Existem muitas ladainhas de Nossa Senhora, porém a mais divulgada e conhecida é a “Ladainha Lauretana”, ou “Loretana”, assim chamada por ter se popularizado a partir do Santuário de Loreto, na Itália. Ali ela foi cantada solenemente pela primeira vez no dia 10 de dezembro de 1531, mas provavelmente surgiu bem antes. Aos poucos se espalhou por todo o mundo tornando-se uma das preces marianas mais populares de todos os tempos.

A palavra “Ladainha” significa “oração de súplica”. É uma forma criativa e original que a catequese encontrou de resumir o que sabemos sobre Maria. Não é apenas uma coleção de invocações interessantes. Nelas o saber se torna sabor por meio da oração. Não basta saber, por exemplo, que Maria é a Mãe de Deus. É preciso saborear em prece as verdades contidas neste dogma mariano.

Este é o objetivo deste livro. Queremos mostrar a origem bíblica e o significado doutrinal de cada invocação da Ladainha de Nossa Senhora, para que possamos rezá-las de maneira bem mais saborosa.

Algumas invocações podem até parecer estranhas à primeira vista. Por exemplo, por que chamamos Maria de “Torre de Marfim”, ou “Arca da Aliança”? Espero que este livro ajude a Ladainha Lauretana a se tornar mais conhecida, rezada e amada. Ela nos coloca em sintonia com Maria que abriu as portas da Terra para a entrada do Rei da Glória. Por ela nos veio toda a Graça, em seu filho Jesus, nosso único Salvador.

A História da Igreja conheceu muitas outras Ladainhas de Nossa Senhora. Em Veneza, por exemplo, desde tempos muito antigos se repetiam 42 invocações conhecidas como “Ladainha Veneziana”. Em Mogúcia encontramos uma coleção de fórmulas do século 12 conhecida como “Ladainha Deprecatória”, ou seja, une aos louvores algumas súplicas, enquanto repete: “Intercedei por nós”. Há muitas outras ladainhas além da Lauretana, Veneziana ou Deprecatória e a Ladainha Moderna, totalmente inspirada na Bíblia, porém os estudiosos concordam que todas elas nasceram da “Ladainha de todos os Santos”. Ela começa com louvores a Maria. Aos poucos a devoção popular criou uma ladainha inteira dedicada à mãe de Jesus.

Um antigo manuscrito, conservado na Biblioteca Nacional de Paris, atesta a existência de uma lista de invocações marianas já no século 12. Trata-se de uma Ladainha com setenta em três invocações, sendo que a maioria coincide com as invocações da Ladainha Lauretana. A estrutura, o ritmo e a concepção poética também coincidem. Há uma sequência de invocações de Maria como “Mestra”: Magistra humilitatis, Magistra sanctitatis, Magistra oboedientiae, Magistra poenitentiae. Infelizmente estas não aparecem na Lauretana.

A Ladainha Lauretana conheceu uma evolução[1]. Um texto publicado em Florença, em 1572, indica quarenta e três invocações. Aos poucos foram surgindo outros. Auxilium christianorum – Auxílio dos cristãos – foi um acréscimo de Pio VII (1800-1823), que atesta ser uma invocação incluída informalmente por São Pio V para comemorar a vitória cristã sobre os turcos na Batalha de Lepanto (1571). A invocação Regina sine labe originali concepta – Rainha concebida sem pecado original – foi uma iniciativa dos frades capuchinhos de Gênova, por volta do século XVIII. Ela deve ser compreendida no contexto dos debates acalorados que levaram à definição do dogma da Imaculada Conceição, por Pio IX, em 1854. Regina sacratissimi rosarii ­– Rainha do sacratíssimo rosário – teve inicialmente seu uso entre os frades dominicanos, desde 1614. Sabemos que os dominicanos foram os grandes divulgadores da oração do Rosário. Somente em 1883 o papa Leão XIII incluiu oficialmente esta invocação na Ladainha. Mater boni consilii – Mãe do bom conselho – também foi incluído por Leão XIII, em 1903, para homenagear o Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, que fica na terra natal do papa. Regina pacis ­– Rainha da paz – é uma invocação introduzida por Bento XV em 1917. Lembremos que neste tempo o mundo vivia a tragédia da Primeira Guerra Mundial. Era mais do que relevante invocar Maria como Rainha da Paz. Regina in coelum assumpta ­– Rainha assunta ao céu – é uma invocação introduzida por Pio XII no dia 31 de outubro de 1950, ou seja, um dia antes da proclamação do dogma da Assunção de Maria. Mater Ecclesiae – Mãe da Igreja – é um título que Maria recebeu do papa Paulo VI no dia 21 de novembro de 1964, ao término da 3ª seção do Concílio Vaticano II. Em 1980, já sob o pontificado de João Paulo II, este título foi incluído na Ladainha. Regina familiae – Rainha da Família – é a última invocação acrescentada à Ladainha, em 1995, por João Paulo II, em resposta ao pedido do Santuário de Loreto por ocasião do 7º Centenário da Casa Santa.

A atual estrutura da Ladainha consta de uma série de invocações introdutórias que recordam a Santíssima Trindade. Seguem cerca de 50 invocações seguidas pelo pedido da assembléia: “rogai por nós”. A Ladainha termina em tom de súplica penitencial ao “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.

Com algumas pequenas variações, o coração da Ladainha é composto de 50 invocações marianas. Neste livro optamos por incluir um comentário à invocação “Rainha da Família”, pedida por João Paulo II. Desta maneira o leitor observará que comentamos 51 invocações.

Poderíamos dividir estas invocações em seis grupos.

1. As três invocações iniciais são provenientes da Ladainha de todos os Santos.

2. Doze invocações “Mater”, recordam Maria como Mãe. É por ser mãe de Jesus Cristo, “homem e Deus verdadeiro”, que Maria é mãe de seu Corpo Místico, ou seja, Mãe da Igreja… nossa mãe! Dizer que Maria é Mãe de Deus é professar a fé na união inseparável entre a humanidade e divindade de Jesus; é acreditar que o que foi assumido, foi redimido. Nossa humanidade foi assumida pela sua divindade. Invocar Maria como Mãe de Deus na humanidade de Jesus e isto significa acreditar na nossa salvação.

3. Seis invocações se referem à Maria como “virgem”. Este dogma bíblico indica que aquele que nasceu de Maria é Deus encarnado. Ele assumiu a nossa carne e por isso fomos salvos. Dizer que Maria concebeu do Espírito Santo é professar a fé na divindade de Jesus.

4. O próximo grupo é formado por treze expressões colhidas das páginas da Sagrada Escritura e também da tradição patrística. São expressões poéticas, nem sempre de imediata compreensão, cujo sentido procuramos explicar nas páginas deste livro.

5. Seguem quatro invocações que recorrem a Maria em algum tipo de necessidade especial: saúde, santidade, consolo e auxílio. Maria é intercessora!

6. O último grupo é formado por doze invocações à Maria como Rainha. Em nossa versão, neste livro, o leitor perceberá que este grupo conta com 13 invocações, por termos incluído “Rainha da Família”. Aquela que abriu as portas do mundo para a salvação ao dizer “eis aqui a serva do Senhor”, agora é reconhecida solenemente como rainha do céu e da terra. Ela foi serva e por isso é rainha! Anjos, patriarcas, profetas, apóstolos e mártires, reconhecem a realeza daquela que deu a luz o Rei dos reis.

A Ladainha Lauretana é uma obra prima da oração popular. Sua versão em latim tem uma belíssima sonoridade e cadência poética. Muitos músicos compuseram belas melodias para a Ladainha. Um deles foi Mozart. Ele compôs a Ladainha pela primeira vez em 1771, após sua peregrinação ao Santuário de Loreto. Em 1774 voltou a compor outra melodia para coro em quatro vozes. A cadência poética da Ladainha Lauretana, em latim, seduziu muitos outros compositores de renome, como por exemplo, Nicolau Zingarelli (1752-1837) que simplesmente compôs dezesseis melodias diferentes para a mesma Ladainha. No Brasil, destaca-se a obra do Pe. João Baptista Lehmann (1873–1955) que compôs várias melodias. Uma delas reproduzimos neste livro. Consideramos uma das melodias mais simples, populares e belas da Ladainha Lauretana.

Ao lado de tudo isso é preciso reconhecer na Ladainha Lauretana alguns limites. Muitas invocações são de difícil compreensão para o povo; há algumas repetições inevitáveis; as invocações não seguem uma ordem lógica, do ponto de vista teológico; falta uma boa tradução oficial em língua portuguesa.

Apesar de tudo isso, o fato é que a Ladainha não foi feita para ser pensada, mas para ser rezada. É mais uma prece que uma catequese. Suas metáforas instigam o coração do devoto e facilitam o mergulho no mistério. O povo simples reconhece o valor das ladainhas e as reza com fruto. Erra quem pensa que são fórmulas repetitivas e ultrapassadas. Experimente e verá que a Ladainha o embalará qual criança no colo de Maria, onde sempre encontramos Jesus!


[1] Para um estudo mais detalhado da evolução da Ladainha Lauretana sugerimos: BASSADONNA, G. e SANTARELLI, G. Ladainhas de Nossa Senhora, São Paulo, Loyola, 2000.

Estou gravando um novo CD. Apresento aqui, em primeira mão, a versão acabada da LADAINHA DE NOSSA SENHORA, com participação de Maria do Rosário e arranjos do Maestro Karam:

http://www.youtube.com/watch?v=MkTXD16ukz0

Nesta vida de andanças pelo mundo, sempre chega a hora de voltar para casa. Alguns conselhos de Jesus são fundamentais para o missionário. O primeiro deles é não levar muitas malas. Pesa demais. Percebo que quanto mais ando mais quero ter malas pequenas e leves. Viver com pouco é grande sabedoria. Outra coisa é voltar sem olhar para trás. Vira estátua de sal. Precisamos colocar a mão no arado e seguir em frente, caso contrário saímos do prumo. Mas um dos conselhos mais curiosos de Jesus é o que se refere à paz. Ele diz que o missionário é um portador da paz do céu. Ao chegar deve entregar este tesouro às pessoas. Se elas aceitarem, a paz morará naqueles corações. Se rejeitarem o missionário, estarão rejeitando a própria paz, ou seja, negarão o Deus da paz. Neste caso o missionário deve sacudir até a poeira das sandálias e seguir em frente. Sempre pensei que jamais teria que seguir este conselho.

Coluna de teologia litúrgica dirigida por Mauro Gagliardi
Por Nicola BuxROMA, terça-feira, 30 de março de 2010 (ZENIT.org).- Neste Semana Santa, Nicola Box, professor de Liturgia Oriental e consultor de diversos dicastérios da Santa Sé, propõe uma substanciosa meditação litúrgica sobre os principais momentos e símbolos das celebrações próprias do tríduo pascal. As reflexões de Bux representam uma ajuda válida – oferecida tanto a sacerdotes como aos demais fiéis, em particular aos cooperadores da pastoral litúrgica – para nos aproximar dos mistérios divinos que estão sendo celebrados nesta semana, com espírito de fé contemplativa e de oração de adoração, e não de mero pragmatismo organizativo. Aproveitamos a ocasião para desejar aos nossos leitores uma Santa Páscoa, repleta de frutos de alegria interior e de conversão (Mauro Gagliardi).

* * *A Carta aos Hebreus é o único texto do Novo Testamento que atribui ao nosso Senhor Jesus Cristo os títulos de “Sacerdote”, “Sumo Sacerdote” e “Mediador da Nova Aliança”, graças à oferenda do sacrifício do seu corpo, antecipado na Ceia mística da Quinta-Feira Santa, consumado sobre a cruz e apresentado ao Pai com a ressurreição e a ascensão ao céu (cf. Hb 9,11-15). Este texto é meditado na Liturgia das Horas da quinta semana da Quaresma – ou da Paixão, como no calendário litúrgico da forma extraordinária do Rito Romano – e na Semana Santa.

Nós, sacerdotes católicos, devemos sempre contemplar Cristo e ter os mesmos sentimentos d’Ele; esta ascese acontece com a conversão permanente. Como se realiza a conversão em nós, sacerdotes? No rito da ordenação nos é pedido o ensino da fé católica, não das nossas ideias; “celebrar com devoção dos mistérios de Cristo – isto é, a liturgia e os sacramentos – segundo a tradição da Igreja”, e não segundo o nosso gosto; sobretudo, “estar cada vez mais unidos a Cristo Sumo Sacerdote, que, como vítima pura, ofereceu-se ao Pai por nós”, isto é, conformar nossa vida segundo o mistério da Cruz.

A Santa Igreja honra o sacerdote e o sacerdote deve honrar a Igreja com a santidade da sua vida – este foi o propósito de Santo Afonso Maria de Ligório no dia da sua ordenação –, com o zelo, com o trabalho e com o decoro. Ele oferece Jesus Cristo ao Pai Eterno e por isso deve estar revestido das virtudes de Jesus Cristo, para preparar-se para o encontro com o Santo dos Santos. Que importante é a preparação interior e exterior para a sagrada liturgia, para a Santa Missa! Trata-se de glorificar o Sumo e Eterno Sacerdote, Jesus Cristo.

Pois bem, tudo isso se realiza em grau máximo na Semana Santa, a Grande e Santa Semana, como dizem os orientais. Vejamos alguns dos seus principais atos, com base no cerimonial dos bispos.

1. Com a Missa in Cena Domini, da Quinta-Feira Santa, o sacerdote entra nos principais mistérios – a instituição da Santíssima Eucaristia e do sacerdócio ministerial –, assim como do mandamento do amor fraterno, representado pelo lavatório dos pés, gesto que a liturgia copta realiza ordinariamente cada domingo. Nada melhor para expressá-lo que o canto do Ubi caritas. Após a comunhão, o sacerdote, usando o véu umeral, sobre ao altar, faz a genuflexão e, ajudado pelo diácono, segura a píxide com as mãos cobertas pelo véu umeral. É o símbolo da necessidade de mãos e corações puros para aproximar-se dos mistérios divinos e tocar o Senhor!

2. Na Sexta-Feira Santa in Passione Domini, o sacerdote é convidado a subir ao Calvário. Às três da tarde, às vezes um pouco mais tarde, acontece a celebração da Paixão do Senhor, em três momentos: a Palavra, a Cruz e a Comunhão. Dirige-se em procissão e em silêncio ao altar. Depois de ter reverenciado o altar, que representa Cristo na austera nudez do Calvário, ele se prostra em terra: é a proskýnesis, como no dia da ordenação. Assim, expressa a convicção do seu nada diante da Majestade divina, e o arrependimento por ter se atrevido a medir-se, por meio do pecado, com o Onipotente. Como o Filho que se anulou, o sacerdote reconhece seu nada e assim tem início sua mediação sacerdotal entre Deus e o povo, que culmina na oração universal solene.

Depois se faz a ostensão e a adoração da Santa Cruz: o sacerdote se dirige ao altar com os diáconos e lá, em pé, ele a recebe e a descobre em três momentos sucessivos – ou a mostra já descoberta – e convida os fiéis à adoração, em cada momento, com as palavras: Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. Em sua descarnada solenidade, aqui, no coração do ano litúrgico, a tradição resistiu tenazmente mais que em outros momentos do ano.

O sacerdote, após ter depositado a casula, se possível descalço, aproxima-se primeiramente da Cruz, ajoelha-se diante dela e a beija. A teologia católica não teme em dar aqui à palavra “adoração” seu verdadeiro significado. A verdadeira Cruz, banhada com o sangue do Redentor, torna-se, por assim dizer, uma só coisa com Cristo e recebe a adoração. Por isso, prostrando-nos diante do lenho sagrado, nós nos dirigimos ao Senhor: “Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz redimistes o mundo”.

3. A Páscoa do Reino de Deus se realizou em Jesus: oferecida e consumida a Ceia, “na noite em que ia ser entregue”; imolada sobre o Calvário na Sexta-Feira Santa, quando “houve escuridão sobre toda a terra”, mais uma vez à noite recebe a consagração da aprovação divina, na ressurreição de Cristo Senhor: por João, sabemos que Maria Madalena se aproximou do sepulcro “bem de madrugada”; portanto, aconteceu nas últimas horas da noite após o sábado pascal.

No Novus Ordo, o sacerdote, desde o início da Vigília, está vestido de branco, como para a Missa. Ele abençoa a fogo e acende o círio pascal com o novo fogo, se procede, após ter aplicado, como na liturgia antiga, uma cruz. Depois grava sobre o lado vertical da cruz a letra grega alfa e, abaixo, a letra omega; entre os braços da cruz, faz a incisão de quatro algarismos para indicar o ano em curso, dizendo: Cristo ontem e hoje. Depois, feita a incisão da cruz e dos demais sinais, pode aplicar no círio cinco grãos de incenso, dizendo: Por suas santas chagas. Depois, cantando o Lumen Christi, guia a procissão rumo à igreja. O sacerdote está à cabeça do povo dos fiéis aqui na terra, para poder guiá-lo ao céu.

É o sacerdote que entoa solenemente Eis a luz de Cristo!. Ele o canta três vezes, elevando gradualmente o tom da voz: o povo, depois de cada vez, repete-o no mesmo tom. Na liturgia batismal, o sacerdote, estando de pé diante da fonte, abençoa a água, cantando a oração: Ó Deus, por meio dos sinais sacramentais; enquanto invoca: Desça, Pai, sobre esta água, pode introduzir nela o círio pascal, uma ou três vezes.

O significado é profundo: o sacerdote é o órgão fecundador do seio eclesial, simbolizado pela fonte batismal. Verdadeiramente, na pessoa de Cristo Cabeça, ele gera filhos que, como pai, fortifica com o crisma e nutre com a Eucaristia. Também em razão destas funções maritais com relação à Igreja esposa, o sacerdote não pode senão ser homem. Todo o sentido místico da Páscoa se manifesta na identidade sacerdotal, chegando à plenitude, o plếroma, como diz o Oriente. Com ele, a iniciação sacramental chega ao cume e a vida cristã se torna o centro.

Portanto, o sacerdote, que subiu com Jesus à cruz na Sexta-Feira Santa e desceu ao sepulcro no Sábado Santo, no Domingo de Páscoa pode afirmar realmente com a sequência: “Sabemos que Cristo verdadeiramente ressuscitou dentre os mortos”.

Entrevista com o teólogo e liturgista Nicola Bux

Por Antonio Gaspari

ROMA, segunda-feira, 29 de março de 2010 (ZENIT.org).- Em julho de 2007, com o motu proprioSummorum Pontificum”, Bento XVI restabeleceu a celebração da Missa segundo o rito tridentino.

O fato suscitou uma agitação. Elevaram-se vibrantes vozes de protesto, mas também aclamações valentes.

Para explicar o sentido e a prática da reforma litúrgica de Bento XVI, Nicola Bux, sacerdote e especialista em liturgia oriental, além de consultor do Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, publicou o livro La riforma di Benedetto XVI. La liturgia tra innovazione e tradizione (Piemme, Casale Monferrato 2008), com prólogo de Vittorio Messori.

No livro, o especialista explica que a recuperação do rito latino não é um retrocesso, uma volta à época anterior ao Concílio Vaticano II, mas sim um olhar adiante, recuperando da tradição passada o mais belo e significativo que esta pode oferecer à vida presente da Igreja.

Segundo Bux, o que o Pontífice pretende fazer em sua paciente obra de reforma é renovar a vida do cristão, os gestos, as palavras, o tempo cotidiano, restaurando na liturgia um sábio equilíbrio entre inovação e tradição, fazendo surgir, com isso, a imagem de uma Igreja sempre em caminho, capaz de refletir sobre si mesma e de valorizar os tesouros dos quais é rico seu depósito milenar.

Para tentar aprofundar no significado e no sentido da liturgia, em suas mudanças, na relação com a tradição e no mistério da linguagem com Deus, Zenit entrevistou Nicola Bux.

-O que é a liturgia e por que ela é tão importante para a Igreja e para o povo cristão?

Bux: A sagrada liturgia é o tempo e o lugar no qual certamente Deus vai ao encontro do homem. Portanto, o método para entrar em relação com Ele é precisamente o de dar-lhe culto: Ele nos fala e nós lhe respondemos; agradecemos e Ele se comunica conosco. O culto, do latim colere – cultivar uma relação importante –, pertence ao sentido religioso do homem, em toda religião, desde os tempos mais remotos.

Para o povo cristão, a sagrada liturgia e o culto divino realizam, portanto, a relação com tudo o que existe de mais querido, Jesus Cristo Deus. O atributo “sagrada” significa que nela tocamos sua presença divina. Por isso, a liturgia é a realidade e a atividade mais importantes para a Igreja.

-Em que consiste a reforma de Bento XVI e por que ela suscitou tantas reações?

Bux: A reforma da liturgia, segundo a constituição litúrgica do Concílio Vaticano II, como instauratio, isto é, como restabelecimento no lugar correto da vida eclesial, não começa com Bento XVI, mas com a própria história da Igreja, desde os apóstolos à época dos mártires, do Papa Dâmaso até Gregório Magno, de Pio V e Pio X a Pio XII e Paulo VI.

instauratio é contínua, porque o risco de que a liturgia decaia do seu lugar, que é o de ser fonte da vida cristã, existe sempre; a decadência chega quando o culto divino é submetido ao sentimentalismo e ao ativismo pessoais de clérigos e leigos que, penetrando-o, transformam-no em obra humana e entretenimento espetacular: um sintoma hoje é, por exemplo, o aplauso na Igreja, que sublinha indistintamente o batismo de um recém-nascido e a saída de um caixão em um funeral.

Uma liturgia convertida em entretenimento não precisa de uma reforma? Isso é o que Bento XVI está fazendo: o emblema da sua obra reformadora será o restabelecimento da cruz no centro do altar, para fazer compreender que a liturgia está dirigida ao Senhor e não ao homem, ainda que este seja ministro sagrado.

A reação existe sempre em cada mudança na história da Igreja, mas não é preciso assustar-se.

-Quais são as diferenças entre os chamados inovadores e os tradicionalistas?

Bux: Estes dois termos devem antes ser esclarecidos. Se inovar significa favorecer a instauratio da qual falávamos, é precisamente o que está faltando; assim também quanto à traditio, que significa proteger o depósito revelado, sedimentado também na liturgia. Se, no entanto, inovar significa transformar a liturgia de obra de Deus em ação humana, oscilando entre um gosto arcaico, que quer conservar dela somente os aspectos que agradam, e um conformismo segundo a moda do momento, estaríamos no mau caminho. Ou ao contrário: ser conservadores de tradições meramente humanas, que se sobrepuseram como incrustação na pintura e não permitem que percebamos a harmonia do conjunto.

Na verdade, os dois opostos acabam coincidindo, revelando sua contradição. Um exemplo: os inovadores sustentam que a Missa antigamente era celebrada dirigida ao povo. Os estudos demonstram o contrário: a orientação ad Deumad Orientem, é a própria do culto do homem a Deus. Pensemos no judaísmo. Ainda hoje, todas as liturgias orientais conservam isso. Como é possível que os inovadores, amantes da restauração dos elementos antigos na liturgia pós-conciliar, não o tenham conservado?

-Que significado tem a tradição na história e na fé cristãs?

Bux: A tradição é uma das fontes da Revelação: a liturgia, como diz o Catecismo (n. 1124), é seu elemento constitutivo. Bento XVI, no livro “Jesus de Nazaré”, recorda que a Revelação se tornou liturgia. Depois, temos as tradições de fé, de cultura, de piedade que entraram e revestiram a liturgia, de maneira que conhecemos várias formas de ritos no Oriente e no Ocidente. Todos compreendem, portanto, por que a constituição sobre liturgia, no n. 22, § 3, afirma peremptoriamente: “Ninguém mais, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica”.

-Você acha que seria possível voltar à Missa em latim hoje?

Bux: O Missal Romano renovado por Paulo VI está em latim e constitui a edição chamada típica, porque a ela devem se referir as edições em línguas atuais preparadas pelas conferências episcopais nacionais e territoriais, aprovadas pela Santa Sé. Portanto, a Missa em latim continuou sendo celebrada também com o novo Ordo, ainda que raramente. Isso acabou contribuindo para a impossibilidade de uma assembleia composta de línguas e nações participar de uma Missa celebrada na língua sagrada universal da Igreja Católica de rito latino. Assim, em seu lugar, nasceram as chamadas Missas internacionais, celebradas de forma que as partes da celebração sejam recitadas ou cantadas em muitas línguas; assim, cada grupo entende somente a sua!

Havia-se mantido que o latim não era entendido por ninguém; agora, se a Missa em um santuário é celebrada em quatro idiomas, cada grupo acaba compreendendo apenas 25% dela. Além de outras considerações, como desejou o sínodo de 2005 sobre a Eucaristia, é preciso voltar à Missa em latim: pelo menos uma dominical nas catedrais e nas paróquias. Isso ajudará, no convite à sociedade multicultural atual, a recuperar a participação católica, seja quanto a sentir-se Igreja universal, seja quanto a unir-se a outros povos e nações que compõem a única Igreja. Os cristãos nacionais, ainda dando espaço às línguas nacionais, conservaram o grego e o eslavo eclesiástico nas partes mais importantes da liturgia, como a anáfora e as procissões com as antífonas para o Evangelho e o ofertório.

Para instaurar tudo isso, contribui enormemente o antigo Ordo do Missal Romano anterior, restabelecido por Bento XVI com o motu proprioSummorum Pontificum”, que, simplificando, chama-se Missa em latim: na verdade, é a Missa de São Gregório Magno, enquanto sua estrutura básica se remonta à época desse pontífice e permaneceu intacta através dos acréscimos e simplificações de Pio V e dos demais pontífices até João XXIII. Os padres do Vaticano II a celebraram diariamente, sem advertir nenhuma oposição com relação à modernização que estavam realizando.

-Bento XVI falou do problema dos abusos litúrgicos. De que se trata?

Bux: Para dizer a verdade, o primeiro em lamentar as manipulações na liturgia foi Paulo VI, poucos anos depois da publicação do Missal Romano, na audiência geral de 22 de agosto de 1973. Paulo VI, por outro lado, estava certo de que a reforma litúrgica realizada após o Concílio verdadeiramente havia introduzido e sustentado firmemente as indicações da constituição litúrgica (cf. Discurso ao Colégio dos Cardeais, 22 de junho de 1973). Mas a experimentação arbitrária continuava e exacerbava, no entanto, a saudade do rito antigo. O Papa, no consistório de 27 de junho de 1977, admoestava os “rebeldes” pelas improvisações, banalidades, frivolidades e profanações, pedindo-lhes severamente que se ativessem à norma estabelecida para não comprometer a regula fidei, o dogma, a disciplina eclesiástica, lex credendi orandi; e também aos tradicionalistas, para que reconhecessem a “acidentalidade” das modificações introduzidas nos ritos sagrados.

Em 1975, a bula Apostolorum Limina, de Paulo VI, para a convocação do ano santo, a propósito da renovação litúrgica, observava: “Consideramos extremamente oportuno que esta obra seja reexaminada e receba novas evoluções, de forma que, baseando-se no que foi firmemente confirmado pela autoridade da Igreja, possa-se observar em todos os lugares os que são verdadeiramente válidos e legítimos e continuar sua aplicação com zelo ainda maior, segundo as normas e métodos aconselhados pela prudência pastoral e por uma verdadeira piedade”.

Omito as denúncias de abusos e sombras na liturgia por parte de João Paulo II em muitas ocasiões, em particular na carta Vicesimus quintus annus, desde a entrada em vigor da constituição sobre liturgia. Bento XVI, portanto, pretendeu voltar a examinar e dar novo impulso precisamente abrindo uma janela com o motu proprio, para que, pouco a pouco, mude o ar e encarrilhe tudo o que foi além da intenção e da letra do Concílio Vaticano II, em continuidade com toda a tradição da Igreja.

-Você afirmou diversas vezes que, em uma liturgia correta, é necessário respeitar os direitos de Deus. Você poderia explicar isso?

Bux: A liturgia, termo que em grego indica a ação ritual de um povo que celebra, por exemplo, suas festas, como acontecia em Atenas ou como acontece ainda hoje com a inauguração das olimpíadas e outras manifestações civis, evidentemente é produzida pelo homem. A sagrada liturgia ostenta este atributo porque não está feita à nossa imagem – em tal caso, o culto seria idolátrico, isto é, criado pelas nossas mãos –, mas pelo Senhor onipotente: no Antigo Testamento, com sua presença, indicava a Moisés como ele deveria dispor, nos seus mínimos detalhes, o culto ao Deus único, junto ao seu irmão Aarão. No Novo Testamento, Jesus defendeu o verdadeiro culto, expulsando os vendedores do templo, e deu aos apóstolos as disposições para a Ceia pascal.

A tradição apostólica recebeu e relançou o mandato de Jesus Cristo. Portanto, a liturgia é sagrada, como diz o Ocidente, e é divina, como diz o Oriente, porque é instituída por Deus. São Bento a define como opus dei, obra de Deus, à qual nada deve ser anteposto. Precisamente a função mediadora entre Deus e o homem, própria do sumo sacerdócio de Cristo e exercida nacom a liturgia pelo sacerdote ministro da Igreja, testifica que a liturgia descende do céu, como diz a liturgia bizantina, baseada na imagem do Apocalipse. É Deus quem a estabelece e, portanto, indica como devemos adorá-lo “em espírito e em verdade”, isto é, em Jesus, seu Filho, e no Espírito Santo. Ele tem o direito de ser adorado como Ele quer.

Sobre tudo isso, é necessária uma profunda reflexão, porque seu esquecimento está na origem dos abusos e das profanações, já descritas admiravelmente em 2004 pela instrução Redemptionis Sacramentum, da Congregação para o Culto Divino. A recuperação do Ius divinum na liturgia contribui muito para respeitá-la como coisa sagrada, como prescreviam as normas; mas também as normas devem voltar a ser seguidas com espírito de devoção e obediência por parte dos ministros sagrados, para edificação de todos os fiéis e para ajudar muitos dos que buscam Deus a encontrá-lo vivo e verdadeiro no culto divino da Igreja.

Os bispos, sacerdotes e seminaristas devem voltar a aprender e realizar os sagrados ritos com este espírito, e assim contribuirão para a verdadeira reforma querida pelo Vaticano II e, sobretudo, para reavivar a fé que, como escreveu o Santo Padre na carta aos bispos, de 10 de março de 2009, corre o risco de apagar-se em muitos lugares do mundo.

Uma iniciativa de Pope2You
CIDADE DO VATICANO, domingo, 28 de março de 2010 (ZENIT.org).- Por ocasião da Semana Santa e da Páscoa, Pope2You (www.pope2you.net) oferece ao vivo, em vídeo, as celebrações presididas por Bento XVI.Pela primeira vez, o site para jovens, promovido pelo Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, transmite estes eventos com comentários em 5 idiomas (espanhol, inglês, italiano, francês e alemão).

O serviço é oferecido e promovido peloCentro Televisivo Vaticano, pela Rádio Vaticano e pelo site da Santa Sé, com o apoio técnico da agência multimédia H2onews.org.

Além deste serviço, Pope2You volta a apresentar uma coleção de cartões virtuais para felicitar pela Páscoa da Ressurreição com imagens do Santo Padre, que podem ser compartilhados com os amigos através do Facebook, do e-mail ou podem ser baixados no próprio computador.

Gravadora prepara calendário de comemorações durante todo o ano.

Uma celebração na Basílica de Aparecida, 6 de março, às 9h, marca o início das comemorações dos 50 anos da Gravadora Paulinas-COMEP, cuja trajetória se confunde com a própria história da música popular no Brasil e na América Latina. Padre Zezinho, scj, um dos ícones da música católica e parceiro da gravadora desde o início, tem presença confirmada, ao lado de irmãs e profissionais da música que ajudaram a escrever a saga de COMEP. A equipe da Paulinas-COMEP garante um ano cheio de atividades e lançamentos. Entre as comemorações, está previsto um mega-show com os artistas da casa para o último trimestre do ano.

Primeiro artista de Paulinas-Comep e pioneiro em música-mensagem no País, Pe. Zezinho, scj, entrou 2010 embalado nos preparativos das comemorações. Com mais de 3,5 milhões de discos vendidos, prevê lançar no mínimo até dezembro dois CDs falados e uma coletânea. No ano passado, foram dois álbuns novos (Ao país dos meus sonhos e o infantil celebrativo Coisas que já sei).

Em 50 anos de atividade, porém, Paulinas-COMEP revelou dezenas de compositores e intérpretes. Na última década foi apresentada ao mercado fonográfico uma série de jovens talentos e grupos que vem conquistando espaço no meio musical. Entre eles estão Italo Villar, padre Fábio de Melo, Cantores de Deus, Mariani, Fábio Augusto, Grupo Ir ao povo, Ministério Adoração e Vida, Grupo Typ Vox e os DJs do ElectroCristo, além de contribuir para consolidar a carreira de compositores, grupos e intérpretes como Ziza Fernandes, Adriana e Missão Louvor e Glória.

Disposta a renovar o repertório de estilos e conquistar cada vez mais a preferência também do público jovem, Paulinas-COMEP vem buscando bandas e nomes desconhecidos do grande público que apresentam propostas inovadoras no anúncio do Evangelho por meio da música. Assim, a gravadora abriu as portas ao pop rock, lançando, no início de 2007, a banda Via 33, natural do ABC paulista. No final de 2009, a banda apresentou toda a sua evolução com seu novo álbum Voz do meu silêncio, com um som mais elaborado e direção musical de Paulo Anhaia. Agora, em 2010, a gravadora se prepara para consolidar o estilo, desta vez com o som de Ceremonya, banda conhecida pela batida pesada do rock, que estreou no mercado em 2008 com selo independente.

Além das diversas produções na linha da música mensagem, Paulinas-COMEP sempre se preocupou com a formação catequética e litúrgica do povo, oferecendo canções como subsídios para as diversas pastorais e momentos celebrativos da Igreja. Paulinas-COMEP tem investido, ainda, em opções para os adeptos da música popular instrumental, como o grupo gaúcho Jazz 6, do qual faz parte o escritor Luis Fernando Veríssimo, e destinado espaço para profissionais da música clássica instrumental brasileira. Em seu mix, figuram nomes como Theo de Barros, Bruno Moritz, Eudóxia de Barros, Roney Marczak e Toninho e Maria José Carrasqueira.

Tudo isso consolida Paulinas-COMEP como uma gravadora que tem ido muito além da música religiosa e sacra, do canto gregoriano, das canções mensagens e para meditação… São mais de 550 títulos em seu catálogo para atender a diferentes gêneros. Vale lembrar que a gravadora nasceu como Edições Paulinas Discos em março de 1960 em um mini-estúdio na residência das irmãs Paulinas em Curitiba. No início de 1964, o estúdio foi transferido para São Paulo e, em 1984, adotou o selo Paulinas-COMEP. Hoje, a gravadora e editora musical possui um dos mais modernos e sofisticados estúdios de gravação na capital.

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Paulinas-COMEP
Léo Guimarães, Roberta Molina e Taís González
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