Um leitor do BLOG observou com inteligência:

“O padre Guido não inventou as notas musicais, apenas deu nome a elas.

Abraços”


Muito bem observado. Já corrigi o texto. Na verdade este monge beneditino inventou o nome das notas musicais inspirado em um poema a São João Batista.

Guido D’Arezzo (992 — 1050) foi regente do coro da Catedral de Arezzo (Toscana).

O CÉLEBRE POEMA:

Ut queant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Ioannes
Que significa:

“Para que teus servos,
possam ressoar claramente
a maravilha dos teus feitos,
limpe nossos lábios impuros, ó São João.”


Ele batizou as notas musicais com os nomes que conhecemos hoje: dó, ré, mi, fá, sol, lá e si Inicialmente era  ut,re,mi,fa,sol,la e san. Com o passar dos anos mudou o nome da primeira e da última nota para facilitar o solvejo. A primeira provavelmente teve sua inpiração na palavra DOMINUS (Senhor): DÓ! A última foi composta a partir das primeiras letras de Sante Ioanes: SI!

Encontramos em um livro do Pe. Júlio Maria uma interessante lista de descobertas feitas por padres e bispos. Isso pode nos tirar um pouco a miopia passada por professores de cursinho pré-vestibular de que a Igreja vive em uma redoma de vidro. As igrejas mosteiros e sacristias são ambientes culturais aonde muitas descobertas foram feitas. Veja só:

Os padres Oton e Ardoíno inventaram o alfabeto.

O padre Rogério Bacon inventou o telescópio.

O padre Zeucchi aperfeiçoou-o, em 1652.

O padre Humberto, o grande, inventou a bússola.

O padre Flávio, de Nápoles, aperfeiçoou-a.

O padre Tiago, de Vitry, aplicou-a à navegação.

O padre Cassiodoro, em 505, inventou o relógio.

O Papa Silvestre II fez o primeiro relógio de rodas.

O padre Pacífico, de Verona, inventou o relógio de bolso.

O padre Welogord, em 1316, fez o primeiro relógio astrológico.

O padre Alexandre Spina, dominicano, no 13º século, inventou o óculos.

O padre Magnon inventou o microscópio.

O padre Embriaco descobriu o hidro-cronômetro e o sismógrafo.

O padre Bertoldo Schwartz inventou a pólvora.

Dom Galeno, bispo de Munster, descobriu as bombas.

São Boaventura a teoria da termodinâmica.

Os padres Lona e Becaria descobriram as leis da eletricidade.

O padre Secchi, jesuíta, descobriu a análise espectral.

O padre Procópio Divisch, em 1759, descobriu o pára-raios, e não Franklin, que fez apenas aplicá-lo à proteção das casas.

O santo padre Beda descobriu as leis das marés.

O padre Gilbert introduziu os algarismos arábicos.

O padre Guido d’Arezzo inventou o nome das sete notas musicais.

O padre José Joaquim Lucas, brasileiro, inventou o melógrafo, ou modo de escrever as notas e sinais que correspondem à escrita musical.

O padre Alberto, saxonio, imaginou as leis da navegação aérea.

O padre Bartolomeu de Gusmão, em 1720, fez a aplicação destas leis aos aerostatos, 60 anos antes de Mongolfier.

O padre Amaro, monge, foi o desenhador da célebre carta marítima, em 1456, que inclinou Colombo às suas explorações.

O padre Gauthier, em 1753, aproveitando as experiências de Papin, Dickens, Watt, inventou o moderno funcionamento da navegação.

O padre Nollet inventou as máquinas elétricas e descobriu a eletricidade nas nuvens.

O padre Raul, vigário de Sfax, é o verdadeiro inventor do submarino moderno.

Um padre dominicano, italiano, é o inventor das máquinas de compor, ou linotipia.

Os padres jesuítas são os descobridores do gás.

O padre Duen fundou, em 1715, a primeira fábrica de gás.

Foi um padre brasileiro quem inventou a máquina de escrever.

O padre Painton inventou a bicicleta, em 1745.

O padre Barrant, monge, descobriu o freio das locomotivas.

O padre cavalieri, jesuíta, inventou a policromia.

O bispo Regiomontanos, de Ratisbona, descobriu a teoria da imobilidade do sol e do movimento da terra em redor dele (em 1470). Isto é, 10 anos antes do padre Copérnico.

O padre Copérnico, polaco, achou o duplo movimento dos planetas sobre si mesmos e em volta do sol.

Os padres Ponce e Epée, beneditinos, estabeleceram o método da educação dos surdos-mudos, etc., etc…

O padre J. B. de La Salle foi o primeiro a fundar escolas livres.

O padre Fegenece foi o primeiro a praticar a gravura nas vidraças.

O cardeal Mezzofanti foi o maior conhecedor de línguas do século passado.

O bispo Virgílio, de Salzburg, foi o descobridor da existência dos antípodas.

O padre Alberto Magno, dominicano, descobriu o zinco e o Arsênico.

O cardeal Régio Fontana inventou o sistema métrico.

O padre Lucas de Borgo é o inventor da Álgebra.

Fonte: Livro “Ataques Protestantes às verdades católicas”. Autor: Pe. Júlio Maria.

Recebi um comentário de um leitor deste BLOG que gostaria de comentar aos poucos, serenamente:

“Padre Joãozinho, o O Senhor que está tão perto da RCC e teve a oportunidade de estudar a Teologia da Libertação, pergunto: o Papa Bento XVI, realmente considera a TL um mal para a Igreja?
É um prazer está conectado em Blog, sempre tenho acompanhado aquilo que o senhor tem falado, desde o programa Direção Espiritual na CN. Sou João Pessoa, Paraiba, tenho dez anos de caminhada na Comunidade Salve Maria, uma comunidade nova, porém sempre li livros de Leonardo Boff, José Comblin, Jon Sobrinho, João Batista Libanio e recentemente tenho dedicado as Obras de Andres Torres Queiruga (autor que Padre Fabio já se referiu). Todas obras que sempre alimentaram a minha caminhada, sempre considerei que a TL, como uma maneira está orando com os pés firmes.
E fiquei muito feliz com o CELAM em Aparecida, porque acompanhei, algumas entrevistas onde Libanio mencionava a respeito de uma nova maneira ver a Igreja, com a Teologia da Conciliação, entendi que havia chegado o momento onde a Igreja tinha chegado o momento de uma abertura, onde poderiam assumir verdadeiramente a essência do Catolicismo, onde as várias espiritualidade iriam caminhar respeitando-se, penso que esse é a tônica da escrita do Documento Final do CELAM. Penso que no inicio de 2009, o Senhor teve aqui para um curso de Gestão Eclesial organizado pela Arquidiocese da Paraíba e na oportunidade, senhor fez um comentário sobre o seu trabalho sobre a Teologia da Libertação. Por favor padre, o que é a Teologia da Libertação?”

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Meu estudo sobre Teologia da Libertação a que o leitor se refere é a tese de doutorado defendida na Pontifícia Faculdade de Teologia N. Sra da Assunção (São Paulo), sob a orientação do hoje Dom Benedito Beni dos Santos (bispo de Lorena). O tema era o conceito de “salvação e solidariedade” na obra de Gustavo Gutiérrez, considerado o pai da Teologia da Libertação. O texto final foi publicado por EDIÇÕES LOYOLA, sob o título TEOLOGIA DA SOLIDARIEDADE e quase que integralmente disponibilizado na INTERNET:

 http://books.google.com.br/books?id=Ng_0QrLGxMgC&printsec=frontcover&dq=Teologia+da+Solidariedade&cd=1#v=onepage&q=&f=false

 

 

A Teologia da Libertação surgiu na década de 1960, como uma alternativa à Teologia da Revolução que desde a década de 1950 procurava dar motivos para que guerrilheiros latino-americanos aderissem ao socialismo e à luta contra as ditaduras militares, sem deixar a fé cristã. Era quase um dogma do socialismo marxista que a religião anestesiava as consciências (ópio do povo). Portanto, para ser um revolucionário eficaz, seria necessário professar o ateísmo. Teólogos da Revolução, como Hugo Assmann, procuravam fazer uma leitura da fé como elemento motivador da mudança social. A Teologia da Libertação surgiu no mesmo contexto, porém, com uma distância crítica da Teologia da Revolução. Poucos se lembram, mas inicialmente a TdL foi considerada conservadora. Os anos 1970-1980 representaram a década de ouro da TdL. Basicamente poderíamos marcar o tempo que foi da Conferência de Medellín (1968) até a Conferência de Puebla (1979). Ela se desenvolveu entre o final do pontificado de Paulo VI e o início de João Paulo II. A partir da década de 1980  a Santa Sé, por meio da Congregação para a Doutrina da Fé, cujo prefeito era Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, lançou dois documentos mostrando o que seriam os “erros de certas TdL”. O primeiro, mais pontual e crítico, foi a Instrução sobre alguns aspectos da «Teologia da Libertação » – Libertatis nuntius (Instructio de quibusdam rationibus «Theologiae Liberationis»), 6 de agosto de 1984 (AAS 76 (1984) 876-909; DOCUMENTA 57). A CNBB reagiu à esta postura duramente negativa e João Paulo II enviou uma carta bem mais ampla e serena em que afirma que a “Teologia da Libertação é oportuna, útil e necessária”. Diante da polêmica a mesma Congregação para a Doutrina da Fé lançou dois anos depois um novo documento, desta vez mais amplo e otimista. Ali são colocadas algumas bases para uma autêntica teologia da liberdade: Instrução sobre a liberdade cristã e a libertação – Libertatis conscientia (Instructio de libertate christiana et liberatione), 22 de março de 1986 (AAS 79 (1987) 554-599).

Entre um e outro destes documentos, em 1985, Leonardo Boff foi chamado a Roma para explicar as bases teóricas da reflexão que publicou em seu clássico IGREJA, CARISMA E PODER. O fruto da conversa resultou em um documento da congregação romana: Notificação sobre o livro «Igreja: Carisma e poder. Ensaio de Eclesiologia militante» do Pe. Leonardo Boff, O.F.M., 11 março de 1985 (AAS 77 (1985) 756-762; DOCUMENTA 58).
O principal erro de Boff seria concluir quase toda a sua eclesiologia do fato de que somo imagem e semelhança da Trindade. Entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo não existe relação de subordinação. Afirmar uma hierarquia entre as Pessoas da Trindade seria cair na heresia do subordinacionismo (o Pai é maior que o Filho… o Filho é maior que o Espírito). Desta forma Boff conclui que também não pode existir relação de subordinação entre qualquer sociedade humana, inclusive a Igreja. Admitir a hierarquia seria subordinacionismo prático.

Gustavo Gutiérrez tinha outra matriz teológica, bem diferente da de Boff. podemos dizer que são duas Teologias da Libertação, uma de matriz franco-belga (Gutiérrez) e outra de matriz germânica (Boff).  Porém os “erros” apontados pela primeira instrução romana tocam bem mais as afirmações de Gutiérrez que os “detalhes” teológicos criticados em Boff. Este não reviu seus possíveis erros. Preferiu “mudar para permanecer o mesmo”. Deixou a ordem dos franciscanos e assumiu uma postura leiga passando a criticar a Igreja a partir de fora.  Estas são somente “duas” das diversas correntes da TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO. Portanto, quem quiser ser respeitoso e exato jamais criticará genericamente a Teologia da Libertação. O amor à verdade e o respeito às pessoas deve levar a fazer as necessárias distinções. Generalizações sempre são primas-irmãs do erro.  

Gutiérrez sempre entendeu que somente se pode fazer teologia a partir da comunhão, inclusive eclesial. Na época reuniu sua obras publicadas até então (principalmente o clássico “Teologia da Libertação – Perspectivas”) e apresentou-as como tese de doutorado em Lyon, na França. Sua defesa é um interessante diálogo entre a teologia europeia e a nascente teologia latino-americana. Está publicada em um livro entitulado “A verdade os libertará”. No final da década de 1980, Gutiérrez publicou a segunda edição, REVISTA E ANOTADA, do livro Teologia da Libertação. Poucos, mesmo entre os adeptos da TdL deram atenção a esta nova edição. A editora VOZES que lançara a primeira edição na década de 1970, simplesmente deu o livro como ESGOTADO e não quis publicar a segunda edição. No Brasil esta edição foi traduzida por EDIÇÕES LOYOLA. Está parcialmente disponível na Internet:

 http://books.google.com.br/books?id=JzHM6DlFhKwC&printsec=frontcover&dq=teologia+da+liberta%C3%A7%C3%A3o+Guti%C3%A9rrez&lr=&cd=1#v=onepage&q=&f=false

A partir da publicação desta nova edição, em 1989, a TdL começa a fazer uma auto-crítica. Surgem inúmeras correntes teológicas. O sujeito da TdL era o “pobre”. A partir da década de 1990 este “pobre” ganha rostos mais definidos. Cada rosto dá origem à uma corrente teológica: mulher, negro, índio… Leonardo Boff, por exemplo, considera que a “terra” ecologicamente ameaçada é o novo nome do pobre. Sua teologia toma este rumo.

Entramos no terceiro milênio com a sensação de que a antiga TdL havia simplesmente sido extinta com a queda da muro de Berlim e a decepção com a utopia socialista.  Movimentos como a RCC tomaram conta da cena pastoral e ganharam os meios de comunicação. As CEBs passaram a ter pouquíssima visibilidade. Restava apenas a “opção preferencial pelos pobres” insinuada em Medellín, sob a guia de Gutiérrez e transformada em enunciado por Puebla. Em Santo Domingo a categoria da “cultura” parecia soterrar a “opção pelos pobres”. Muitos imaginavam que a Conferência de Aparecida daria o “tiro de misericórdia”. De modo surpreendente, o papa Bento XVI reafirmou solenemente a “opção preferencial pelos pobres” resgatando seu fundamento eminentemente bíblico e afastando   qualquer origem ideológica.

Recentemente os bispos do sul do Brasil estiveram em visita ad limina e ouviram do papa uma advertência que deixou alguns surpresos:

(Publicarei a íntegra das palavras de Bento XVI no segundo artigo desta série)