas específicos amadureçam, é preciso que sejam obedientes à Igreja, no sentido de dar tempo ao tempo para que a Igreja possa discernir, corrigir, aperfeiçoar, validar e apontar esse carisma como um caminho de santidade possível. Acho perfeitamente possível RCC e CEB’s atuarem em conjunto, desde que saibam que antes de mais nada, que são católicos por identidade. Cada um no seu específico e ao mesmo tempo, aprendendo com o outro.

4-) No chamado Primeiro mundo já se fala de civilização pós-cristã. A proposta ali é de uma religiosidade totalmente individual ao estilo New Age. Como pensar a ação da “pessoa” do Espírito Santo neste contexto? Ele é mais visto como uma “energia” impessoal e que deve ser dominada pela pessoa por meio de técnicas.

Essa civilização pós-cristã é marcada pelas filosofias marxistas, nietchziana e a psicologia freudiana. Um materialismo interdisciplinar acentuado, com o horizonte niilista. A vida é vista sob uma perspectiva físico-química, isto é, beirando à animalidade. A voz que as pessoas mais escutam é a do seu egoísmo. Quase há espaço para uma escuta interior do Espírito, e nem espaço para ficar em silêncio consigo mesmo. Quando há esse espaço, é porque alguma espécie de sofrimento invadiu o coração do indivíduo. Aí pode-se abrir um canal de comunicação entre o Espírito e o indivíduo. E quando esse indivíduo escuta a voz interior, ocasionado pela monção do Espírito, se recorda das palavras do Cristo Senhor, e sente a necessidade de atualizar seus atos no presente da história.

Após o discurso inflamado do Senador Aloízio Mercadante, fala o Senador Tasso Jereissati e retoma a postura de serenidade e precisão que convem ao Senado Federal. É forçado a desculpar-se à senhora Lina pelo dedo em riste de alguns de seus colegas de casa parlamentar.