Todos acompanhamos com muita atenção o socorro das nações ao povo do Haiti. Nada justifica roubar-lhes o protagonismo nesta hora. O Haiti foi a primeira colônia das Américas a declarar a sua independência. Pagou caro por isso. Este socorro das nações não é uma esmola. Na verdade o mundo paga uma dívida. Neste caso refiro-me às metrópoles européias. É o caso de França, Inglaterra, Holanda e outros. É no mínimo curiosa a preocupação e pressa da Holanda em retirar imadiatamente do Haiti crianças em processo de adoção. É um novo colonialismo às avessas. À margem de tudo isso os “salvadores da humanidade”, leia-se Estados Unidos, chegam com tropas e mais tropas como se estivessem vindo para a guerra… Seria uma guerra humanitária? Paradoxal demais. Tomaram o aeroporto e habitaram o palácio presidencial em ruínas. Emblemático. Isto recebe o apoio dos governantes hondurenhos. Não é difícil de imaginar que o desespero do presidente tome decisões sem medir as consequências. Mais uma vez fica evidente o pé-de-barro da cultura norte-americana: o etnocentrismo. Significa a atitude cultural de centrar-se sobre si mesmo. É como aquelas pessoas que não conseguem ouvir. Falam sempre e somente a partir de si e sobre si. Esta cultura infantil provoca falta de maleabilidade. Isto se choca de frente com a ginga brasileira. Somos um caldeirão de raças. Temos mil defeitos e pelo menos um belo traço cultural que herdamos de Portugal: a adaptabilidade. Sabemos ler a cultura do outro com uma velocidade incrível. O brasileiro encontra um americano no centro de São Paulo e tenta se comunicar em inglês. Em que país do mundo os americanos falam a lingua local? Sempre com muita dificuldade. São etnocêntricos sim. No caso do Haiti, que exige uma enorme força de cooperação internacional, este vício cultural é um perigo para os sofridos povos daquele país. Obama parecia ser uma excessão, por sua história multicultural. Tem mostrado que sofre da mesma miopia.