Hoje a noite darei minha pequena contribuição no programa REVOLUÇÃO JESUS. O tema é próprio deste mês de setembro: A PRIMAVERA. Mas será abordado a partir da CARITAS IN VERITATE, recente encíclica social de Bento XVI.
O TEMPO DA PÁSCOA
M. AUGÉ, Liturgia, São Paulo: Ave-Maria, 1998, pp. 307-310
A formação dos “cinqüenta dias pascais” vem provavelmente do tempo da instituição da própria liturgia da Páscoa. Os Padres a concebem de forma unitária, isto é, uma celebração que continua por cinqüenta dias. Na vigília pascal, que já é domingo de ressurreição, nasce um novo dia que a Igreja prolonga por uma semana de semanas, no tempo que aos antigos chamavam “as sete semanas do santo Pentecostes”, “o grande domingo”, “o feliz espaço”. Pentecostes não é, portanto, somente um dia, pois que esta palavra indica “cinqüenta dias” e, por derivação, o “qüinquagésimo dia”, com o qual termina o tempo de Páscoa. S. Ambrósio já se atém a esta concepção: “Os cinqüenta dias devem ser celebrados como a Páscoa e todos eles são como um único domingo”. Todavia, no decurso do século IV começa a delinear-se uma mudança complexa. Prevalece o critério da distribuição cronológica, segundo as indicações de Lucas e se quebra, portanto, a unidade dos cinqüenta dias pascais, idealizada como uma única unidade festiva. No quadragésimo dia de fato, começou-se a celebrar o mistério da “Ascensão do Senhor” e no qüinquagésimo, a “vinda do Espírito Santo”. Na segunda metade do século VI, acrescenta-se à solenidade de Pentecostes, como festa do Espírito Santo, uma oitava. O Gelasiano já contém algumas orações para as vésperas dessa oitava.
A atual liturgia romana fala novamente dos cinqüenta dias pascais como de um único dia de festa. Como homenagem a essa visão unitária foi suprimida a oitava de pentecostes. Os domingos recuperaram o sentido de domingos de Páscoa. A Ascensão do Senhor se celebra no quadragésimo dia, mas com a possibilidade de ser transladada para o domingo seguinte. O anseio de sublinhar a unidade do mistério de Cristo e do Espírito coloca em destaque, através dos textos, que todo o tempo de Páscoa sempre é tempo do Espírito. Em suma, o mistério pascal é celebrado como uma unidade só (morte, ressurreição, ascensão, vinda do Espírito). O tom da celebração dos cinqüenta dias é proporcionado essencialmente pelas leituras bíblicas e pelos textos eucológicos da missa.
No tocante ao lecionário, nas festas (Páscoa, Ascensão, Pentecostes) a organização cíclica trienal é somente parcial e a organização temática das três leituras é clara; nos domingos, ao invés, são usados os princípios da harmonização temática e da leitura semicontínua, de maneira variada. A harmonização temática entre as três leituras do mesmo domingo normalmente é difícil, porque coexiste a intenção de ler os Atos, paralela e progressivamente, e 1Pd; 1Jo, Ap de forma fixa e progressiva.
Os traços essenciais das temáticas do lecionário podem ser assim sintetizados: os acontecimentos pascais (morte, ressurreição, ascensão e dom do Espírito) se destinam para nós, porque somos partícipes da vida do Ressuscitado; a proclamação dos eventos pascais e a nossa participação neles acontecem em grau mais elevado na Eucaristia, que é a nossa Páscoa; na Eucaristia e da Eucaristia procede o verdadeiro testemunho, através do dom do Espírito, permanentemente renovado. Estes temas são desenvolvidos e enriquecidos pela eucologia.
Como conclusão podemos afirmar que o tempo pascal destaca a novidade batismal da vida cristã, em continuidade com a novidade do Ressuscitado. A comunidade eclesial é presença e prolongamento do Cristo ressuscitado. Emerge, portanto, a importância das obras da ressurreição, do testemunho da vida. Afirma-se desde agora a possibilidade de uma nova e renovada humanidade pelo dinamismo do Espírito do Ressuscitado; o mistério da Páscoa do Senhor, pela ação do Espírito, elimina de todos nós o velho fermento do pecado e nos transforma nos pães ázimos da sinceridade e da verdade (I Cor 5, 6b-8). Neste contexto se torna viva a espera escatológica.