No Capítulo sete, o teólogo Mário Marcelo Coelho procura desvendar “O impacto da Mídia em questões de Teologia Moral”. A formação interdisciplinar deste autor chama a atenção. Especializado originalmente em zootecnia, fez filosofia, teologia e defendeu tese de mestrado na área de Teologia Moral com tese sobre xenotransplantes. O mundo da Bioética é tão atual quanto complexo e às vezes hermético para o leitor não especializado. Mario Marcelo, em breve ensaio, procura exprimir alguns princípios de modo simples para a compreensão do grande público. Esta é também a sua principal conclusão. No mundo de rápidas mudanças em que vivemos, a linguagem moral corre o risco de ficar estagnada em fórmulas dogmaticamente seguras, porém pouco compreensíveis às novas gerações. O grande desafio é retraduzir permanentemente a linguagem moral, sem perder a identidade e os valores que têm como referencial permanente a luta em defesa da vida.
Continuando…
E aqui, tudo que eu tenho a nos perguntar é: que língua nós falamos?
A que tribo pertencemos?
Quais valores deixamos escapar nas nossas escolhas, nas nossas ações, no nosso pensamento ou até mesmo nas nossas omissões?
Renata Prado.
Prezado Pe Joãozinho,
a tese do Sr. Mário Marcelo Coelho, é exatamente a tese da nova teologia, denunciada pelo Pe Garrigou Lagrange, no artigo “Para onde vai a nova teologia?”. Onde ele abri, apresentando a tese de Henri Boullaird:
“Quando o espírito evolui, uma verdade imutável não se mantém senão graças a uma evolução simultânea e correlativa de todas as noções, mantendo entre elas uma mesma relação. Uma teologia que não fosse atual seria uma teologia falsa”.1Conversion et grâce chez saint Thomas d´Aquin, 1944, ´. 219.
Neste caso, por exemplo, seria falsa a teologia de Santo Tomás e de Santo Agostinho. No plano de fundo disto, esta a luta entre a concepção tradicional de verdade (adaequatio rei et intellectus) e a concepção moderna (conformitas mentis et vitae). São Pio X, na Pascendi, afirmou sobre a última, que se trata de uma completa pervesão do sentido mesmo de verdade e Garrigou, no artigo citado, afirma que a “Nouvelle Theollogie” volta para o modernismo.
Considerando-se o que sr. diz sobre o sr. Mário, não é difícil pela sua formação, deduzir que ele aplica o evolucionismo, no campo da teologia moral (sem precisar conhecer o modernismo e suas teses). Os dogmas científicos, são plenamente compreensíveis a nova geração, sem contudo, mudar-lhes a formulação. Isto se dá por um motivo bem simples, que é ter alguém que ensine o sentido dos mesmos. O que coloca a premissa da incogniscibilidade, apresentada pelo autor, como completamente falsa. Porque se os pais, a Igreja e o Espírito Santo, não ensinarem, evidentemente, nem mesmo as novas formulações serão compreensíveis.
Aqui entra também a questão do Espírito Santo, pois me parece que os dons que ele nos concede, ordenam-se a nos lembrar de todas as coisas. As gerações cristãs, desde os primórdios, tiveram o Espírito Santo como mestre. A verdade para ser compreendida, nunca dependeu de reformulações para serem compreendidas, mas dos dons do Espírito Santo. Muitos dos ouvintes das parábolas de Jesus, não podiam compreender seu ensinamento e não vemos nele, a preocupação de reformulá-las, para que todos a entendessem, pois eles não tinham o Espírito Santo. Retraduzir permanentemente a linguagem moral, significa aggiorna-lá ao mundo, quando a linguagem moral, pelo contrário, visa o aggiornamento a Deus. O pensamento que justifica, estas mudanças nas formulações dogmáticas, pensando que estas se tornarão incompreensíveis para as novas gerações, é fruto de falta de fé e a exclusão do próprio Deus do processo de ensino. Os judeus não mudaram suas formulações morais, para adequá-las a cultura babilônica. Se assim fosse, teriam adorado Nabucodonor…
A questão ainda me lembra de Chesterton:
“O Progresso deveria significar que estamos sempre querendo mudar o mundo para adaptar a uma visão definida. Realmente, hoje, significa que estamos mudando constantemente de visão. Deveria significar que conseguimos devagar, mas de modo seguro, a justiça e a piedade entre os homens: significa na verdade que estamos prontos a duvidar se a justiça e a piedade são desejáveis; uma página louca de um sofista prussiano qualquer faz os homens duvidarem.
O Progresso significaria talvez que estamos sempre em marcha para a nova Jerusalém. Significa que é a nova Jerusalém que está em marcha longe de nós. Não modificamos o real para o adaptar ao Ideal, modificamos o Ideal: é mais fácil.” Chesterton – Ortodoxia
A proposta do dogma, é a de caminharmos rumo a nova Jerusalém. Já a proposta de sua reformulação, significa exatamente que ela está longe de nós. Porque não modificamos mais o real…
Na conformitas mentis et vitae, a verdade não existe em função do ser, mas em função da ação,se não existe em função do ser, não existe em função de Deus, pois o Verbo ser, é aquele que define aquilo que a coisa é. Consequentemente, já não se poderá dizer sim sim não não, em absolutamente nada. O cristianismo levou nos a considerar aquilo que a coisa é, mas quando se vincula a verdade a ação, considera-se apenas a evolução, o vir-a-ser ou o agnosticismo, que está nas entranhas da concepção moderna (e modernista) de verdade que tem sua origem, ainda em Galileu:
“A verdade é filha de seu tempo”.
Fique com Deus.
Abraço
Gederson,
Gosto muito dos seus posts, mas dessa vez, permita-me dizê-lo, achei você um pouco precipitado em julgar o autor, não achei que o significado de “retraduzir permanentemente a linguagem moral” seja esse que você citou, creio que isso signifique passar de um outro modo as mesmas verdades que a Igreja acreditou em 2000 anos e não uma alteração permanente da mesma ou uma atualização da verdade, o que é absurdo além de inconcebível.
Mas se considerarmos que o autor quis dizer o que você deduziu, o então posso dizer que seu post está irretocável, ocorre que na minha opinião (veja bem opinião) não achei que o autor quis dizer isso.