Neste artigo, escrito pelo bispo emérito de Tubarão (SC), Dom Hilário Moser, que atualmente mora na Comunidade Salesiana da Paróquia Sagrada Família, em São José dos Campos, ele nos explica como a influência dos grandes meios de comunicação conseguem construir um fato, promovendo também uma grande repercussão. Muitas vezes, nós como comunicadores, somos questionados sobre isso. Por isso, selecionei este excelente artigo para a nossa leitura, para que sirva como apoio e informação. Aproveitem bem e conheçam o Blog do Dom Hilário. Boa leitura!

por D. Hilário Moser, sdb, publicado no BLOG:http://domhilario.blogspot.com/

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De repente, a moda é falar da pedofilia dentro da Igreja. Episódios do passado, já conhecidos e encerrados, agora são exumados um por um, dentro de certo encadeamento, com a finalidade de exagerar a repercussão pelo mundo, tendo um claro objetivo: desacreditar a Igreja católica e atingir o Papa Bento XVI.

Será mesmo verdade tudo os que os jornais andam propalando? É a pedofilia que se quer combater, ou, na realidade, pretende-se “linchar” o Papa, hostilizado desde sua eleição e, periodicamente, por ocasião de alguma sua declaração ou tomada de atitude mais contundente?

Como se explica tudo isso? A resposta não é difícil. Existe no Ocidente certa cultura que se caracteriza por uma clara posição laicista e anticatólica, cujos porta-vozes são jornais e outros meios de comunicação social. Muitas vezes, por trás deles há os que algum sociólogo qualifica como “empresários morais”, pessoas que promovem e financiam campanhas segundo os próprios interesses.

A Igreja, para essa cultura, cria sérios problemas. Basta pensar na constante defesa da vida e da dignidade da pessoa humana contra interesses de pessoas, grupos poderosos e governos.

Para atacar o Papa, começou-se em Ratisbona (Alemanha), tentando envolver seu irmão, Mons. Georg Ratzinger, que por longos anos dirigiu o coral de meninos da catedral daquela diocese. De fato, no passado houve dois episódios de abuso de meninos desse coral; todavia, tais abusos ocorreram antes que Mons. Georg fosse posto à sua frente; inclusive, já eram conhecidos e estavam encerrados judicialmente.

Entretanto, o nome “Ratzinger” ficou nas manchetes dos jornais e não era difícil prever que se tentaria envolver nos escândalos outro Ratzinger, o próprio Bento XVI.

E assim foi. Procurou-se, então, a arquidiocese de Munique, onde Joseph Ratzinger foi arcebispo nos anos 80; ali desenterrou-se o caso do padre que ficou conhecido como “Padre H.”. Esse padre, tendo-se envolvido em casos de abuso de menores na sua diocese, Essen, foi acolhido por Ratzinger em Munique com a única finalidade de fazer uma terapia; todavia, sem dar conhecimento ao arcebispo, o vigário geral de Munique lhe confiou algumas tarefas pastorais; hoje, o vigário geral reconhece seu erro e assume toda a responsabilidade pelo não cumprimento das orientações de Ratzinger. Este caso também já estava resolvido judicialmente; o próprio tribunal que julgou o acusado confirmou a não responsabilidade do Cardeal Ratzinger.

Perguntamos: esse caso foi descoberto em 1985 e julgado por um tribunal em 1986; por qual motivo um jornal alemão decide exumá-lo 24 anos depois de encerrado?

Outra tentativa de envolver Bento XVI foi feita pelo jornal New York Times – tradicionalmente laicista e anticatólico. Segundo o jornal, em 1996, os cardeais Ratzinger e Bertone (respectivamente, prefeito e secretário da Congregação para a Doutrina da Fé) teriam ocultado o caso do padre pedófilo Murphy e impedido que fosse levado à atenção das autoridades civis.

A realidade é precisamente o oposto. Em 1975, Murphy foi denunciado às autoridades civis; todavia, elas não encontraram provas suficientes para condená-lo. A Igreja, apesar de a denúncia contra ele ter sido arquivada pela magistratura, foi mais severa que o Estado e continuou indagando sobre Murphy e, dado que suspeitava que fosse culpado, tomou medidas para que limitasse seu ministério.

Passados 20 anos, em 1995, num clima de fortes polêmicas sobre os casos dos “padres pedófilos”, a arquidiocese de Milwaukee considerou oportuno entregar o caso à Congregação para a Doutrina da Fé. A Congregação para a Doutrina da Fé não retomou o processo, mas recomendou que Murphy admitisse publicamente sua responsabilidade. Quatro meses depois, Murphy faleceu. Ficou claro, pois, que não houve nenhuma tentativa de ocultamento do caso do padre pedófilo por parte dos cardeais Ratzinger e Bertone, que só souberam do acontecido quando o sacerdote estava para morrer.

Além de exumar esses três “esqueletos”, os meios de comunicação social propositadamente exageram os números de casos de pedofilia na Igreja para dar a impressão de um fenômeno extenso e incontrolável, uma espécie de epidemia.

Repete-se constantemente, por exemplo, que só nos Estados Unidos houve 4.000 casos de abusos de menores por parte de padres. De fato, de 1950 a 2002, 4.392 sacerdotes americanos (sobre um contingente de 109.000 padres!) foram “acusados” de relações sexuais com menores; nem todos os casos, porém, se confirmaram como pedofilia, além de haver uma série de padres inocentes que foram caluniados. Ao mesmo tempo, porém, omite-se que, das 4.392 acusações (não sentenças de condenação), os casos de pedofilia foram somente 958 e levaram a 54 condenações, num período de 42 anos! Repetimos: 54 condenações sobre 109.000 padres!

O número de condenações de padres e religiosos em outros países é semelhante ao dos USA. De modo geral, se se compara a Igreja Católica dos USA com as principais denominações protestantes, as estatísticas mostram que a presença de pedófilos é – dependendo de cada denominação – de 2 a 10 vezes mais alta entre pastores protestantes do que entre padres católicos. Isso mostra que o problema não é o celibato, como alguns insistem em apontar, inclusive o teólogo católico Hans Küng. Note-se também que, enquanto um número reduzido de padres católicos foi condenado por abusos de menores, o número de professores de ginástica e treinadores de times juvenis de esportes (na maioria, homens casados) julgados pelos tribunais americanos beirou os 6.000.

E aqui uma observação importante: segundo o governo americano, dois terços mais ou menos das moléstias sexuais com menores não procedem de estranhos ou de educadores – padres e pastores protestantes – mas de membros da própria família: padrinhos, tios, primos, irmãos e até mesmo pais! Os mesmos dados são confirmados por numerosos países.

Existe ainda um dado mais significativo: mais de 80% dos pedófilos – sejam leigos ou sejam padres – são homossexuais, homens que abusam de outros homens. Por isso, mais uma vez, o problema não é o celibato.

Na Alemanha, a partir de 1995, em todo o país, houve 210.000 denúncias de abusos de menores; os casos ocorridos na Igreja foram apenas 94 (1 sobre 2.000!). Na Irlanda, o Relatório Ryan (sempre muito duro com a Igreja) de 2009, registrou o testemunho de 1.090 pessoas a respeito de casos de violência (não só sexuais, mas sobretudo físicas e psicológicas) no sistema escolar da ilha, de 1914 a 2000. No exame de centenas de violências, os religiosos acusados de abusos sexuais de menores são apenas 23, embora os dados não sejam completos porque em duas escolas o número não foi especificado.

Nas escolas femininas foram acusadas 3 empregadas leigas. Em diversas escolas, os abusos foram de pessoal adido, de visitantes externos ou de alunos maiores, não de sacerdotes. O relatório se refere mais a situações de abandono, violência física e depravação que afetou os métodos educativos de todo o sistema escolar.

No fim das contas, somando tudo o que se sabe sobre pedofilia na Igreja – pelo menos por ora -, trata-se de uns 300 casos de padres pedófilos no mundo inteiro sobre um contingente de 400.000 sacerdotes!

É óbvio que, no futuro, deverão surgir novas denúncias. Mesmo assim, sempre se tratará de um índice mínimo, se comparado com outros índices da sociedade em geral. Isto, naturalmente, não justifica de modo nenhum a prática da pedofilia por parte de membros do clero, que deveriam buscar com persistência a santidade de vida. Todo padre que se mancha com o crime de pedofilia é algo muito repugnante, mesmo quando se trata de um caso isolado; assim como é lamentável o fato de que algum expoente da Igreja tenha ocultado casos. Na verdade, essa era a praxe dos tempos passados: transferir o sacerdote culpado para outro ambiente a fim de não provocar escândalo, deixando de dar a devida atenção à vítima. Por outro lado, pintar a Igreja como um covil de pedófilos e o Papa e os bispos como empenhados em esconder casos, é totalmente falso.

Qual é a reação de Bento XVI aos casos de pedofilia? Bento XVI, dentre os papas contemporâneos, é o que mais se dedicou a corrigir essa chaga da Igreja. Foi esse Papa quem deu impulso decisivo a esta luta, também graças a seus 20 anos de experiência como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Como cardeal, favoreceu a reforma também legislativa mais rigorosa nesse assunto.

Em particular, procure-se conhecer a carta que Bento XVI dirigiu aos católicos da Irlanda, simbolicamente a todas as dioceses do mundo. É o primeiro documento de um papa que reconhece coletivamente a culpa da instituição eclesiástica quanto aos abusos sexuais cometidos por decênios e séculos, e vai direta ao coração do problema.

As vítimas foram silenciadas, admite, porque a primeira preocupação foi o bom nome da Igreja e evitar escândalos… Essa, de fato, como vimos, era a mentalidade da época. Pelo contrário, o Papa dá razão às vítimas, que não tinham como fazer ouvir a própria voz. Aos bispos fala de graves falhas, de erros, de falência da liderança, da não aplicação das penas canônicas…, apesar de se tratar de autênticos crimes.

Primeiro dever da Igreja na Irlanda: reconhecer o pecado perante Deus e a opinião pública; usar plena honestidade e transparência, sem nada esconder; os culpados se submeterem à justiça dos tribunais; os bispos colaborarem com as autoridades civis. Não por nada o Papa já aceitou algumas demissões de bispos irlandeses e determinou uma visita canônica minuciosa a toda a Igreja da Irlanda, ordenando uma série de orações e penitências em vista do arrependimento e da mudança de mentalidade e do modo de agir em casos semelhantes.

Na carta, o Papa estigmatiza com determinação o fenômeno, põe a nu sua raiz no afastamento da vida de fé por parte de alguns membros da Igreja e, de forma geral, em certas confusões devidas à secularização e à má interpretação do Concílio Vaticano II. Convida com força os bispos que encobriram casos ou que não reagiram adequadamente diante deles a assumir as responsabilidades dos próprios atos a fim de que não voltem a acontecer no futuro.

É a mesma clareza e determinação que o Papa mostrou durante sua viagem aos USA e à Austrália, quando se encontrou com algumas vítimas dos abusos.

A prova de que a atuação de Bento XVI está produzindo frutos é o relatório da Conferência Episcopal dos USA que mostra que o número das denúncias de supostos casos de pedofilia por parte de eclesiásticos alcançou o mínimo histórico em 2004 (desde quando começaram a ser conferidos).

Portanto, a REALIDADE é bem diversa do que certos meios de comunicação social andam propalando.

Enquanto, de modo geral, os 400.000 sacerdotes no mundo inteiro procuram trabalhar corretamente, há quem aponte o dedo acusador para algumas centenas de padres – sem dúvida dignos de condenação ou de compaixão, conforme o caso – para desacreditar toda a Igreja, particularmente Bento XVI. Agir dessa maneira é trair a verdade e a justiça.

O apóstolo Pedro é o tipo do “Líder nato”. Sua sinceridade é radical. É um homem impulsivo e impetuoso. É mais levado pela ação do que pela reflexão. Promete mais do que pode cumprir. É aquele que, na torcida, puxa o grito de “gol”. Vai de um extremo a outro facilmente. Tem dificuldade de esperar. Quer tudo para ontem. Chora com os que choram. Sorri com a vitória do outro. É uma pessoa simples e objetiva. Não suporta burocracias inúteis. Acredita na empresa e diz que morreria por ela, embora na hora “H” às vezes tenha dificuldade de apagar os incêndios; quase sempre se arrepende de suas falhas e tem coragem de pedir perdão. Reconsidera seus atos e muda a rota.

Pedro é um líder amoroso. Quem tem alguém assim no seu grupo colherá resultados de coesão entre os outros membros. Este é um tipo difícil pela sua instabilidade e impulsividade, mas se administrado com sabedoria é o gerente ideal para toda empresa. Não faltará iniciativa. Ele não deixará ninguém ficar parado e identificará facilmente o traidor. Os “pedros” não suportam o espírito de divisão. São pessoas pouco ambiciosas. Mas, se não forem valorizados, normalmente se tornam “pedras” no caminho do diretor.

BREVE HISTÓRIA DE PEDRO[1]

Este apóstolo é citado 154 vezes no Novo Testamento com o nome de “Pedro”, ou seja, “Pedra”. Na verdade esta é a tradução para “Kefa”, em aramaico, língua materna de Jesus. É chamado também 75 vezes por seu nome original “Simão”. Outras vezes aparece simplesmente como “filho de João”.

Era natural da pequena cidade de Betsaida, nos arredores do Mar da Galiléia. Dali veio também André, seu irmão e Felipe. Tinha forte sotaque de pescador da Galiléia. Mas Pedro não era um pescador qualquer. Tinha uma pequena empresa de pesca em sociedade com um tal Zebedeu que era pai de outros dois apóstolos: João e Tiago. Devia ter alguma estabilidade econômica. Parece também que era um homem religioso. Tanto é verdade, que juntamente com seu irmão chegou a ir à Judéia acompanhar a pregação de outro profeta, João Batista. Acreditava que Deus iria intervir na situação da época, já que a região era dominada e explorada pelos romanos.

Pedro era casado. Sabemos que certa ocasião Jesus curou sua sogra. Por este fato sabemos também que morava na cidade de Cafarnaum, na beira do mar da Galiléia e bem em frente a uma sinagoga. Pelo jeito a sogra vivia na mesma casa que Pedro.

No início Jesus escolheu apenas cinco apóstolos, conforme o costume dos rabinos da época. Um deles era Pedro. O número de doze passou a representar as tribos de Israel, ou seja, o pequeno grupo dos apóstolos seria a semente do novo povo de Deus.

Simão Pedro tinha um temperamento que unia alguns contrastes; era forte e ao mesmo tempo fraco; era corajoso e ao mesmo tempo medroso; decidido e duvidoso; racional e muito emotivo; inteligente e ingênuo; capaz de dar a melhor resposta e também de dizer a maior bobagem; podemos dizer que era uma pessoa totalmente humana. Pedro era pedra para construir e também para atrapalhar. Era o tipo de pessoa que costumamos chamar de “uma pedreira”. Mas a qualidade que integrava todos estes paradoxos é que Pedro era uma pessoa absolutamente sincera.

A história deste primeiro grande líder do grupo formado por Jesus está detalhadamente descrita nos Evangelhos. Tudo começa com o seu chamado. O Mestre pregava junto ao mar em que Pedro estava pescando. Havia grande multidão para ouvir o novo profeta famoso. Mas a coisa estava um pouco desorganizada. Os pescadores ouviam o sermão enquanto lavavam as redes. Jesus viu as duas barcas ancoradas e teve uma idéia. Entrou na barca de Simão e pediu que ele se afastasse um pouco da margem. Generosamente o empresário da pesca fez este favor ao pregador. Deu certo. O povo ficou na margem e parou o empurra-empurra.

Terminado o sermão Jesus pediu a Simão para dar um passeio e pescar um pouco mais. O pescador argumentou que naquela noite o mar não tinha sido pra peixe. Difícil imaginar que um pescador experiente de Cafarnaum seguiria os conselhos de um carpinteiro de Nazaré! Pedro teve humildade para dizer: “Olha, somente por causa da tua palavra vou lançar as redes”. A pesca foi milagrosa. O empresário ficou muito admirado. Nem sabia o que dizer. Pediu que Jesus se afastasse, pois ele era pecador. Começa uma conversa que o mar ouviu: “De hoje em diante serás pescador de pessoas”. Ele aceita o desafio sem imaginar como isso mudaria seus dias e toda a sua vida.

Próximo a Cafarnaum, subindo suaves montanhas, ficava uma região chamada Cesarea de Felipe. Foi ali que Jesus fez uma espécie de pesquisa de mercado junto aos seus discípulos: “Quem dizem por aí que eu sou?” Veio resposta para todo gosto. Veja o método perguntador de Jesus. Ele educava com perguntas, na melhor pedagogia construtivista. E as perguntas iam do geral para o particular. Prova disso é a pergunta seguinte da conversa: “Mas para cada um de vocês, quem eu sou?” Pedro responde antes dos outros, como parece ser seu costume de discípulo apressado: “Tu és o Messias”. Jesus deu nota dez para Pedro nesta “prova de fé”. Cobriu o empresário de elogios. Disse que era um sujeito inspirado; que tinha realmente aprendido a lição; estas coisas que os professores dizem aos alunos diante de uma resposta iluminada e certeira.

Mas o fato é que Pedro não sabia exatamente o que estava dizendo. Ser messias significava dar a vida pela libertação do povo. Jesus tenta explicar que a vida de um messias não era somente de sonhos e de luz; havia também a cruz. Mas isso era demais para a cabeça de Pedro. Quando o mestre descreve o caminho do calvário, Pedro se coloca de pé e diz: “Nada disso; vamos ficar por aqui mesmo; não temos nada que fazer na capital, Jerusalém; lá é perigoso para um profeta do interior”. O Mestre olha bem nos olhos do Pedro e diz: “Nota zero, meu amigo, você agora está sendo uma ‘pedra’ no meu caminho”. Pedro ficou com média cinco. Vai levar muito tempo para nosso amigo entender a lição do sucesso: “Quem quer ganhar acaba perdendo; quem aceita perder acaba ganhando”.

Na mesma situação outros alunos teriam abandonado o curso. Com média cinco não dava para ir adiante. Precisava de seis para passar de ano. Mas Pedro persevera.

Estava na multiplicação dos pães. Viu o milagre e ouviu em particular a explicação: “Tudo isso é sinal de um pão maior, de um ‘pão da vida’, que é a doação de suor, sangue e lágrimas para a salvação do mundo”. Imagino que Pedro tenha ficado empolgado com o milagre, mas frustrado com a explicação. O profeta insistia nesta história de dar a vida.

Com isso alguns discípulos começam a deixar o grupo. Preferiam mais milagres e menos sermões; mais espetáculo e menos compromisso; mais luz e menos cruz. O grupo entra em crise. Pedro deve ter considerado seriamente a possibilidade de retomar os seus negócios na empresa de pesca. Em certo momento Jesus pergunta: “Vocês querem ir embora também?” Pedro novamente se antecipa e responde de modo genial e com uma pergunta: “A quem iríamos nós se somente tu tens palavras de vida eterna?” Ele parecia ter entendido a dimensão do céu na terra e a pedagogia da pergunta. Sua fé ia amadurecendo e ele ia conseguindo absorver a “visão” e a “missão” de Jesus. Isso mostra que ele não estava preso a paradigmas. Era capaz de aprender o novo. Tirou outro dez. Estava com média 7,5. Nada mal. Dava pra passar.

Por via das dúvidas, Jesus chama os três do conselho central, Pedro, Tiago e João, e mostra o céu aberto no monte Tabor. É um momento que mistura intimidade e solenidade. O céu havia chegado por antecipação. O empresário não sabe o que dizer. Sugere fazer tendas e ficar para sempre naquele lugar. Sempre exagerado. Jesus manda descer e transfigurar o mundo. Resultado: a nota de Pedro desceu para seis. Estava no limite. Dali para frente não poderia tirar nenhuma nota ruim. Promete que seria fiel. Afirma que iria estudar todos os dias… estas coisas de aluno. Mas o mestre prevê a tragédia: “Antes que o galo cante você vai me negar três vezes”. E não é que aconteceu? O medo tomou conta do empresário. Depois veio a tristeza. Chorou amargamente. Três respostas erradas em prova tão importante… sua média foi para quatro. Estava reprovado.

Era manhã de primavera. Jesus, já ressuscitado, convida Pedro para uma última conversa. Estava de segunda época. Desanimado, havia retomado o trabalho de pescador. O encontro acontece novamente na beira do mar da Galiléia. O Evangelho de João narra este episódio com detalhes literários que às vezes passam sem que possamos perceber. Se pudéssemos ler em grego teríamos a noção exata da prova de segunda época de Pedro. Vamos tentar. Quando Jesus diz “amor”, usa a palavra “agapau”, que significa amor de dar a vida. As respostas de Pedro usam o termo “filéo”, que é um sentimento de carinho, de gostar, admirar, mas não chega a ser amor. Jesus propõe três perguntas. A primeira: “Simão, você me ama?” A resposta vem apressada como sempre: “Claro que sou teu fã”. Nota zero. Mas era sincero. Como dizer que amava se tinha negado três vezes? Jesus repete a pergunta: “Simão, você me ama?” O empresário começa a ficar encucado com a insistência do profeta, mas a sinceridade fala mais forte e ele repete a resposta: “Senhor, gosto muito de ti”. Na terceira vez, vendo que o aluno ia mesmo ser reprovado, o mestre inverte a pergunta: “Então, Pedro, você gosta de mim?” Desta vez o pescador fica triste. Entende perfeitamente os limites do seu amor. Poderia ter optado por uma saída honrosa e responder que amava. Mas era um sujeito sincero. A verdade para ele estava acima de tudo. Sua resposta foi: “Senhor, sabes tudo; sabes que sou teu amigo; eu te admiro muito!” Pelo menos tinha acertado uma questão e deu para chegar na média seis. O professor deu uma ajuda para que o aluno passasse de ano. No final do terrível diálogo Jesus simplesmente lhe disse a mesma palavra que deu início a tudo: “Segue-me”. Pedro jamais deixou de seguir o mestre. Tornou-se o primeiro papa. Tirou nota dez na prova de fé e um pouco menos na prova do amor. O que o salvou foi a prova da sinceridade. Veja o que faz um líder de verdade.

Alguns gerentes e empresários não colocariam fé na impetuosidade de algum de seus colaboradores. Nunca se esqueça que o maior valor de um líder é a sua sinceridade. Este pode ser o seu herdeiro. Este será fiel, ainda que sua média nos testes seja apenas seis. Escolha alguém que tem coração. Não se iluda com aqueles que tiram somente dez e que concordam sempre com você. Podem ser traidores. Prefira os sinceros e humanos. Prefira as pedras.

Este sujeito tão forte e tão frágil recebeu as chaves do empreendimento. Jesus colocou nele total confiança. Teria o poder de “ligar” e “desligar”. Os evangelhos falam muitas coisas ainda sobre este tal de Pedro. Para nós basta esta história de um aluno mediano que se tornou o primeiro papa da história do cristianismo. Lembre-se disso quando escolher seus colaboradores: média seis!!!


[1] Texto inspirado na reflexão de BENTO 16, Audiência Geral de Quarta-feira, 17.05; 24.05 e 07.06 de 2006.