Evangelho segundo S. Lucas 3,1-6.

No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilena, sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um batismo de penitência para remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos. E toda a criatura verá a salvação de Deus.’»

Advento é tempo de preparar caminhos. Sempre que entro em São Paulo e vejo as grandes obras de alargamento das avenidas marginais fico pensando como pe complexa esta tarefa de preparar o caminho. Há lugares em que prefeitos em véspera de eleição fazem sua campanha passando uma fina capa de asfalto sobre os eternos buracos das ruas. Três meses depois de eleito o buraco já voltou… para mais três anos… até a próxima eleição. Nas avenidas marginais de SP vejo que as demoradas obras exigem cavar fundo e colocar diversas camadas de pedras, cimento, asfalto etc. Orecisamos deste tipo de reparação em nossas vidas. Precisamos cavar fundo e arrancar aquelas raízes de pecado que fazem nossa vida ficar insegura… cheia de buracos… intransitável. Para isso, é necessário desviar o trânsito, parar um pouco, refletir, visitar o mais profundo de si mesmo e fazer uma confissão antes do natal. Pode causar um certo transtorno, mas vale a pena. Vamos preparar o caminho: o Rei irá passar!

No Capítulo quatro, Maria Antônia Marques, doutora em Bíblia e atuante no Centro Bíblico Verbo, muda o campo da análise das ciências da comunicação para a ciência bíblica. Utilizando um método histórico-crítico, procura as raízes do texto do Gênesis 1, onde encontramos a afirmação de que Deus criou o humano à sua imagem e semelhança. Esta canção sacerdotal, elaborada no exílio da Babilônia, funcionou como uma espécie de hino subversivo de resistência e garantia da identidade de um povo oprimido por uma nação estrangeira. Reconhecer Deus como aquele que é solidário com seu povo é redescobrir a própria identidade. Deus cria no plural: “façamos”; o ser humano também só encontra sua verdade na pluralidade; ninguém é feliz sozinho; mulher e homem se complementam para formar a imagem e semelhança de Deus. Isto dá o que pensar no mundo individualista em que vivemos. Nossa identidade completa só se realiza na relacionalidade. Poderíamos dizer que “somos solidariedade”. Este estudo bíblico é um recuo necessário para poder pensar que tipo de imagem e semelhança devemos projetar de Deus e do humano na mídia. “O ser humano é chamado a reconhecer sua relação de interdependência com todo o planeta e sua necessidade de manter uma atitude permanente de preservação da vida”, conclui Maria Antônia Marques.