No Capítulo um, José Fernandes de Oliveira, mais conhecido como Pe. Zezinho, scj, comunicador midiático de fama internacional, faz uma análise crítica que vale como provocação inicial: “Semideuses da Fé”. Suas intuições não têm nada de teórico ou abstrato demais. Ele conhece bem sobre o que está falando. Costuma transitar entre palcos e altares. Mora no caminho e tem agudo senso de observação. Respira comunicação vinte e quatro horas por dia, há mais de quarenta e cinco anos. É conhecido por suas intuições geniais. Foi nosso escolhido para abrir esta série de textos, afinal, a pergunta que não quer calar é exatamente esta: “que tipo de imagem de Deus estamos criando em nossos canais de comunicação?” Se a releitura da obra de Michelangelo que propomos na capa deste livro estiver certa, não é exatamente confortável ser deus nem semideus. A legião de fãs os prestigiam com o controle remoto nas mãos. São consumidores de seus ídolos. Isto denota certa crueldade de lógica sacrifical invertida. Os ídolos é que acabam sendo vítimas de seus adoradores. Esta relação doente merece a reflexão que Pe. Zezinho, scj, com tanta sinceridade propõe nas páginas de seu artigo.

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Bento XVI aos artistas: o mundo precisa da beleza
Caminho para encontrar Deus, diz na Capela Sistina

Por Jesús Colina

CIDADE DO VATICANO, domingo, 22 de novembro de 2009 (ZENIT.org).- O que os homens e mulheres contemporâneos realmente precisam é de beleza, caminho para encontrar Deus, assegurou Bento XVI no esperado encontro com os artistas do mundo inteiro, realizado ontem na Capela Sistina, que contou com a presença de aproximadamente 260 artistas renomados internacionalmente: cantores, músicos, escritores, pintores, arquitetos, atores, entre outros.

Trata-se de uma iniciativa organizada pelo arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, que não só buscava recordar os 10 anos da carta de João Paulo II aos artistas, mas sobretudo superar o divórcio entre a Igreja e o mundo artístico, constatado por Paulo VI em um encontro como este, há 45 anos.

Em meio ao ambiente de pessimismo que se respira por causa da crise econômica e social, o Papa perguntou aos artistas: “O que pode voltar a dar entusiasmo e confiança, o que pode animar a alma humana a encontrar o caminho, a elevar o olhar ao horizonte, a sonhar com uma vida digna da sua vocação? Não é acaso a beleza?”.

“A experiência do belo, do autenticamente belo, do que não é efêmero nem superficial – respondeu o Papa –, não é acessório ou algo secundário na busca do sentido e da felicidade, porque essa experiência não afasta da realidade, e sim leva a enfrentar totalmente a vida cotidiana para libertá-la da escuridão e transfigurá-la, para torná-la luminosa, bela.”

A beleza, segundo o Papa, pode provocar no ser humano “uma saudável ‘sacudida’ que o leve a sair de si mesmo, que o arranque da resignação, da comodidade do cotidiano; que o faça também sofrer, como um dardo que o fere, mas que o ‘desperta’, abrindo-lhe novamente os olhos do coração e da mente, dando-lhe asas, empurrando-o para o alto”.

Pois bem, continuou constatando o bispo de Roma, “com muita frequência, no entanto, a beleza da que se faz propaganda é ilusória e falaz, superficial e cega até o aturdimento e, ao invés de fazer que os homens saiam de si mesmos e abrir horizontes de verdadeira liberdade, empurrando-os para o alto, fecha-os em si mesmos e os faz ser ainda mais escravos, tirando-lhes a esperança e a alegria”.

Pelo contrário, indicou, a beleza “pode converter-se em um caminho para o transcendente, para o mistério último, para Deus”.

Por este motivo, apresentou o “caminho da beleza” como “um percorrido artístico, estético, e um itinerário de fé, de busca teológica”.

Por isso, seu discurso se converteu em uma constatação da necessidade que os artistas têm de Deus e da necessidade que a Igreja tem da arte para evangelizar.

Antes de despedir-se, o Papa fez um convite aos artistas: “Não tenhais medo de relacionar-vos com a fonte primeira e última da beleza, de dialogar com os crentes, com quem, como vós, se sente peregrino no mundo e na história, rumo à Beleza infinita!”.

“A fé não elimina nada da vossa criatividade, da vossa arte; mais ainda, ela vos exalta e vos nutre, animando-vos a atravessar o limiar e a contemplar, com olhos fascinados e comovidos, a meta última e definitiva, o sol sem crepúsculo que ilumina e torna belo o presente”, concluiu.

Artistas veem início de novo encontro com Igreja
Reações entre os participantes do encontro com o Papa

Por Jesús Colina 

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 23 de novembro de 2009 (ZENIT.org).- Um reencontro entre a Igreja e o mundo da arte: com este objetivo, Bento XVI convocou, no último dia 21 de novembro, na Capela Sistina, mais de 260 artistas de renome internacional. Seus convidados compreenderam este propósito?

Zenit reuniu os comentários que os jornalistas puderam recolher entre os participantes. Em geral, todos coincidem em constatar que esta audiência constitui um primeiro passo, como reconheceu o diretor de cinema polonês Kristof Zanussi.

“Esta é nossa expectativa – assegura o cineasta: algo mais de ação por parte da Igreja para dar um passo rumo ao mundo do espetáculo, dos artistas. Sabemos que os artistas, por sua vez, não darão nunca nenhum passo.”

Zanussi considera que as “belíssimas palavras do Santo Padre trazem mais diálogo, mais abertura, mais conhecimento entre o mundo da arte e a Igreja”. Mas ao mesmo tempo é realista, pois “a arte de hoje está em decadência, porque não há nenhum limite”.

“Não acho que a Igreja limita a liberdade, mas precisamos de inspirações, pois a arte, incluída a arte sagrada, com frequência é de baixíssima qualidade, não se inspira em uma dimensão espiritual”, acrescenta.

O ator e produtor mexicano Eduardo Verástegui, que mora atualmente em Los Angeles e é conhecido por sua participação no filme Bella, confessou que este encontro com o Papa foi “um sonho feito realidade”.

“A Igreja criou cumes de arte na história e estar na Capela Sistina, com o Santo Padre, cercado por toda esta arte, acompanhado por artistas de todas as expressões, é algo histórico. E tudo isso em silêncio, oração e reflexão. É algo que enriqueceu muito todos os que estavam presentes”, afirma.

 

Divórcio Igreja-arte

O motivo que levou o Papa a convocar este encontro é o mesmo que inspirou Paulo VI, quando organizou um encontro semelhante, neste mesmo cenário, há 45 anos (no dia 7 de março de 1964): o dramático divórcio que se verificou, sobretudo no século XX, entre a Igreja e o mundo artístico.

Bento XVI, inspirando-se nas palavras do seu predecessor, Giovanni Battista Montini, assumiu o compromisso de “restabelecer a amizade entre a Igreja e os artistas” e lhes pediu para “fazer o que lhes corresponde e compartilhá-lo, analisando com seriedade e objetividade os motivos que turbaram esta relação, assumindo, cada um com valentia e paixão, a responsabilidade de um renovado e profundo itinerário de conhecimento e de diálogo, frente a um autêntico ‘renascimento’ da arte no contexto de um novo humanismo”.

O diretor de cinema italiano Pupi Avati, talvez o mais exitoso em seu país neste momento, fez este balanço do encontro: “Parece-me que este encontro deu um resultado totalmente extraordinário. E isso digo eu, que esperava ver uma série de colegas de diferentes expressões artísticas, porém mais ou menos ligados à mesma ideia confessional, de prática mais ou menos religiosa”.

“Pelo contrário, e isso foi verdadeiramente milagroso: vimos colegas procedentes precisamente dos âmbitos mais afastados. Portanto, acolheram este convite já não à colaboração, que me parece uma palavra excessiva, mas sim ao diálogo. Parece que foi uma ideia extraordinária que supera muito as previsões.”

Comentários parecidos foram recolhidos, por exemplo, de Zaha Hadid, a arquiteta iraquiana mundialmente conhecida, que estava na primeira fila na Capela Sistina; ela confessou que espera que este seja o início de um diálogo, “pois é oportuno enfrentar os temas expostos pelo Papa”.

Beleza transcendente

A escritora italiana Susanna Tamaro sublinhou a importância da dimensão transcendente que Bento XVI deu à beleza, pois, “para quem não tem fé, é difícil falar de esperança neste momento”.

O diretor de cinema israelense Samuel Maoz, Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza com o filme “Lebanon”, declarou: “Acho que o Papa disse um grande ‘não’ ao ódio e à guerra e um grande ‘sim’ ao amor e à arte”.

O Papa se mostrou de acordo com os artistas ao sinalizar que este encontro é o início, não o final de um caminho; de fato, ele se despediu deles com um arrivederci (até logo).

O organizador da audiência, arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, explicou que este encontro “deve ser entendido como o início de um diálogo novo, baseado na fraternidade entre fé e arte. Procuraremos organizar outro encontro, talvez novamente com o Papa”.

Neste sentido se enquadra o projeto, revelado pelo próprio prelado italiano, de criar pela primeira vez um pavilhão da Santa Sé na Bienal de Veneza, uma das exposições internacionais de arte de maior prestígio, cuja próxima edição acontecerá em 2011.

APRESENTAÇÃO

João Carlos Almeida[1]

 

 

 

A Bíblia afirma que, no princípio, Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança; homem e mulher os criou. Michelangelo eternizou esta cena no teto da Capela Sistina, no Vaticano, com a admirável cena da “Criação”. O toque do dedo do Criador transfere sua imagem e semelhança, qual dádiva divina, à criatura humana.

Os tempos mudaram. Hoje é o ser humano quem pretende recriar “deus” à sua imagem e semelhança. Nosso artista visual, Valdemar Érico Scramin[2], expressou esta “virada antropológica” na inspirada capa deste livro. Confortavelmente deitado no seu divã, o velho Adão exibe, orgulhoso, seu instrumento de poder: o controle remoto. Deus fica aparentemente aprisionado à moderna tela de LCD, provavelmente em alta definição digital, o que não significa necessariamente uma adequada definição “real”. É apenas uma imagem. Se não se comportar bem, rapidamente será substituído por outro canal mais atraente. Nos dias de hoje, muitos preferem escolher o “seu” tipo de deus. O poder está aparentemente nas mãos de quem segura o controle remoto. No mundo da hegemonia midiática é de se perguntar se estamos diante da realidade ou de um simulacro de deus. Definitivamente a tela da TV ou do Computador não é um espelho. Não reflete com autenticidade o que Deus é! Qualquer semelhança é mera coincidência.

O artista que elaborou a capa deste livro teve ainda a idéia de colocar Deus numa espécie de reação emancipatória, diante do atrevimento humano. Por isso, sua imagem não está totalmente presa à tela da TV. Parte dela está para o lado de fora. Isto significa que – ainda que o homem moderno pretenda recriar a sua divindade – Deus continua sendo soberanamente Deus. Ele não se deixa condicionar pelos nossos mesquinhos antropomorfismos. Em algum momento somos surpreendidos pela presença inusitada de Deus na história e, quem sabe, até na mídia.

Este livro pretende ser uma contribuição para todos os que querem refletir com alguns referenciais críticos sobre a “Imagem e semelhança de Deus na Mídia”.[3] Todos os textos foram preparados especialmente para esta edição. Seus autores, de uma forma ou de outra, estão ligados à Faculdade Dehoniana, em Taubaté. Ali, o debate entre professores e estudantes precedeu a publicação desta obra que pretende socializar algumas conclusões.


[1] João Carlos Almeida é religioso e sacerdote da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos). É doutor em Teologia Sistemática (Pont. Faculdade Assunção-SP), doutor em Educação (USP) e doutor em Espiritualidade (Gregoriana–Roma). Tem intensa presença nos Meios de Comunicação Social, especialmente na TV. É o atual Diretor Geral da Faculdade Dehoniana.

[2] Valdemar Érico Scramin é religioso da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos) e aluno do Bacharelado em Teologia, na Faculdade Dehoniana, Taubaté-SP.

[3] Os textos reunidos neste livro foram fruto das reflexões e debates ocorridos na Semana Teológica da Faculdade Dehoniana, em Taubaté, em outubro de 2009.